domingo, 29 de outubro de 2023

Biografias / Édith Piaf

 

Edith Piaf




Édith Piaf

Édith Giovanna Gassion, conhecida como Édith Piaf (Paris, 19 de dezembro de 1915 — Grasse, 10 de outubro de 1963), foi uma consagrada cantoracompositora e atriz francesa. O seu ritmo musical era concentrado inicialmente em música de salão e as suas variedades, mas ficou reconhecida pelo seu talento com a música de estilo francês chanson. O seu canto dramático expressava claramente os momentos trágicos que permearam sua intensa história de vida.

Entre seus maiores sucessos estão La vie en rose (1946), Hymne à l'amour (1949), Milord (1959), Non, je ne regrette rien (1960). Participou de peças teatrais e filmes. Em junho de 2007 foi lançado um filme biográfico sobre ela, chegando aos cinemas brasileiros em agosto do mesmo ano com o título Piaf – Um Hino Ao Amor (originalmente La Môme, em inglês La Vie En Rose), direção de Olivier Dahan.

Édith Piaf está sepultada na mais célebre necrópole francesa, o cemitério do Père-Lachaise. O seu funeral foi acompanhado por uma multidão poucas vezes vista na capital francesa. Hoje, o seu túmulo é um dos mais visitados por turistas do mundo inteiro. Segundo a pesquisa da BBCLe Plus Grand Français, Édith Piaf foi considerada a 10.ª maior personalidade francesa de todos os tempos.


Edith Piaf
Lexi Mars

Biografia

Édith Piaf quando criança.

A consagrada cantora nasceu como Édith Giovanna Gassion em Belleville, um distrito cheio de imigrantes em Paris. Uma lenda diz que ela nasceu na calçada da Rue de Belleville 72, mas a sua certidão de nascimento cita o Hospital Tenon, que faz parte de Belleville. Ela recebeu o nome de Édith em homenagem a uma enfermeira britânica da Primeira Guerra Mundial que foi executada por ajudar soldados franceses a escapar dos alemães. Piaf, um nome coloquial francês para um tipo de pardal, foi um apelido dado a ela 20 anos depois.

A sua mãe, Annetta Giovanna Maillard (1895–1945), era pied-noir, mais especificamente de ascendência franco-italiana por parte de pai e cabila-berbere por parte de mãe. Ela trabalhava como cantora em um café com o pseudônimo de Line Marsa, tendo sido obrigada a deixar a profissão contra sua vontade após o casamento. Louis-Alphonse Gassion (1881–1944), o pai de Édith, era normando e acrobata de rua com um passado no teatro. Devido a dificuldades financeiras após a separação conturbada que tiveram em 1916, devido a agressões físicas, traições e humilhações, a mãe de Édith passou a sustentar a menina cantando em restaurantes, cafés, e também nas ruas de Paris, porém a abandonou em janeiro de 1918 com o ex-marido, quando Édith havia recém completado dois anos, pois decidiu ir embora de Paris para tentar seguir carreira artística como cantora, porém sem êxito, terminando por se prostituir pelas ruas parisienses para poder sobreviver, não procurando mais sua única filha, Édith, que carregou a mágoa e a dor do abandono materno por toda a vida. Sem recursos financeiros e sozinho com a filha, o pai de Édith a deixou aos cuidados de sua avó materna, Emma Aïcha Saïd ben Mohammed (1876–1930), que era negligente com Édith, batendo na menina, deixando-a sozinha em uma saleta com fome, e também não cuidava da sua higiene. Ela ficou dezoito meses com a avó, mas quando o seu pai soube desta situação, decidiu levar a filha consigo, mas não pôde ficar com ela, pois precisou se alistar na armada francesa, para lutar na Primeira Guerra Mundial. Seu pai, mesmo relutando, então, levou-a para que ficasse com a mãe dele, a avó paterna de Édith, uma ex-prostituta e atual dona de um bordel em Bernay, na Normandia. Lá, a sua avó e as demais prostitutas cuidaram da pequena Édith, em especial a meretriz Titine, que a criou por três anos como sendo sua própria filha. 

Dos cinco aos seis anos, Édith ficou parcialmente cega, devido a uma queratite. De acordo com uma de suas biografias, ela curou-se depois de sua avó, junto com as prostitutas, a terem levado em uma curta viagem até a cidade de Lisieux, para que Édith pudesse orar no túmulo de Santa Teresa de Lisieux, conhecida popularmente como Santa Teresinha. O túmulo é um local de popular peregrinação na França, onde pessoas oram para agradecer ou pedir alguma cura e/ou bênção. Após passar o dia orando, Édith retornou a Paris. Uma semana após esse episódio, milagrosamente voltou a enxergar. Esse episódio a fez tornar-se uma católica fervorosa após adulta, sempre indo a missa aos domingos, lendo diariamente a bíblia, orando de joelhos com seu terço, e sempre usando seu crucifixo no pescoço. Por toda a vida, Édith conservou grande devoção a Santa Teresinha, a quem atribuía todas as suas conquistas. 

