segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Christopher Hitchens / Um pensador sem amarras ideológicas

Christopher Hitchens
EM MEMÓRIA

Christopher Hitchens 

(1949-2011)

Um pensador sem amarras ideológicas


Por RODRIGO TURRER
16/12/2011 19h24 - Atualizado em 21/09/2012 19h53

São raros os intelectuais públicos sem amarras ideológicas, livres-pensadores guiados por uma bússola moral própria. Um deles se foi na última quinta-feira, dia 15, aos 62 anos. Radicado nos Estados Unidos, o jornalista e ensaísta britânico Christopher Hitchens morreu de pneumonia, provocada por uma complicação do câncer de esôfago contra o qual lutava desde 2010.
Colaborador das revistas americanas The AtlanticVanity Fair e Slate e colunista de ÉPOCA, Hitchens foi um intelectual franco-atirador. Dois de seus principais inimigos se encontram em polos opostos da política americana: Henry Kissinger e Bill Clinton. O primeiro, ex-secretário de Estado americano, mereceu um livro sobre seus “crimes de guerra”. Em O julgamento de Kissinger, Hitchens o chama de “mentiroso, assassino e pseudoacadêmico”. Contra Bill Clinton, seu contemporâneo na Universidade de Oxford, onde estudou filosofia, política e economia, as acusações são do mesmo calibre: “Clinton (...) é um testa-de-ferro subserviente de todo tipo de interesses corporativos”, escreveu Hitchens em sua autobiografia, Hitch 22.
A batalha mais notória de Hitchens, porém, foi contra Deus. Seu pai era cristão. Sua mãe escondeu da família até a morte que era judia. Ele era ateu convicto. No livro Deus não é grande(2007), ataca de forma erudita o fanatismo e o obscurantismo religiosos. As discrepâncias entre o discurso e os atos de líderes religiosos sempre serviram de argumento para suas críticas. Sobre o Dalai-Lama, prêmio Nobel da Paz em 1989, dizia que dominava de forma tirânica o povo tibetano. Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), Nobel da Paz em 1979, foi chamada por Hitchens de “fraude católica”.
Em meio à agitação dos anos 1960, Hitchens se juntou a uma turma de promissores futuros intelectuais, entre eles os escritores Martin Amis, Ian McEwan, Julian Barnes e James Fenton. Aderiu ao trotskismo por ser contra a tirania totalitária de Stálin. Mas gradualmente migrou para a direita. “Troquei as ilusórias e contraproducentes utopias da juventude pela sofrida e realista sabedoria da meia-idade”, disse certa vez. No auge dessa metamorfose, tornou-se um dos maiores defensores da invasão do Iraque por George W. Bush.
A vida pessoal de Hitchens foi tão conturbada quanto a pública. Sua mãe se suicidou depois de fazer um pacto de morte com o amante. A relação com o pai, Eric, um rigoroso oficial da Marinha, era péssima – ironicamente, Hitchens morreu da mesma doença que ele. Foi casado duas vezes, teve três filhos e inúmeros casos amorosos com ambos os sexos. Tão folclóricos quanto seus romances eram os porres, interrompidos apenas com o diagnóstico do câncer. Em sua última aparição pública, disse que não se arrependia da vida regada a cigarros e bebedeiras. E arrancou aplausos com a seguinte frase: “Eu não vou desistir até que seja forçado a isso”.



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