sábado, 31 de agosto de 2024

Frida Kahlo e Diego Rivera / Uma história de amor e arte

 


Após um acidente devastador, Frida Kahlo encontrou na pintura uma nova forma de viver e amar ao lado do muralista Diego Rivera, com quem compartilharia uma vida marcada pela arte, paixão e desafios
Após um acidente devastador, Frida Kahlo encontrou na pintura uma nova forma de viver e amar ao lado do muralista Diego Rivera, com quem compartilharia uma vida marcada pela arte, paixão e desafios


Frida Kahlo e Diego Rivera: uma história de amor e arte

Descubra como a tragédia, a recuperação e a paixão moldaram a vida e a arte de Frida Kahlo ao lado de Diego Rivera

23 AGOSTO 2024, 

Após o trágico acidente que Frida Kahlo sofreu no final de sua adolescência, muitas coisas mudaram em sua vida. Ela precisou passar por um longo processo de recuperação, que incluiu inúmeras cirurgias e meses de convalescença em uma cama. Com isso, ela acabou por abandonar seus estudos na Escola Nacional Preparatória, seu namoro com o jovem Alejandro Arias também terminou, e ela passou a explorar a pintura durante o longo tempo em que esteve acamada, utilizando cavaletes adaptados que sua mãe encomendara especialmente para ela.

Ao ir se recuperando, por intermédio de amigas, decidiu se filiar ao Partido Comunista e foi lá que começou a travar relações com o famoso muralista Diego Rivera. Ela já havia tido contato com Diego na época da Preparatória, quando o artista foi encarregado de pintar um enorme mural. Naquele período, Frida, entre suas aulas, gostava de observar Diego pintando.

Na época em que se aproximaram, Rivera era o artista mais famoso do México. Sua dedicação, fluência e velocidade na pintura eram incríveis. Quando pintava, parecia estar tomado por uma força sobre-humana. Não foram poucas as vezes em que ele fez suas refeições ou até mesmo passou noites sobre os andaimes, enquanto trabalhava para concluir seus murais. Começou a pintar ainda menino e, aos 10 anos, enquanto ainda estava na escola primária, exigiu de seus pais que o mandassem para uma escola de arte, a Academia de Belas Artes de San Carlos. Ganhou prêmios e bolsas até que, em certo momento, começou a achar o ensino acadêmico limitado e passou a trabalhar por conta própria. Quando decidiu alavancar seus conhecimentos na Europa, passou um ano na Espanha, depois se estabeleceu em Paris, até voltar anos depois para o México, deixando para trás uma ex-esposa, uma filha ilegítima e muitos amigos boêmios e artistas. Em seu país de origem, estava empenhado em criar uma arte revolucionária e especificamente mexicana.

Foi em 1928 que Frida de fato o conheceu. Na época, ela tinha 21 anos e Diego, 41. Ele havia terminado seu segundo casamento com a mexicana Lupe Marín, com quem teve duas filhas, e havia sido chamado às pressas pelo Partido Comunista para trabalhar na Campanha Presidencial de Vasconcelos.

Embora fosse um homem gordo e feio, Diego atraía as mulheres com facilidade, devido à sua personalidade, humor brilhante, charme e vitalidade. Sabia ser afetuoso e também era muito sensual. E claro, também era famoso, algo que não podia ser ignorado. Era um homem mulherengo; muitas das modelos que posavam para seus murais (normalmente nuas) também acabavam conhecendo a cama do pintor.

