quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Elvis Presley / It's Impossible

 


https://www.youtube.com/watch?v=IrjcLJO3yBM

Elvis Presley (It's Impossible)

Vídeo com a tradução da música de Elvis Presley intitulada "It's Impossible"
(Somos novios, de Armando Manzanero)

"It's Impossible" It's impossible to tell the sun to leave the sky It's just impossible It's impossible to ask a baby not to cry It's just impossible Can I hold you closer to me And not feel you going through me But the second that I never think of you? Oh, how impossible Can the ocean keep from rushing to the shore? It's just impossible If I had you could I ever ask for more? It's just impossible    And tomorrow, should you ask me for the world Somehow I'd get it, I would sell my very soul And not regret it for to live without your love Is just impossible Can the ocean keep from rushing to the shore? It's just impossible If I had you could I ever ask for more? It's just impossible   And tomorrow, should you ask me for the world Somehow I'd get it, I would sell my very soul And not regret it for to live without your love Is just impossible Oh, impossible Impossible


"We are lovers and both feel this mutual deep love, and with that, we have greatest thing in this world, we love each other, we kiss each other, we want each other, and some times, we fight with no reason... as lovers, we are lovers and we keep a clear and pure love, and as all lovers, we wait for the darkest moment to give each other the most sweetest kiss in world, and recall together the color of the cherry blossoms. With no other comment about it... we are lovers... just lovers, forever lovers" Rest in peace old man, may we learn from you what love means for real.





domingo, 27 de dezembro de 2020

Até ao nosso encontro / Rúben Gonçalves e a descoberta de um momento que nunca foi

 

A obra de Rúben Gonçalves


Até ao nosso encontro

Rúben Gonçalves e a descoberta de um momento que nunca foi

MIRIAN NOGUEIRA TAVARES
27 DEZEMBRO 2020

A primavera é quando ninguém mais espera.
E desespera tudo em flor.
A primavera é quando ninguém acredita.
E ressuscita por amor (…)

(José Miguel Wisnik)

Rúben Gonçalves

O artista pede-me um texto para acompanhar o trabalho que produziu durante a quarentena.

Não é um trabalho, fruto do excesso de tempo, que levou muitos a buscarem ocupações outras. O artista era artista antes, e o foi durante o período em que estivemos confinados, separados uns dos outros, enfrentando, muitas vezes, apenas a nós mesmos numa grande solidão.

O inverno findava e a primavera chegou intramuros – vimos florescer, ao longe, dias e noites que deixaram de nos pertencer. Passeios vigiados, contidos. Encontros e abraços interditados, museus e galerias de portas fechadas e a arte a tentar exibir-se pelos ecrãs - distante, virtual, sem textura ou cheiro: sem presença.

Quando vi as obras, mesmo através do ecrã, consegui sentir entre os meus dedos a aspereza, as reentrâncias, os relevo das peças; as composições que se expandem de um quadro a outro, que se repetem, às vezes, que dialogam entre si, como se quisessem assim preencher o espaço entre as pessoas, entre as linguagens, o espaço que exige novos códigos e comportamentos: onde havia proximidade hoje impera o distanciamento social.



Rúben Gonçalves

Rúben Gonçalves

Rúben Gonçalves


As obras de Rúben Gonçalves, feitas para esta exposição e durante o confinamento, versam sobre a ideia de estarmos encerrados e provocaram em mim um grande impacto. Bloom fala-nos, daquele jeito que só poucas obras nos costumam falar, da primavera não desfrutada, que floresceu fora, mas também dentro de nós – as flores brotaram apesar de e por causa do isolamento, do momento em que fomos obrigados a ficar em nós, em nossos pequenos, ou grandes mundos/casas/lugares.


Rúben Gonçalves



Conspicio, do latim «compreender», mas também «enfrentar, mirar», conjuga uma rima plástica com Bloom e dá o mote da exposição, composta por obras com títulos que evocam a experiência de estar confinado, longe da luz, a enfrentar as memórias e a absorver as distâncias que se converteram, de um dia para o outro, em intransponíveis. Rúben Gonçalves convoca a memória e percorremos com ele, obra a obra, um caminho que nos leva da escuridão à luz e nos traz de volta ao princípio, onde floresce a arte.

O artista pede-me um texto que ilumine o seu trabalho, que o traduza numa linguagem verbal, porque as imagens falam, mas nem todos conseguimos compreender. A única maneira de percebê-la é ultrapassar a distância que nos separa, é ir ao seu encontro. É mirá-la e deixar que a obra, por sua vez, olhe de volta para cada um de nós.


