Adolescentes nos EUA se prostituem para fugir da fome, diz estudo
Por comida, americanos nessa faixa etária também cometem assaltos e vendem droga
RIO - A prostituição e o crime são, em alguns casos, as únicas saídas encontradas por adolescentes em situação de insegurança alimentar nos Estados Unidos, segundo pesquisa revelada nesta segunda-feira pelo think tank americano Urban Institute.
O estudo qualitativo "Impossible choices", feito em parceria com a ONG Feeding America, entrevistou 193 adolescentes com idade entre 13 e 18 anos por três anos. Em todas as dez comunidades incluídas na pesquisa, foram citados casos de meninas que recorreram ao sexo como meio para obter dinheiro ou comida — fazendo das adolescentes as mais vulneráveis à exploração sexual.
Frequentemente, esta exploração ganha a forma do que os pesquisadores chamaram de "transactional dating", algo como encontros de transação, em que a adolescente faz sexo regularmente com alguém — muitas vezes um homem bem mais velho — em troca de refeições ou bens materiais. Ou seja, a prostituição não necessariamente envolve o dinheiro.
Entre os meninos, é mais comum o apelo a roubos e ao envolvimento com o tráfico de drogas. Em ambos os sexos, porém, há outras estratégias para combater a fome, como guardar as refeições escolares para o fim de semana, comer na casa de amigos e familiares e até ir para a prisão para garantir a alimentação.
Apesar de não ter caráter quantitativo, o estudo cita um levantamento feito pelo especialista Craig Gundersen que estima existirem, nos Estados Unidos, 6,8 milhões de adolescentes entre 10 e 17 anos com dificuldades para se alimentar suficientemente.
Em entrevista ao "The Guardian", uma das pesquisadoras, Susan Popkin, afirmou que as exploração sexual relacionada à fome, entre as adolescentes, foi uma surpresa. "Eu tenho feito pesquisa em comunidades de baixa renda por um bom tempo e tenho escrito extensivamente sobre as experiências de mulheres em comunidades pobres, além do risco da exploração sexual, mas isto foi novo", disse.
O apelo a estratégias arriscadas, segundo a pesquisa, acontece quando muitas outras estão esgotadas — as dificuldades em obter emprego têm associação direta, por exemplo. Há também a ligação com a pobreza familiar, em que os adolescentes, especialmente os com irmãos pequenos, se sentem responsáveis por colocar comida na mesa.
O estudo é concluído com recomendações ao governo, cuja atuação, no caso dos Estados Unidos, estaria focada prioritariamente na insegurança alimentar entre as crianças mais novas. Entre as sugestões a nível local e nacional, a curto e a longo prazo, estão o fortalecimento da assistência alimentar pelo governo e a facilitação do acesso a empregos.
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