Existem inúmeras versões de como Frida e Diego realmente se conheceram, mas uma delas é a que a própria Frida descreve em seu diário:

Assim que me deram permissão para andar e sair à rua, fui carregando minhas pinturas, ver Diego Rivera, que na época estava pintando afrescos nos corredores do Ministério da Educação. Eu só o conhecia de vista, mas o admirava imensamente. Fui corajosa o bastante para chamá-lo para descer do andaime, queria que visse minhas pinturas e me dissesse sinceramente se elas valiam ou não alguma coisa... Sem mais delongas, eu disse: ‘Diego, desça’. E, sendo do jeito que ele é, tão amável, tão humilde, ele desceu. – Olha, não vim para flertar nem nada disso, mesmo sabendo que você adora um rabo de saia. Vim aqui te mostrar minha pintura. Se estiver interessado, me diga; se não, me diga também, porque aí vou trabalhar em alguma outra coisa para ajudar meus pais. Então ele me olhou e disse: – Olha, em primeiro lugar, estou muito interessado em sua pintura, principalmente neste seu retrato, que é o mais original. As outras três me parecem influenciadas por coisas que você viu. Vá para casa, pinte um quadro, domingo que vem eu passo lá para ver e te digo o que eu acho. Ele fez isso e me disse: Você tem talento.

A versão de Rivera sobre esse dia é mais detalhada e talvez um pouco mais romantizada também, mas ambas mantêm o mesmo teor sobre como se conheceram. Em alguns trechos de seu relato, fica nítida a admiração que ele criou por ela desde aquele momento:

Quando examinei suas pinturas, uma por uma, fiquei extremamente impressionado. As telas revelavam uma rara energia de expressão, um delineamento preciso de caráter e uma verdadeira severidade. Elas nada tinham dos truques em nome da originalidade que marcam o trabalho de iniciantes ambiciosos. Tinham uma honestidade plástica fundamental e uma personalidade artística própria. [...] Para mim era óbvio que aquela menina era uma autêntica artista. [...] Ela disse: ‘Não vim aqui atrás dos seus elogios. Quero a crítica de um homem sério. Não sou amante da arte nem amadora, sou só uma menina que precisa trabalhar para viver’. [...] Eu me senti profundamente comovido de admiração por aquela menina. Tive de me refrear para não a cobrir de elogios tanto quanto eu queria. [...] No domingo seguinte me vi em Coyoacán, procurando a Avenida Londres, 126. Quando bati na porta, ouvi alguém assoviando por cima da minha cabeça. No topo de uma árvore alta, vi Frida, de macacão, começando a descer. Rindo alegremente, ela segurou minha mão e me levou para dentro da casa, que parecia estar vazia, e para dentro do quarto dela. E então me exibiu todas as suas pinturas. O desfile de telas, o quarto dela, sua presença radiante, me encheram de uma maravilhosa alegria. [...] Eu ainda não sabia, mas Frida já tinha se tornado o fato mais importante da minha vida, e continuaria sendo, até o momento de sua morte, anos depois. [...] Dias depois de visitar Frida em casa, eu a beijei pela primeira vez.

Ao concluir seu trabalho no Ministério da Educação, Diego passou a cortejar Frida seriamente. Apesar da grande diferença de idade entre eles, isso não foi um empecilho, e a família dela parecia aceitar bem. Ele a visitava aos domingos, e ela passava horas a fio com ele em cima do andaime, o observando pintar. Durante o namoro, Frida também passou a pintar com mais vigor e confiança. Expor suas obras a Diego e ver que ele verdadeiramente as admirava a enchia de alegria, pois ela pensava que a admiração dele por sua arte também o fazia amá-la e admirá-la. Diego a estimulava a achar sua verdadeira voz dentro da pintura: “Sua arte deve levar você à sua própria expressão.” Sem dúvida, Rivera foi durante toda a vida de Frida um dos maiores admiradores e apoiadores da arte de Kahlo, sem, contudo, modificá-la. Ele se absteria de ensiná-la, pois não queria macular o talento próprio de Kahlo. Frida, no entanto, observava e ouvia o muralista e assim aprendia com ele.

