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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Eufémia / Mulheres, teatro e identidades' denuncia violência sistémica

 


Eufémia: Mulheres, teatro e identidades' denuncia violência sistémica

Espetáculos, mesas redondas e debates sobre perspetivas de género constam do programa da primeira edição do Festival 'Eufémia: Mulheres, Teatro e Identidades', a decorrer nos próximos dias 26 a 31, em vários espaços de Lisboa.


11:32 - 21/10/21 POR LUSA
CULTURA 
LISBOA

Promovido pelo grupo Eufémias, o primeiro a representar, em Portugal, o Magdalena Project -- Rede Internacional de Mulheres no Teatro Contemporâneo, o certame inclui ainda uma componente formativa através da realização de mesas redondas destinadas a promover o debate sobre as perspetivas de género e a construção de identidades nas artes cénicas, segundo a organização,

O nome do certame, a realizar em espaços como a biblioteca de Marvila, o auditório da Escola Secundária Camões e a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), "remete para as mulheres trabalhadoras, as suas lutas, as denúncias contra as diferentes violências do sistema patriarcal - heteronormativo-branco, a força e a vulnerabilidade das que são mães, o direito e o dever de falar e o direito e o dever de dizer não", acrescenta uma nota da organização.

Idealizado e construído a partir da questão das perspetivas de género, que denuncia a captura da identidade nas redes de poder-saber patriarcais e aponta a necessidade de um novo tipo de ação feminista através das artes cénicas, os espetáculos "procuram configurar a prática artística/cénica como prática política, e, como tal, transformadora do social", refere a mesma nota da organização do certame.

Protagonizado, sobretudo, por mulheres, o festival promove práticas destinadas a todas as pessoas, numa perspetiva multicultural, com o objetivo de contribuir para a formação de artistas locais, o enriquecimento mútuo das artistas e comunidades envolvidas pela troca de experiências, reflexões e saberes entre pessoas de culturas diversas, histórica e socialmente ligadas.

A violência contra as mulheres, a violência de género, as diferentes formas de opressão pós-colonialista, as identidades e a sua relação com a memória histórica ligada às ditaduras, a desigualdade no mercado do trabalho, as novas masculinidades, o racismo, a discriminação e a homofobia são temas a abordar na iniciativa.

Um concerto do grupo musical português CRUA, composto por seis mulheres e outros tantos adufes, assinalam a abertura do festival, no dia 26, na biblioteca municipal de Marvila, seguido de "Silêncios persistentes", uma performance de Joana Craveiro pelo Teatro do Vestido, sobre os segredos de famílias.

No dia seguinte, no mesmo local, A Corda Teatro representará "Epopeia" (dia 27).

Um dia depois é a vez da artista brasileira Tita Maravilha, com "Tita no país das maravilhas".

A estreia do novo trabalho da coreógrafa e bailarina Marisa Paulo, "(In)visível", sobre o corpo da mulher africana na diáspora, um concerto pelo grupo cabo-verdiano Batuko Ramedi, composto por nove mulheres (ambos no dia 29), e o espetáculo "Semillas de memoria", da atriz argentina Ana Woolf, no dia seguinte, 30, completam a lista de espetáculos a apresentar naquela biblioteca em Lisboa.

"Mulheres em rede: O legado e a transmissão através do Magdalena Project", "Arte, política e memória como estratégia de resistência", "Feminismos, interseccionalidade e a desconstrução de estereótipos de género-raça-classe" e "Artes, corporalidades e Construção de Identidade" são os temas dos quatro debates, a realizar ao ritmo de um por dia, entre dias 27 e 30, na FCSH-UNL e no auditório da Escola Secundária de Camões.

Quatro ações de formação, a ministrar por atrizes e formadoras como a argentina Ana Woolf, a portuguesa Joana Pupo, a francesa Brigitte Cirla e a australiana Jaime Mears, no Mercado de Culturas de Arroios e na Escola Secundária de Camões, constam também do programa.

Como atividades complementares, o Festival propõe ainda exibições de trabalhos artísticos em curso, a exibição do filme de Raquel Freire "As mulheres do meu país", e uma "Parada final", de Ana Woolf e Brigitte Cirla, com intervenções artísticas dos participantes do Festival Eufémia, aberta à comunidade, a realizar no último dia do certame, em espaços públicos em Arroios.

O grupo Eufémias tem o nome inspirado na ceifeira alentejana Catarina Eufémia, mãe de três filhos, assassinada grávida, com um deles ao colo, aos 26 anos, em 1954, pelos algozes da ditadura de Oliveira Salazar enquanto protestava junto com outras trabalhadoras rurais.

As Eufémias são Catarina Sobral, Elsa Maurício Childs, Mafalda Alexandre, Maria Catarina Amaral, Poliana Tuchia e Stefania Macua.

