Reduzir as ações humanas à avaliação de conveniência/inconveniência é pragmatismo é alienante. O modelo orgânico-sistêmico de homeostase não se aplica a questões éticas, não serve como exemplo para questões psicológicas. Argumentar que seres humanos, em última instância, sempre agem por conveniência e em prol da própria sobrevivência é uma visão organicista, que dificulta o entendimento da vida em comum e justifica comportamentos destruidores. As ações humanas que levam à estabilidade orgânica correspondem à imanência biológica, à sobrevivência individual, mas o ser humano é um sobrevivente com possibilidade de existente, isto é, de estar-no-mundo-aqui e agora-com-os-outros; sem a vivência existencial ele se desumaniza.
Os comportamentos humanos sempre são exercidos em função de contextos, em função de referenciais. Referenciais orgânicos, sociais, familiares etc são os dados relacionais configuradores das ações, configuradores dos comportamentos. Adequação aos sistemas de referência são traduzidos como bem-estar/mal-estar, satisfação, prazer, insatisfação, desprazer e isto, sequencialmente, formaliza vivências de acertos, erros, propósitos, despropósitos, vivências estas que, por continuidade, geram os conceitos de ações convenientes, lucrativas, ou ações inconvenientes, prejudiciais.
Perseguindo resultados, se detendo na satisfação de necessidades, inicia-se o mapeamento do comportamento, buscando o que é bom, o que é conveniente e evitando o que é ruim, o que é inconveniente. Ao se deter na satisfação de necessidades, o indivíduo reduz seus processos a resultados contingentes, perdendo assim, perspectivas de suas infinitas possibilidades, desde que as transforma em alavancas utilizadas para realização de suas conveniências. Realizar conveniência sempre obriga à utilização dos outros como objetos, como pontos de apoio, como suportes para construção de objetivos.
Utilizar mão-de-obra necessária para a construção de obras, por exemplo, sem que esta receba seu valor de trabalho através de pagamento adequado cria a mais-valia, consequentemente, divide as pessoas em exploradas e exploradoras. Nos intercâmbios afetivos, nas constelações familiares, também existem processos que podem ser comparados aos de mais-valia. A criação de dependentes, eternos agradecidos/revoltados; a utilização dos parasitas criados como massa de manobra e utilizados para justificar impedimentos e dificuldades, mostram como a manutenção de conveniência destrói utilizadores e utilizados.
Definir-se pelo que se busca ou pelo que se evita, implica em alienação causada pela motivação de buscar o que ainda não existe, consequentemente, buscar o impossível. Não há como buscar a inconveniência nem a ela se dedicar, tanto quanto o mesmo pode ser dito acerca da conveniência, são valores alienantes.
Conveniência pode ser acerto, consideração, motivação criadora de autonomia e disponibilidade quando reciprocamente estabelecida e vivenciada e isto é totalmente diferente da vivência unilateral, apropriadora e gananciosa da conveniência fruto de utilização dos outros por medo, inveja e usura. Nestes casos, quanto mais se usa, mais se realiza as conveniências, tanto quanto as dependências, decepções, enganos e traições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário