quarta-feira, 30 de maio de 2018

Cate Blanchett, a mulher que é quase perfeita

Cate Blanchett na cerimônia de encerramento do Festival de Cannes de 2018.  


Cate Blanchett, a mulher 

que é quase perfeita

Atriz e mãe de família numerosa, se destacou por sua participação no debate feminista que agita Hollywood



Alex Vicente
París, 30 mai 2018

Para onde quer que se olhe lá está Cate Blanchett. Há algum tempo a atriz australiana se tornou onipresente. Acaba de exercer o cargo de presidenta do júri no Festival de Cannes, onde conquistou o impossível ao anunciar uma premiação aplaudida até pelos críticos mais difíceis de se contentar. Incluía até mesmo um prêmio especial a Jean-Luc Godard, algo inédito nos 71 anos de história do evento, de modo que precisou “infringir o protocolo”, como confessou, e que lhe custou várias brigas com os responsáveis pelo festival.
Seus gostos cinéfilos são ecléticos, como mostram suas escolhas na telona. Acaba de estrear Manifestoum filme experimental inspirado nos ismos do século XX, às ordens do artista Julian Rosefeldt, e está prestes a lançar Oito Mulheres e um Segredo, o spin-off feminino da saga de ladrões de colarinho branco, que chegará aos cinemas brasileiros em junho.
Como se não bastasse, tem quatro filmes em pós-produção, incluindo o novo de Richard Linklater e a última adaptação de O Livro da Selva, onde dá voz à serpente Kaa. Além disso, acaba de assinar como nova porta-voz dos produtos de beleza Armani, após ser imagem de dois de seus perfumes desde 2013, e tem quatro filhos com o diretor teatral Andrew Upton, com quem vive em uma mansão do condado britânico de Sussex desde 2016. A primeira coisa que costumam perguntar a ela nas entrevistas é como consegue. “Não consigo, mas tento, como tantas mulheres...”, respondeu à revista Madame Figaro no começo de maio. “Não sei fazer pausas. Sou hiperativa que sempre pensa: O que tenho para amanhã?”. Em outra entrevista à revista Variety, se definiu como “intensamente curiosa”. “Estou constantemente interessada em abrir portas invisíveis que antes não havia visto”, acrescentou.
Cate Blanchett posa no carpete vermelho do Festival de Cannes em 10 de maio de 2018
Cate Blanchett posa no carpete vermelho do Festival de Cannes em 10 de maio de 2018 GTRESONLINE
Nos últimos meses, Blanchett se destacou por sua participação no debate feminista que agita Hollywood (e o mundo). Pouco antes do festival, revelou que também foi vítima do produtor Harvey Weinstein, com quem trabalhou em diversos filmes. “Atacava principalmente os vulneráveis, como a maioria dos predadores”, disse Blanchett. A atriz afirmou que Weinstein costumava lembrá-la que “não eram amigos” por ela não fazer “o que ele pedia”.

Manifesto

Durante sua passagem por Cannes, Blanchett também liderou o grupo de 82 mulheres da indústria cinematográfica que desfilaram pelo carpete vermelhoexigindo uma igualdade real e perceptível antes de 2020. Leu um manifesto, como esses que seu último filme reivindica, que talvez voltem a ser necessários nesses tempos revoltos.
“Nós mulheres não somos uma minoria no mundo, mas o estado atual da indústria parece indicá-lo”, disse Blanchett na escadaria do carpete vermelho. Em sua entrevista à Madame Figaro já havia se referido ao mesmo tema: “A sub-representação é flagrante. Mas uma mudança profunda está ocorrendo: as mulheres já não se calam tanto. Já não esperam que alguém venha salvá-las”. Ao ganhar o Oscar por Blue Jasmine – há cinco anos, quanto estava muito menos na moda pronunciar a palavra “empoderamento” –, Blanchett também encontrou a ocasião para falar sobre o tema, dedicando a estatueta aos “que acreditam que os filmes com mulheres como protagonistas são nichos de mercado”. “Não são. As pessoas querem vê-los e conseguem arrecadar dinheiro”, denunciou no palco.
82 mulheres posam na escadaria do Palais do Festival de Cannes
82 mulheres posam na escadaria do Palais do Festival de Cannes GTRESONLINE
Blanchett sempre se definiu como feminista, mesmo nos tempos em que a palavra era marcada por um inexplicável estigma. “Nunca me defini de outra forma. Nunca entendi esse estigma, porque é só um avanço rumo à igualdade. Não se trata de construir um matriarcado. Ainda que depois dos intermináveis milênios em que trabalhamos sob o patriarcado, não me importaria de receber uma pequena dose de matriarcado em algum lugar...”, disse à Variety.
A primeira vez que pisou em Cannes foi há 20 anos, quando tinha 28. Chegou ao festival com uma pequena comédia romântica filmada na Austrália, Ainda Bem Que Ele Conheceu Lizzie. Percorreu os corredores do mercado procurando distribuição. Lembra que, como um desses anônimos que perambulam pela sede do festival tentando conseguir uma entrada presenteada por uma alma caridosa, conseguiu um convite para ver Tempestade de Gelo, de Ang Lee. Poucos meses depois ela seria alçada ao estrelato com seu papel em Elizabeth, que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar de um total de sete (e duas estatuetas). Vinte e uma edições depois, Blanchett saiu desse mesmo festival transformada em rainha do cinema contemporâneo.

UM FENÔMENO VIRAL

Cate Blanchet também invadiu as redes como protagonista de um novo fenômeno viral: as imagens das mulheres enlevadas por sua presença. Tudo começou com as fotos de algumas de suas colegas de júri em Cannes observando-a com ar embasbacado. “Namore alguém que te olhe como Kristen Stewart olha Cate Blanchett”, algumas publicações no Twitter disseram com ironia. Mais tarde, surgiram imagens em que aparecia com atrizes como Léa Seydoux, Anne Hathaway e Sarah Paulson na estreia de Oito Mulheres e um Segredo em Nova York, todas também com olhares de admiração.
EL PAÍS


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