domingo, 28 de agosto de 2016

A ‘nação Phelps’, à frente de 150 países

Michael Phelps

A ‘nação Phelps’, à frente de 150 países

Com a Rio 2016, nadador dos EUA conquista mais ouros que Argentina e fica a 7 ouros do Brasil


GUILHERME PADIN
São Paulo 23 AGO 2016 - 17:41 COT

A Olimpíada do Rio de Janeiro foi a última do maior atleta olímpico de todos os tempos. Em cinco participações, Michael Phelps conquistou mais medalhas de ouro que mais de 150 países em toda a história dos Jogos Olímpicos: se despediu do Rio com 23 ouros, apenas 7 a mais do que o Brasil conseguiu em todas suas participações. Considerando todos os esportes e as olimpíadas já disputadas, países como Argentina, México, Portugal, Áustria e Índia chegaram menos vezes do que Phelps ao lugar mais alto do pódio.
Foram 16 anos e cinco olimpíadas para o nadador norte-americano, que chegou ao Brasil com 18 ouros e deixou o país com 23 – Phelps ganhou ainda uma prata. Os números limpos não traduzem a trajetória real do nadador, com altos e baixos, desde o garoto de sete anos que sofria de TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade) até jovem pai que coroou sua reinvenção nos Jogos do Rio.

A natação foi sua primeira porta para se lidar com o transtorno de atenção. O esporte, praticado por suas irmãs mais velhas Whitney e Hillary, foi um alento: conseguia se concentrar no exercício e ainda gastava energia. A primeira oportunidade em uma olimpíada veio em 2000, em Sydney. Aos 15 anos, ele chegou às finais dos 200 m borboleta e garantiu o quinto lugar, resultado expressivo para um atleta tão novo.
Quatro anos e alguns títulos depois, em Atenas, foi sua afirmação como nadador. Se restavam dúvidas sobre seu potencial, Phelps liquidou todas elas na Grécia. Em 2004, foram duas medalhas de bronze e seis de ouro, que o qualificaram como estrela e favorito para os Jogos seguintes, em Pequim. Na China, a expectativa e o favoritismo não assustaram a super-estrela norte-americana. Ele foi além do esperado e garantiu incríveis oito medalhas de ouro, superando o nadador e compatriota Mark Spitz como o atleta que mais subiu ao pódio em uma mesma edição de jogos olímpicos.






PHELPS, A 39ª NAÇÃO MAIS VENCEDORA DA HISTÓRIA DOS JOGOS


1ª: Estados Unidos – 1022 ouros
2ª: União Soviética* – 395 ouros
3ª: Grã-Bretanha – 263 ouros
4ª: China – 227 ouros
5ª: França – 212 ouros
6ª: Itállia – 206 ouros
7ª: Alemanha – 191 ouros
8ª: Hungria – 175 ouros
9ª: Alemanha Oriental* – 153 ouros
10ª: Rússia – 149 ouros
11ª: Austrália – 147 ouros
12ª: Suécia – 145ouros
13ª: Japão – 142 ouros
14ª: Finlândia – 101 ouros
15ª: Coreia do Sul – 90 ouros
16ª: Romênia – 89 ouros
17ª: Holanda – 85 ouros
18ª: Cuba – 77 ouros
19ª: Polônia – 67 ouros
20ª: Canadá – 63 ouros
21ª: Alemanha Ocidental* – 56 ouros
21ª: Noruega – 56 ouros
23ª: Bulgária – 51 ouros
24ª: Tchecoslováquia* – 49 ouros
24ª: Suíça – 49 ouros
26ª: Nova Zelândia – 46 ouros
27ª: Equipe Unificada (pós-União Soviética)* - 45 ouros
27ª: Dinamarca – 45 ouros
29ª: Espanha – 44 ouros
30ª: Bélgica – 40 ouros
31ª: Turquia – 39 ouros
32ª: Ucrânia – 35 ouros
33ª: Grécia – 33 ouros
34ª: Quênia – 31 ouros
35ª: Brasil – 30 ouros
36ª: Equipe Unida da Alemanha* - 28 ouros
37ª: Iugoslávia – 26 ouros
38ª: África do Sul – 25 ouros
39ª: Phelps – 23 ouros
39ª: Jamaica – 23 ouros
41ª: Etiópia – 22 ouros
42ª: Argentina – 21 ouros
* Equipes formadas para os Jogos ou de nações já extintas

No caminho da fama

Acreditava-se que os Jogos de Londres, em 2012, seriam o auge do atleta, mas a fama acabou se mostrando mais um obstáculo para Phelps. Um ano após a fantástica apresentação na China, uma foto do nadador usando um bong (aparelho utilizado para se fumar cannabis e outras ervas) viralizou na Internet. Ele foi suspenso por três meses e perdeu seu maior patrocinador.
Foi o estopim para uma mudança radical no comportamento do atleta. O temperamento difícil somado aos novos hábitos de celebridade resultariam em um desgaste com Bob Bowman, seu treinador desde os 11 anos de idade, considerado pelo nadador como um segundo pai. A relação seguiu ruim até a Olimpíada de 2012, mas, para disputar a competição, os dois mantiveram a crise em segredo. O momento conturbado não impediu Phelps de conquistar mais quatro ouros e duas pratas e chegar à marca de 22 medalhas, 18 de ouro: se tornou o maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos, superando Larissa Latynina, ginasta da antiga União Soviética entre 1956 e 1964, com 18.
A consagração não era o suficiente para fazê-lo feliz nadando: o norte-americano decidiu se aposentar após Londres. Ele mesmo conta, porém, que a sensação de alegria na aposentadoria duraria pouco. Em 2013, decidiu retornar às águas e pediu a Bowman para voltar a treiná-lo. Relutante, o antigo técnico aceitou, mas uma nova recaída tornaria tornou praticamente impossível a participação de Phelps em mais uma olimpíada: foi preso em setembro de 2014 pela segunda vez por dirigir alcoolizado. Suspenso por seis meses e fora da equipe norte-americana na Copa do Mundo de Natação de 2015, ele era considerado carta fora do baralho para a Rio 2016.  Na fase classificatória, ele mostraria que ainda podia surpreender: venceu os 200m borboleta, os 200m medley e os 100m borboleta na seletiva para os Jogos do Rio, e, assim, garantiu vaga para a quinta e - e ele diz última - Olimpíada.
Ser porta-bandeira dos Estados Unidos na cerimônia de abertura já seria homenagem suficiente para o maior nadador de todos os tempos, mas ele queria mais. Os resultados na Rio 2016 deram a Phelps o fim de carreira de ele sonhava. Individualmente, chegou à 13ª medalha de ouro, o que o levou a quebrar um recorde de 2160 anos, superando Leônidas de Rodes, um dos mais famosos atletas olímpicos da Antiguidade, que havia conseguido 12 ouros no atletismo, até então o recorde de vitórias individuais da história das Olimpíadas.
"Estes Jogos são a cereja que queria colocar no meu bolo", disse Phelps, que que quer tempo agora para seu bebê Boomer, crescer, e ficar com a família -antes do Rio, Phelps também se reaproximou do pai, Fred. O desafio do rei das piscinas é encontrar um lugar confortável para sua vida fora dela. Já falou em lutar por boas condições para nadadores pelo mundo e até ser professor de natação ou salva-vidas. "Quero que as crianças estejam mais seguras na água. Se posso ensiná-los a nadar, será um grande êxito."

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