WSI

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Declínio profissional ou necessidade financeira / Por que Robert de Niro continua fazendo comédias ruins?

 

Taxi Driver
Robert De Niro


Declínio profissional ou necessidade financeira: por que Robert De Niro continua fazendo comédias ruins?

É considerado uma lenda da interpretação, mas há muitos anos se concentra em produtos que prejudicam seu legado. Culpa de De Niro ou da indústria, que não oferece outros papéis para veteranos?



Juan Sanguino
2 Dez 2020

Quando Robert De Niro e Al Pacino viajaram para a Europa para apresentar o thriller As Duas Faces da Lei em 2008, De Niro disse a Pacino durante uma entrevista para a revista GQ britânica: “Está tudo bem, Al, esperamos que um dia possamos nos reunir para promover um filme de que nos sintamos orgulhosos”. Pacino respondeu: “Caramba, isso seria ótimo”. O projeto seguinte dos dois juntos foi O Irlandês.

Tanto Coringa quanto O Irlandês, ambos de 2019, devolveram a Robert De Niro o prestígio e a relevância de seus melhores anos. Ambos os papéis evocavam seu passado glorioso (O Rei da Comédia e Os Bons Companheiros, respectivamente) e foram dois dos filmes mais assistidos, comentados e indicados a prêmios do ano passado. Mas agora De Niro retorna com Em Guerra com o Vovô, uma comédia familiar na qual interpreta um septuagenário que se envolve em uma ladainha de travessuras contra seu próprio neto para não ter de dividir o quarto com ele. Assim, aquele que é considerado o melhor ator de sua geração continua cavando a sepultura de seu legado: rodou 27 filmes na última década e 19 foram ridicularizados pela crítica e/ou ignorados pelo público. Que diabo aconteceu com a carreira de Robert De Niro?

Não que De Niro fosse apenas um bom ator, era a unidade de medida do talento dramático: todo grande ator que surgiu depois dos anos setenta foi apelidado “o novo Robert De Niro”, de Daniel Day-Lewis a Leonardo DiCaprio, Edward Norton ou Christian Bale. De Niro liderou a revolução artística da Nova Hollywood, uma fase em que segundo o ator Randy Quaid “deixaram as chaves do manicômio nas mãos dos loucos” e em que uma nova geração de atores e cineastas encheu a tela com uma energia vulcânica. De Niro enfileirou trabalhos com Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão Parte II), Scorsese (Taxi Driver), Bertolucci (Novecento), Kazan (O Último Magnata), Cimino (O Franco-Atirador), Leone (Era uma Vez na América), Gilliam (Brazil, o Filme), Joffé (A Missão), De Palma (Os Intocáveis), Mann (Fogo contra Fogo) e Tarantino (Jackie Brown). Robert De Niro, em resumo, escreveu páginas inteiras da história do cinema.

Os perigos de rir de si mesmo

Mas em 1999 quis relaxar e brincar com sua própria imagem: na comédia Uma Terapia Perigosa interpretava um mafioso que ia ao psicólogo depois de sofrer ataques de pânico. No ano seguinte voltou a parodiar a masculinidade briguenta em Entrando numa Fria, no qual interpretava um sogro que intimidava o marido da filha. Foi o filme de maior bilheteria de sua carreira. E a primeira pedra da lápide de seu legado. Na comédia infantil As Aventuras de Alceu e Dentinho, De Niro emulou sua cena icônica de Taxi Driver olhando-se no espelho e perguntando: “Você está falando comigo?”. Começava assim uma piada recorrente em sua filmografia recente: referências paródicas a seus papéis mais celebrados, como a cena de Em Guerra com o Vovô na qual o neto coloca uma cobra na cama (como aquela cabeça de cavalo de O Poderoso Chefão). Em A Máfia Volta ao Divã trabalhava como assessor em filmes de mafiosos. Na comédia A Família interpretava um mafioso em um sistema de proteção a testemunhas que acabava participando de um colóquio de um cineclube sobre a filmografia de Scorsese. Como Adam Markoviz sugeriu em Entertainment Weekly, “os filmes nos quais De Niro ri de seu legado artístico já são um subgênero cinematográfico em si mesmos.”

Robert de Niro em ‘Taxi Driver’.

