segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Júnior Pernambucano / Un campeão estreante na Sapucaí


Júnior Pernambucano, 

um campeão estreante 

na Sapucaí


  • Carnavalesco da Império da Tijuca assinou seu primeiro desfile no Rio este ano, depois de ganhar experiência em Três Rios


O Globo, 14 de fevereiro de 2013 
Rafael Galdo






Esmero. Júnior mostra esculturas de tripés levados pelo Império da Tijuca à avenida
Foto: Guilherme Pinto / O Globo



Esmero. Júnior mostra esculturas de tripés levados pelo Império da Tijuca à avenidaGuilherme Pinto / O Globo
RIO — Campeão logo em sua estreia no carnaval do Rio. É com um cartão de visita desse que Júnior Pernambucano, de 33 anos, carnavalesco do título do Império da Tijuca, na Série A, apresenta suas credenciais para debutar ano que vem no Grupo Especial pela verde e branco do Morro da Formiga. E pensar que, em 2000, quando chegou ao Rio para tentar realizar o sonho de trabalhar na folia carioca, bateu de porta em porta nos barracões e só ouviu “não”. A oportunidade que ele buscava veio apenas anos depois, após uma trajetória bem diferente da que ele imaginava. E com a ajudinha de uma história de amor, que o levou a se mudar para Três Rios, no Centro-Sul Fluminense, onde o destino aprontou uma reviravolta.
Vindo da cidade de Goiana, na Zona da Mata pernambucana, Júnior conta que, desde a infância, conviveu com os trabalhos de ferragem, carpintaria e decoração de barracão de escola de samba. Em sua cidade natal, o pai dele, Arecio Alves Aires, foi fundador e até hoje é o carnavalesco da agremiação Bambas do Ritmo. E foi em casa que Júnior aprendeu, desde pequeno, o ofício de conceber o mundo de fantasia que desfila na avenida.
— Já era um sonho do meu pai vir para o Rio ser carnavalesco. E acabou se tornando o meu também.
Foi para tentar concretizar esse objetivo que ele chegou ao Rio, mas acabou com as expectativas frustradas. Ou melhor, adiadas. Depois de tantos negativas, Júnior foi trabalhar em lojas de artesanato em Campo Grande, onde morava.
— Isso até eu conhecer minha atual esposa, a Gisele, que era de Três Rios. Nós nos casamos e, graças a ela, fui morar na cidade. Aí minha história com o carnaval recomeçou — lembra.
Em Três Rios, surgiu o convite para trabalhar na escola Bom das Bocas, em 2006. No interior, em sete anos como carnavalesco, Júnior foi campeão seis vezes. Foi lá que, em vez de ser chamado por seu nome, Arecio Alves de Oliveira Aires, ganhou o apelido de Júnior Pernambucano. E até título de cidadão trirriense ele ganhou. Os bons resultados chamaram a atenção do Mestre Capoeira, comandante da bateria da Bom das Bocas e também do Império da Tijuca, que fez a ponte para que o carnavalesco alcançasse a Sapucaí.
Foi após o carnaval de 2012, com a saída do então carnavalesco Severo Luzardo da verde e branco, que Capoeira apresentou Júnior ao presidente da escola, Antônio Marcos Telles, o Tê. E o dirigente resolveu dar a oportunidade que o carnavalesco esperava há anos.
Combate ao desperdício
Júnior lembra que o presidente queria um enredo afro para 2013. Então, ele apresentou a ideia de “Negra, pérola mulher”, sobre as mulheres negras, com pesquisa de Diego Araújo. O presidente aceitou a proposta, e a comunidade abraçou o enredo. Começaram, então, os trabalhos para a estreia no Rio, já no Sambódromo e numa das escolas mais tradicionais da Série A. Júnior, um dos mais jovens carnavalescos do grupo e fã de mestres como Renato Lage, imprimiu seu estilo na escola. Para isso, afirma ele, sua experiência em agremiações com poucos recursos, em Três Rios e Pernambuco, fez diferença.
— Por eu ter vindo de escolas pequenas, aprendi sempre a aproveitar muito bem os materiais, a reciclar. Percebi dentro dos barracões que havia muito desperdício. Fiz modificações no Império da Tijuca, para economizar e reaproveitar mais material. Claro que, no Império, havia mais condições do que em Três Rios. Mas às vezes também havia algumas dificuldades. E nessas horas minha experiência anterior contou — diz Júnior, que continuou trabalhando também em Três Rios, para onde viajava todos os fins de semana.
No desfile do Império da Tijuca, ele conta que, como em toda primeira vez, sentiu um pouco de nervosismo. Mas veio a apuração, e a escola recebeu notas 10 em todos os quesitos. No que dependia dele, apenas um 9,7 em alegorias e adereços deu um susto. Mas a nota foi descartada. E o Império terminou à frente de todas as outras 18 agremiações da Série A.
Para Júnior, a vitória se transformou numa sensação de surpresa, apesar da certeza do trabalho bem realizado.
— Ainda estou meio desorientado, sem entender bem o que aconteceu. A ficha ainda não caiu. Meu pai, que assistiu ao desfile pela internet, também está assim, acredita, não acredita. Chora muito. Foi tudo muito rápido — afirma.
Para o desfile deste ano, é claro que Júnior ouviu a opinião do pai, de 76 anos, 45 deles como carnavalesco:
— Ele disse que aprovou. Fico contente com isso.
Já quando o assunto é um possível enredo para o ano que vem, Júnior já faz como a maioria dos companheiros de ofício mais experientes: guarda segredo e diz que ainda conversará com o presidente Tê. Mas garante que vai se esmerar para ajudar a manter a verde e branco do Morro da Formiga na elite da folia carioca.
— Agora cheguei. Vamos arrebentar. Fazer um bom trabalho. Aguardem o Império da Tijuca — avisa.

http://oglobo.globo.com/carnaval-2013/junior-pernambucano-um-campeao-estreante-na-sapucai-7584183#ixzz2L2pWSR9P 




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