O festival é inspirado no Magdalena Project -- Rede Internacional de Mulheres no Teatro Contemporâneo, uma rede multicultural dinâmica fundada em 1986, no País de Gales, e que atualmente reúne grupos de teatro de mulheres dos continentes europeu e americano, e de países como Austrália, Nova Zelândia e Índia.

CULTURA AO MINUTO


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Veneza e o eterno presente / O grande arcano dos sonhos!

 




Veneza e o eterno presente

O grande arcano dos sonhos!

13 NOVEMBRO 2019,
MARIA ANTÓNIA JARDIM

Veneza / Uma cidade que naufraga com seus turistas

Veneza não esquece Casanova, seu libertino universal


Veneza é uma ilha?

Na verdade, a cidade é um conjunto de 124 ilhotas que começaram a ser habitadas e anexadas umas às outras a partir do século VII.




Cada pedacinho da cidade possuía geralmente uma igreja, um campo (a praça) e um poço, e eram as pontes que interligavam uma parte à outra. Diferente do que muita gente pensa, Veneza não é mar e sim uma lagoa separada do mar por pequenas porções de terra.

Sabia que Veneza tem a curiosa forma de um peixe ?!

Espreitamos os canais da Sereníssima e encontramos resquícios de ostras adriáticas incrustadas nas paredes e muros antiquíssimos, banhados por ondinas gondoladas a proporcionarem o espanto dos viajantes na cidade Onírica.



O sol põe-se devagar e o nosso olhar demora-se na cor e brilho lunares, nas 4 estações de Vivaldi que ecoam um pouco por todo o lado e na contemplação dos Palácios que começa agora!!!!

O “ Agora” é o tempo de Veneza, um eterno Presente inesquecível, feito de nós e dos laços de nós ainda…feito de memória e sonho, de filmes impressionantes: Morte em Veneza! Casanova!; de vidas inspiradas e inspiradoras como a de Peggy Guggenheim ou de Marco Polo que nos entusiasmam a descobrir a Geografia do Outro!




Veneza dos festivais e das Bienais, das esculturas excêntricas, da arquitectura de contos de Fadas e da Pintura perfeita e imperfeita da música e canto das Sereias Doces…Veneza é um corpo onírico que se entranha a cada instante num dolce fare niente num brinde de Spritz e garfada de Tiramisu!

Veneza cruza e amplia discursos artísticos, místicos e afectivos nas suas praças e ruelas e pontes e jardins; num virar de esquina uma criança corre para o colo do pai ao final do dia, no parque infantil da creche e quem passa partilha aquele Mo(nu)mento e sorri porque até parece impossível que algo tão normal pareça tão anormal num local de Sonho!

Veneza loura, grisalha, ruiva, alegremente triste e especialmente bela…Murana e por isso arco-íris, sempre espetentacular!

Bamboleando entre canais e o Grande Canal, brindo a uma realidade que ultrapassa qualquer ficção; brindo ao sonho que realizou esta obra-prima. Festejo Veneza em mim. Veneza, a Feiticeira Sorriso que se multiplica em cada rosto/ máscara, nas badaladas imprevistas em que o beijo é uma intenção e desejo permanentes!

Veneza das Sombras que nos acompanham em silêncio; das encruzilhadas, dos leões alados que a governam!

Veneza, sedutora, desejada, alquímica, pincelada num Arcano Maior: O Sonho, como mistério a desvendar com o coração!

WSI




quarta-feira, 3 de junho de 2020

Que livros compravam Simone de Beauvoir, Joyce, Hemingway e Lacan em Paris?


O escritor James Joyce e a livreira Sylvia Beach em 1930, dentro da livraria Shakespeare and Company, em Paris.
O escritor James Joyce e a livreira Sylvia Beach em 1930, dentro da livraria Shakespeare and Company, em Paris.


Que livros compravam Simone de Beauvoir, Joyce, Hemingway e Lacan em Paris?

Pesquisadores da Universidade de Princeton vasculham os arquivos digitalizados da histórica livraria Shakespeare and Company para detalhar o perfil leitor de seus clientes mais ilustres


ALESSANDRO LEONE
Cupello (Itália) - 19 MAY 2020 - 14:28 COT


Durante a primeira parte do século XX, Paris representava mais do que nunca a cidade dos intelectuais, um ponto de encontro onde confluíam alguns dos autores-símbolo daquela época. Gertrude Stein a chamava de Geração Perdida, uma expressão que se tornou famosa graças ao romance Paris É uma Festa (1948), de Ernest Hemingway, e que descrevia os jovens que tiveram o azar de chegar à maturidade no contexto da Primeira Guerra Mundial. A capital francesa oferecia recantos que pareciam refúgios seguros, como a histórica livraria Shakespeare and Company. Fundada em 1919 por Sylvia Beach, dedicava-se, e ainda se dedica, à venda de livros em língua inglesa, naquele momento difíceis de conseguir a um preço razoável.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Como Portugal mantém o coronavírus mais controlado que países europeus mais ricos


