MULHERES
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
terça-feira, 26 de novembro de 2019
Love will tear us apart
Jana Romanova, Waiting (2009-2012). Exposição She Loves me, She loves me not, Mosteiro de Tibães, curadoria de Rui Prata, 2013; Festival Internacional de Fotografia |
Love will tear us apart
Festival Internacional de Fotografia, 13 Setembro – 27 Outubro 2013
Love will tear us apart [1], título da canção icónica da banda pós-punk britânica Joy Division, marca o Festival Internacional de Fotografia - Encontros de Imagem de Braga de 2013.
Num período hostil e adverso que reside em muito dos países europeus, onde a sociedade contemporânea atravessa uma crise de valores, Ângela Ferreira, a nova directora do festival, acredita que as relações humanas tornaram-se urgentes, sendo pertinente reflectir sobre as relações interpessoais e mesmo sobre o paradigma de família tradicional. Assim, a temática central deste festival é o Amor e a Família, sendo explorada através de inúmeros projectos fotográficos desenvolvidos por mais de 100 autores distintos, exibidos por mais de 30 exposições que sucedem, não só na cidade de Braga [como ocorreu em edições anteriores], como pelo território nacional (Porto e Lisboa) e além-mar, com eventos expositivos a decorrerem também no Brasil (S. Paulo e Fortaleza).
Dentro do enorme leque de exposições, destacam-se alguns projectos artísticos, que nos revelam uma multiplicidade de olhares, interpretações ou vivências sobre algumas das possibilidades que hoje podem representar sentimentos e uniões tão próximas, como o Amor ou a Família.
Matias Costa, em The Family project (Casa dos Crivos, Braga), partindo de arquivos fotográficos de família, desvenda-nos memórias que recontam não só alguns dos principais acontecimentos que marcaram o século XX: a migração Europeia para a América, a I Grande Guerra, a perseguição dos judeus na Rússia dos Czares e na Alemanha Nazi que culminou com a migração dos Americanos para a Europa, da qual Costa vivenciou enquanto criança; como também evoca a própria história da evolução da fotografia, desde as imagens monocromáticas às típicas imagens dos anos 80 com cores saturadas. Numa outra exposição, Nelson D´Aires também recorre a imagens de arquivo que celebram a continua memória do poder da fotografia em perpetuar o momento. No seu projecto Álbum de Família (Espaço Mira, Porto), Aires parte de um livro-álbum que retrata de forma próxima diversas gerações de famílias de Mora, captadas pelo fotografo António Gonçalves Pedro (AGP), e ao defrontar-se com estas memórias fotográficas sente a necessidade de encontrar as pessoas fotografadas, acabando posteriormente por retrata-las no seu actual ambiente e circunstância de vida.
Ao contrário do projecto de Nelson D´Aires que nos fala de reencontros e procura perpetuar o momento da memória contínua, o projecto Casamento/Divórcio/Diversos de Jorge Miguel Gonçalves, inserido na exposição no Mosteiro de Tibães She Loves me, She loves me not com curadoria de Rui Prata, apresenta-nos um olhar sobre diferentes espaços institucionais, frios e descaracterizados, mas simultaneamente envoltos em inúmeras e dissonantes cargas emocionais, como são as salas das conservatórias de registo civil. Espaços que tanto podem ocorrer casamentos como divórcios, fazendo-nos assim reflectir sobre as múltiplas cargas simbólicas que um espaço poderá conter em si mesmo. Ainda nesta exposição somos confrontados com as fortes imagens de Jonathan Torgovnik, escritas e visuais. Em Intended Consequences: Rwandan Children Born of Rape, Torgovnik revela-nos os efeitos colaterais de uma bruta realidade que impactou toda uma sociedade, genocídio de 1994 no Ruanda, que resultou numa limpeza étnica de mais de um milhão de Tutsis. Torgovnik, apresenta-nos as histórias de algumas mulheres que conseguiram sobreviver a este atroz genocídio, mas que foram violadas, contraindo SIDA/VIH ou engravidando do seu agressor. Mais de 20.000 crianças resultaram destes actos. Estas são imagens que nos revelam a continua memória de um pesado passado colectivo, onde provavelmente pela primeira vez, estas mulheres ganham coragem e voz para desvendar a sua história ao mundo.
