A guerra dos poderosos chefinhos Puzo e Sinatra
EM 04/07/2009 ÀS 10:10 AM
O livro “Confissões de Mario Puzo e Revelações Sobre o Chefão” do próprio Puzo, apesar do título estrambótico, conta os desencontros do escritor e do cantor-ator
Frank Sinatra é o cantor Johnny Fontane de “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo (livro) e de Francis Coppola (filme). Durante anos, a Máfia patrocinou o amigo Sinatra e, quando sua carreira caminhava para a decadência, mafiosos, como Sam Giancana, levantaram-na com elegância e, não menos importante, violência. Ao escrever o “Chefão”, Mario Puzo não hesitou e aproveitou a história de como Sinatra conseguiu um papel importante no filme “A Um Passo da Eternidade” (1953), dirigido por Fred Zinnemann. A Máfia “deu-lhe” o papel do simpático Angelo Maggio, um soldado rebelde. Sinatra ficou “p” da vida e prometeu vingança, a maior delas ignorar Puzo em encontros sociais.
O livro “Confissões de Mario Puzo e Revelações Sobre o Chefão” (Artenova, 271 páginas), do próprio Puzo, apesar do título estrambótico, conta os desencontros do escritor e do cantor-ator. A dona do Elaine’s de Nova York, Elaine, tentou apresentar Puzo para Sinatra. Perguntou se não havia problema, Puzo disse que não, mas Sinatra não quis conversa.
Noutra ocasião, ao participar do aniversário de um milionário, no Chasen’s, em Los Angeles, perguntaram a Puzo se queria ser apresentado a Sinatra. Escaldado, o escritor disse que não. Quando ia embora, o anfitrião e um “assecla” pegaram Puzo pelas mãos e o levaram para conhecer Sinatra.
O relato de Puzo: “O milionário fez a apresentação. Sinatra não ergueu os olhos do prato nem por um instante sequer.
— Gostaria de lhe apresentar o meu amigo Mario Puzo — disse o milionário.
— Pois eu não gostaria — retrucou Sinatra.
Diante disso comecei a me afastar. Aparentemente, contudo, o pobre milionário não havia percebido, continuando a insistir.
— Eu não quero ser apresentado a ele — repetiu Sinatra”.
Como Sinatra parece ter avaliado que Puzo pedira para ser apresentado, o autor de “O Poderoso Chefão” esclareceu: “Escute, a ideia não foi minha”. “Seguiu-se, então, a coisa mais espantosa”, relata Puzo. “Ele não entendeu nada. Imaginou que eu estaria me desculpando por causa de Johnny Fontane, o personagem do meu livro.” Sinatra perguntou: “‘Quem foi que lhe disse para botar aquilo no seu livro? O seu editor?’ — perguntou ele, com a voz quase amável”.
Puzo, que dizia não aceitar interferência de editores em seus livros, corrigiu: “Eu estava me referindo a nossa apresentação”. Ao perceber que a “arte” era mesmo de Puzo, “Sinatra pôs-se a vociferar. O pior termo que usou para me ofender foi cáften, o que de certa forma foi lisonjeiro para mim que jamais conseguira de uma namorada que aos menos espremesse os cravos das minhas costas, quanto mais que trabalhasse para mim. Lembro-me ter ele afirmado que, não fosse pelo fato de eu ser mais velho, me daria uma surra inesquecível. Acontece que eu era um garoto quando ele já cantava na Paramount. O que me magoou de verdade foi ver aquele italiano do Norte ameaçando a mim, um italiano do Sul, com violência física. Tipo da coisa que não se faz. Os italianos do Norte nunca se metem com os do Sul”. Quando Coppola foi escolhido para dirigir o filme, Sinatra disse-lhe: “Sabe, Francis, eu trabalharia em ‘O Chefão’ para você. Não o faria por aqueles caras da Paramount, mas por você, sim”. Muitos cantores foram sondados para fazer Johnny Fontane, mas a maioria não quis. O primeiro a se prontificar foi Al Martino, mas Vic Damone foi consultado primeiro. Aceitou e, depois, recusou, porque era “leal” a Sinatra ou porque a grana era curta. “Al Martino acabou conseguindo o papel e, na minha opinião, saiu-se muito bem”, conta Puzo.
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