Horácio cria suas ovelhas na aldeia de Santa Margarida da Serra, no Alentejo (Portugal).
Horácio cria suas ovelhas na aldeia de Santa Margarida da Serra, no Alentejo (Portugal).
Foto de FRANCISCO JAVIER MARTÍN DEL BARRIO

PANDEMIA DE CORONAVÍRUS

Como Portugal mantém o coronavírus mais controlado que países europeus mais ricos

Precauções sanitárias, planos de controle oportunos e união política controlam a epidemia melhor que em outros lugares com mais recursos econômicos


Javier Martín del Barrio
Lisboa, 12 de abril de 2020


Não faz muito tempo, o presidente português disse que seu país era a Suécia do sul. Ainda que o popular Marcelo Rebelo de Sousa tenha se referido na época às conquistas diplomáticas, a definição poderia ser estendida hoje à luta contra o coronavírus. Portugal contorna a pandemia com um índice de casos por milhão de habitantes que é a metade do sueco. Embora o mundo continue boquiaberto olhando para o norte, britânicos, suíços, holandeses e alemães poderiam aprender alguma coisa mais ao sul, com o latino Portugal, onde o coronavírus avança sob controle.

O cordeirinho que ainda exibe cordão umbilical não sabe, mas nasceu com um estrela. Graças a estes tempos de calamidade, não acabará em alguma churrasqueira nesta Páscoa. “Foi parido esta manhã”, confirma o pastor Horácio. O animal quase não pode se manter de pé ao lado dos outros filhotes, alguns dias mais velhos que ele, todos indultados pelo coronavírus. “Hoje é este bicho e não há demanda, amanhã será a seca e não haverá pasto. Em 10 anos não haverá nada nem ninguém por aqui.” Horácio cria as ovelhas numa aldeia do Alentejo, uma região do tamanho da Catalunha onde o coronavírus não conseguiu matar. Um caso excepcional dentro do exemplo já excepcional que é Portugal.

Em 2 de março foram descobertos os primeiros casos positivos em Portugal, praticamente o último país infectado da Europa Ocidental, e por causa de importações da Itália e da Espanha. Embora a autoridade sanitária tivesse considerado a Covid-19 uma “gripe forte” dias antes, as previsões mais pessimistas apontavam para um milhão de contagiados, 10% da população do país. Quarenta dias depois, existem apenas 16.000 casos e 470 mortes. Numa guerra sem fim, os profissionais de saúde portugueses abrem mão das medalhas. “Não somos melhores que os italianos nem que os espanhóis”, afirma o pneumologista Filipe Froes. “São etapas diferentes. Estamos três semanas atrás da Itália e uma ou duas atrás da Espanha. É cedo para avaliar Portugal.”

Até agora, os dados portugueses são muito mais encorajadores que os da França, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica e Suíça, estereótipos da suposta eficácia, disciplina e racionalidade do norte da Europa.

“Todos os países aplicam as mesmas medidas, mas nós tivemos mais tempo de prepará-las”, diz Froes. “No início, a atividade do vírus foi mais brusca na Itália e na Espanha, agindo em mais focos geográficos e em instituições sensíveis, como hospitais e lares de idosos.”

Em 13 de março, o primeiro-ministro português, António Costa, decretou o estado de alerta e o fechamento dos colégios. Tomou a medida ao mesmo tempo em que a Espanha, com a diferença de que esta registrava 6.000 contágios e 132 mortos, e Portugal apenas 112 positivos, nenhum mortal. Naquele mesmo dia, foi detectado o primeiro caso de contágio local, um dado importante para frear a expansão do vírus, segundo a epidemiologista Inês Fronteira. Do primeiro caso importado ao primeiro entre locais, 11 dias haviam passado, ao contrário da Itália e da Espanha, que demoraram 23 e 28 dias, respectivamente, para localizá-los. Um estudo da professora de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa indica que a reprodução do vírus em Portugal, nos primeiros 25 dias da epidemia, foi por isso a mais baixa da Europa, inclusive inferior às cifras da Coreia do Sul e da China.

Apesar da cautela dos especialistas portugueses, faz uma semana que os contágios duplicam a cada oito ou nove dias. “É verdade”, reconhece o pneumologista Froes, “que na fase de desenvolvimento do contágio ativamos a rede de atenção primária. Com isso, conseguimos uma resposta domiciliar ao paciente para seguir o tratamento em casa e uma melhor resposta ao doente grave nos hospitais”. Hoje, 82% dos contagiados continuam a recuperação em seus domicílios.

Os hospitais estão longe do colapso, e os de campanha nem foram capacitados. João Mota, chefe de proteção civil de Grândola, transformou um espaço de feiras num hospital temporário. “No momento ele não é necessário [há quatro casos na localidade], mas está preparado para que outros hospitais transfiram para cá pacientes com doenças não contagiosas”, afirma. Os 233 internados nas UTIs do país utilizam seis ventiladores por cabeça, e nesta semana chegarão outros tantos para completar um total nacional de 3.000 aparelhos.

