BRIGITTE BARDOT
O MITO DE UMA MULHER
Não é nada fácil falar de Brigitte Bardot ou BB - as iniciais imortalizadas na canção de Serge Gainsbourg. Ela é uma daquelas mulheres que só despertam aos nossos olhos de muito em muito tempo; é como um cometa que só visita a terra de centenas em centenas de anos. Isso faz dela uma mulher especial, mas não é o bastante. Ao longo dos anos, poucas pessoas entenderam BB, mas muitas sabem o tamanho do fascínio e da magia que esta mulher exerceu sobre o mundo durante décadas, porque foram tocadas por ela. Brigitte Bardot tem uma espécie de terceira dimensão que magnetiza as pessoas com muito deslumbramento no menor gesto.
Uma beleza estonteante, longos cabelos loiros - como a Vênus -, boca carnuda, olhos penetrantes e um corpo esteticamente perfeito. Ela já seria lindíssima se fosse apenas isso, mas BB nunca foi uma mulher oca. Tudo isso era muito preenchido de graça, de paixão, de encanto e de frescor. Um espírito cativante de mulher inquieta, transgressora, jovem, ardendo por viver. Brigitte Bardot nunca fez concessões a nada. Nem à família, à maternidade, ao casamento, aos maridos - quatro até hoje, fora os famosos romances) -, aos costumes e à sociedade francesa do seu tempo.
Para o cinema ela deu o melhor de si, nem que a maledicente imprensa da época dissesse o contrário. Basta ver E Deus Criou a Mulher (1956), Amar é Minha Profissão (1958), A Verdade (1960) ou O Desprezo (1963), filmes que reúnem as melhores interpretações de Brigitte Bardot. BB galgou os degraus do sucesso até na música, gravando vários discos e inúmeros programas de televisão, ao lado de Sacha Distel, Gilbert Bécaud e Serge Gainsbourg; tornou-se uma precursora das atuais ídolas do pop. Aos homens, como ela mesma disse, deu toda sua beleza e juventude; à mulher, lançou um modelo de comportamento – nem correto, nem errado – apenas moderno.
O mundo amou Brigitte Bardot. Nunca uma mulher foi tão odiada, invejada, incensada, insultada e amada. Seus filmes arrastavam multidões aos cinemas, seus namoros eram acompanhados de perto pela imprensa, suas viagens à América Latina e aos Estados Unidos causavam um furor inimaginável, sua simples presença poderia mudar a história de todo um lugar - como fez em Búzios, no Brasil, em 1964. Serge Gainsbourg compôs para ela uma das mais belas - e polêmicas - canções de amor de todos os tempos: “Je T’aime... Moi Non Plus”. Sua popularidade atingia níveis incomparáveis a de qualquer outra estrela do cinema. Dizia-se que perto dela Marilyn Monroe era um homem. Nos Estados Unidos chegou-se a criar o termo Bardolatria para definir o frenesi que a atriz francesa causava entre os jovens. No auge da popularidade, em 1970, o escultor Alain Aslan escolheu-a como inspiração para a Marianne – a mulher que é o símbolo e a personificação da própria República Francesa.
Tudo teve um preço alto, sua vida privada foi destruída, ela perdeu a paz e com isso ganhou muitos traumas. BB era extremamente perseguida pelos paparazzi, sempre à caça de um ângulo da atriz. Chegou a sofrer traições de pessoas inescrupulosas próximas à ela, que vendiam diários e a sua localização para revistas de fofocas e fotógrafos. Chegou a tentar o suicídio mais de uma vez, em momentos de profundo desespero e sofrimento. Após dezenas de filmes, em 1974, à beira dos 40 anos, o mundo assistiu incrédulo ao anúncio do seu aposento do cinema. Abandonar o cinema no auge foi a melhor escolha do ponto de vista profissional e pessoal. Foi sua grande salvação como ela mesma disse “Num mundo que me era hostil”.
Sua luta há mais de 30 anos em defesa dos pobres animais é admirável, uma luta incessante, que não teve fim até hoje. Brigitte Bardot está cansada, amargurada, triste, solitária. A sociedade ainda a julga sem absolvição. Ela teme morrer sem conseguir ver terminada uma batalha de décadas: o fim do massacre dos bebês foca.
Envolvida em processos de racismo na última década, por declarações polêmicas que lhe renderam uma grande antipatia da parcela jovem da sociedade francesa, Brigitte acaba inserida numa questão tão atual quanto polêmica: a xenofobia e a imigração islâmica na França dos dias de hoje. Ela ainda permanece tão contraditória quanto no auge do sucesso. Mas sempre autêntica, verdadeira, sincera e corajosa.
Creio que a maioria das pessoas nunca vão entender Brigitte Bardot, lamento, mas até posso compreender. Realmente são poucos os capazes de entender mulheres tão complexas como ela. Entre tudo isso, há uma certeza absoluta: BB é um mito na terra e isso é incontestável.
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