sábado, 11 de junho de 2022

Anne Carson / Ode ao sublime por Monica Vitti

Anne Carson



Anne Carson

Ode ao sublime por Monica Vitti

Eu quero tudo.

Tudo é um pensamento cru que dilacera.


Um sinal de nevoeiro berrando através da névoa transforma a névoa em

tudo.

Comer ovos de codorna na mão em meio à névoa faz tudo ser afrodisíaco.


Meu marido dá de ombros quando eu digo isso, meu marido dá de ombros

a tudo.

Os lagos nos quais sua fábrica poluiu tudo são tão belos quanto Brueghel.


Deixo minha loja, a fim de talvez vender tudo que há nela, vazia, mas

mantenho a luz acesa.

Tudo pode derramar.


Sabia que nos abismos do mar tudo se torna transparente? pergunta

Corrado, amigo de meu marido, e eu digo Sabia que eu morro de medo?


Tudo requer atenção, eu nunca relaxo meu pescoço,

mesmo beijando Corrado

Kant diz que ‘tudo’ existe só na nossa mente, junto a uma onda de prazer e


de dor que vai para lá e para cá em mim quando eu deito na cama de

Corrado lutando contra tudo com Corrado me vendo do outro lado da sala e

então ele veio para a cama e


subiu em mim e isso não fez diferença exceto que agora eu tinha que lutar

contra tudo através de Corrado, o que eu fiz ‘audaz’ (então, Kant) na cama

congelante sob o clarão da meia-noite.


O que você vai levar? pergunto a Corrado, que está indo para a Patagônia e

quando ele diz 2 ou 3 bolsas eu digo Se eu tivesse que ir para longe eu

levaria comigo tudo o que vejo.


A isso Corrado nada responde o que não é, creio, o contrário de tudo.

Não parece certo é o que meu marido diria, ele diz isso sobre tudo –


especialmente desde que saí da clínica, uma clínica para pessoas que

querem tudo,

tudo que eu vejo tudo o que eu provo tudo o que eu toco

todos os dias até as cinzas e na


clínica eu só tinha uma pergunta O que faço com meus olhos?



Anne Carson

Ode to sublime by Monica Vitti by Anne Carson


I want everything.

Everything is a naked thought that strikes.


A foghorn sounding through fog makes the fog seem to be everything.

Quail eggs eaten from the hand in fog make everything aphrodisiac.


My husband shrugs when I say so, my husband shrugs at everything.

The lakes where his factory has poisoned everything are as beautiful as Brueghel.


I keep my shop, in order that I may sell everything there, empty but I leave the light on.

Everything might spill.


Do you know that in the deepest part of the sea everything goes transparent? asks my

husband’s friend Corrado and I say Do you know how afraid I am?


Everything requires attention, I never relax my neck even when kissing Corrado.

Kant says ‘everything’ exists only in our mind, attended by a motion of pleasure and


pain that throws itself back and forth in me when I lay on Corrado’s bed fighting with

everything with Corrado watching from across the room then he came to the bed and


mounted me and this made no difference except now I had to fight everything through

Corrado, which I did ‘undaunted’ (so Kant) on his freezing bed in its midnight glare.


What will you take? I ask Corrado who is leaving for Patagonia and when he says 2 or 3

valises I say If I had to go away I would take with me everything I see.


To this Corrado says nothing which is not I think the opposite of everything.

Doesn’t seem right is what my husband would say, he says this about everything –


especially since I came out of the clinic, a clinic for people who want everything,

everything I see everything I taste everything I touch everyday even the ashtrays and at


the clinic I had only one question What shall I do with my eyes?





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