Por fim, posso mencionar os projectos da artista russa Jana Romanova (Mosteiro de Tibães, Braga) e da artista portuguesa Pauliana Valente Pimentel (Galeria da Boavista, Lisboa). O primeiro intitulado Waiting, retrata segundo um ângulo panorâmico, jovens casais russos das grandes cidades de São-Petersburgo e de Moscovo, que estão na iminência de serem pais. Estas imagens foram captadas durante o início da manhã, altura em que a maioria dos retratados ainda está a dormir. Um projecto que é constituído na sua totalidade por 40 fotografias, em que cada imagem representa uma semana de gravidez. Paralelamente, podemos ainda considerar que este é um retrato documental, retratando a última geração que nascera antes da queda da União Soviética, e a anunciação de uma nova geração, que só conhecerá o que foi este país através de livros de história. Pauliana Valente Pimentel no projecto Jovens de Atenas, resultante de uma residência artística que realizou em Atenas em 2012, procurou descortinar um retrato fidedigno de uma geração de jovens que sobrevive nesta icónica cidade ocidental, num período tão peculiar como o estado de precariedade e incertezas que se presenciam hoje na Europa. Nesta sua série composta por dezoito fotografias e um vídeo co-produzido com Sofia Riscado, Pauliana Pimentel, reflecte, questiona e denuncia questões de identidade, afirmação sexual ou cultural de uma geração que experiencia a anunciação de um declínio abrupto do futuro social, político, económico e cultural do seus país. Mas ainda mais, Pimentel transpõe a situação para o está a suceder em muitas outras cidades e/ou países europeus, do qual facilmente incluo Espanha ou Portugal, impulsionando o público a refletir sobre o próprio conceito de democracia e valores que atualmente constituem as nossas sociedades ocidentais, onde os seus cidadãos ‘não tem sonhos, mas presságios [persistentes]’ [2].
Encontros de imagem
Festival Internacional de Fotografia
Portugal: Braga, Porto, Lisboa
Brasil: S. Paulo, Fortaleza
13.09.2013 – 27.10.2013
Texto escrito de acordo com a antiga ortografia.
[1] Tradução: O amor vai-nos separar.
[2] Chico Buarque, Mulheres de Atenas, 1976.
domingo, 24 de novembro de 2019
Inês Valle / The Power of Objects
INÊS VALLE
Por entre as distintas sociedades africanas, o pente sempre teve uma forte simbologia, representando status, afiliação a um determinado grupo social ou mesmo crenças religiosas. A exposição Origins Of The Afro Combs – 6000 Years Of Culture, Politics And Identity curada por Sally-Ann Ashton, simultaneamente patente no Museu Fitzwilliam e no Museu de Arqueologia & Antropologia de Cambridge, leva-nos numa viagem ao longo do tempo, partindo de à 6000 anos atrás até aos dias de hoje, refletindo sobre a história e simbologia que este objecto detém em diversas sociedade ou comunidades africanas, quer dentro do continente africano, quer em comunidades africanas da diáspora, localizadas nas Américas, Reino Unido ou nas Caraíbas.
O núcleo do Museu Fitzwilliam apresenta a história cronológica deste objecto, iniciando o percurso expositivo com objetos que nos remetem para mais de 6000 anos AC no Egito (Kemet). Os pentes encontrados deste período, são na sua maioria ornamentados com figuras animais, salvo em algum casos, que contêm representações de figuras humanas, provavelmente deuses, como é o caso do pente representa Tawaret, a deusa da bondade.
Um dos diálogos mais interessantes entre os objetos apresentados nesta exposição, é a justaposição simbólica entre dois pentes com diferença temporal de mais de 5000 anos: um pente de plástico dos anos setenta, desenhado pela Antonio Inc., e um pente em osso pertencente à Dinastia do Alto Egito. Ambos encerram em si o mesmo significado icónico. O primeiro, o ethos do Movimento de Direitos Civis, ergue um punho cerrado e o símbolo da paz, ao passo que o segundo é ornamentado com um pare de chifres de touro, mas ambos são representações ou símbolos de poder e status.
Nesta exposição, além de podemos encontrar pentes de diversos períodos e territórios, também nos deparamos com uma extensa seleção de esculturas nigerianas, desde o século 12. Representando deuses ou figuras de fertilidade, revelam-nos a multiplicidade de penteados díspares, como é o caso da escultura que representa Xangô, o deus trovão. Ainda neste mesmo espaço, podemos observar a evolução dos diversos estilos de penteados Africanos ou das Caraíbas, através de uma projetação de retratos fotográficos, apresentando retratos efectuados entre 1909 até 2013, que ilustram não só o período colonial, em que os africanos eram retratados como figuras exóticas, como também uma perspectiva mais próxima e contemporânea da diversidade de penteados que hoje existem.
No último espaço expositivo no Museu Fitzwilliam, é simultaneamente narrada a história e importância simbólica do pente e penteado ‘afro’, quer durante o período colonial quer na atual Diáspora Africana. Esta ultima surge durante os anos 50, ganhando um tremenda visibilidade quando as artistas Miriam Makeba ou Nina Simone passam a adaptar este estilo de penteados publicamente, como um símbolo de orgulho da sua própria identidade cultural. Posteriormente, durante os anos 60 e 70, quando ocorrem os movimentos Direitos Civis dos Negros ou o movimento Black Power, este estilo de penteado "afro" torna-se popular por entre as comunidades da diáspora africana, expressando o conceito 'Black is Beautiful'. Durante este período são criadas uma variedade de diferentes tipos de pentes, sendo o mais icônico, um pente ornamentado com um punho cerrado idealizado por Anthony Romani em 1972, simbolizando o gesto de saudação do Black Power.
