Madame Bovary
A mulher que vivia acima das suas necessidades
Uma leitura curiosa, mas demasiado cerebral - nada nesta Bovary transpira a paixão.
É preciso “tê-los no sítio” para se abalançar a uma adaptação cinematográfica da Madame Bovary de Flaubert, seguramente um dos romances clássicos mais referenciados e citados de sempre.
A francesa radicada nos EUA Sophie Barthes, de quem conhecíamos um muito interessante Alma Perdida (2008), tem uma ideia bem interessante para abordar a história, à qual faz alterações significativas: a sua Emma Bovary (que aqui nunca chega a ser mãe) é uma miúda inexperiente e ingénua que nunca conheceu outra coisa que não a austeridade e que se deixa seduzir pelo desejo e pelo materialismo, que se deixa arrastar impulsivamente pelas suas fantasias de ser uma senhora da sociedade. Barthes filma uma Mia Wasikowska como vítima trágica de uma sociedade patriarcal do consumo que lhe mete na cabeça ideias aspiracionais e depois a castiga por viver “acima das suas necessidades” (Rhys Ifans é impecável no seu senhor Lheureux que é autêntica serpente tentadora).
É uma leitura curiosa, mas demasiado cerebral; nada nesta Bovary transpira a paixão e o fogo de uma mulher que se abandona ao destino e ao amor, fica-se apenas pelo acompanhamento implacável de uma espiral destrutiva da qual não há saída possível.
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