Em 1922, aos sete anos, o pai de Édith conseguiu reunir condições financeiras para tirar a filha da companhia da avó, contra a vontade de Édith, que sofreu ao separa-se de Titine, a que mais lhe dava afeto naquele local em que vivia. Seu pai levou-a de volta consigo, para viverem juntos no circo itinerante em que ele trabalhava, onde a companhia circense viajava por toda a França. No circo, Édith apaixonou-se pelo mundo artístico e decidiu que queria ser artista como o pai, porém o mesmo saiu do circo após três anos, devido a constantes desentendimentos com o patrão. Em 1925, ele voltou para Paris com a filha, e a matriculou numa escola pública no período da manhã, já que Édith não pôde estudar no período que morou no circo, que sempre estava em uma cidade diferente, e então seu pai passou a trabalhar por conta própria fazendo acrobacias nas ruas parisienses. Ao término das aulas, Édith acompanhava o pai nas suas apresentações, recolhendo o dinheiro das mesmas, mas o público sempre questionava qual número circense a menina fazia, porém Édith ficava calada, pois não sabia ainda qual era o seu talento. Um dia, a menina de dez anos, que, tentando improvisar alguma apresentação para ajudar o pai a ganhar mais dinheiro, decidiu cantar o hino nacional francês, A Marselhesa, sendo muito aplaudida pelo pequeno público que se aglomerava a volta deles. Vendo o talento da filha, ambos passaram a sobreviver desse trabalho nas ruas de Paris: Seu pai fazia performances acrobáticas e Édith cantava.

Aos 15 anos, ela e o pai iniciaram diversas brigas. Ele temia que a jovem tivesse o mesmo destino da mãe dela, não aceitando a vocação artística da filha, não querendo que ela tentasse ter uma carreira profissional como cantora e se frustrasse, mas sim, queria lhe arrumar um casamento. Sem o pai saber, Édith já escrevia as suas primeiras canções, e quando não estava se apresentando com o pai nas ruas, fazia pequenas apresentações em estabelecimentos locais e ganhava um pouco de dinheiro. Desesperada, e querendo lutar por seus sonhos, Édith fugiu de casa, deixando uma carta de despedida para seu pai, indo viver em um quarto alugado, no Grand Hôtel de Clermont, na rua Veron, 18, em Paris. Nesta época começou a se apresentar em restaurantes e bares nos bairros nobres de Quartier Pigalle e Ménilmontant, e também nos bairros pobres do subúrbio de Paris. Nessa época, juntou-se à atriz iniciante, que frequentava suas apresentações, Simone Berteaut, apelidada de "Mômone" e as duas tornaram-se amigas inseparáveis, tendo ido morar juntas em um pequeno quarto no subúrbio parisiense, para dividir o aluguel. Já havia um ano que Édith havia saído de casa, e seu pai tentava convencê-la a voltar, o que ela não queria. Nesta época estava com 16 anos quando se apaixonou pela primeira vez, por Louis Dupont, um rapaz três anos mais velho, e entregador de pães, que tornou-se o seu primeiro namorado.

Após três meses de namoro, ela deixou o quarto que vivia com sua amiga e foi morar no quarto alugado que Louis vivia sozinho. Inicialmente, ela o ajudava com as despesas, pois ele não se opôs a sua profissão de cantora, embora Édith fosse alvo de preconceito social por ser uma mulher financeiramente independente. Aos 17 anos, em 11 de fevereiro de 1933, em Paris, Édith deu à luz de parto normal no mesmo hospital em que nasceu, a sua única filha, Marcelle Léontine Gassion Dupont. A partir daí, o seu casamento entrou em crise, pois o marido passou a humilhá-la e agredi-la, impedindo que ela voltasse a cantar. Quando sua filha fez um ano de vida, ela decidiu fugir de casa. Não queria deixar a menina, mas sabia que a noite não era um lugar saudável para uma criança estar. Assim, com as economias que tinha, voltou a morar sozinha mais distante dali, se escondendo de seu ex-marido. A filha adoeceu após a sua partida. Já estabelecida, embora ainda com pouco dinheiro, Édith voltou seis meses depois para buscá-la, mas seu ex-marido não a deixou vê-la, e a justiça nada fez para ajudar a jovem artista a recuperar a menina, pois a forte censura da época era a favor da moral e dos bons costumes, sendo contra os artistas. Impedida de ver sua filha e sofrendo muito, não pôde mais voltar a procurá-la. Marcelle faleceu de meningite, com dois anos de idade, em 7 de julho de 1935, e foi enterrada no Cemitério do Père-Lachaise, onde futuramente Édith também foi enterrada, ao lado de sua filha. Dupont, o pai da menina, criou sua filha até a morte desta. [7] A relação familiar conturbada de Édith com seu pai, que a artista voltou a procurar para uma reconciliação, porém sem êxito, as brigas com sua mãe, que reapareceu, mas só queria o dinheiro da cantora, aliado ao adoecimento e falecimento de sua única filha, causaram danos psicológicos profundos em Édith, que se culpava a todo momento, desenvolvendo uma profunda depressão, com diversas tentativas de suicídio. A cantora levou a dor imensurável da perda de sua filha até o fim de sua vida, o que a levou a dedicar-se de corpo e alma a sua carreira, optando por nunca mais querer ter filhos.

