Futbolista Copacabana, Rio de Janeiro, 2013 Foto de Triunfo Arciniegas |
Os protestos no Brasil não conseguiram para a Copa das Confederações
José Sámano, Fortaleza 22 JUN 2013 - 05:34 CET
Nada assusta a FIFA, a poderosa organização mundial do futebol. A UEFA, o seu satélite europeu, não suspendeu o calendário em 11 de setembro nem em 11 de maio, e a matriz está muito menos disposta a fazê-lo nesta Copa das Confederações disputada em um Brasil “sem controle”, como anunciou ontem a manchete de O Globo. No início da manhã circulou o a notícia de que a seleção italiana tinha manifestado preocupação com a segurança da partida, que ninguém podia garantir, e obviamente tampouco o governo, superado pelos acontecimentos dos últimos dias com o país incendido que escolheu o futebol como vitrine das suas reivindicações e pôs a FIFA na mira: “Queremos educação no padrão da FIFA” é um dos lemas. O governo brasileiro admitiu que o orçamento da Copa 2014 já alcançou mais de 13 bilhões de dólares (quase 9.900 milhões de euros). Informações locais apontam que, somado aos Jogos de 2016, os gastos públicos chegarão a 25 bilhões de dólares (19.000 milhões de euros). O Brasil, supostamente um gigante em ebulição desejoso de exportar a sua imagem, comprometeu-se com todos os eventos que se possa imaginar. Na sua agenda internacional também se destaca a visita do Papa ao Rio, entre 22 e 28 de julho.
Não surpreende que os distúrbios dos últimos dias deixem os times, que se vêm na linha de tiro, extremamente inquietos. Muitos jogadores italianos viajaram para a Copa com suas famílias, o que aumenta a sua angústia. A Itália jogará hoje contra o Brasil em Salvador, onde na madrugada de ontem os manifestantes atacaram alguns ônibus da própria FIFA. Na última partida do Brasil, contra o México, cerca de 25.000 pessoas tentaram bloquear o acesso ao estádio Castelão, em Fortaleza, onde desde ontem de manhã a equipe espanhola chegou para passar uma semana, a menos que, imprevisivelmente, não se classifique como primeira do grupo. A Espanha, que domingo enfrenta a Nigéria e deveria jogar na mesma cidade na semifinal na quinta-feira que vem, não está alheia à preocupação geral. Além das revoltas dos últimos dias houve 965 homicídios na cidade entre janeiro e abril, muito superiores aos dados já bastante assustadores do ano de 2012: 1.628, segundo dados de O Globo,
O temor italiano acendeu o estopim. A possibilidade de suspensão do torneio se espalhou por todo o país. Horas antes de o Movimento Passe Livre anunciar a suspensão temporária das manifestações, a FIFA, contra a qual há vários cartazes nas passeatas – um cartaz numa varanda perto do Maracanã dizia “Fuck Cup” – foi obrigada a emitir o seguinte comunicado: “Apoiamos e defendemos o direito à liberdade de expressão e à manifestação pacífica e condenamos toda forma de violência. Estamos em contato permanente com as autoridades locais e confiamos plenamente nas medidas de segurança que vem sendo aplicadas. Acompanharemos de perto o desenvolvimento dos acontecimentos. Em nenhum momento a FIFA, o Comitê Organizador ou o governo federal pensaram ou analisaram a possibilidade de cancelar a Copa. Estamos em contato permanente com todas as partes implicadas, inclusive as seleções, e as mantemos informadas de todas as medidas adotadas. Não recebemos nenhum tipo de pedido que mencionasse a possibilidade de deixar o Brasil.” No início dos distúrbios, Joseph Blatter, presidente da FIFA, disse que entendia “que as pessoas não estejam satisfeitas”, mas lançou uma mensagem condenatória: “Não devem usar o futebol para que ouçam as suas demandas.” Demetrio Albertini, ex-jogador do Milan e do Barcelona e atual vicepresidente da federação italiana, assegurou que a sua delegação estava “tranquila” e de modo algum havia considerado deixar a disputa. Para alguns analistas locais, se a Confederações fosse suspensa por motivos de segurança, o governo de Dilma Rousseff teria de pagar uma indenização.
A seleção espanhola não está imune ao receio generalizado. Seus jogadores tiveram pertences furtados nos quartos do hotel de Recife onde se hospedaram na semana passada e, apesar do nome, Fortaleza engana. Não é precisamente um fortim. Os agentes de turismo recomendam discretamente que os hóspedes não se afastem muito da Avenida Beira Mar, a principal artéria desta cidade, a quinta maior do país, com 2,5 milhões de habitantes. A seleção espanhola, hospedada nesta avenida, terá de se deslocar quase oito quilômetros para treinar nas instalações da universidade. Pelo caminho passarão pelo bairro Aldeota, onde a atriz e modelo Susana Werner, ex-namorada de Ronaldo e atual esposa do zagueiro brasileiro Júlio César, foi assaltada a mão armada na quinta-feira passada.
No último dia 13, 48 horas antes do início desta Copa, a presidente Rousseff anunciou a instalação de seis centros de segurança nas cidades-sede, com um investimento total de 900 milhões de dólares. A iniciativa reúne 30.000 policiais e soldados do exército. Em Fortaleza, a segurança está a cargo de 7.000 policiais. Mas o que ia ser uma blindagem do futebol foi superado pelas rebeliões populares. Antes e depois de os indignados anunciarem uma trégua, a FIFA segue adiante com o futebol.
Una traducción de Cristina Cavalcanti
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