Pouco tempo depois, quando Diego pediu a mão de Frida em casamento, as opiniões se dividiram. Enquanto alguns amigos a apoiavam a se casar com o grande gênio da pintura, outros ficavam perplexos ao ver que ela esquecera seu antigo e lindo namorado para se juntar a um homem feio e velho. Já seu pai, Guillermo Kahlo, aprovou a união, talvez influenciado também pela situação que vivia em casa. Com dificuldades de sustentar a família e tendo que pagar as altas despesas médicas de Frida após o acidente, que não eram poucas e que ele sabia que se estenderiam por anos, ele viu na união com Rivera uma solução. Nem Guillermo nem a mãe de Frida estavam em boa saúde; Frida era ainda a única filha solteira, e eles já não tinham perspectiva, após o acidente, de que ela tivesse uma carreira profissional. Casando-se com Rivera, ela teria um homem tido como rico e generoso, capaz de sustentá-la e suportá-la em suas necessidades. Sua mãe, contudo, não queria aceitar que a filha se casasse com um homem de 42 anos, feio, gordo, comunista e ateu, mesmo sendo rico. Mas ela nada pôde fazer a respeito e, em agosto de 1929, os dois oficializaram a união. Frida relatou mais tarde em seu diário:

Ninguém compareceu à cerimônia, só meu pai, que disse a Diego: – Saiba que minha filha é uma pessoa doente e vai ser doente a vida inteira; ela é inteligente, mas não é bonita. Pense bem se é isso que você quer, e se você quiser se casar, eu dou a minha permissão.

Algum tempo após o casamento, Diego rompeu com o Partido Comunista, mesmo mantendo seus ideais marxistas que continuaram como o centro de suas pinturas. Diego, sendo secretário-geral do Partido Comunista Mexicano, estava sempre sob fogo cruzado e contra ele pesavam muitas acusações. Suas amizades eram questionadas, sua discórdia com outros membros do partido e o fato de aceitar encomendas de novos murais de um governo tido como reacionário, algo que o partido enxergava como propina: permitir que Rivera pintasse martelos e foices em prédios públicos fazia com que, aos olhos da opinião pública, o governo parecesse liberal e tolerante. As amizades que Rivera fazia com quem bem entendia também eram vistas como desvio de inclinação direitista e toda a situação passou a ficar insustentável para o muralista, que decidiu se autoexpulsar do partido.

Após esse episódio, ele continuou trabalhando com afinco, foi nomeado diretor da escola de artes onde estudou quando era menino e pintou de forma prodigiosa. Já Frida não se dedicou muito à pintura nesta época. Para ela, ser esposa de Diego era em si um trabalho de tempo integral. Ela cuidou dele quando ele adoeceu por esgotamento físico e também se desvencilhou do partido após a saída do marido. A carga de trabalho absurda de Rivera era motivo de preocupação para Frida; em um episódio, ele chegou a adormecer no andaime, por exaustão, e caiu lá de cima. Nesse período, ela descobriu também que, para manter-se perto dele, a maneira mais fácil era juntar-se a ele no andaime, e assim o fez. Nesse tempo, iniciou também uma estranha e forte amizade com a ex-esposa de Diego, Lupe Marín, que ensinou Frida a cuidar do pintor, fazendo todas as comidas que Diego gostava e levando-lhe o almoço no andaime todos os dias ao meio-dia, em uma cesta ornamentada com flores e bilhetes carinhosos. Em agradecimento, Frida fez um retrato de Lupe tempos mais tarde, quando voltou a pintar.

Durante os meses em que se hospedaram em Cuernavaca, numa casa no sopé da montanha cedida pelo embaixador norte-americano para que Diego terminasse os murais que ele lhe havia encomendado, Frida e Diego puderam finalmente ter sua lua de mel. Lá passaram tempos mais tranquilos, embora a carga de trabalho de Rivera continuasse grande. Foi lá também que Frida sofreu seu primeiro aborto, quando estava com três meses de gestação. Ela e Diego nunca conseguiram ter filhos. Outros abortos ocorreram nos anos seguintes, fruto do estrago feito em seu corpo pelo acidente. E a cada episódio, ela chorava e se lamentava miseravelmente, sabendo que jamais poderia gerar um filho.

