quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O Brasil que luta feito mulher na Rio 2016

 judoca Rafaela Silva, ao ganhar o ouro, nesta segunda.  

O Brasil que luta feito mulher na Rio 2016

Participação recorde não é o suficiente. Elas querem - e estão sendo - as protagonistas destes Jogos


São Paulo 10 AGO 2016 - 00:35 COT
Era domingo à tarde no Rio de Janeiro olímpico e alguns dos bairros mais cenográficos da cidade foram cortados pelas ciclistas que disputavam o melhor tempo na categoria ciclismo de estrada. A brasileira Flávia Oliveira não ganhou medalha, mas entrou para a história como o melhor lugar na categoria jamais conquistado por uma brasileira. Ficou na sétima posição, a apenas 20 segundos de distância da primeira colocada. Das 68 ciclistas na disputa, apenas nove completaram a prova no mesmo minuto, o que mostra a façanha de Flavia, ainda que tenha ficado fora do pódio.

No dia seguinte, a judoca Rafaela Silva brigava no tatame por sua vingança dourada. Na Olimpíada de Londres 2012, ela perdera nas oitavas de final, o que resultou em uma avalanche de críticas e xingamentos, inclusive racistas, nas redes sociais. Chegou a ser chamada de macaca. Aquilo havia abalado o emocional da judoca a ponto de fazê-la pensar em parar de lutar. 
Mas o Rio seria a sua revanche. Com um wazari aplicado na líder do ranking, Sumiya Dorjsuren, da Mongólia, Rafaela Silva conquistou o primeiro - e até agora único - ouro do Brasil nesta Olimpíada. As mulheres, dede o início, representavam a grande esperança de medalha no judô brasileiro. Mariana Silva quase chegou lá, perdendo na semifinal, nesta terça. Levando em conta que a participação feminina no judô em uma olimpíada é coisa recente - só passou a ser permitida em 1992 - as judocas avançam com uma velocidade de canhão em relação aos atletas homens no Brasil. Em Londres 2012, Sarah Menezes conquistou o único ouro do esporte.
A vitória acachapante de Rafaela Silva, porém, não foi capaz de frear o duro tribunal das redes sociais. No mesmo dia em que o Brasil ganhava seu primeiro ouro, no tatame, perto dali, na piscina, a nadadora brasileira Joanna Maranhão ficava de fora da semifinal dos 200 metros Medley. Os inquisidores da Internet rapidamente reagiram com ofensas, xingando a nadadora e remexendo em uma história pesada do seu passado.
Mas, ainda que longe dos tatames, Joanna não fugiu da briga. “As pessoas não gostarem do meu rendimento é um direito delas”, disse a atleta ao canal SporTV. “Nem todo mundo compreende a grandiosidade e a competitividade que é a natação mundial, o quanto que brigamos para chegar na final. Mas desejar que eu seja estuprada, que minha mãe morra, que um bandido me mate, que eu me afogue. Falar que a história da minha infância foi algo que inventei para estar na mídia, isso ultrapassa”, disse.
Em 2008, a nadadora reuniu forças para revelar publicamente em uma entrevista que sofreu abuso sexual de ex-treinador, Eugênio Miranda. Agora, tanto tempo depois, usam dessa história para atingir a nadadora, que reagiu. “Quando vem para a história da minha infância, o desrespeito às mulheres, pelo fato de ser do Nordeste, aí vou ter que tomar medidas jurídicas”, afirmou ao canal de TV.
Poucas horas depois da derrota de Joanna, o Estádio Deodoro era palco de uma cena que entrou para a história das olimpíadas, sem envolver medalhas. A jogadora de rugby da seleção brasileira, Isadora Cerullo, foi pedida em casamento. Por sua namorada. E aceitou, beijando-a na frente de toda a imprensa e da torcida. A cena ocorreu após a Austrália ser coroada com o ouro. O Brasil não subiu no pódio com o rugby, mas em tempos de estatuto da família, a jogadora, cuja foto rodou o mundo, ganharia fácil uma medalha pela luta contra o preconceito.
O simples fato de esta ser a Olimpíada com a maior participação feminina da história (45% das atletas são mulheres) já seria um dado a ser minimamente comemorado. Mas isso é pouco. As atletas brasileiras querem disputar também o protagonismo dos Jogos, no quadro de medalhas, com suas desafiantes histórias, e não só encaixadas nos estereótipos de gênero. E até o momento vem conseguindo.
São elas que estão carregando nas costas o peso da expectativa e da busca de uma alegria da pátria do futebol. A seleção brasileira feminina ganhou o primeiro jogo por 3 a 1 contra a China, na sexta-feira. Na partida seguinte, no sábado, fez mais bonito ainda e deu uma goleada na Suécia, vencendo por 5 a 1.  Nesta terça, empatou em 0 a 0 contra a África do Sul, mas ainda assim saíram de campo aplaudidas em Manaus. Enquanto isso, a seleção masculina de futebol amarga uma triste decadência: ficou no zero a zero nas duas partidas que jogou até o momento. 
Não é à toa que se tornou emblemática a imagem da camiseta da seleção com o nome de Neymar - riscado. Por cima, aparece escrito Marta, a estrela do futebol feminino. Não é pouca coisa. A maioria do tempo, as mulheres, apesar dos avanços históricos e recentes que ajudaram inclusive a disputar modalidades olímpicas reservadas aos homens, sequer aparecem lado a lado com os homens. Elas ganham menos (inclusive no esporte, basta ver as diferenças salariais nas equipes de futebol e vôlei brasileiros), trabalham mais, são a maior parcela de vítimas de violência doméstica e nem sendo figuras públicas escapam de escrutínio preconceituoso. É por isso que a Rio 2016, a julgar pelos últimos dias, parece emplacar um novo bordão para sepultar o clichê machista: agora é lute como uma mulher.


Um comentário:

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