Após reencontrar sua amiga Mômone, e voltarem a morar juntas, Édith começou a cantar em praças, boates, bares e também bordéis. Lá conheceu seu segundo namorado, um cafetão chamado Albert. A relação tornou-se abusiva com o tempo, onde ele passou a ameaçá-la: Em troca de não a forçar a se prostituir, cobrava comissões sobre o dinheiro que ela ganhava cantando. Ele passou a prendê-la no bordel, e impedir que ela cantasse em outros locais. Sua amiga tentou ajudar, mas a polícia tratava cantoras como prostitutas. Após sofrer agressões, humilhações e abusos sexuais, Édith conseguiu terminar definitivamente o namoro, quando fugiu do bordel, após descobrir que ele também era um assassino, e que uma de suas colegas que contavam na noite, chamada Nádia, amante de seu namorado, cometeu suicídio, para não tornar-se prostituta.

Carreira e Relacionamentos

Em 1935, Édith foi descoberta cantando na rua da área de Pigalle por Louis Leplée, dono do cabaré Le Gerny's, situado na avenida Champs Élysées, em Paris. Foi ele quem a iniciou na vida artística e a batizou de la Môme Piaf, uma expressão francesa que significa "pequeno pardal" ou "pardalzinho", pois ela tinha uma estatura baixa (1,42 m). Lepleé, vendo quão nervosa Piaf ficava ao cantar, começou a ensinar-lhe como se portar no palco e disse-lhe para começar a usar um vestido preto, quando se apresentasse, vestuário que mais tarde se tornou sua marca registrada como roupa de apresentação. Ele também fez enorme campanha para a noite de estreia de Piaf no Le Gerny's, o que resultou na presença de várias celebridades, como o ator Maurice Chevalier e a grande vedeta do music hallMistinguett. Foi durante suas apresentações no Le Gerny's que Piaf conheceu o compositor Raymond Asso e a compositora Marguerite Monnot, que se tornou sua parceira profissional, grande e fiel amiga por toda sua vida. São de Marguerite composições como Mon légionnaire, Hymne à l'amour, Milord e Les Amants d'un jour.

No ano seguinte (1936), Piaf assina contrato com a Polydor e lança seu primeiro disco Les Mômes de la Cloche, que se torna sucesso imediato. Mas, no dia 6 de abril desse mesmo ano, Leplée é assassinado em seu domicílio. Piaf é interrogada, e por conhecer o assassino, é acusada de cúmplice, mas sem provas de sua participação no crime, acabou sendo absolvida mais tarde. Ele foi morto por um assaltante que havia sido namorado de Édith no início de sua carreira, [13] o que gerou uma atenção negativa sobre ela por parte dos mídia, ameaçando assim a sua carreira.[11] Édith havia terminado esse relacionamento após descobrir que ele era um criminoso, mas o mesmo passou a persegui-la e ameaçá-la, e ela nunca soube se realmente foi uma coincidência ele assaltar a casa e depois matar seu empresário, se fez isso para complicar sua vida ou se na verdade pensou que Édith estava na casa e foi lá para matá-la. Esse episódio a fez recair em depressão, abusando do álcool e cigarro. Para reerguer a sua imagem, ela retoma contato com Raymond Asso, com quem, mais tarde, ela também viria a se envolver romanticamente. Raymond passou a ser o seu novo mentor e foi ele quem mudou o nome artístico dela de "La Môme Piaf" para "Édith Piaf". Ele encomendou a Marguerite Monnot canções que tratassem unicamente do passado de Piaf como cantora de rua.[11] A partir deste reencontro, Raymond começou a fazer Piaf trabalhar arduamente para se tornar uma cantora profissional de Music Hall, a orientando para que soubesse usar gestos suaves com as mãos, e figurinos mais belos no palco.

Entre 1936 e 1937, Piaf se apresentou no Bobino, um music hall no bairro Montparnasse. Em março de 1937, ela fez a sua estreia no music hall ABC, onde ela se tornou imediatamente uma imensa vedete da canção francesa, amada pelo público e difundida pela rádio. Em 1940, estreou-se no teatro com uma peça de Jean CocteauLe Bel Indifférent,[11] escrita especialmente para ela, e que a fez contracenar com seu então namorado, o ator Paul Meurisse. Ao lado de Paul, ela se estreia em um filme em 1941Montmartre-sur-Seine de Georges Lacombe.

Durante a ocupação alemã na França, Piaf continuou seus shows. Muitos a consideraram uma traidora, mas, após a guerra, ela declarou que trabalhou a favor da resistência francesa. Na primavera de 1944, recém separada de Paul, Piaf conhece o jovem cantor Yves Montand e passou a ser sua amiga e mentora intelectual.[5] Eles também foram namorados.[13]

Em 1945, Piaf escreveu uma de suas primeiras canções: La Vie en Rose, a canção mais célebre dela e seu grande clássico, que a consagrou mundialmente. Em 1946, Montand estreia no cinema ao lado de Piaf em Étoile sans lumière. Neste ano também, o romance terminaria para Édith e Yves. Piaf acaba desfazendo o relacionamento devido às traições dele, no momento em que ele estava perto de alcançar o mesmo sucesso dela.