A epidemia se concentra na Grande Lisboa e na região do Porto, com 90% dos casos positivos. No extremo oposto está a terra de Horácio, o Alentejo, com 0,5%. Com 33% da superfície do país continental, a região tem apenas 23 habitantes por quilômetro quadrado, como na Suécia. “A densidade populacional é um fator fundamental numa expansão epidemiológica”, diz a demógrafa Maria Filomena Mendes, da Universidade de Évora.

O coronavírus, longe de distanciar instituições e partidos, aproximou-os. O presidente, Rebelo de Sousa (Partido Social-Democrata, PSD), e o primeiro-ministro, Costa (Partido Socialista, PS), se complementam e publicamente escondem suas discrepâncias. Não há provas de que a unidade institucional cure epidemias, mas sim de que as brigas políticas estimulam o mal-estar da sociedade. Nas redes sociais portuguesas, é impossível encontrar vídeos de cidadãos insultando ou raivosos (tampouco engraçados). Nas ruas, a polícia não controla, “sensibiliza”; não multa, “recomenda”. Em abril, somente deteve – no sentido mais leve do termo – 74 pessoas por violar o confinamento. Empresas e lojas permanecem abertas – com a exceção de bares e restaurantes – enquanto o presidente já anuncia que o estado de emergência continuará até maio.

Seja pelos médicos, pelos políticos ou pelo povo, Portugal está lidando com a situação melhor do que muitos países, embora ela não seja a ideal. Faltam testes, máscaras e gel desinfetante. Os planos de prevenção se esqueceram dos lares de idosos, como reconhece o pneumologista Froes. “Tínhamos que ter sido mais rigorosos na avaliação do risco nessas instituições.”

Aos 70 anos, o pastor Horácio não tem medo do coronavírus. “Lutei na guerra de Moçambique, depois fui a Angola, depois ao Iraque... Se ele vier, aqui estamos. Você acha que o vírus se lembrará de nós?”.




sábado, 11 de abril de 2020

Brasil ultrapassa as 1.000 mortes, enquanto adesão ao isolamento diminui em SP, epicentro da doença



PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Brasil ultrapassa as 1.000 mortes, enquanto adesão ao isolamento diminui em SP, epicentro da doença

País registra um total de 19.638 contágios e 1.056 mortes pela doença, segundo dados desta sexta-feira. Monitoramento de celulares mostra que em São Paulo só 47% cumpriram quarentena na véspera do feriado


Pessoas com máscaras protetoras andam durante o surto de doença de coronavírus, perto do Porto de Manaus.
Pessoas com máscaras protetoras andam durante o surto de doença de coronavírus, perto do Porto de Manaus.
BRUNO KELLY  leyenda

Beatriz Jucá
São Paulo, 10 ABR 2020

O Brasil superou a marca das 1.000 mortes pelo novo coronavírus nesta sexta-feira (10), mesmo dia em que o mundo ultrapassou os 100.000 óbitos causados pela doença. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o país já registra um total de 19.638 contágios e 1.056 mortes pela Covid-19. Mas, apesar da alta constante dos números, a adesão ao isolamento social, medida apontada por especialistas como a mais eficaz para evitar a disseminação do vírus, tem diminuído em São Paulo, Estado que concentra mais casos no país, com 540 óbitos. É o que aponta uma ferramenta do Governo do Estado, que monitora a movimentação da população com base em informações das operadoras de telefonia. Nesta sexta-feira de Páscoa, dia em que o presidente Jair Bolsonaro também cumprimentou apoiadores em frente a uma farmácia de Brasília, o Governo paulista anunciou que o índice de isolamento social caiu 12,9% na quinta. No feriado, as ruas da capital também estavam mais cheias que o habitual dos últimos dias.

Segundo os dados do Governo de São Paulo, o índice de isolamento na última quinta-feira, véspera de feriado, foi de 47%. O levantamento referente a sexta-feira do Sistema de Monitoramento Inteligente só devem ser divulgados no sábado. Especialistas que ancoram as decisões da gestão estadual afirmam que é preciso que a medida tenha a adesão de 70% para trazer resultados mais efetivos e achatar a curva epidemiológica. “Se a taxa continuar baixa, o número de leitos disponíveis no sistema de saúde não será suficiente para atender a população”, diz o Governo, por meio de nota. O dado desta quinta-feira é menor que o registrado na quinta anterior (3 de abril), quando 54% da população estavam em distanciamento social.



