sábado, 11 de abril de 2020

Brasil ultrapassa as 1.000 mortes, enquanto adesão ao isolamento diminui em SP, epicentro da doença



PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Brasil ultrapassa as 1.000 mortes, enquanto adesão ao isolamento diminui em SP, epicentro da doença

País registra um total de 19.638 contágios e 1.056 mortes pela doença, segundo dados desta sexta-feira. Monitoramento de celulares mostra que em São Paulo só 47% cumpriram quarentena na véspera do feriado


Pessoas com máscaras protetoras andam durante o surto de doença de coronavírus, perto do Porto de Manaus.
Pessoas com máscaras protetoras andam durante o surto de doença de coronavírus, perto do Porto de Manaus.
BRUNO KELLY  leyenda

Beatriz Jucá
São Paulo, 10 ABR 2020

O Brasil superou a marca das 1.000 mortes pelo novo coronavírus nesta sexta-feira (10), mesmo dia em que o mundo ultrapassou os 100.000 óbitos causados pela doença. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o país já registra um total de 19.638 contágios e 1.056 mortes pela Covid-19. Mas, apesar da alta constante dos números, a adesão ao isolamento social, medida apontada por especialistas como a mais eficaz para evitar a disseminação do vírus, tem diminuído em São Paulo, Estado que concentra mais casos no país, com 540 óbitos. É o que aponta uma ferramenta do Governo do Estado, que monitora a movimentação da população com base em informações das operadoras de telefonia. Nesta sexta-feira de Páscoa, dia em que o presidente Jair Bolsonaro também cumprimentou apoiadores em frente a uma farmácia de Brasília, o Governo paulista anunciou que o índice de isolamento social caiu 12,9% na quinta. No feriado, as ruas da capital também estavam mais cheias que o habitual dos últimos dias.

Segundo os dados do Governo de São Paulo, o índice de isolamento na última quinta-feira, véspera de feriado, foi de 47%. O levantamento referente a sexta-feira do Sistema de Monitoramento Inteligente só devem ser divulgados no sábado. Especialistas que ancoram as decisões da gestão estadual afirmam que é preciso que a medida tenha a adesão de 70% para trazer resultados mais efetivos e achatar a curva epidemiológica. “Se a taxa continuar baixa, o número de leitos disponíveis no sistema de saúde não será suficiente para atender a população”, diz o Governo, por meio de nota. O dado desta quinta-feira é menor que o registrado na quinta anterior (3 de abril), quando 54% da população estavam em distanciamento social.



A gestão de João Doria já afirma que com base nos registros poderá endurecer as medidas de distanciamento social e, inclusive, começar a prender pessoas que descumpram a quarentena a partir de segunda-feira (13). O Estado decretou o fechamento dos comércios a partir do dia 24 de março para tentar restringir a circulação de pessoas. Mas, nesta sexta-feira de feriado, diversas pessoas se aglomeraram na avenida Paulista, seja para protestar contra as medidas, seja para praticar exercícios físicos na ciclovia. O Governo tem feito uma campanha com disparo de mensagens pelo celular para alertar que as pessoas fiquem em casa e evitem aglomeração.

No momento, São Paulo, Distrito Federal e outros quatro Estados —Amazonas, Amapá, Ceará, Rio de Janeiro— estão na iminência de entrar em uma fase mais aguda da doença, quando há aceleração descontrolada do contágio. Estes locais têm uma incidência de casos confirmados 50% maior que a média nacional, quando considerada a taxa proporcional ao tamanho de suas populações. No último boletim epidemiológico da pasta, os Estados de Roraima e Santa Catarina foram colocados em posição de alerta, porque a taxa de incidência da Covid-19 já supera a nacional, ainda que não alcance esses 50% a mais que ela.



Nos últimos dias, o Ministério da Saúde também começou a divulgar o coeficiente de mortalidade da doença por Estado. No documento divulgado nesta sexta-feira pela pasta, apresentam os maiores índices, respectivamente: Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará. Todos eles apresentam a taxa de mortes de Covid-19 por 100.000 habitantes superior ao índice do país. Os números servem de alerta, inclusive para medir a necessidade de resposta do sistema de saúde em cada região, já que o Brasil, por seu tamanho, possui um sistema de saúde assimétrico.
Sistemas de saúde em alerta

Ainda que o Brasil não tenha entrado na fase de contágio desenfreado da doença, o elevado número de casos graves da Covid-19 já pressiona os sistemas de saúde. Na ponta, Estados e municípios correm contra o tempo para tentar ampliar suas estruturas de atendimento ―em especial as UTIs, onde são tratados os casos mais graves. O isolamento social tem sido adotado para que os gestores tenham tempo de reorganizar suas redes e ampliar o número de leitos e equipamentos num contexto de escassez global de insumos. E já há Estados atuando num limite crítico. O Amazonas declarou que cerca de 95% de seus leitos já estão em uso. O Ceará, por sua vez, diz que atua com 85% dos leitos de cuidados intensivos ocupados. As capitais desses dois Estados, Fortaleza e Manaus, receberão auxílio do Governo Federal para conseguir ampliar minimamente suas redes.


Um plano de distribuição de 60 respiradores foi iniciado nesta sexta-feira pelo Ministério da Saúde. Um total de 30 deles já foi enviado para Fortaleza. A previsão da pasta é que 20 equipamentos cheguem neste sábado (11) em Manaus. Os dez restantes devem ser enviados também neste sábado a Macapá, cuja velocidade de disseminação chamou a atenção, segundo o secretário executivo do ministério, João Gabbardo. Especialmente as capitais brasileiras estão em uma corrida contra o tempo para ampliar a estrutura e conseguir dar atenção médica aos casos mais graves da doença. A estrutura necessária não é simples. Além de camas e respiradores, é preciso garantir equipamentos de ventilação mecânica e mão de obra qualificada para manejar clinicamente esses pacientes, carências admitidas nos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde em meio à disputa global por insumos.

“A distribuição [dos 60 respiradores] levou em conta aquilo que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chama de espiral da epidemia, isto é, onde a transmissão está se dando em velocidade maior e, portanto, há mais doentes indo aos hospitais ao mesmo tempo e ocupando toda a capacidade de assistência do sistema de saúde”, informa a pasta.




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