Frida também teve que lidar com os casos extraconjugais do marido, que iniciaram ainda no primeiro ano do casamento. A vida em comum dos dois sempre foi, de certa forma, turbulenta, mas o fato é que, mesmo quando Frida o odiava, ela também o adorava; ele passou a ser o eixo central de sua vida. E, apesar de seus casos extraconjugais e de sua dedicação primordial ao trabalho, o fato é que Diego amava Frida profundamente.


 A escultura de Frida Kahlo e Diego Rivera foi feita por Juan Carlos Peña e está localizada na casa de cultura Jesús Reyes Heroles em Coyoacán, cidade do México
Apesar das dificuldades, Frida Kahlo e Diego Rivera compartilharam uma parceria artística e emocional única, com Frida encontrando inspiração e apoio em Diego
Estas estátuas se encontram no parque Frida Kahlo, próximo ao centro de Coyoacán, Cidade do México. Este parque foi inaugurado em 1984 e conta com as estátuas de bronze de Frida Kahlo e Diego Rivera
Durante a recuperação, Frida Kahlo conheceu Diego Rivera, o famoso muralista mexicano, e iniciou um relacionamento que marcaria sua vida e arte
Frida Kahlo e Diego Rivera enfrentaram juntos muitos desafios, incluindo a separação de Diego do partido comunista e a luta de Frida contra problemas de saúde
Frida Kahlo enfrentou um longo processo de recuperação após um acidente na adolescência, período em que descobriu sua paixão pela pintura
  1. A escultura de Frida Kahlo e Diego Rivera foi feita por Juan Carlos Peña e está localizada na casa de cultura Jesús Reyes Heroles em Coyoacán, cidade do México
  2. Apesar das dificuldades, Frida Kahlo e Diego Rivera compartilharam uma parceria artística e emocional única, com Frida encontrando inspiração e apoio em Diego
  3. Estas estátuas se encontram no parque Frida Kahlo, próximo ao centro de Coyoacán, Cidade do México. Este parque foi inaugurado em 1984 e conta com as estátuas de bronze de Frida Kahlo e Diego Rivera
  1. Durante a recuperação, Frida Kahlo conheceu Diego Rivera, o famoso muralista mexicano, e iniciou um relacionamento que marcaria sua vida e arte
  2. Frida Kahlo e Diego Rivera enfrentaram juntos muitos desafios, incluindo a separação de Diego do partido comunista e a luta de Frida contra problemas de saúde
  3. Frida Kahlo enfrentou um longo processo de recuperação após um acidente na adolescência, período em que descobriu sua paixão pela pintura


MEER

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A arquitetura das histórias / A tessitura narrativa também tem sua estrutura



Livros clássicos de literatura conservados em museu sobre


A arquitetura das histórias

A tessitura narrativa também tem sua estrutura

14 DEZEMBRO 2023, 


Já parou para pensar se as cidades, os ambientes ou os locais que imaginamos quando lemos um livro são os mesmos pensados pelos outros leitores? Visto que livros, muitas vezes, trazem como centro da história o cenário que acontece tudo e os seus autores se dedicam ao longo dos capítulos aos detalhes de cada pedaço das cidades, casas e espaços do enredo, o que nós pensamos é que o que nossa imaginação criou a respeito do livro é pelo menos parecido ao que outras pessoas também imaginam. Mas essa conclusão muitas vezes acaba caindo depois que um livro vira um filme e acabamos nos surpreendendo, tanto positiva como negativamente, com tudo aquilo que imaginamos durante a leitura sendo desvendado diante dos nossos olhos transformando aquelas linhas em algo visual, produzido por outras pessoas.