A gestão de João Doria já afirma que com base nos registros poderá endurecer as medidas de distanciamento social e, inclusive, começar a prender pessoas que descumpram a quarentena a partir de segunda-feira (13). O Estado decretou o fechamento dos comércios a partir do dia 24 de março para tentar restringir a circulação de pessoas. Mas, nesta sexta-feira de feriado, diversas pessoas se aglomeraram na avenida Paulista, seja para protestar contra as medidas, seja para praticar exercícios físicos na ciclovia. O Governo tem feito uma campanha com disparo de mensagens pelo celular para alertar que as pessoas fiquem em casa e evitem aglomeração.

No momento, São Paulo, Distrito Federal e outros quatro Estados —Amazonas, Amapá, Ceará, Rio de Janeiro— estão na iminência de entrar em uma fase mais aguda da doença, quando há aceleração descontrolada do contágio. Estes locais têm uma incidência de casos confirmados 50% maior que a média nacional, quando considerada a taxa proporcional ao tamanho de suas populações. No último boletim epidemiológico da pasta, os Estados de Roraima e Santa Catarina foram colocados em posição de alerta, porque a taxa de incidência da Covid-19 já supera a nacional, ainda que não alcance esses 50% a mais que ela.



Nos últimos dias, o Ministério da Saúde também começou a divulgar o coeficiente de mortalidade da doença por Estado. No documento divulgado nesta sexta-feira pela pasta, apresentam os maiores índices, respectivamente: Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará. Todos eles apresentam a taxa de mortes de Covid-19 por 100.000 habitantes superior ao índice do país. Os números servem de alerta, inclusive para medir a necessidade de resposta do sistema de saúde em cada região, já que o Brasil, por seu tamanho, possui um sistema de saúde assimétrico.
Sistemas de saúde em alerta

Ainda que o Brasil não tenha entrado na fase de contágio desenfreado da doença, o elevado número de casos graves da Covid-19 já pressiona os sistemas de saúde. Na ponta, Estados e municípios correm contra o tempo para tentar ampliar suas estruturas de atendimento ―em especial as UTIs, onde são tratados os casos mais graves. O isolamento social tem sido adotado para que os gestores tenham tempo de reorganizar suas redes e ampliar o número de leitos e equipamentos num contexto de escassez global de insumos. E já há Estados atuando num limite crítico. O Amazonas declarou que cerca de 95% de seus leitos já estão em uso. O Ceará, por sua vez, diz que atua com 85% dos leitos de cuidados intensivos ocupados. As capitais desses dois Estados, Fortaleza e Manaus, receberão auxílio do Governo Federal para conseguir ampliar minimamente suas redes.


Um plano de distribuição de 60 respiradores foi iniciado nesta sexta-feira pelo Ministério da Saúde. Um total de 30 deles já foi enviado para Fortaleza. A previsão da pasta é que 20 equipamentos cheguem neste sábado (11) em Manaus. Os dez restantes devem ser enviados também neste sábado a Macapá, cuja velocidade de disseminação chamou a atenção, segundo o secretário executivo do ministério, João Gabbardo. Especialmente as capitais brasileiras estão em uma corrida contra o tempo para ampliar a estrutura e conseguir dar atenção médica aos casos mais graves da doença. A estrutura necessária não é simples. Além de camas e respiradores, é preciso garantir equipamentos de ventilação mecânica e mão de obra qualificada para manejar clinicamente esses pacientes, carências admitidas nos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde em meio à disputa global por insumos.

“A distribuição [dos 60 respiradores] levou em conta aquilo que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chama de espiral da epidemia, isto é, onde a transmissão está se dando em velocidade maior e, portanto, há mais doentes indo aos hospitais ao mesmo tempo e ocupando toda a capacidade de assistência do sistema de saúde”, informa a pasta.




sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dublin / Roteiro de viagem


Dublin, roteiro de viagem

A capital irlandesa entre história e contemporaneidade

Tatiana Sato

11 AGOSTO 2014

Embora Dublin não seja uma das capitais-destinos quando se fala de viagens à Europa, ela é uma cidade cheia de história e mistérios que merece ser visitada. Localizada na província de Leinster, na costa leste da ilha, Dublin é a capital da República da Irlanda desde 1922. Embora os habitantes de Cork, cidade localizada na costa do Atlântico, na província de Munster, contestem com frequência o título de capital de Dublin, a cidade têm histórias incríveis para quem quiser ouvir e lugares lindos para se conhecer.
Dublin, The Audl Dubliner Irish Pub & Restaurant
Mural com o Velho Marinheiro

Um dos charmes da cidade (mas não fica restrito somente a ela porque isso acontece em todo o país) são os sinais bilíngues: em todos os lugares, em todas as placas de rua e destinos de ônibus, se podem ler os nomes em inglês e irlandês. Embora o irlandês seja falado por pouco mais de 130 mil pessoas no país, ele ainda tenta ser revivido e isso é notável em Baile Átha Cliath, o nome irlandês da cidade.

