domingo, 2 de junho de 2013

Nuno Júdice / Poema



Nuno Júdice
POEMA

Ouvindo as canções de kurt weil, sob
um céu de chuva em lisboa, posso pensar
que estou em berlim, sob um céu de neve,
ou noutro sítio assim, onde quando chove
se escreve.

Ouvindo essas canções que martelam
sílabas secas, com um piano que empurra
os sentidos para o fim da frase, espero
que a chuva venha do norte, e que os cinzentos
cantem, com tons negros na sua base,
um destino sem sorte.

Ouvindo a chuva que já não canta,
com o rumor apressado de quem não está
para ficar, colecciono os sons de
kurt weil, como gotas ásperas na boca,
bebendo até ao fim as suas canções
em que não entra a chuva, como se assim
começassem os grandes nevões.
Cantar, então, com uma nuvem
em cada mão.



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