Robert de Niro em ‘Taxi Driver’

O fiasco da carreira de Robert De Niro tem sido motivo de preocupação entre a comunidade cinéfila. A Qartz elaborou um gráfico mostrando a queda de qualidade de seus filmes e um usuário do Twitter postou uma análise apontando “o momento exato em que Robert De Niro parou de se importar com sua carreira”. O próprio ator brincou sobre essa queda quando, ao receber um Globo de Ouro honorário em 2011, agradeceu que o prêmio havia sido anunciado antes que os eleitores pudessem assistir Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família. Nos últimos anos De Niro acumulou fracassos (Profissão de Risco, Bus 657, Temporada de Caça, Poder Paranormal e A Família Flynn) que mal arrecadaram alguns milhares de dólares nas bilheterias ou foram lançados diretamente em formato doméstico.

Além de fazer piadas sobre seus papéis mais emblemáticos, as últimas comédias de De Niro parecem empenhadas em criar humor em torno do pênis do ator. Em A Máfia Volta ao Divã passeava por um velório com o roupão aberto, arejando a entreperna. Em Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família, De Niro ingeria acidentalmente comprimidos para disfunção erétil e a gag culminava com seu neto ficando traumatizado para o resto da vida ao encontrar o pai (Ben Stiller) dando uma injeção no pênis do avô (De Niro). Em Um Senhor Estagiário, René Russo fazia-lhe uma massagem que lhe provocava uma ereção inoportuna. E o roteiro de Tirando o Atraso ―cujo título original é parecido com o do recente Em Guerra com o Vovô, mas aquele é de 2016― foi totalmente concebido em torno do grande apetite sexual de seu personagem.Tirando o Atraso: quando uma glória chega ao fundo do poço.

Considerado o ponto mais baixo de sua filmografia, em Tirando o Atraso De Niro interpretava um homem recém-viúvo que convence o neto (Zac Efron) a fazerem uma farra com garotas explicando que está sem sexo há 15 anos e só pensa “em foder, foder, foder”. Em dado momento o neto explica seus casos bem-sucedidos como advogado e De Niro responde: “Pois eu preferiria que Queen Latifa cagasse na minha boca desde um balão de ar quente do que ter esse emprego.” A campanha promocional Tirando o Atraso satirizava o colapso da carreira de seu protagonista: De Niro aparecia no cartaz sentado em uma poltrona em frente à televisão, com um frasco de lubrificante de um lado e uma caixa de lenços do outro, e o slogan era: “Um dos atores mais respeitados e lendários da nossa geração... E agora isso.”

Robert de Niro e Zac Efron em ‘Tirando o Atraso’, para muitos o pior filme de De Niro.
Robert de Niro e Zac Efron em ‘Tirando o Atraso’, para muitos o pior filme de De Niro.DIRTY GRANP
A comédia funcionou nas bilheterias, mas as críticas atacaram o que consideraram um papel humilhante para De Niro. A revista Deadline chamou Tirando o Atraso de “o pior filme da carreira de Robert De Niro (ou de qualquer ator)”, o Yahoo lamentou que o ator tivesse chegado ao fundo do poço com um humor racista e homofóbico, o crítico do portal Uproxx escreveu que era “o pior filme que jamais vi no cinema, que o queimem”, Mark Kermode explicou que ao vê-lo sentiu necessidade de tomar uma ducha e Darragh McKiernan considerou o filme “um grito de socorro” do ator. The Guardian observou que Tirando o Atraso “introduz os admiradores de De Niro em uma nova fase emocional que só pode ser chamada de pós-desesperança, uma vez passado o estupor e o horror, só nos resta a resignação, entorpecidos diante de um grande homem que faz coisas como essa”.

Mas essa queda em desgraça é um sintoma do novo modelo de negócios em Hollywood. Thrillers adultos como Estranha Obsessão, Ronin e A Cartada Final custaram cerca de 72 milhões de dólares (cerca de 376 milhões de reais), um orçamento insustentável no mercado atual. Quando a pirataria provocou uma polarização no consumo de cinema (os filmes pequenos sobreviviam graças aos cinéfilos, os filmes gigantes davam mais lucro do que nunca), os dramas de orçamento médio ficaram em um limbo comercial: o público decidiu que não eram “filmes de cinema”, mas para assistir em casa e, portanto, deixaram de ser economicamente viáveis. E esse é o cinema que fez de De Niro uma estrela.