Dublin, Christ Church, vidrada (pormenor). Fotografia Tatiana Sato

O tempo em Dublin não ajuda… Em geral, os dias são cinzentos e é necessária uma dose de boa vontade para se sair pelas ruas dessa capital irlandesa ainda mais se a garoa começar a cair. Calma, esse é o tempo de Dublin.
Se isso acontecer, porque não passar pelo Temple Bar e entrar em algum dos pubs que lá estão? Localizada ao sul do rio, entre o Liffey e a Dame Street, o Temple Bar é provavelmente a região de Dublin mais conhecida pela concentração de pubs, como o Temple Bar Pub (o bar deu o nome ao bairro ou o bairro deu o nome ao bar?), o Porterhouse, o Oliver St. John Gogarty, o Turkʼs Head e o Purty Kitchen, entre vários outros que podem ser encontrados lá e em todos se pode tomar uma pint de Guinness, a tradicional cerveja irlandesa. E, embora seja conhecido pelos pubs, o Temple Bar é um bairro que oferece bastante cultura na qual se pode encontrar verdadeiras instituições culturais, como o Irish Film Institute, que apresenta alguns filmes internacionais em suas salas, o Irish Photography Centre, o Temple Bar Gallery and Studio, o Gaiety School of Acting, entre outros.
James Joyce, Ulysses, o mapa do itinerário

Do Temple Bar, se pode escolher algumas rotas: ou se atravessa o rio através da HáʼPenny Bridge, uma ponte pedestre assim chamada porque seu pedágio custava half a penny, ou subir até a Dame Street, de onde se pode ir até a Trinity College, onde está a biblioteca que inspirou a de Harry Potter e um dos escritos mais antigos do mundo, o Book of Kells, ou, caminhar até o Dublin Castle.
As cores de Dublin à noite, jogo de luz sobre o canal

HáʼPenny Bridge foi inaugurada em 1816 e foi eternizada pelo U2 em suas fotografias icônicas em preto e branco datadas do início da década de 80. Por falar em U2, é importante também mencionar o Clarence Hotel, localizado em Wellington Quay, no Temple Bar, que pertence ao Bono e ao The Edge. O Bono, aliás, vive ao redor de Dublin e já tocou na Grafton Street na época de Natal, uma das quais estive lá. A Trinity College é a universidade mais prestigiada da cidade e, como turistas, podemos visitá-la. Nos poucos dias ensolarados do verão irlandês, é possível encontrar em seus gramados irlandeses e estrangeiros deitados nos seus gramados e acompanhados de suas cervejas. Além de ser um passeio agradável se o dia estiver bonito, ela tem a maior biblioteca do país, com mais de 4,5 milhões de volumes, incluindo o Book of Kells, um manuscrito gospel escrito entre os séculos VI e IX em monastérios na Irlanda, Escócia e Inglaterra. Dizem que o interior dessa biblioteca é tão impressionante que foi usado como inspiração não só da biblioteca de Hogwarts nos filmes de Harry Potter como também, reza a lenda, é a inspiração dos arquivos Jedi do Episódio II de Star Wars.
Dublin, canal com barco vermelho. Fotografia Jake Perks

Dublin Castle é outro lugar que vale a pena conhecer. Sede do governo britânico na Irlanda até 1922, um governo considerado tirano e injusto para o povo irlandês, ele contém apenas uma torre de sua construção original (a Record Tower) porque o resto do castelo medieval foi destruído pelo incêndio de 1684. Lá, se pode encontrar uma estátua da justiça diferente, voltada para o Dublin Castle e não para o povo, sem vendas nos olhos e cujas balanças não são iguais: dizem que elas pendem para um lado quando chove. Isso demonstra o quão injusto o governo britânico era: a justiça era voltada para o governo e não para a população, não era cega e era tendenciosa… Coisas de Irlanda.
Dublin, a Costum House

Ao se caminhar pelas ruas por trás do Dublin Castle, se pode deparar com diversas surpresas agradáveis, como o George Street Arcade, uma passagem que liga a George Street a Dury Street e onde se pode encontrar alguns brechós, restaurantes e objetos de decoração.
Perto de lá e bem próxima a Trinity College, está a Grafton Street, um calçadão de pedestres onde se podem encontrar muitas lojas, como a BT2, a Brown Thomas e sua coleção de luxo, com todas as marcas que alguém possa imaginar, a Swarovski e high street fashion como a A/Wear e a Next. Além de ser uma rua de compras, a Grafton é conhecida pela quantidade de artistas de rua que lá se apresentam diariamente. Dizem que o U2 lá começou e, inclusive, ela foi um dos cenários de Once, filme irlandês de 2007 que ganhou o Oscar de melhor canção original.
Dublin, a Costum House

