John Banville |
John Banville, o Príncipe das Astúrias das Letras
O escritor irlandês, autor de obras como "O mar" e "Luz antiga" e da série de policiais noir com seu alter ego Benjamin Black superou autores como McEwan, Salter e Murakami
WINSTON MANRIQUE SABOGAL
Madri 4 JUN 2014 - 11:00 COT
Três escritores em um. Três mundos com claros-escuros: dois saídos de sua cabeça e outro, alheio, aumentado por ele. Esse é John Banville (Wexford, Irlanda, 1945). E foi quem ganhou o 34º Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras 2014. Porque o romancista irlandês é o criador de deliciosos e inquietantes universos privados e emocionais em obras como Eclipse, O mar ou Luz antiga; também é o criador de zonas mais escuras com seu alter ego Benjamin Black nos romances policiais; e, não contente com isso, e sob o nome de Black se atreveu a reviver Philip Marlowe, o célebre detetive criado por Raymond Chandler.
O jurado destacou a "inteligente, profunda e original criação de sua obra e seu outro eu, Benjamin Black, autor de romances policiais perturbadores e críticos". A ata do juri conclui dizendo: "Cada criação sua atrai e deleita pela maestria no desenvolvimento da trama e no domínio dos registros e matizes expressivos, e por sua reflexão sobre os segredos do coração humano." Banville superou candidaturas como as de Ian McEwan, James Salter e Haruki Murakami.
Ao conhecer a notícia, o escritor se emocionou e depois perguntou a sua editora na editora Alfaguara, María Fasce: "Então, o prêmio não será entregue pelo Príncipe, mas pelo Rei?" A pergunta se deve a que os Príncipes de Astúrias, Dom Felipe e Dona Letizia, terão sido coroados reis quando o prêmio for entregue em outubro. A entrega corresponderia a sua filha Leonor, de 8 anos. Neste momento, a Fundação Príncipe de Astúrias estuda se muda ou não o nome dos prêmios. As opções são: Prêmios Princesa de Astúrias ou Prêmios do Principado de Astúrias, como era originalmente.
ATA DO JÚRI
Reunido em Oviedo, o Júri do Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras 2014, integrado por Xuan Bello Fernández, Amelia Castilla Alcolado, Juan Cruz Ruiz, Luis Alberto de Cuenca y Prado, José Luis García Martín, Álex Grijelmo García, Manuel Llorente Manchado, Rosa Navarro Durán, Carme Riera i Guilera, Fernando Rodríguez Lafuente, Fernando Sánchez Dragó, Ana Santos Aramburo, Diana Sorensen, Sergio Vila-Sanjuán Robert, presidido por D. José Manuel Blecua Perdices e atuando como secretário D. José Luis García Delgado, concorda em conceder o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras 2014 ao romancista irlandês John Banville pela inteligente, profunda e original criação de sua obra, e seu outro eu, Benjamin Black, autor de perturbadores e críticos romances policiais.
A prosa de John Banville abre-se em deslumbrantes espaços líricos através de referências culturais onde os mitos clássicos são revitalizados e a beleza anda junto com a ironia. Ao mesmo tempo, mostra uma análise intensa de complexos seres humanos que nos prendem em sua descida à escuridão da vilania ou em sua fraternidade existencial. Cada criação sua atrai e deleita pela maestria no desenvolvimento da trama e no domínio dos registros e matizes expressivos, e por sua reflexão sobre os segredos do coração humano.
Oviedo, 4 de junho de 2014
Silencioso, cauteloso, prudente, pausado, incisivo, elegante... Banville é um narrador que não apenas acredita no feitiço de contar uma história, também, e de maneira crucial, considera que a beleza do escrito é essencial. Suas obras retratam sentimentos, emoções e dúvidas do ser humano frente a situações íntimas e levam o leitor a se refletir nelas. "O único dever de um autor é escrever bons romances. Quando tentam misturar arte e política, pode ser que o resultado final seja má arte e má política", disse o escritor em um chat aos leitores de EL PAÍS, no ano passado. Banville ganhou o Prêmio Booker (por O mar) e outros prêmios como o Prêmio Allied Irish Bank Fiction por Kepler.
Até 2007, o autor irlandês era pouco conhecido na Espanha, mas era bastante cultuado. É a partir desse ano quando aparece seu alter ego,Benjamin Black, em O pecado de Christine, que sua popularidade começa a crescer. E já são sete romances com este narrador. Em uma entrevista a este jornal, em fevereiro último, para a promoção de The black-eyed blonde, disse que estava com uma idade na qual gostava de tentar coisas novas para não "murchar": "Sempre estou escrevendo um romance de Banville, mas sobra energia literária que derivo para Benjamin Black e, agora, para Chandler. Isso me diverte e estou em um momento no qual posso me permitir assumir riscos, fazer besteiras".
John Banville disse várias vezes que para ele escrever é como respirar. E ler é seu complemento, o ar... a viagem: "Quando comecei, era uma maneira de fugir da minha cidade, do meu tempo. À medida que continuava lendo descobri que era, na verdade, o caminho para entrar no mundo."
John Banville é hoje um dos poucos escritores que supera a si mesmo com cada novo livro, assegura sua editora na Espanha, María Fasce. "A prova é Luz antiga,mas também The black-eyed blonde, o último romance que assinou com seu pseudônimo para romances noir, Benjamin Black. Gosta de dizer que Black é um artesão e Banville um estilista: é só outra amostra de seu humor. Banville e Black nos fazem lembrar da mesma forma quanta beleza, prazer e emoção existe na literatura. Disse também que não se importa com os prêmios, mas me escreveu comovido com a notícia."
O Banville jornalista e crítico literário colabora em publicações como The New York Times Review of Books. Nascido na Irlanda em 1945, o escritor trabalhou na empresa aérea Aer Lingus. Nos anos setenta trabalhou como jornalista no diário Irish Press, até seu fechamento em 1995. Depois passou a subdiretor do Irish Times, com a dupla função de editor literário até 1999.
Banville se une à lista de ganhadores do Príncipe de Astúrias das Letras na qual estão autores como Mario Vargas Llosa, Antonio Muñoz Molina, Philip Roth, Margaret Atwood, Amoz Oz, Doris Lessing, Susan Sontag, Claudio Magris, Carlos Fuentes, Günter Grass, Álvaro Mutis, Claudio Rodríguez e Juan Rulfo.
BIBLIOGRAFIA
NARRATIVA
Long Lankin, relatos 1970
Nightspawn, 1971
Birchwood, 1973
Copérnico, 1976
Kepler, 1981
The Newton Letter, 1982
Mefisto, 1986
O livro das provas, 1989 - Record, 2002
Ghosts, 1993
The Broken Jug, 1994
Athena, 1995
O Intocável, 1997 - Record, 1999
Eclipse, 2000
O mar, 2005 - Nova Fronteira, 2007
Os infinitos, 2009 - Nova Fronteira, 2011
Luz antiga, 2012 - Biblioteca Azul, 2013
Como Benjamin Black
O pecado de Christine, 2006 - Rocco, 2011
O cisne de prata, 2007 - Rocco, 2013
The Lemur, 2008
Elegy for April, 2010
A Death in Summer, 2011
Vengeance, 2012
The Black-Eyed Blonde, 2014
EL PAÍS
FICCIONES
DE OTROS MUNDOS
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