Não é apenas De Niro: é a indústria

Hoje nenhum estúdio apostaria em um drama adulto com valores de produção tão altos quanto O Poderoso Chefão, O Franco-Atirador ou Cassino, um tipo de cinema que só sobrevive graças às plataformas digitais: Scorsese concordou em rodar O Irlandês para a Netflix porque, depois de mais de uma década tentando obter financiamento, a plataforma foi a única disposta a pagar os mais de 160 milhões de dólares de orçamento (quase tanto quanto uma superprodução da Marvel). Os salários das estrelas também se tornaram impossíveis de pagar. As continuações de Entrando numa Fria custam cerca de 120 milhões de dólares, dinheiro que não está na tela, mas nos cheques de De Niro, Ben Stiller, Dustin Hoffman e Barbra Streisand. Para manter seu padrão de vida, De Niro tem que trabalhar três vezes mais e aceitar tudo o que lhe oferecem.

Especulou-se muito sobre a situação financeira do ator. Há poucos meses se envolveu em uma disputa judicial com a ex-mulher, de quem se separou no ano passado após duas décadas de casamento, quando decidiu reduzir à metade o limite do cartão de crédito dela, que era de 100.000 dólares, sem avisá-la, alegando que a crise do coronavírus estava prejudicando seus múltiplos negócios. Segundo seu acordo de divórcio, De Niro é obrigado a dar à ex-mulher cerca de 1,2 milhão de dólares por ano se ganhar mais de 18 milhões. “Ele terá sorte se ganhar sete milhões este ano”, disse a advogada do ator.

O ator Robert De Niro e Grace Hightower, de quem se divorciou em 2018, durante o 64º Festival de Cannes, realizado na cidade costeira francesa em maio de 2011.
O ator Robert De Niro e Grace Hightower, de quem se divorciou em 2018, durante o 64º Festival de Cannes, realizado na cidade costeira francesa em maio de 2011.ANNE-CHRISTINE POUJOULAT (AFP)
De Niro também tem seis filhos (fruto de quatro relacionamentos diferentes) e quatro netos para sustentar. Seu biógrafo, James Ursini, considera que o ator está muito preocupado em deixar uma boa herança para seus descendentes e que desde o sucesso da trilogia Entrando numa Fria seu cachê na comédia é muito maior do que no drama. De Niro é dono de vários prédios no bairro nova-iorquino de Tribeca (onde também dirige um festival de cinema desde 2002), de um time de futebol americano, de uma marca de vodka, de uma linha de moda e de uma das redes de restaurantes e hotéis mais elegantes dos centros urbanos dos Estados Unidos, a Nobu, com 40 restaurantes e oito hotéis de luxo. Mas o padrão de vida de uma estrela do seu status (que deve contratar assistentes, representantes, publicitários, guarda-costas) exige uma renda milionária que De Niro só pode obter com comédias infames ou com alguma campanha publicitária ocasional: em 2016 recebeu 12 milhões de dólares para estrelar o anúncio de um cassino nas Filipinas dirigido por Scorsese e coestrelado por DiCaprio.

“Ele tem dois critérios principais na hora de escolher projetos: gostar do diretor ou dos atores, mesmo que o roteiro seja fraco, e o dinheiro. Sua situação econômica é confortável, mas tem muitas despesas fixas”, disse um de seus sócios ao New York Post. Em seus fracassos, De Niro trabalhou com estrelas como Sean Penn, Sigourney Weaver, Julianne Moore, Morgan Freeman, Diane Keaton, Michael Douglas, Susan Sarandon, Michelle Pfeiffer, Kevin Kline e John Travolta. Em 2008 o ator deixou sua agência de representação, a todo-poderosa CAA, entre outros motivos por causa de um e-mail interno da empresa que criticava que a ganância havia prejudicado sua carreira: um executivo da agência criticou o fato de o ator pedir mais dinheiro (cerca de 20 milhões) do que valia. “Poderia ter se dedicado a fazer bons filmes”, comentava o e-mail, “mas preferiu ganhar dinheiro para financiar seu pequeno império em Nova York.”

O maldito dinheiro

“Se tem outras prioridades agora, como seu festival de cinema, suas propriedades em Manhattan ou seu negócio de hotelaria, ótimo. Mas por que nos castiga com esses espetáculos deprimentes?”, perguntou Andrew O’Hehir na revista Salon. “Ele sequer consegue rastejar para que pareça que se importa com o papel”, lamentou Keith Phipps sobre É Hora do Show. “É a decadência mais profunda e mais triste de qualquer ator em toda a história de Hollywood”, disse Luke Buckmaster em uma reportagem intitulada De Grande Ator a Piada com Pernas, publicada em 2016, provavelmente seu momento mais baixo em termos de reputação. “Seu critério para aceitar projetos parece ser que o produtor tenha o número de telefone de seu agente”, brincou Reed Tucker. Até Anjelica Huston lamentou que De Niro tenha de trabalhar tanto para sustentar suas ex-mulheres e ficou feliz que Jack Nicholson tenha se aposentado: “Não quero ver Jack fazendo Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família.”