Sempre gostei muito de ler, livros diversos, sobre história, arquitetura, biografias e ficção. E na minha mente uma história precisava de um lugar, espaços e se o autor não me dava conteúdo eu mesma transformava a história, mas caso o livro tivesse informações sobre o lugar e ainda se fosse um lugar real eu precisava pesquisar sobre e ver a cidade, a arquitetura para construir o cenário ideal para o livro. Essa relação da arquitetura construída pela imaginação dos leitores começou a me interessar e esse ano, quando, a convite de uma amiga, criamos um clube do livro feito para amigas, a princípio arquitetas, e posteriormente amigas de amigas, não necessariamente arquitetas com opiniões e visões de mundo de coisas mais diversas. 

Para quem não conhece, clube do livro é um grupo de leitores que se reúne com certa periodicidade para discutir um livro estipulado e lido por todos os participantes, as discussões englobam todos os fatores do livro e exibem opiniões. Durante as reuniões que participei e discutimos livros diversos percebi o quanto as percepções da mesma leitura tem imagens, opiniões e impressões diferentes. 

Espaços utópicos, são os chamados cenários criados pela literatura e desenvolvidos pela nossa mente. Criamos esses ambientes e até cidades através da necessidade de visualizar o que estamos lendo, espaços que não importam a exata metragem, cores e divisões, mas sim a explicação da cena descrita em cada capítulo. E com isso, nossa mente tem o poder de construir cidades inteiras através de informações descritas em palavras.

Na literatura, a descrição do local, tempo, e contexto são chamados de ambientação do livro. O enredo principal pode correr ao redor dos personagens, mas sem uma mínima descrição desses fatores o texto corre no vácuo e isso não contribui para que a mente se envolva na leitura. Por isso a arquitetura e é um dos fatores que auxilia a definir o tom da história. Como por exemplo um ambiente de um apartamento na cidade, barulhos trânsito e buzinas se opõe ao ambiente de uma casa grande no litoral, clima de verão e sons de ondas do mar batendo na areia, e tenho certeza que você ao ler essas duas ambientações imaginou espaços totalmente diferentes e teve sensações e memórias opostas. Descrever a arquitetura e o urbanismo ilustra a história sem a necessidade de imagens e os leitores se tornam os arquitetos dos seus livros, projetando lugares, casa e países para os personagens.

A arquitetura contida nas histórias, também chamada de espaço narrativo, é proposta pelo autor, mas desenvolvida e finalizada pelo leitor. Temos assim um projeto criado pela imaginação de pessoas diferentes, com conhecimentos de mundo diversos e isso acaba criando para mesma história lugares que não são iguais, apesar de descrição dos espaço ser a mesma, cada um desenvolve um cenário que considera ideal para a leitura e mais adequada as palavras lidas. Sendo assim, essa relação entre literatura e arquitetura se torna única.


A arquitetura contida nas histórias, também chamada de espaço narrativo, é proposta pelo autor, mas desenvolvida e finalizada pelo leitor. Interior da biblioteca de Pannonhalma, na Hungria
Design embrulha um livro raro em papel especial por conter narrativas
Espaços utópicos, são os chamados cenários criados pela literatura e desenvolvidos pela nossa mente. Interior da biblioteca de Pannonhalma, na Hungria
Leitora viaja nos pensamentos após pausa na leitura dentro de uma biblioteca
Na literatura, a descrição do local, tempo, e contexto são chamados de ambientação do livro. Interior da biblioteca de Pannonhalma, na Hungria
Arquiteta e amante dos livros passeia por patreleira de títulos históricos
  1. A arquitetura contida nas histórias, também chamada de espaço narrativo, é proposta pelo autor, mas desenvolvida e finalizada pelo leitor. Interior da biblioteca de Pannonhalma, na Hungria
  2. Design embrulha um livro raro em papel especial por conter narrativas 
  3. Espaços utópicos, são os chamados cenários criados pela literatura e desenvolvidos pela nossa mente. Interior da biblioteca de Pannonhalma, na Hungria
  1. Leitora viaja nos pensamentos após pausa na leitura dentro de uma biblioteca
  2. Na literatura, a descrição do local, tempo, e contexto são chamados de ambientação do livro. Interior da biblioteca de Pannonhalma, na Hungria
  3. Arquiteta e amante dos livros passeia por patreleira de títulos históricos


