Alex Colville |
João de Mancelos
Há demasiada beleza em ti
conheci-te, ainda tu desenhavas
corações de giz
nos muros da escola velha.
nesse tempo, deus existia ainda
e tudo quanto era frágil respirava
loucamente.
havia sempre música
para os cleptomaníacos do amor
cada menina, uma canção.
os rapazes cresciam
com olhos prateados
e totens erguidos nas dunas.
debaixo da saia das raparigas
havia flores rasgadas
e sonhos de cavalos livres.
tão jovem, só o vento
e a revolução
que, beijo a beijo, construíamos.
toda a beleza desse tempo adormece
em mim, a sua corola intacta,
num outono de pássaros mortos.
e é por essa beleza que hei de ir
ao encontro do vento
e de ti,
para te devolver a inocência,
a labareda, o perfume azul
do lilás,
e o olhar de todas as meninas
que erradamente amei
em vez de ti.
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