Mas quando a imprensa fala da queda em desgraça de De Niro, apresenta uma armadilha perversa: lamenta que seu legado esteja apodrecendo, critica que não se aposente com dignidade e ridiculariza seus papéis recentes. As únicas opções possíveis para atores maduros parecem ser se aposentar a tempo para serem lembrados como mitos ou continuar trabalhando para acabar sendo motivo de chacota. No primeiro grupo estão Gene Hackman (seu último papel foi em 2004, aos 74 anos), Jack Nicholson (aposentado em 2010, aos 73) e Sean Connery (que morreu em 31 de outubro aos 90 anos, depois de 16 anos aposentado). E os veteranos que ainda estão ativos ―Robert Redford, Anthony Hopkins, Dustin Hoffman― trabalham apenas para preservar a dignidade de sua filmografia.

Os termos em que se fala da decadência de Robert De Niro dizem muito sobre como a sociedade percebe a velhice. O terror do declínio físico leva muitos a desejar que os idosos simplesmente desapareçam para não nos lembrarem da nossa própria mortalidade. De acordo com alguns espectadores, De Niro traiu a memória que tinham dele e, portanto, seu declínio profissional é uma afronta pessoal para eles. Andrew Barker definiu Ajuste de Contas (uma comédia de boxe com Sylvester Stallone) como “Dois velhos rabugentos com Rocky Balboa e Jake LaMotta”.

“Os papéis que lhe oferecem agora não são os mesmos de quando estava no auge”, esclareceu um sócio de De Niro. “Com a idade, os bons papéis se dissipam e ele não quer parar de trabalhar. Rodar filmes é sua vida e ele se recusa a passar anos esperando um roteiro de seus sonhos que talvez nunca chegue. Continuar trabalhando o mantém ocupado e relevante. Já não se importa com a crítica, sabe que demonstrou com sobras ser um ator formidável”. A única conclusão a ser tirada da trajetória recente de De Niro é a mais óbvia: se lhe oferecessem filmes melhores, ele os faria.

Seus próximos projetos provam isso: o prestígio recuperado com Coringa e O Irlandês devolveu-o ao círculo dos melhores e agora prepara filmagens com autores como Scorsese (a adaptação do romance Assassinos da Lua das Flores) e James Gray (Armageddon Time), que alternará com Wash Me In The River, um daqueles thrillers do subgênero “ator veterano correndo” que Liam Neeson fundou com Busca Implacável. No momento não tem prevista outra comédia para fazer o vovô. Muitos cinéfilos estão decepcionados com ele porque consideram que parte de sua filmografia recente não está à altura de sua própria lenda. Mas, na realidade, foi Hollywood quem falhou com Robert De Niro.

EL PAÍS


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

John le Carré / The Spy Who Came in from the Cold / Sheri Gee




JOHN LE CARRÉ

THE SPY WHO CAME IN FROM THE COLD

Art Direction: Sheri Gee



segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

John le Carré / The Spy Who Came in From the Cold

 


Covers / Posters
THE SPY WHO CAME IN FROM THE COLD
by John le Carré




quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

John Le Carré: “O Brexit é a maior idiotice já perpetrada pelo Reino Unido”

 

John Lhe Carré, retratado em Deia (Maiorca) em agosto.
John Le Carré, retratado em Deia (Maiorca) em agosto.SAMUEL SÁNCHEZ

John Le Carré: “O Brexit é a maior idiotice já perpetrada pelo Reino Unido”

Romancista britânico publica seu novo livro, ‘Agent Running in the Field’, enquanto mostra sua indignação com a saída britânica da UE


Guillermo Altares
21 Oct 2019

Em seu romance anterior, Um Legado de Espiões, John Le Carré ressuscitou seu emblemático personagem George Smiley. E anunciou então que talvez fosse seu último livro. Entretanto, aos 88 anos, este clássico vivo das letras britânicas e uma referência pela teimosia e sinceridade com que defendeu seu senso de ética e um modelo de sociedade mais justo, retornou com um novo livro, Agent Running in the Field (“agente correndo no campo”), ainda inédito no Brasil. Trata-se de uma história de espiões, semelhante à suas míticas obras sobre a Guerra Fria, como O Espião que Veio do Frio e O Espião que Sabia Demais, com a diferença de que o Brexit paira sobre este. De gargalhada fácil e extremamente educado, Le Carré (pseudônimo literário de David Cornwell, nascido no Poole, Dorset, em 1931) não oculta sua irritação quando fala do Brexit ou do Governo de Boris Johnson, sobre o qual solta todo tipo de impropérios. De fato, custa-lhe falar de seu livro sem mudar de assunto e inflamar-se ao refletir sobre o que ocorre em seu país. O Parlamento britânico reuniu-se no sábado para tentar acabar com a crise política, constitucional e emocional que fraturou o Reino Unido nos últimos três anos e meio. A Câmara dos Comuns, por 322 votos a favor e 306 contra, aprovou uma emenda que obriga o primeiro-ministro a pedir uma nova prorrogação à UE.