MEER


quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O empréstimo do termo vernacular à arquitetura Das sábias e remotas formas de se construir


Abrigo contra o frio feito com blocos de gelo
Abrigo contra o frio feito com blocos de gelo


O empréstimo do termo vernacular à arquitetura

Das sábias e remotas formas de se construir 

14 JANEIRO 2024, 


Nos últimos anos um termo que é visto constantemente em artigos sobre arquitetura e sustentabilidade é o termo vernacular. A definição da palavra vernacular nos dicionários de português descreve que se trata de algo Particular ou característico de um país (nação, região etc.). Diz-se da linguagem desprovida de estrangeirismos, que se apresenta com vocabulário ou construções sintáticas originais e corretas; castiço, portanto, podemos entender como algo próprio do meio. Trazendo o termo para a área de arquitetura pode-se entender como arquitetura vernácula ou vernacular aquela projetada e construída propondo o uso de materiais e técnicas da região em que está inserida.

Em meados do século XX, arquitetos começaram a estudar esse tipo de arquitetura a fim de encontrar soluções para questões ambientais em seus projetos e dessa forma começaram a rever seus estilos de criar e construir mais focados na sustentabilidade. Por se utilizar de métodos e produtos naturais de uma região específica, uma arquitetura dita vernacular é reconhecida como sustentável pois evita gastos com transportes de materiais de lugares distantes e aproveita produtos disponíveis do país e que se adaptam melhor ao clima e a cultura. No Brasil, o arquiteto Lucio Costa foi um dos principais nomes nos estudos voltados a arquitetura vernacular, estudando os exemplos no país em todas as regiões, de norte a sul do país, e desenvolvendo um estudo dos principais exemplares dessa arquitetura nas diversas regiões de um país de tamanho continental.

Falando sobre cultura, na arquitetura vernacular a preservação da cultura local também é outro ponto positivo, uma vez que valoriza técnicas de construções passadas de gerações a gerações. Essas habilidades, as vezes consideradas como primitivas e de tradições dos povos, foram desenvolvidas através dos anos quando a populações vendo a necessidade de desenvolver suas moradias tiveram que lidar com as pré-existências locais, como clima e vegetações, para atender as suas necessidades. O resultado de anos de conhecimento e testes combinou materiais orgânicos, isolantes térmicos e acústicos em construções que conectam seus moradores aos ambientes criados.

Acredita-se que a arquitetura vernacular tenha iniciado na Pré-história, pela necessidade de homens em construir abrigos de proteção contra os efeitos climáticos e animais selvagens. Os povos indígenas e rurais foram responsáveis pelo desenvolvimento da arquitetura vernacular brasileira utilizando técnicas como a taipa de pilão, construções em palafitas e o adobe. Esses povos, responsáveis pela criação da arquitetura vernacular de suas regiões tem papel muito importante na proteção dos seus ecossistemas e preservação de trabalhos manuais e artesanais.

Os ensinamentos trazidos da arquitetura vernacular faz com que os arquitetos contemporâneos continuem revisitando e estudando essas técnicas como forma de tomar ações frente a questões importantes na sociedade atual, como a escassez de matérias primas, a explorações de materiais não renováveis e a crise climática. Assim sendo, o uso de técnicas desenvolvidas há muitos anos pode trazer respostas a muitos problemas da construção civil atual, como o conforto térmico e a redução de emissão de gases nocivos ao meio ambientes.

O desafio da arquitetura vernacular está na união dessas técnicas a tecnologia. A padronização dos métodos construtivos atuais, faz com que os softwares de desenho sejam desenvolvidos e programados para os métodos padronizados de construção e gera um obstáculo para projetar utilizando técnicas vernaculares em softwareschamados BIM - Building Information Modeling e isso pode afastar o dificultar o uso dessas técnicas tão úteis e necessárias para sociedade atual.

