domingo, 10 de novembro de 2019

A bênção de Babel / A loucura perfeita da língua e das línguas

«A Torre de Babel» (1563), Pieter Brueguel, o Velho

A bênção de Babel

A loucura perfeita da língua e das línguas

SHARON RAMÍREZ SANTAMARÍA
9 JULHO 2017
Segundo o Gênesis, a Torre de Babel foi construída num tempo em que «o mundo inteiro falava a mesma língua, com as mesmas palavras». A narrativa diz que os homens queriam chegar ao céu. Deus castigou a arrogância da humanidade com a 'confusio linguarum', a confusão de línguas. Falando cada pessoa uma língua diferente, eles já não conseguiam comunicar entre si e o trabalho teve de ser parado. Ao contrário do que conta o primeiro livro da Bíblia, a diversidade linguística é mais uma bênção do que uma maldição. E aprender línguas estrangeiras abre portas. O mundo, cada vez mais aberto, oferece muitas possibilidades e facilidades para aprender, expressar e comunicar, apesar das nossas próprias barreiras linguísticas.
Ter medo aos erros é normal e isto pode ser aplicado em muitos aspeitos da vida, por exemplo, quando falamos numa língua diferente da nossa. Mesmo pode ser que eu esteja errando ao escrever este artigo, mais é disso que se trata; de tentar, errar e melhorar. Aprendi português quando tinha 19-20 anos e ainda falta muito por avançar; no que respeita ao inglês, sei que existe desde que era uma criança e fui à escola, mas devo confesar que preciso treinar mais. Quando já estava trabalhando recibi aulas de francês e alemão, não obstante, fiquei no começo do camino.
Conto isto porque se tivesse tido a oportunidade de aprender outras línguas desde que estava começando a falar, o tivesse feito sem dúvida alguma. Não foi assim e, contudo, em vez de dizer «já estou velha demais para aprender», mantive essa curiosidade que é capaz de derrubar as barreiras que nós pomos. Entendo que quando a vida nos leva por caminhos distintos temos tempo por acaso para respirar e que seja quase impossível dizer «agora é tempo», mas eu pessoalmente penso que qualquer día pode ser o momento para começar, assim seja só com dizer, «eu quero tentar».
Segundo The Ethnologue: Languages of the World, na atualidade existem aproximadamente 7.099 línguas no mundo. As dez línguas mais faladas, como línguas maternas, e que são utilizadas por quase a metade da população mundial, são: mandarim (885 milhões), inglês (322 milhões), espanhol (266 milhões), português (215 milhões), bengali (189 milhões), hindi (182 milhões), russo (170 milhões), árabe (148 milhões), japonês (125 milhões) e alemão (98 milhões). Além disso, de acordo com um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), estima-se que cerca de 500 idiomas têm uma média de menos de 100 falantes e que Papua-Nova Guiné, com 850 idiomas, é o país onde se fala mais línguas diferentes.
Realmente é impressionante a diversidade lingüística que temos no mundo e as distintas expressões que podem existir mesmo numa língua só. Não tem acontecido com vocês que embora estejan falando com pessoas do mesmo país não entendem o que estão falando? Eu tenho passado por situações assim e às vezes têm sido engraçadas. No 2009, quando cheguei ao Brasil pela primeira vez, estava falando com algumas pessoas que tinha conhecido uma noite e, antes de ir embora, falei a uma amiga colombiana no meu “portunhol” da época: «vamos pegar....uma buseta para casa, não?», o que se seguiu foi um silêncio e um coro de risadas, eu não entendia nada nesse momento e só consegui acompanhar as risadas com o rostro vermelho. No espanhol da Colômbia, “buseta” é um ônibus pequeno, mas lá é uma questão totalmente diferente, pois é o órgão genital feminino. Em síntese, um momento inesquecível cheio de risadas. E depois disso o meu ônibus pequeno da Colombia não voltou de novo!
Diferentes palavras para definir um mesmo conceito, diferentes sotaques, mas ao mesmo tempo, uma oportunidade para entender novos modos de comunicação. Falar uma língua diferente envolve muitos desafios, mas se chega ser possivel, é importante pensar que poderia servir não só para o aspeito profissional, senão também para abrir caminos em outros lugares com culturas e pessoas que podem trazer lições para as nossas vidas. Para mim é difícil acreditar como podem existir tantas maneiras de comunicar; a riqueza da língua é única, ao igual que a possibilidade de ter alfabetos tão diferentes e de construir estruturas linguísticas que são incompreensíveis para uns, mas que têm toda a lógica para outros. Nao é fácil atrever-se, mas é gratificante.
Ser criança no mundo de hoje é uma vantagem, eles têm mais facilidades para conhecer outras realidades não só a través da televisão ou da rádio, como aconteceu com generações pasadas, isso tem que ser aproveitado. Contudo, não é tarde ainda para aqueles que nascemos numa outra época se realmente se quer e se está disposto a abrir outras portas para a nossa boca, para a nossa língua. Às vezes achamos que o mundo é só o nosso mundo, porém existem muitas coisas por descubrir e por falar! Falar é uma loucura perfeita da língua e das línguas.
Sharon Ramírez Santamaría
Inquieta, assim sou eu. É justamente essa qualidade, como assim acho que é, a que me levou procurar novas experiências, em vários lugares e países. Eu sou colombiana e jornalista, a minha primeira experiência profissional me permitiu aventurar-me no mundo da política como repórter nessa área. Agora, em retrospecto, eu aprecio que tenha sido assim, porque essa oportunidade me abriu as portas em outros meios de comunicação (televisão e rádio) e também no setor público como assessora de comunicação, no Congresso da República da Colômbia.

Cheguei em Madrid (Espanha), no final do 2016, para fazer um mestrado em Análise Político da Universidade Complutense de Madrid, que eu considero um passo importante e gratificante na minha carreira, pois representa a realização de um objetivo que eu defini para a minha vida há vários anos. Para mim, adquirir conhecimento através dos estudos e da experiência é uma combinação que traz ferramentas importantes para o meu crescimento laboral e ainda mais, para o meu crescimento pessoal.
Sem dúvida, viajar é uma das minhas grandes paixões. Não é conhecer o maior número de países, mas sim ficar com uma lembrança e uma sensação especial de cada lugar que eu tenho a oportunidade de conhecer. E finalmente eu só posso dizer quatro verbos que são parte de mim: escrever, ler, atuar e sonhar.


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