A entrevista foi feita em Mallorca (Espanha) no começo de agosto, durante férias do escritor nas ilhas Baleares, mas foi atualizada neste domingo por telefone. Le Carré acabava de participar no sábado, em Londres, de uma manifestação contra o Brexit, mas já se esfumaram as chances de que seu país permanecesse na União Europeia – algo que ele esperava que fosse possível dois meses atrás. Inclusive, considera que a própria sobrevivência do Reino Unido está em perigo.

Pergunta. O senhor disse certa vez que viu o Muro de Berlim ser construído quando tinha 30 anos, e derrubado quando tinha 60. Imaginou alguma vez a Europa em que vivemos agora e a crise provocada pelo Brexit?

Resposta. Parece-me algo impensável. É sem dúvida alguma a maior idiotice e a maior catástrofe que o Reino Unido já perpetrou desde a invasão de Suez [1956]. Para mim é um desastre autoinfligido, pelo qual não podemos culpar ninguém, nem os irlandeses, nem os europeus... Somos uma nação que sempre esteve integrada no coração da Europa. Podemos ter tido conflitos, mas somos europeus. A ideia de que podemos substituir o acesso ao maior tratado comercial do mundo pelo acesso ao mercado norte-americano é aterradora. A instabilidade que Donald Trump provoca como presidente, suas decisões de egomaníaco… Realmente vamos nos colocar à mercê disso em vez de continuar como membros ativos da UE? É uma loucura, é terrível e é perigoso. Eu não gosto politicamente, nem acredito nisso economicamente, e não entendo. Não entendo como chegamos a essa situação em que temos um Governo do Mickey Mouse de gente de segunda categoria. O secretário [ministro] de Relações Exteriores é alguém a quem realmente desprezo, nunca conheci essa gente, mas só produziu relatórios de segunda categoria, e é um homem muito estúpido e um péssimo negociador. Isso é que o penso sobre essa situação.

P. “Quando chegamos a uma idade provecta, os grandes espiões nos pomos a procurar as grandes verdades”, diz seu personagem, George Smiley, ao final de Um Legado de Espiões, seu romance anterior. Isso é verdade também para os escritores?
"O novo acordo é uma traição à Irlanda do Norte, um prego a mais no caixão da união do Reino Unido"


R. É verdade para mim. Conforme a vida avança, me tornei mais radical, mais contrário à guerra, desesperadamente preocupado com a ecologia e a mudança climática. Tenho 14 netos e três bisnetos, e suas vidas estão em perigo, e a vida da civilização. O planeta sobreviverá, claro, mas não tenho certeza de que a humanidade conseguirá sobreviver. Você mencionou Smiley no final de Um Legado de Espiões. É interessante para mim agora, retrospectivamente, porque Smiley, pelo que sabemos, termina sua vida na Alemanha. É lá onde o encontramos ao final daquela novela, e este novo livro conta a história de alguém a quem é preciso tirar do Reino Unido. Agora mesmo é muito difícil ser britânico e europeu. A demonização da Europa por esta horrível imprensa britânica parece incontrolável. É preciso recordar que 80% da mídia britânica estão nas mãos de oligarcas que vivem em paraísos fiscais. Quem se beneficia do Brexit? É algo que não posso entender. Se você estiver em um paraíso fiscal e puder apostar contra a libra, se gerir recursos de investimento e observar de onde sopra o vento, pode ganhar muito dinheiro. É isto que faz estes oligarcas da imprensa apostarem no Brexit? Temos que recordar que tratamos com gente de segunda, começando por Johnson. Acho muito importante que os europeus compreendam isso. Não é nossa primeira escalação, é nossa terceira escalação.