De modo geral, os pontos positivos das técnicas de arquitetura vernacular têm muito a acrescentar e ensinar a seus habitantes. E devem ser exploradas para o ato de projetar de forma consciente e sustentável. Porém, a arquitetura deve andar de mãos dadas com a tecnologia e ser absorvida pelo mundo digitalizado, esses ensinamentos têm que ser absorvidos nos softwares de projetos, pelo maquinário da construção civil e pelo mercado no geral. Só assim veremos um impacto maior para as inovações arquitetônicas.


A escola foi construída em um espaço verde de 2.549 hectares em Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil
O projeto de arquitetura vernacular em Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil, ganhou o prêmio RIBA em 2018
A escola abriga cerca de 800 alunos Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil
A ideia do projeto da escola de Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil era de ambientar a educação como um lugar de moradia
Junto à comunidade indígena, arquitetos construíram uma escola-internato em Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil
A crianças da comunidade indígena de Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil, participaram da concepção do projeto
  1. A escola foi construída em um espaço verde de 2.549 hectares em Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil
  2. O projeto de arquitetura vernacular em Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil, ganhou o prêmio RIBA em 2018
  3. A escola abriga cerca de 800 alunos Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil
  1. A ideia do projeto da escola de Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil era de ambientar a educação como um lugar de moradia
  2. Junto à comunidade indígena, arquitetos construíram uma escola-internato em Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil
  3. A crianças da comunidade indígena de Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil, participaram da concepção do projeto


ARQUITETURA



terça-feira, 27 de agosto de 2024

Porto / Arquitetura para saúde mental

 


Vista da cidade de Porto, Portugal
Vista da cidade de Porto, Portugal


Porto: arquitetura para saúde mental

Um olhar renovado sobre a arquitetura e arte urbana

18 MARÇO 2024, 


Após formar em arquitetura, estava atento a tudo, observando todas as formas e linhas ao meu redor. Era uma distração gostosa, mas com o tempo comecei a me sentir cansado; parecia que todo aquele encanto pela arquitetura estava se esvaindo, e todos os edifícios pareciam iguais. Estava assustado com como o estresse e a correria do dia-a-dia deixaram tudo entediante.

Felizmente, mudei para o Porto. No início, era tanta informação que tive de parar, respirar fundo e aplicar um novo olhar à arquitetura do local. Enxergo o Porto como uma cidade colorida e animada. Mesmo com o frio chegando no final do outono, a temperatura caindo e as pessoas se fechando, a alegria do verão não está mais em todos os rostos. No entanto, o fato de viver em uma cidade multicolorida ajuda no humor. Aqui, a energia é diferente!

Passeando pelas ruas e prestando bastante atenção, é muito interessante não ver um padrão. Você passa por duas ou três fachadas verdes, encontra uma azul, topa com uma parede amarela cheia de detalhes ou com outra pintada de vermelho. Essas diferenças são muito importantes para dar identidade à cidade e a cada edifício, ajudando a configurar seu caráter. Junto às cores vibrantes, vemos entalhes e adornos de todos os tipos, criando mosaicos fantásticos. Uma combinação muito alegre e descontraída e, ao mesmo tempo, elegante e clássica, formando o visual único da cidade.

Talvez, o elemento mais importante seja o famoso azulejo português. Eles são uma tela que expõe grande parte da cultura, influenciando desde monumentos políticos até igrejas. São nestes templos religiosos, na maioria católicos, que esta arte tem maior capacidade de demonstrar sua força. Conta-se que os azulejos foram trazidos por Dom Manuel I para Portugal durante o século XV, para a decoração do Palácio Nacional de Sintra. Foram trazidos do oriente com grande influência das artes dos árabes e chineses.

