sábado, 25 de agosto de 2018

Josef Koudelka / Nacionalidade incerta

Foto de Josef Koudelka


Josef Koudelka

NACIONALIDADE INCERTA

A FUNDACIÓN MAPFRE apresenta a exposição retrospectiva do fotógrafo tcheco, 
nacionalizado francês, Josef Koudelka (1934), mais completa até ao dia de hoje, 
que é membro da agência Magnum Photos há mais de 40 anos e desde. 

Engenheiro de profissão, Koudelka envolveu-se com o âmbito da fotografia na metade da década de sessenta, chegando a ser um dos artistas de maior influência da sua geração. Entre o artístico e a documentação, Josef Koudelka é hoje uma verdadeira lenda. Recebeu prêmios renomados em reconhecimento pelo seu trabalho, como o Grand Prix National de la Photographie (1989), o Grand Prix Cartier-Bresson (1991) e o International Award in Photography da Hasselblad Foundation (1992), entre outros.
Esta exposição faz um apanhado de toda sua trajetória de mais de cinco décadas de trabalho. A extensa seleção, com mais de 150 obras, inclui seus primeiros projetos experimentais realizados ao final da década de cinquenta e durante os anos sessenta, bem como suas séries históricas dos Ciganos, Invasão e Exílios, até chegar às grandes paisagens panorâmicas realizadas nos últimos nos. Além disso, a exposição inclui importante material de documentação – maquetes, folhetos, revistas de época, e outros – inédito na grande maioria e que contribuem para conhecer em profundidade a obra e o processo criativo desse artista.
Dois cidadãos tchecos com uma bandeira, 1968
Dois cidadãos tchecos com uma bandeira, 1968, Gelatina de prata (com o carimbo “P. P.” [“Prague Photographer”, Fotógrafo de Praga]).
A exposição inclui material de documentação importante, a maioria dele inédito, que ajuda a aprofundar-se em sua obra
Nacionalidade Incerta é o título da exposição que descreve a sensação de falta de um lugar próprio, de deslocamento, tão presente na sua obra desde seu exílio da Tchecoslováquia após a Invasão de Praga de 1968, e também seu interesse permanente pelos territórios em conflito.
A exposição foi organizada pelo Art Institute de Chicago e pelo J. Paul Getty Museum, em associação com a FUNDACIÓN MAPFRE.


Moravia (StráÏnice), 1966, cópia de 1967, The Art Institute of Chicago, doada pelo artista, 2013.
Primeiras obras e teatro

Depois da morte de Josef Stalin em 1953, que submeteu o país a uma repressão brutal durante duas décadas, Josef Koudelka viu-se mergulhado no ambiente de abertura que surgiu na Tchecoslováquia.
Koudelka começou a fotografar profissionalmente em 1958 e realizou um conjunto de paisagens e cenas ao ar livre tomadas em Praga e em viagens à Eslováquia, Polônia e Itália. Depois, câmera o acompanhou durante as suas viagens, que foram o prenúncio da sua ânsia de trabalhar como fotógrafo independente e nômade durante mais de 40 anos.
Nos anos sessenta, foi contratado pelas mais importantes empresas tcheca de teatro, Divadlo za branou [Teatro atrás da Porta], e Divadlo na zábradlí [Teatro na balaustrada]. Além disso, muitas imagens obtidas por ele ilustraram as capas da revista Divadlo [Teatro], algumas delas exibidas na exposição.

Romênia, 1968
Romênia, 1968, cópia dos anos 1980, The Art Institute of Chicago, doação prometida de Sandy e Robin Stuart.

Ciganos

Em 1961, Josef Koudelka começou a passar longos períodos em acampamentos de ciganos em cidades do Leste Europeu. O que começou como uma atividade secundária fotografando essas comunidades, logo transformou-se em um trabalho que acabou sendo um projeto para toda a vida.
Entre 1963 e 1968, visitou aproximadamente oitenta lugares em territórios tchecos e eslovacos, colecionando milhares de fotografias que se reduziram pouco a pouco, restando a seleção de algumas dezenas nas guais apareciam as vidas, festas e costumes da cultura romena (cigana).
Na exposição 22 das 27 cópias exibidas originalmente para apresentar o trabalho Ciganos no vestíbulo de um teatro de Praga em março de 1967, são mostradas em conjunto, tal e como foram expostas há quase 50 anos.





Cidadão tcheco sobre um tanque, 1968. The Art Institute of Chicago, doação prometida de colecionador particular.
Invasão

Em agosto de 1968, Koudelka acordou com as tropas soviéticas entrando em Praga para invadi-la. Saiu para a rua imediatamente e, durante uma semana, documentou incessantemente a ocupação devastadora. Subiu nos tanques e se deparou com manifestantes que se enfrentavam com soldados fortemente armados.
Suas imagens converteram-se em testemunhos do conflito e símbolo do espírito do movimento de resistência. Os rolos de filme que usou para fotografar a luta em Praga conseguiram chegar até o Oeste da Europa clandestinamente, e as imagens de Koudelka apareceram em jornais e revistas do mundo todo.
Até 1984, para evitar represálias contra ele e sua família, as fotografias aparecem assinadas como “P.P.”, ou “Prague Photographer” [fotógrafo de Praga].



Tchecoslováquia, 1968.

Exílios

Israel-Palestina (Al ‘Eizariya [Betania]), 2010
Em 1970, Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia e pediu asilo no Reino Unido. Enquanto esteve exilado, continuou trabalhando por toda a Europa nos roteiros marcados por eventos ciganos, festivais religiosos e de folclore que ocorrem anualmente. A alienação que sofreu enquanto ficou sem pátria é representada no conjunto dessa obra denominada Exílios, que mostra símbolos de isolamento (animais perdidos, personagens solitários, objetos espalhados e ciganos deslocados) que estão na raiz da experiência de vida de Koudelka.
Nacionalidade Incerta faz referência ao status legal que constava nos documentos de viagem do artista a cada vez que regressava ao Reino Unido, seu lugar de base durante a primeira década de exílio, já que não tinha passaporte tcheco e não podia provar onde tinha nascido.


Israel-Palestina (Al ‘Eizariya [Betania]), 2010
Israel-Palestina (Al ‘Eizariya [Betania]), da série Muro, 2010, cópia de 2014. Impressão de injeção de tinta.
 Panoramas

Koudelka tem tomado fotografias com uma câmera panorâmica desde 1986. Esse formato expandido é usado para mostrar territórios arrasados e devastados por conflitos, ou que sofrem mudanças pela passagem do tempo. Essas imagens representam a coluna central das suas impressionantes publicações panorâmicas, como Black Triangle ou Chaos, que mostram paisagens no limite da ruína.

Posteriormente, Josef Koudelka usou o mesmo formato para documentar a fronteira da Cisjordânia e os territórios que a rodeiam, como o deserto do Negev ou as Colinas de Golan. Esse trabalho, denominado Wall, empurra o espectador a observar a desolação de uma extensa paisagem dominada por muros, cercas, estradas de acesso e fronteiras. A exposição inclui uma seleção de cópias desse último projeto, juntamente com o livro publicado em 2014.
As panorâmicas são objetos impressionantes que medem entre 1,2 m e 1,8 m de comprimento. Nelas podemos ver uma paisagem criada pelo homem que conta sua história bem como as transformações pelas quais passou como fruto da depredação humana, ou seja, permite ver, através das suas fotografias, o homem como criador e destruidor do mundo.



o.

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