P. Que acha do novo acordo de saída alcançado entre o Reino Unido e Bruxelas?

"Boris Johnson é um moleque fazendo-se passar por primeiro-ministro"


R. É uma traição à Irlanda do Norte, um prego a mais no caixão da união do Reino Unido. O interessante é o que Boris Johnson fará agora, porque ele deu uma resposta de colegial ao não querer assinar a carta a Bruxelas. É um moleque fazendo-se passar por primeiro-ministro. O principal é evitar que se produza uma saída sem acordo, e nisso apoio as medidas que o Parlamento tomou ao pedir uma nova prorrogação.

P. Há cerca de dois meses, o senhor considerava existir uma remota possibilidade de que a saída se tornasse impossível e que houvesse um novo referendo. Perdeu a esperança?

R. Temo que a realidade seja a que é. Há muito cansaço pelo Brexit, muita impopularidade das instituições. Embora a medida tenha sido desautorizada pelos juízes do Supremo Tribunal, em certa medida Johnson está cada vez mais forte. Vão lhe fechar a porta da saída sem pacto, mas temo que em poucos dias ele ganhe. Enfrentamos um aumento do neofascismo: a maior ameaça terrorista atualmente no Reino Unido vem da ultradireita, e isso quem diz é a polícia. Essa gente envenenou a atmosfera. Primeiro tocaram as velhas de canções de eurofobia, e depois criaram esses sentimentos de rejeição ao outro através da imprensa popular, e agora o estão explorando. Em algum lugar do nosso país se esconde a velha estabilidade e o senso comum, mas ele desapareceu do discurso político.
"Existe um perigo real de desintegração do Reino Unido"


P. O Reino Unido está realmente em perigo?

R. Existe um perigo real de desintegração no Reino Unido. O que estamos dizendo à Irlanda do Norte é que se danem. E tudo isto aproxima mais do que nunca a possibilidade de reunificação da Irlanda, e na Escócia podem aproveitar-se desta situação. Acredito que existe a possibilidade de o Reino Unido se desmantelar. Em longo prazo, é possível que o problema catalão se torne muito pior como consequência do que ocorrer aqui. Johnson é uma pessoa que não tem nenhuma relação com a verdade, votou contra muitas das coisas que agora mesmo está oferecendo. obteve um pacto muito pior que o anterior. É muito deprimente.

P. Acha que Donald Trump, inclusive Boris Johnson, podem ser agentes russos?

R. Não vejo por que Johnson seria, exceto pelo fato de que sempre viveu de forma muito desatada, que é um indiscreto e que tem uma personalidade muito desagradável. Trump é um assunto completamente diferente. Tem enormes interesses econômicos na Rússia, existem indicações de que sua gente tratou de especular no mercado imobiliário em Moscou, e a vida do Trump é muito desordenada. Se Vladimir Putin tivesse provas de irregularidades financeiras e estivesse disposto a divulgá-las, talvez pudesse derrubá-lo. Mas por que o faria? É muito melhor dominar o personagem. Sempre que aparece a questão russa no horizonte, Trump se comporta com uma proximidade irracional em relação a Putin. Fantasio às vezes com o que aconteceria se a inteligência britânica, que tem ótimas fontes na Rússia, conseguisse provas irrefutáveis de que Trump está controlado por Putin. Quem a escutaria? Como lidariam com isso?
"Fiz coisas no serviço secreto das quais agora me envergonho"


P. Seus últimos dois livros recuperaram o ambiente da velha Guerra Fria, neste último inclusive entre a Alemanha e o Reino Unido. Acredita que haja atualmente uma desconfiança profunda contra o Reino Unido por parte seus ex-sócios?

R. Enfrentamos um sistema de propaganda horrível. A maioria dos jornais apoia o Brexit, demoniza o primeiro-ministro irlandês e toda a Europa, embora seu pior inimigo seja a Alemanha. Não deixam de falar do espírito de Dunquerque, de como a Europa deixou a Inglaterra sozinha. É pura porcaria. Mas estamos nas mãos de manipuladores, e a Rússia colaborou nesta manipulação. Não foi totalmente admitida a dimensão da intervenção russa naquele referendo. Cada vez há mais evidências. Convocar um referendo no Reino Unido, onde existe uma democracia parlamentar, é absurdo. Fazemos um referendo sobre a pena de morte e começamos a pendurar gente nas ruas? A chave da democracia parlamentar é que se escolhem pessoas competentes para representar sua comunidade. O que aconteceu conosco, o que aconteceu com a gente moderada, decente, com os pragmáticos? Temos uma tradição nisso. O aroma de autocracia está aí. Estou furioso com tudo isto: nós não somos isso.

P. O senhor escreveu que a eficácia dos serviços secretos reflete a capacidade de um país. Neste romance não parece que os serviços secretos britânicos sejam os mais eficazes do mundo...