O tradicional Bewleyʼs Oriental Café é outro dos lugares que merece destaque. Estabelecido em 1840, foi frequentado por figuras clássicas da literatura irlandesa, como James Joyce (que também o mencionou em seu livro The Dubliners). O St. Stephenʼs Green, localizado ao princípio da rua, é um parque no meio da cidade que merece ser visitado.
Do St. Stephenʼs Green, é possível caminhar até o Merrion Square. Palco de várias apresentações de verão, o Merrion Square é o jardim georgiano localizado em Dublin 4 no qual se pode encontrar a estátua de um dos mais conhecidos escritores da cidade, Oscar Wilde (particularmente, um dos meus autores favoritos cujas citações são bastante atuais, como We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars ‒ Estamos todos na sujeira, mas alguns de nós está olhando para as estrelas). Ao seu redor, se pode encontrar várias casas nas quais nasceram ou viveram outras personalidades importantes irlandesas. Esse também é um dos lugares onde se pode encontrar as famosas portas coloridas de Dublin, um dos cartões postais da cidade.


Dublin


Encontradas também em Baggot StreetLeeson Street e Mountjoy Square, essas portas têm estilo georgiano, assim chamado porque foi desenvolvido entre 1714 e 1830, período no qual reinaram quatro reis chamados George (ou Jorge). Entre as várias histórias que escutei de suas origens, a minha favorita nunca foi confirmada, mas diz que a Rainha Vitória que reinou entre 1837 até 1901, quando faleceu, afirmou que quando morresse, queria que todas as portas do Reino Unido fossem pintadas de negro, por luto. Durante o seu reinado, ocorreu a Grande Fome Irlandesa de 1845, na qual a praga da batata destruiu plantações pelos próximos quatro anos, o que fez com que a população evaporasse: mais de um milhão morreu e outro milhão emigrou. Quando ela morreu, em sinal de protesto, reza a lenda que os irlandeses pintaram suas portas de diversas cores.


Dublin

Não sei o quão verdadeira essa última história é, mas conhecendo a rebeldia irlandesa e seu senso de humor sarcástico, não duvido de sua veracidade.
Existe muito mais para se ver e conhecer nessa cidade. A Christ Church, que foi a primeira catedral da cidade fundada em 1028, fica a apenas alguns minutos de Dublin Castle. Há vários museus também, dos mais normais, com obras de artes, como o National Gallery of Ireland, até visitas a Jameson, a famosa destilaria do whiskey irlandês e a fábrica da Guinness, a St. Jamesʼs Gate Brewery.



Localizada em um terreno altamente valorizado em Dublin, Arthur Guinness assinou um contrato pelo mesmo por 9,000 anos (isso mesmo, nove mil anos) pelo qual pagaria uma quantia fixa de 45 libras irlandesas anuais. Na época, o valor era alto, mas o contrato nunca levou em conta a inflação ou cláusulas de renovação, motivo pelo qual a família Guinness, embora não o possua, o utiliza e paga somente esse valor por ano. E a família de Mark Ransford, que o possui, nada pode fazer a respeito (“yearly and every year during the residue of the said Term of nine Thousand Years unto the said Mark Ransford his heirs Executors Administrators or assigns the rent of forty five pounts sterling Lawfull Money of Great Britain by even and equall half yearly payments”). Esse contrato é legalmente válido e estudado, inclusive, em aulas de direito… Coisas de Dublin.



Aconselho fazerem um tour. Existe o tour no barco dos Vikings, Viking Splah Tour (1) no qual se sobe em um veículo anfíbio conhecido por Dukws e, em uma hora e quinze minutos, se percorre alguns dos principais pontos da cidade por terra, terminando o passeio dentro do Grand Canal Harbour. O barulho do veículo é alto então as explicações do guia podem ficar um pouco abafadas. Outro tour que recomendo é o Free Walking Tour da Sandemanʼs (2), uma companhia que oferece meus tours favoritos na Europa. Por uma gorjeta, um guia incrível apresentará a cidade à pé e contará muitas de suas histórias.
Se você preferir e já conhecer o suficiente sobre Dublin, agarre seu guia favorito ou simplesmente saia caminhando. Embora tenha escrito somente algumas linhas sobre alguns dos poucos lugares que essa cidade oferece, garanto que você descobrirá outros mais. Cheia de histórias, algumas engraçadas, outras trágicas, Dublin pode surpreender aquele que acreditava que essa capital não tinha nada a oferecer.
Notas
(1) www.vikingsplash.com
(2) www.newdublintours.com



quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

São Paulo / À descoberta da grande metropole do Brasil

São Paulo, Avenida Paulista. Fotografia Paulo Kawazoe



São Paulo

À descoberta da grande metropole do Brasil

TATIANA SATO
10 JULHO 2014

Falar de , para mim, é como falar de família porque tenho um carinho imenso pela cidade. Isso acontece porque sou paulistana da gema que, além de nascida e criada na cidade, pensava que moraria lá por toda a minha vida. O destino não o quis e a minha vontade de conhecer o mundo foi maior. No entanto, o sentimento familiar de carinho permanece.
São Paulo, Museu do Ipiranga. Fotografia Sidnei Carvalho, 2011