Durante esse tempo, Piaf estava fazendo muito sucesso por toda a França. Após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se famosa internacionalmente, excursionando pela EuropaJapãoAmérica do Sul e América do Norte. De início, ela conseguiu pouco sucesso entre o público norte-americano. Entretanto, após a publicação de uma brilhante matéria enaltecendo sua carreira, escrita por um proeminente crítico de Nova York,[11] Piaf viu seu sucesso crescer ao ponto de sua popularidade levá-la a se apresentar oito vezes no Ed Sullivan Show e duas vezes no Carnegie Hall (1956 e 1957).

Em 1947, ela faz os seus primeiros shows nos Estados Unidos. Em 1948, durante sua volta aos Estados Unidos, ela conheceu [4] o pugilista Marcel Cerdan. De nacionalidade francesa, mas nascido na Argélia, Marcel era casado ao começar seu tórrido romance com Édith Piaf. Pouco tempo depois de os dois se conhecerem, Marcel tornou-se campeão mundial de boxe. Em 28 de outubro de 1949, Marcel morreu em acidente de avião em um voo de Paris para Nova Iorque,[14] onde a reencontraria. Édith ficou extremamente abalada com a morte de seu amante: Ele ia deixar a esposa para casarem-se. Sofrendo muito por essa perda, suas crises de depressão aumentaram. Édith desenvolveu ansiedade e insônia, e também fibromialgia e artrite reumatoide, que lhe causavam dores físicas insuportáveis. Com o intuito de amenizá-las, Édith Piaf começou a se anestesiar, aplicando fortes doses de morfina. Ela acabou aumentando seu vício em cigarros e bebidas alcoólicas, vícios estes que iniciou na adolescência. Quando tais vícios começaram a prejudicar a sua performance no palco e ameaçaram sua carreira, passou por tratamentos de desintoxicação, realizando tratamento psiquiátrico, tomando ansiolíticos e antidepressivos, que também lhe prejudicavam, a deixando dopada, decidindo só tomar esses remédios quando estava em crise depressiva, os misturando com altas doses de bebidas alcoólicas para cortar o efeito da sedação e poder cantar, sem estar muito bêbada e nem muito dopada. Também passou a misturar álcool e seus remédios com altas doses de barbitúricos para tratar sua insônia. Sentindo-se muito só, acabou isolando-se socialmente em sua mansão. Nesta época de recolhimento e grande introspecção, compôs grandes sucessos que a consagraram, como Hymne à l'amour e Mon Dieu, que foram cantadas por Édith em memória a Marcel.

Em 1951 o jovem cantor Charles Aznavour foi contratado como seu secretário, assistente pessoal e motorista. Com o tempo de amizade, ele tornou-se o seu confidente, e a ajudou a sair de sua crise depressiva. Ela o ajudou a decolar sua carreira, levando-o em turnê pelos Estados Unidos e pela França, e gravando algumas de suas músicas. Nestas viagens, mantiveram um caso amoroso, uma amizade colorida como definiu Édith. No mesmo ano, de volta a França, e já separada de Charles, conheceu e iniciou um namoro com o célebre cantor francês Jacques Pills. Com seis meses de namoro, casaram-se no dia 20 de setembro de 1952. Após muitas brigas porque Jacques queria ser pai e Édith não queria ser mãe, ambos não chegaram a um acordo amigável, e divorciaram-se em 1956.

Após a separação, envolveu-se amorosamente com atores, empresários, cantores e compositores. Nesta época, iniciou uma história de amor com Georges Moustaki, apelidado de "Jo", que Édith lançou no cenário musical. Ao seu lado, sofreu um grave acidente automobilístico em 1958, enquanto viajavam durante uma madrugada chuvosa, o que a fez ficar um mês internada, e deixou como sequela o agravamento de suas dores físicas e constantes desmaios, o que a levou a um uso descontrolado de morfina, devido as dores paralisantes que sentia, precisando realizar diversos tratamentos de desintoxicação. Tudo isto piorou o seu já deteriorado estado de saúde por conta da artrite e da fibromialgia, aumentando consideravelmente sua dependência por álcool, para lidar com o agravamento da depressão, pois ficou temporariamente impossibilitada de cantar. Recuperada em alguns meses, Édith pôde voltar a sorrir ao voltar para os palcos. Nessa época gravou mais um grande sucesso, a canção Millord, da qual Moustaki foi o compositor.

Em 1960 terminou seu namoro com Georges, e iniciou um relacionamento com Théo Sarapo, um cabeleireiro francês de ascendência grega, rapaz vinte anos mais novo do que ela, onde o casal enfrentou juntos os preconceitos sociais por conta da diferença etária. Os dois casaram-se em 1962, e ficaram juntos até o falecimento de Édith, que o ajudou bastante a se tornar um cantor e ator de sucesso.