Um dos maiores exemplos é a Capela das Almas, o nome deriva de Nossa Senhora das Almas, presente em imagem no interior. A capela está situada na Rua Santa Catarina, uma das ruas turísticas mais conhecidas e movimentadas da cidade. Seus murais estão sempre em alta e presentes na “timeline” das redes sociais de muitos turistas. Sua fachada é muito bem adornada, mas é a arte do painel lateral que mais chama atenção. Os azulejos mostram cena da vida de duas santas: Santa Catarina de Siena e Santa Catarina de Alexandria. Engolida por edifícios de uma zona comercial, estar em uma esquina ajudou significativamente a se destacar nas fotografias.

Outro edifício, ao final da mesma rua junto à Praça da Batalha, é a Igreja de Santo Ildefonso. Em sua fachada, estão importantes mosaicos do artista Jorge Colaço (1932) representando cenas da vida do Santo. Outros pontos com mosaicos importantes são a Pérola do Bolhão, uma mercearia que tem lindos azulejos decorativos originais, a estação de São Bento e a Igreja do Carmo. Os azulejos são tão importantes culturalmente que no edifício da Casa da Música, um monumento da arquitetura moderna, tem uma sala totalmente revestida de azulejos pintados que são réplicas de mosaicos históricos da cidade. Isso mostra a importância desse elemento.

Outra maneira de ver cores e texturas são nas obras de grafite espalhadas pela cidade, também muito importantes na cultura local. Artistas como Mr. Dheo, Alexandre Farto (aka Vhils), Hazul, entre outros, ajudam a decorar a cidade com grandes murais em grafite. As obras que mais gosto são: o painel do Mr Dheo na Rua Monsenhor Fonseca Soares, próximo à rotunda da Boa Vista; a obra “Look at Porto” do Vhils na Rua Ancira; e a obra “Mira” de Daniel Eime na Rua Nova Alfandega, as duas últimas na região ribeirinha.

Além das cores, um ponto importante a se considerar é a arborização. Grande parte das ruas é repleta de árvores, oferecendo sombra e beleza aos andantes. Espécies com copas grandes camuflam a verticalidade da cidade e ajudam na escala humana, tornando os passeios mais convidativos e os pescoços não ficam apontados para o céu. Além dos túneis verdes, a cidade tem uma quantidade muito grande de espaços abertos como parques e praças que ajudam nesta ambientação. São importantes pontes de encontro, de descanso e relaxamento, ótimos para passar alguns minutos e recarregar as energias estando em contato com a natureza.

Esses são alguns atrativos que deixam seu passeio mais agradável ao andar pelas vielas e travessas desta cidade. Existem edifícios com tantos detalhes que pode-se ficar mais de uma hora tentando decifrar tudo. Somente trancado em casa para conseguir ficar triste em uma cidade multicolorida, cheia de movimentos e arte. Um passeio rápido para tomar um café ou ir até uma praça próxima para ler um livro traz ânimo para o dia. Porto é uma cidade encantadora e comprometida com o bem-estar de seus cidadãos.


Bela e antiga fachada de azulejos da Igreja Capela das Almas no Porto, Portugal
Arte de rua pelo artista Mr. Dheo em Porto, Portugal
Fachada da Igreja de Santo Ildefonso, Porto, Portugal
Arte urbana pelo artista Mr. Dheo em Porto, Portugal
Mosaicos de Jorge Colaço na fachada da Igreja de Santo Ildefonso, Porto, Portugal
Grafite do artista Mr. Dheo na Rua Monsenhor Fonseca Soares, Porto, Portugal
  1. Bela e antiga fachada de azulejos da Igreja Capela das Almas no Porto, Portugal 
  2. Arte de rua pelo artista Mr. Dheo em Porto, Portugal
  3. Fachada da Igreja de Santo Ildefonso, Porto, Portugal
  1. Arte urbana pelo artista Mr. Dheo em Porto, Portugal
  2. Mosaicos de Jorge Colaço na fachada da Igreja de Santo Ildefonso, Porto, Portugal
  3. Grafite do artista Mr. Dheo na Rua Monsenhor Fonseca Soares, Porto, Portugal


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