domingo, 28 de abril de 2013

Salinger / Cartas inéditas revelam vida privada de Salinger



Cartas inéditas revelam 

vida privada de Salinger

  • Escritor trocou correspondências com a canadense Marjorie Sheard, que hoje tem 95 anos

The New York Times
O Globo, 24 / 04 / 2013




Cartas de J.D. Salinger Foto: Reprodução


Cartas de J.D. Salinger Reprodução
NOVA YORK - O escritor J. D. Salinger morreu em 2012, aos 91 anos. Em vida, compartilhou pouco de sua vida pessoal, sendo considerado um mistério para a maior parte de seus leitores.
Mas agora cartas escritas por ele entre 1941 e 43 vieram à tona. Documentos que eram pouco conhecidos até então.
Na correspondência, que foi adquirida pela Morgan Library & Museum e compartilhada com o New York Times, o jovem Salinger se revela tão passional quanto Holden Caulfield, o adolescente questionador que se tornou seu mais emblemático personagem.
"Ele está só no limiar de sua carreira, mas sua voz está lá", diz Declan Kiely, responsável pela curadoria dos manuscritos. "É uma maravilhosa introdução a seus primeiros anos como escritor."
No começo de 1941, Salinger começou a trocar cartas com Marjorie Sheard, uma mulher de Toronto que costumava ler as histórias que o autor publicava na "Esquire" e na "Collier's". Escritora aspirante, Sheard pediu conselhos a Salinger e foi encorajada.
"Me parece que você tem instintos para evitar ser o tipo de garota que frequenta a universidade de Vassar", escreveu Sallinger em uma carta de 4 de setembro de 1941, sugerindo algumas publicações de pequeno porte que ela poderia tentar ser publicada.
Nos anos seguintes, Salinger enviou a Sheard nove cartas, todas elas bem-humoradas e um pouco galanteadoras. "Como você é?", escreveu o autor em 9 de outubro de 1941, pedindo para ela enviar uma fotografia. Um mês depois, ele se desculpou pelo pedido. "Escrevi num impulso ­— não muito bom".
Mas Sheard enviou a resposta junto com uma foto e o autor escreveu: "Garota sorrateira. Você é bonita".
Sheard, agora com 95 anos, guardou as cartas dentro de uma caixa de sapatos no armário. Há seis anos, ela se mudou para um asilo e deu as cartas a um parente, que também as guardou.
Recentemente, Sheard, junto com a família, decidiu vender as cartas ao museu Morgan, que expõe correspondências do autor. A decisão foi tomada por conta dos crescentes custos do repouso de Sheard. O museu se negou a dizer quanto pagou pelas missivas.
A sobrinha de Sheard, Liza, declarou ao "The New York Times" que as cartas tinham um imenso valor sentimental, particularmente porque sua tia nunca se tornou uma escritora publicada e viveu a vida como uma dona de casa.
"É como se fosse fantasia, porque aquela não era a vida dela. É uma mulher jovem escrevendo a uma estrela como se eles estivessem no mesmo patamar", afirmou.
Em suas primeiras trocas de cartas, Salinger diz que está relendo "Anna Karenina". Ele afirma que a obra não é tão boa quanto "Guerra e Paz", mas que é "um trabalho muito astuto". De Tolstoi, ele escreve brincando: "Acho que ele vai muito longe".
Além de recomendar suas próprias histórias, ele sugere que a Sra. Sheard leia "O Grande Gatsby" e "The Last Tycoon", de F. Scott Fitzgerald. Ela responde que Fitzgerald e Ernest Hemingway a incomodam da mesma forma.
No início de 1942, a correspondência de Salinger toma um rumo diferente, e ele pede que Sheard não traga à tona o conteúdo do seu ainda inédito trabalho sobre Holden Caulfield. "Só Deus e Harold Ross sabem o que aquele bando de duendes da equipe estão fazendo com o meu pobre roteiro", escreve ele, referindo-se ao fundador da revista "The New Yorker".
Em correspondências seguintes, Salinger brinca sobre sua iniciação na vida militar, fechando suas cartas com pseudônimos cômicos como "Fitzdudley", "Wormsley-Bassett" e "Flo e Benjy".
Mas outros detalhes que Salinger dava sobre si mesmo são ambíguos, senão fictícios. "Era para eu casar", ele escreve em uma carta de 28 novembro de 1942, "mas ela queria tudo dito e feito, na casa de seu pai em Hollywood".
Slawenski, biógrafo de Salinger, disse que não se pode ter certeza se isso era uma referência velada a relação de Salinger com Oona O'Neill, filha do dramaturgo Eugene O'Neill, ou para algum outro relacionamento. Slawenski diz que o fim do relacionamento com O'Neill, que casou com Charlie Chaplin, partiu o coração do autor.
"É mais provável que Salinger estava se exibindo para Marjorie Sheard enquanto tentava curar suas feridas românticas", explica.
Em outros lugares, Salinger menciona que está tentando seguir em frente em sua série de contos para a "The New Yorker", e faz referências a outros trabalhos inéditos e presumivelmente perdidos que ele fez naquela época.
Um desses trabalhos, chamado "Harry Jesus", "vem direto de dentro de mim", diz ele. "Vai arrancar o coração do país inteiro para depois devolver um orgão muito mais rico."
A possibilidade de sucesso em grande escala era aparentemente ultrajante para ele. Após escrever tudo, ele acrescenta: "Eu provavelmente vou fracassar por completo com isso".

http://oglobo.globo.com/cultura/cartas-ineditas-revelam-vida-privada-de-salinger-8204372#ixzz2Rdlv6xNQ 







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