Morte

    Édith Piaf faleceu em 10 de outubro de 1963, vítima de câncer no fígado, em decorrência do alcoolismo, em Plascassier, na cidade de Grasse, nos Alpes Marítimos, aos 47 anos. O consumo de bebidas alcoólicas, cigarros, barbitúricos e grande quantidade de morfina para tratar de sua dor intensa causada pelo que hoje se sabe, lúpus eritematoso sistêmico tiveram um severo impacto em sua saúde.

    Poucos meses antes de sua morte, ela alugara uma mansão de 25 cômodos de frente à praia, onde passou 2 meses de descanso com amigos e com o marido. Segundo o seu acordeonista, Marc Bonel, foi um período de muitas festas: almoços e jantares para 30 a 40 pessoas, todos os dias, regados a muito espumante, whisky e música.

    Por medida de economia, transferiu-se para uma casa em Plascassier, apenas com seus funcionários principais: A enfermeira, o acordeonista, a secretária e o empresário. Mesmo muito ocupado profissionalmente com viagens, o seu marido foi junto, onde na época trabalhava em um filme em Paris para "assegurar o dinheiro do casal", como dizia a própria Piaf.

    Édith Piaf faleceu em consequência de uma hemorragia interna no fígado: A cantora estava em coma há duas semanas. Como disse certa vez em um documentário, ela morreu "sem um grito, sem uma palavra..." O transporte de seu corpo para Paris foi feito clandestina e ilegalmente. O seu falecimento foi anunciado oficialmente no final do dia 11 de outubro. Faleceu no mesmo dia que o seu amigo Jean Cocteau e foi enterrada no cemitério do Père-Lachaise (Divisão 97).

    Grandes amizades

    Édith Piaf influenciou grande parte dos artistas da sua época. Tornou-se principalmente uma ponte para que estes se conhecessem; geralmente, o seu círculo de amizade se encontrava em sua casa. Foi na sua residência que grandes nomes da música francesa tiveram o primeiro contato. Em diversas vezes, iniciaram maravilhosas parcerias musicais, tais como Gilbert Bécaud, Jacques Pills (célebre cantor francês com quem a intérprete se casou em setembro de 1952 na Igreja de São Vicente de Paulo), Jacques Plante, Louis Amade, Charles Aznavour (com quem também teve um caso amoroso), Jean Broussolle, Yves Montand, Jacques Prévert, Francis Lemarque, entre tantos outros, hoje também consagrados na história fonográfica da França e do mundo.

    Segundo Marc Robine, em seu livro Il était une fois la chanson française: Des trouvères à nos jours, é na casa de Piaf que Gilbert Bécaud começa a sua amizade com Charles Aznavour com quem ele escreverá diversas canções como Mé qué me qué ou La Ville, que serão registradas em cada um deles, interpretadas e preparadas de maneira bem diferente. Ainda na casa da cantora, Bécaud reencontra Jean Broussolle – das Compagnons de La Chanson, que lhe escreverá as letras de Alors, raconte. Os Compagnons registraram, no curso de sua longa carreira, uma gama de canções de Bécaud e Aznavour. Também na residência de Piaf, Charles Aznavour conheceu Jacques Plante, que se tornou um de seus grandes colaboradores (For me…formidableLa BohèmeLes Comédiens…). Assim, pouco a pouco, o círculo de relações e de colaborações de Piaf foi se alargando ainda mais. Na época imediata ao pós-guerra, que via nascer toda uma nova geração de artistas, não só a cantora teve apoio incondicional de seus amigos, grandes profissionais de música, mas também ajudou na carreira de muitos deles.

    Discografia

    Brasileira

    • La vie en rose
    • The very best of Édith Piaf (1990)
    • Édith Piaf: 30ème anniversaire (2000)
    • Sparrow of Paris (2002)
    • Tu es partout (2002)
    • Hymme à l'amour (2007)
    • Platinum Collection - Digipack Édith Piaf
    • La Historia: Box Édith Piaf (2008)
    • Coleção Forever: Édith Piaf (2008)

    As grandes canções de Édith Pia

  • L'accordéoniste (1940)
  • La vie en rose (1946)
  • Les trois cloches (1946)
  • Hymne à l'amour (1950)
  • Padam… Padam… (1951)
  • Jézebel (1951)
  • Johnny, tu n'es pas an ange (1953)
  • Sous le ciel de Paris (1954)
  • Les amants d'un jour (1956)
  • Mon manège à moi (Tu me fais tourner la tête) (1956)
  • Milord (1959)
  • Non, je ne regrette rien (1960)

Os filmes

  • La garçonne (1936) Jean de Limur
  • Montmartre-sur-Seine (1941) Georges Lacombe
  • Étoile sans lumière (1946) Marcel Blistène
  • Al diavolo la celebrità (1949) Mario Monicelli Steno
  • Paris chante toujours (1951) Pierre Montazel
  • Boum sur Paris (1953) Maurice de Canonge
  • Si Versailles m'était conté (1954) Sacha Guitry
  • French cancan (1954) Jean Renoir
  • Édith et Marcel (1983) Claude Lelouch
  • La Môme (2007) Olivier Dahan





quarta-feira, 25 de outubro de 2023

60 anos sem Édith Piaf

 

60 ANOS sem ÉDITH PIAF! 

As temporadas de “La Môme” pelo Rio de Janeiro garantidas pelos vistos concedidos por Renato Bayma Denys (96) e pela fabulosa Dora Vasconcellos (1910-73), respectivamente (1956/1957). Hoje, muito se perdeu a distinção de distinguir o que vale e o que não possui valor algum.