R. Falta-nos direção. Depois da Guerra Fria ficamos desarmados de pensamento. Atualmente não encontro nenhum idealismo, exceto a confiança no Brexit. Não existe nenhum líder com força suficiente que nos mostre a realidade do que ocorre. No livro vemos essa absoluta falta de direção. Se o MI6 fosse capaz de mostrar as verdadeiras intenções de Trump, seu acordo com Putin, a que governo apresentaria? A que entidade dos Estados Unidos? O terrível em ambos os lados do Atlântico é a ausência de coragem moral.

P. Um dos grandes tema de sua literatura é a capacidade das pessoas em continuarem sendo morais em um mundo imoral. É também um dos temas deste livro?

R. Sem dúvida. Embora agir de forma consiste e moral posa ser tremendamente perigoso em um mundo real... No período que vai do final da Guerra Fria até agora, queríamos sentir que tínhamos um objetivo moral, um grande líder e um plano Marshall. Queríamos nesse momento alguém que agarrasse a oportunidade de refazer o mundo. Era possível. Um grande momento e um grande líder. Ninguém apareceu.

P. No seu livro há uma cena muito emocionante e que, ao mesmo tempo, sinto que é muito pessoal para o senhor, quando o protagonista confessa à família que é um espião por tudo o que implica de mentiras dentro da família, como aconteceu com o senhor em relação ao seu próprio pai. É assim?

R. Nos serviços secretos sempre era um problema, porque em algum momento você tinha de falar com os filhos e normalmente se esperava que tivessem passado a puberdade... Era aí que acontecia essa conversa. Isso não aconteceu comigo porque ele já havia saído do serviço na época. Mas muita gente teve de passar por isso e muitas vezes a reação dos jovens era muito difícil: ‘Você mentiu para mim durante toda a juventude’. Em um sentido mais amplo, fiz coisas no serviço das quais agora me envergonho, coisas totalmente justificáveis pela ética do serviço, mas que agora as olho nuas. Em certa medida, Nat também está um pouco envergonhado e suas últimas palavras para Ed são: “Eu queria dizer que fui um homem decente, mas que já era tarde demais”. O que significa decência?

P. Voltando à cena do seu livro na República Tcheca que citou anteriormente, mostra que os russos perderam a Guerra Fria, mas venceram a pós-guerra?

R. A Rússia, graças a uma maciça operação de relações públicas, dá a sensação de que controla tudo, na realidade está falida e a situação de sua economia é terrível. Mas conduz sua política de expansão territorial, por exemplo, na Ucrânia, que está em vias de desaparecer. E os russos parecem apresentar uma frente unificada diante da desunião do Reino Unido, Europa, Estados Unidos... Putin não tem escrúpulos e pensa apenas em termos de conspiração...





FICCIONES

DE OTROS MUNDOS
Le Carré ante el fin de una era
Salman Rushdie / John le Carré / Reconciliación
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John le Carré y Graham Greene / Benditas novelas de espías, de secretos y mentiras
Autores británicos que devorar
John le Carré / La gente de Smiley
John le Carré / La lección de Smiley
John le Carré / Cambios de lugar y protagonista
‘La chica del tambor’, de John Le Carré / El espionaje en los años setenta
Volar en círculos / John le Carré revela sus secretos
Volar en círculos / ¿Por qué John le Carré se convirtió en espía?
Espías como nosotros / John le Carré y Ben Macintyre
John le Carré recupera a su espía George Smiley en su nueva novela
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John Le Carré / “El Brexit es la mayor idiotez perpetrada por el Reino Unido”
The Nigh Manager / Hugh Laurie, armas y champán
John le Carré / El Dickens de la Guerra Fría
John le Carré, maestro de la novela de espías, muere a los 89 años

DRAGON
John Le Carré on Philip Seymour Hoffman / Staring at the Flame
From Ali to Zadie / The best books of autumn 2016
The Pigeon Tunnel review / John le Carré comes in from the cold 
William Boyd / Why John le Carré is more than a spy novelist
John le Carré's Measured Fury
A Legacy of Spies by John le Carré review / Smiley returns in a breathtaking thriller
Agent Running in the Field by John le Carré review / Thriller laced with Brexit fury
Elizabeth Debicki / The Night Manager
The top 10 classic spy novels
John le Carré remembered by writers and friends / 'He always had a naughty twinkle in the eye'
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10 ways of getting to know John le Carré

PESSOA
John Le Carré / Philip Seymour Hoffman
Escritor John Le Carré morre aos 89 anos
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RIMBAUD