segunda-feira, 13 de março de 2017

Como falar com seu cão, segundo a ciência




Como falar com seu cão, segundo a ciência

As pesquisas realizadas nas duas últimas décadas demonstram que esses animais são capazes de entender a comunicação humana como nenhuma outra espécie



THE CONVERSATION
JULIANE KAMINSKI
18 JAN 2017 - 06:55 COT
Os cães são especiais. Qualquer pessoa que tem um como animal de companhiasabe disso. Além disso, a maioria dos donos tem a sensação de que seu cachorro entende tudo o que eles dizem e qualquer gesto que fazem. As pesquisas realizadas nas últimas duas décadas demonstram que os cães são capazes de entender a comunicação humana como nenhuma outra espécie. E agora um novo estudo confirma que, se alguém quer adestrar um filhote e ter o máximo de possibilidade para que o animal faça o que se pede dele, é preciso falar com ele de uma determinada maneira.




Quando lhes falamos, utilizamos o que se denomina a “linguagem dirigida aos cães”

As pesquisas já trouxeram uma boa quantidade de evidências de que a forma como nos comunicamos com os cães é diferente de como fazemos isso com os seres humanos. Quando falamos com um cachorro utilizamos o que se denomina “linguagem dirigida aos cães”. Isso quer dizer que mudamos a estrutura das frases, encurtando-as e simplificando-as. Também costumamos adotar um tom de voz mais agudo. Fazemos o mesmo quando não estamos certos de que alguém nos entende ou quando nos dirigimos a crianças pequenas.
O novo estudo descobriu que, quando falamos com um filhote de cachorro, empregamos um tom ainda mais agudo, e que essa tática, de fato, ajuda os animais a prestar mais atenção. O estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, mostrou que quando se fala com filhotes usando a linguagem dirigida aos cães, eles reagem e atendem melhor o instrutor humano do que quando se utiliza a linguagem normal.




A análise das gravações mostrou que os voluntários mudavam a forma com que falavam com cães de diferentes idades

Para comprovar isso, os pesquisadores utilizaram os chamados experimentos em playback. Gravaram pessoas dizendo a frase “Olá! Olá, meu querido! Quem é bonzinho? Vem cá! Muito bem! Bom menino! Isso! Vem cá, meu amor! Que menino bonzinho!” várias vezes. A cada vez, uma pessoa olhava fotos de filhotes, de cães adultos e de cães idosos, ou que não olhassem para foto alguma. A análise das gravações mostrou que os voluntários mudavam a forma com que falavam aos cães de diferentes idades.
Em seguida, os pesquisadores reproduziram as gravações a vários filhotes e cães adultos e registraram o comportamento de resposta. Notaram que os filhotes reagiam mais intensamente às gravações feitas enquanto os voluntários olhavam imagens de cães adultos (a linguagem dirigida aos cães).
O estudo não comprovou o mesmo efeito quando se tratava dos cachorros adultos escutando as mesmas gravações. Mas outras pesquisas que registraram a reação dos animais em interações humanas cara a cara, incluindo o que foi feito na minha própria pesquisa, indicam que a linguagem dirigida aos cães pode ser útil para se comunicar com esses animais, qualquer que seja sua idade.

Seguir um dedo que aponta

Também foi demonstrado que podemos nos comunicar com esses animais através de gestos. Desde que são filhotes, os cães reagem a gestos humanos, como o de apontar, de uma maneira que outras espécies não conseguem. A experiência é muito simples. Coloque diante de seu cão duas vasilhas idênticas cobrindo pequenas porções de comida, e certifique-se de que o animal não pode enxergar o alimento e não tem nenhum tipo de informação sobre o conteúdo das vasilhas. Em seguida, aponte com o dedo para um dos recipientes enquanto estabelece contato visual com o cachorro. Ele seguirá seu gesto até a vasilha para a qual está apontando e a examinará na esperança de encontrar algo sob ela.




Os filhotes reagiam mais intensamente às gravações feitas enquanto os voluntários olhavam imagens de cães adultos

Isso ocorre porque o cão entende que a ação do dono é uma tentativa de se comunicar. Trata-se de algo fascinante porque aparentemente nem chimpanzés, que são nossos parentes vivos mais próximos, entendem a intenção de comunicação dos humanos nessa situação. Nem mesmo os lobos – os parentes vivos mais próximos dos cães -, mesmo quando foram criados em um entorno humano.
Isso levou cientistas a pensarem que, na realidade, as habilidades e o comportamento dos cães nesse terreno são adaptações ao ambiente humano. Ou seja, viver em estreito contato com os seres humanos durante mais de 30.000 anos fez com que os cachorros desenvolvessem aptidões comunicativas praticamente iguais às das crianças.
No entanto, existem diferenças significativas entre a maneira com que os cães percebem nossa comunicação e como a realizam as crianças. Segundo a teoria, diferentemente das crianças, os cães entendem o gesto de apontar como uma espécie de ordem suave que lhes indica para onde se dirigir, mais do que uma forma de transmitir informação. Por outro lado, quando esse gesto é feito para uma criança ela pensa que estamos informando-a sobre algo.




Os cães entendem o gesto de apontar como uma espécie de ordem suave que lhes indica para onde se dirigir

Essa capacidade dos cães de reconhecer as “diretrizes espaciais” poderia ser a adaptação perfeita à vida com os humanos. Por exemplo, durante milhares de anos esses animais foram usados como uma espécie de “ferramenta social” para ajudar no pastoreio e na caça. Nessas ocasiões era necessário conduzi-los por longas distâncias mediante instruções gestuais. As últimas pesquisas confirmam a ideia de que os cães não só desenvolveram a capacidade de reconhecer gestos como também uma sensibilidade especial para a voz humana, o que os ajuda a distinguir quando têm que responder ao que lhes é dito.
Juliane Kaminski é professora de Psicologia na Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, e consultora da Dognition.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site The Conversation.







Recordar a lista de compras sem esquecer nada é possível com a ajuda de algumas técnicas GETTY

Conta Cícero em sua obra dedicada à oratória que o precursor da mnemotécnica, Simônides de Ceos, sobreviveu ao desabamento de uma casa onde participava de um banquete porque havia se ausentado brevemente. Simônides foi o único capaz de identificar os corpos dos comensais, porque se recordava do lugar que cada um ocupava durante a festa. Percebeu que, associando cada pessoa a um espaço concreto, poderia se lembrar dos seus nomes, criando o método chamado loci (lugares, em latim), sobre o qual falaremos mais adiante.
Naquela época (em torno do ano 500 a.C.) não só não havia celulares nem computadores como também eram pouquíssimos os que sabiam escrever, razão pela qual a memória era um aliado muito valioso. Hoje, entretanto, é provável que muitos não déssemos uma dentro diante de uma tragédia como a que Simônides presenciou.


MAIS INFORMAÇÕES







Nenhum comentário:

Postar um comentário