FACEBOOK




segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Olivia Colman / Do cinema para a TV e vice-versa

 


A atriz inglesa Olivia Colman, que ganhou Oscar pelo papel da rainha em 'A Favorita', está em diversos filmes e séries disponíveis no streaming


Olivia Colman: do cinema para a TV e vice-versa


Por TOM LEÃO

Publicado em 14/07/2023 às 10:40

A atriz inglesa Olivia Colman é bastante versátil. Pode tanto fazer uma rainha, como uma mulher do povo, com a mesma desenvoltura. Ela já mostrou isso em seus filmes, que incluem desde ‘A favorita’ (2018), que lhe deu o Oscar de melhor atriz por seu papel como Rainha Anne, ou a escritora de meia-idade, de férias, em ‘A filha perdida’ (Netflix). Ela transita muito bem entre o cinema e a TV/streaming. Agora, pode ser vista tanto na nova série da Marvel, ‘Invasão Secreta’ (Disney+), como em ‘Great Expectations’ (Star+). Aqui vão alguns títulos disponíveis no streaming, onde o talento de Colman pode ser conferido:


Na nova série da Marvel Studios, ‘Invasão Secreta’ (novos episódios toda quarta-feira, no Disney+), ambientada na fase 5 do MCU, Nick Fury descobre uma invasão da Terra por uma facção de metamorfos Skrulls (vistos no filme da Capitã Marvel). Na trama, Olivia Colman é agente Sonya Falsworth, do serviço de inteligência britânica MI6.

Baseada no romance de Charles Dickens, muitas vezes já levado às telas do cinema, a série ‘Grandes Expectativas’ chegou no final de junho, no Star+. A minissérie conta a história de Pip (Fionn Whitehead), um órfão que anseia por uma vida melhor, até que uma reviravolta do destino e as maquinações malignas da misteriosa e excêntrica Srta. Havisham (Colman) o levam a Londres e à alta roda.

Ambientado em uma cidade litorânea inglesa em 1980, ‘Império da Luz’ (‘Empire of Light’), de Sam Mendes, é um drama passado em tempos turbulentos na Inglaterra. No filme, Olivia Colman é Hilary, uma gerente de cinema que tenta lidar com sua saúde mental, enquanto se envolve com um jovem funcionário do cinema. Está no Star+

‘A Favorita’ (Star+) se passa na Inglaterra do início do século 18, e conta a relação entre a Rainha Anne (Colman) e Lady Sarah (Rachel Weisz), sua amiga íntima, que é ameaçada por uma nova criada (Emma Stone) que fará tudo para voltar às suas raízes aristocráticas. O filme, de Yorgos Lathimos, que está no Star+, tem um humor muito peculiar.

A minissérie ‘Landscapers’ (HBO) conta a história real e intrigante de Susan (Colman) e Christopher Edwards (David Thewlis), um casal britânico 'do bem' que assassinou os pais idosos de Susan, os enterrou no jardim e se escondeu por 15 na França. Até que, um dia...

Olivia também faz uma personagem recorrente na série ‘Fleabag’ (Prime Video), como a nova mulher do pai da protagonista. Em breve ele estará em ‘Heartstopper’, nova série da Netflix.

STREAMINGS+

*Este ano, a The Walt Disney Company comemora seu 100º aniversário, e como parte das comemorações, de julho até o início de outubro, 28 curtas clássicos recém-restaurados do Walt Disney Studios irão estrear na plataforma Disney+.

*A terceira e última temporada da série documental de comédia original da HBO, ‘How to with John Wilson’, estreia na sexta-feira, 28 de julho, à meia-noite, na HBO e HBO Max. Os novos capítulos da temporada de seis episódios estrearão nas sextas-feiras seguintes.

Macaque in the trees
A série brasileira 'Cangaço Novo' estreia em agosto, no Prime Video, e terá lançamento de gala, no Festival de Gramado (Foto: Foto: divulgação)

*O grupo Tomorrow X Together se prepara para embarcar em sua primeira turnê mundial, e o documentário ‘Tomorrow X Together: our lost summer’, sobre os bastidores, chega ao Disney+ em 28 de julho.

*O Prime Video anunciou a data de estreia de ‘Cangaço Novo, a série brasileira Original Amazon: dia 18 de agosto. A produção terá première mundial no Festival de Cinema de Gramado.

*‘Freeks’, a nova série latino-americana do selo Disney+ Original Productions, já está disponível na íntegra. Acompanha o líder de uma banda de rock argentina que busca recuperar seu lugar no grupo após ser expulso por um roubo que não cometeu.

*O Paramount+ inicia o mês de julho ampliando seu catálogo com estreias exclusivas. Entre os destaques estão ‘Marcelo, Marmelo, Martelo’, ‘Operação: Lioness’, ‘Do que riem?’, ‘Obcecados’ e o longa ‘Babilônia’. Além de todos os filmes da série ‘Missão: Impossível’.