Como referência ao período colonial, posso destacar a história dos quilombos de Accompong na Jamaica narrada através da uma instalação constituída por dez pentes de alumínio, idealizada por Russell Newell em 2013. O termo "Maroon" provém da língua espanhola, que significa cimarrón, uma das muitas palavras pejorativas usadas pelos europeus para rotular os povos africanos. Nesta instalação, Newell descreve-nos a história de um grupo rebeldes de Accompong na África Ocidental, que conseguiram escapar dos britânicos quando estes chegavam à Jamaica. Cada objecto-pente revela-nos uma história de lutas de mais de 80 anos contra o poder Colonial Britânico, culminado em 1730 com a Independência de Accompong .
A segunda parte desta exposição, patente no Museu de Arqueologia & Antropologia, pode ser encarada como uma grande instalação, onde a temática é transposta para a contemporaneidade, através da obra do artista e escritor Michael McMillian. Em My Hair: Black Hair Culture, Style and Politics, são recreados à escala real, três estabelecimentos, uma ‘Cottage Salon' dentro de uma casa particular, uma Barbearia e um Salão de Cabeleireiro, onde o artista procura ilustrar o desenvolvimento da indústria negra global, a politização ou mesmo a popularização dos Afros e Dreadlocks.
Esta é uma exposição que nos revela simultaneamente as origens do pente Afro e o valor simbólico deste objeto na história política do século vinte, como também a forma como os penteados Afro se tornaram hoje num símbolo da identidade cultural Africana.
Origins of the Afro Combs - 6000 years of Culture, politics and Identity
Fitzwilliam Museum
Museu de Arqueologia & Antropologia
Cambridge, UK
Curadoria de Sally-Ann Ashton
Fotos:
1. Edo, Elephant Ivory hair comb, Benin City, South Nigeria (before 1958). Photo credit: Ines Valle
2. Installation View My Hair: Black Hair Culture, Style and Politics at the Fitzwilliam Museum, Cambridge, 2013. Photo credit: Ines Valle
3 . Installation View My Hair: Black Hair Culture, Style and Politics at the Fitzwilliam Museum, Cambridge, 2013. Photo credit: Ines Valle
4. Installation View Plastic hair comb (Anthonio’s Inc.) ; Bone hair comb (Egypt, c.3500 BCE). Photo credit: Ines Valle
5. 5. Installation View The story of Jamaica‘s Accompong Maroons by Russell Newell (2013), at the Fitzwilliam Museum, Cambridge, 2013. Cortesy of Fitzwilliam Museum
6. Installation View My Hair: Black Hair Culture, Style and Politics at the Fitzwilliam Museum, Cambridge, 2013. Photo credit: Ines Valle.
Inês Valle possui Licenciatura em Pintura e Mestrado em Estudos Curatoriais ambos realizados na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Recentemente, realizou um estágio como assistente de curadoria no CCAS, na Austrália, através do programa da Cultura INOV–Art, promovido pelo Ministério da Cultura português. Para além do objetivo do estágio, tomou a oportunidade para pesquisar sobre alguns dos conflitos que neste território emergem, inclusive a prática da arte contemporânea indígena e as relações de poder entre “política” e a pratica artística. É curadora independente e critica de arte sediada entre Portugal, Reino Unido e Nigéria, em que no último foi convidada a colaborar como curadora na Omenka Gallery. Tem colaborado com diversos artistas, curadores e instituições artísticas, organizou diversas exposições que operam como plataformas discursivas críticas que incidem sobre relações de poder entre a política, a sociedade e a prática artística. De seus últimos projetos curatoriais pode-se destacar “God Factor” no Mosteiro de Tibães, em Braga; “Art Stabs Power: que se vayan todos!” na Plataforma Revólver (Lisboa) e em Bermondsey Projeto (Londres), bem como a exposição “Gently I press the trigger”, com o artista Palestino Khaled Jarrar, na Galerie Polaris (Paris) e na One Gallery (Ramallah).
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
Howard Schatz / Mulheres
Howard Schatz, Underwater study |
Howard Schatz
MULHERES
Howard Schatz, Body Power |
Howard Schatz, Underwater study |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Pregnancy |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Ballet |
Howard Schatz, Ballet |
Michael Dweck and Howard Schatz, Underwater study |
Howard Schatz, Pregnancy |
Howard Schatz. Underwater study |
Howard Schatz, Dance of Pascale LeRoy |
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
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