*Dentre os lançamentos de julho do Star+ estão as novas temporadas das séries animadas ‘Futurama’ (que volta com novos episódios) e ‘Os Simpsons’, as novas séries exclusivas ‘A verdade da mentira: uma nova missão’, ‘Em má companhia’, ‘Will Trent’, ‘Os segredos da Igreja Hillsong’ e ‘Jantar com Drags’, além do documentário ‘Imagine Dragons Live in Las Vegas’.
*A série ‘A Diplomata’, estrelada por Kerri Russell e Rufus Sewell, já garantiu a segunda temporada na Netflix. Mas só ano que vem.

*Com estreia em 19 de julho, a mundialmente famosa casa dos sonhos, da Mattel, ganha vida em ‘Barbie Dreamhouse Challenge’, nova série de competição apresentada por Ashley Graham, que será exibida no Discovery+, HBO Max e Discovery Home & Health.


JORNAL DO BRASIL

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Angelo Venosa, escultor


Angelo Venosa. Sem título, 1992. Chumbo e cera de abelha


Angelo Venosa, escultor


Casa Roberto Marinho abre a primeira exposição póstuma do escultor Angelo Venosa, falecido precocemente aos 68 anos, em outubro do ano passado.

Angelo é um dos protagonistas da Geração 80. Nascido em 1954 na capital paulista, em 1973, com 19 anos, Angelo participa da Escola Brasil – uma iniciativa dos artistas José Resende, Carlos Farjado, Luiz Baravelli e Frederico Nasser que promovia a discussão e a experimentação artística. Em 1974, muda-se para o Rio de Janeiro voluntariamente, onde cursa a Escola Superior de Desenho Industrial [ESDI]. Forma-se em 1977 e no início dos anos 1980 ingressa no ateliê livre da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, quando já não era considerado um iniciante, dada a comprovada bagagem teórica e experimental que trazia.

No ano de sua formatura na ESDI, Angelo se casa com Sara Grossman, que vem a se tornar o mais sólido pilar em sua vida, e com quem tem dois filhos, Daniel e Bárbara. Recém-formado e casado, o futuro artista procurou trabalho como designer –profissão que exerceu como atividade paralela até poucos anos antes de seu falecimento e da qual pouco falava. Certamente essa “outra parte” será motivo de pesquisa e paralelos, porque integra o corpo da obra do artista.

Os anos de capista e designer conferiram a Angelo certo domínio das artes gráficas digitais, que lhe foram de grande valia para suas obras iniciais, de natureza marcadamente experimental. O artista retornaria a esta fase mais artesanal em seus últimos anos de vida.

Conheci Angelo em meados dos anos 1980, à ocasião de minha primeira visita ao ateliê de Daniel Senise, com quem ele compartilhava um belo, porém deteriorado, casarão, à rua Sílvio Romero, na Lapa, no Rio. Foi impressionante meu primeiro contato com as esculturas de Angelo. Todos aqueles “seres”, vertebrados, invertebrados, marinhos, me deixaram extasiado, não só por seu mimetismo sutil, mas pela proporção que ganharam no ateliê sombrio.. Essa foi considerada, pela crítica e por estudiosos, a primeira fase do artista. Esse conjunto de obras não dialogava com o retorno ao figurativismo, um dos postulados da Geração 80, nem tampouco com a tradição construtivista que começou a imperar no Brasil, em meados dos anos 1990. Sem precedentes nem pares, você aceita, ou não, uma dada obra. Eu aceitei, como muitos.

Angelo usava ousadas e inventivas construções de madeira que eram revestidas com resina e fibra de vidro. Eram elaboradas como alegorias de Carnaval, frágeis, transitórias e deslumbrantes. (Mais tarde vim a saber que o pai de Angelo trabalhava como marceneiro em produções de teatro.) A ossatura evidenciada daqueles seres, a estrutura substancialmente desnuda, era o que mais me intrigava no artista. E acredito que, nestas quase quatro décadas de trabalho, Angelo Venosa tenha se movido no sentido de descarnar visceralmente suas obras. A baleia, instalada na praia do Leme, no Rio de Janeiro, pode ilustrar este comentário.

Não quero com isso reduzir a obra de Venosa à cadência do dentro-e-fora, ou do aberto-e-fechado. Longe disso. Nos quarenta anos seguintes, Venosa teve uma trajetória sólida e repleta de “altos”, sempre nos surpreendendo com novos caminhos e possibilidades abertos por sua obra embrionária.

Embora diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) em 2019, anos antes Angelo já sofria a ação da doença. De alma lhana e espírito sereno, dedicou-se disciplinadamente à sua arte nos últimos anos. Sempre com o apoio de sua solidária Sarinha – que compôs variações de seu sensível Réquiem para um vivo a seu amado.

Tudo começou com a exposição Penumbra, em 2018, no Museu Vale, em Vila Velha, no Espírito Santo, com curadoria e belo texto de apresentação de Wanda Klabin. Em 2019 esta exposição é reinstalada na Galeria Nara Roesler, em São Paulo, representante da obra do artista. Dois grandes grupos de “estruturas” descarnadas e encarnadas foram justapostas frente a frente. Angelo fez amplo uso da sombra, ao escurecer a luz artificial.

No mesmo ano, a memorial obra Catalina é exposta no Paço das Artes do Rio de Janeiro. A essa altura, o artista substitui a fibra de vidro e a resina pelo papel opaco e translúcido. Igualmente, os programas de computação lhe permitiram maior precisão e um resultado mais apurado, diferentemente das primeiras obras, que eram mais experimentais.

A grande emoção viria em 2021, com a exposição Quasi - ainda vivo, still life, natureza viva... Quasi foi uma exposição seminal e histórica: uma iniciativa inesquecível da Galeria Nara Roesler do Rio. Com a exceção de uma obra figurativa, uma cobra, a exposição é composta de fungos gigantes, muitos dos quais são ligados, um a outro, por espessas veias feitas de tubos de papel branco com estrutura de fios de metal. Muitos seres eram bi terminados e deixados sobre o chão. Quasi foi a última exposição concebida e executada pelo próprio artista. Nota-se que ela foi feita sob medida para a arquitetura da Galeria.

Angelo Venosa. Sem título, 2019
Divulgação

Em Quasi, muitos como eu se despediram de Angelo. As obras brancas sobre o branco da Galeria pediam silêncio e emanavam serenidade. Foi um beijo, um abraço que ele deu a todos os amigos, na cidade que ele amava, o Rio de Janeiro.
Ainda em 2021, O Museu de Arte Contemporânea de São Paulo realizou, a partir de seu acervo pessoal de obras dos anos 1980, um diálogo deste acervo com a produção dos últimos anos. Infelizmente o artista não pode estar à abertura da exposição.

Sempre que falamos de Angelo Venosa, o nome do Parque Lage e de certos artistas, como Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Luiz Zerbini, Leda Catunda, Leonilson, Sarinha, vem à baila. À guisa de complemento, sempre dizem que ele foi o único artista de sua geração a se dedicar à escultura.
Esse comentário é impreciso, e não faz jus a uma série de outros artistas que, como Angelo, despontaram, como escultores, nos anos 1980, tais como Sergio Romagnolo, Frida Baranek, Beth Jobim, Nelson Felix, Barrão, Ivens Machado, entre outros. Deduzo que o problema resida na falta de um fio condutor na produção escultórica realizada no Brasil. Não vejo afinidade da obra de Angelo com seus pares, nem tampouco dos pares entre si. Isso pode ter tornado, nessa década, algo solitário, a prática da escultura, já um tanto sufocada pela proeminência que a pintura conquistara nos anos 1980. Sim, neste caso, Angelo seria um dos poucos, mas não o único escultor.

Depois de Maria Martins e Miró, é louvável que a Casa Roberto Marinho tenha aberto suas portas para um escultor ultracontemporâneo como Angelo Venosa, sobretudo com a curadoria de Paulo Venâncio Filho, profundo conhecedor da obra do artista e autor de vários textos sobre ele. Penso também que, de tanto eu ter enfatizado o início e o fim, e suas similitudes, da produção do artista, acabei por negligenciar trinta anos de exposições surpreendentes cujas obras estarão propiciamente presentes em Angelo Venosa, escultor.


SERVIÇO:

ANGELO VENOSA, ESCULTOR
Abertura pública: 25 de agosto de 2023, das 12h às 18h
Encerramento: 12 de novembro de 2023

Instituto Casa Roberto Marinho
Rua Cosme Velho, nº 1105 - Rio de Janeiro | RJ
Tel: (21) 3298-9449
Visitação: de terça a domingo, das 12h às 18h
(Aos sábados, domingos e feriados, a Casa Roberto Marinho abre a área verde e a cafeteria a partir das 9h.)

Ingressos à venda exclusivamente na bilheteria:
R$ 10 (inteira) / R$ 5 (meia entrada)
Às quartas-feiras, a entrada é franca para todos os públicos.
Aos domingos, “ingresso família” a R$ 10 para grupos de quatro pessoas.

A Casa Roberto Marinho respeita todas as gratuidades previstas por lei e é acessível a pessoas com deficiência física.

Estacionamento gratuito para visitantes, em frente ao local, com capacidade para 30 carros.


JORNAL DO BRASIL




domingo, 15 de outubro de 2023

Louise Glück / Matinas

Louise Glück



Louise Glück
Matinas

Pai inalcançável, quando nós fomos originalmente
expulsos do paraíso, você criou
uma réplica, um lugar de alguma maneira
diferente do paraíso, sendo
planejado para ensinar uma lição: por outro lado
a mesma – beleza em cada lado, beleza
sem alternativas – Exceto que
por não sabermos qual era a lição. Deixados sós,
nós exaurimos uns aos outros. Seguiram-se
anos de trevas; nos revezamos
trabalhando no jardim, as primeiras lágrimas
encheram nossos olhos conforme a Terra
ficou turva com pétalas, algumas
vermelho-escuras, outras cor de carne –
Nós nunca pensamos em você
a quem aprendíamos a venerar.
Nós apenas sabíamos que não é da natureza humana amar
somente aquilo que retribui o amor.