Sei que o Brasil está associado, na mente de vários estrangeiros, à praia e à natureza e, por isso, acredito que mereça à pena destacar alguns dos encantos da minha cidade natal. Afinal, São Paulo é uma metrópole em solo brasileiro, a maior cidade da América do Sul e uma das maiores do mundo. Com essas proporções, seria ilógico pensar que a cidade não tem coisas a oferecer.
A cidade não tem praia, mas tem parques entre os quais se destaca o Ibirapuera, uma enorme área verde em meio ao concreto da cidade. Nesse parque, desenhado pelo arquiteto Roberto Burle Marx, é destino de final de semana de muitos paulistanos e daqueles que foram adotados pela cidade. É o lugar onde se reunem com amigos ou família para caminhar ou andar de bicicleta.
São Paulo, vista do Pateo do Collegio. Fotografia Paulo Kawazoe

Outro destaque é a Praça Benedito Calixto, onde, todos os sábados, é realizada uma feira que é uma mistura de antiquário e brechó. Embora as barracas sejam encantadoras, os preços podem ser um pouco altos para aqueles que esperam comprar antiguidades por um bom preço. Lá perto, em uma das ruas que saem da Rua Harmonia, está o Beco do Batman, um local conhecido por suas paredes grafitadas que transformam esse lugar num museu a céu aberto.

São Paulo, Parque Ibirapuera. Fotografia Paulo Kawazoe

A Rua Harmonia está na Vila Madalena, um dos bairros boêmios da cidade, destino de fim de semana de vários paulistanos, seja por sua vida noturna de sábado, seja pelo clima de descontração que a região adota nos domingos à tarde. Ao passar por lá, recomendo que experimentem o caipilé que é um twist da caipirinha brasileira com um picolé de frutas, uma invenção que delicía os paladares em dias mais quentes.
Por falar em vida noturna, a cidade oferece inúmeras opções, quaisquer sejam seus gostos. Entre as centenas (para não dizer milhares) de opções, posso destacar o Pé na Jaca Bar (Rua Harmonia 117), na Vila Madalena, que oferece um ambiente artístico descontraído cujas paredes grafitadas remetem ao Beco do Batman e a Casa 92 (Rua Cristóvão Gonçalves, 92), um restaurante-bar-discoteca localizado em um casarão da década de 30 em Pinheiros cuja decoração retro lembra a de uma casa decorada por diversas pessoas, com sofás confortáveis, mesa de bilhar, jardim de inverno e quintal e, inclusive, cozinha que parece de vó (só que mais estilizada).
São Paulo, Pinacoteca do Estado. Fotografia Paulo Kawazoe

A gastronomia paulistana
Formada por imigrantes e migrantes que decidiram tentar a vida na cidade, não é de se surpreender que a gastronomia de São Paulo seja variadíssima. Particularmente, sempre que visito a minha cidade, engordo vários quilos porque não paro de comer. Aliás, essa é uma característica típica: sair e comer.
Não importa onde se vá, o que se fará, sempre vai ter comida envolvida. Saiu para andar no Parque do Ibirapuera? Passe na Frutaria São Paulo para tomar um açaí na tigela, algo bem típico brasileiro. Saiu para tomar um café com amigos? Certamente ele será acompanhado por um sanduíche ou pães de queijo. A copa de cerveja do happy hour de sexta será acompanhada por uma picanha na brasa. Enfim, comer é uma desculpa bem paulistana para socializar.




São Paulo, o Copan, desenhado pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer. 
Fotografia Paulo Kawazoe 

É possível encontrar qualquer tipo de comida de ótima qualidade a qualquer hora do dia. Claro que depende do quanto se quer gastar, mas poucas vezes me decepcionei com a comida nos lugares que fui.
Tenho lugares favoritos na cidade e pratos cuja lembrança fazem minhas papilas gustativas salivarem. A comida da minha mãe é a favorita de todos os tempos, mas, infelizmente ela não possui mais um restaurante. Comidas que recomendo, no entanto, e estão acessíveis ao público geral são o Penne com Melão e Presunto Cru, no Spot, um restaurante localizado atrás dos prédios da Caixa Econômica na Avenida Paulista, e os sushis do Sushibol (a mais nova unidade está na Mário Ferraz, no Itaim), com destaque para o Carpaccio de Salmão Especial e os Niguiris: os de vieiras e sal negro e o de salmão maçaricado são absolutamente incríveis. Todas essas são invenções do chef Danilo Miyabara.

São Paulo, Estação da Luz. Fotografia Paulo Kawazoe

O Bar Brahma, localizado na esquina da Ipiranga com a São João (eternizada pela canção de João Gilberto Sampa), é um bom lugar para se comer a tradicional feijoada (servida em todos os bares e restaurantes da cidade nas quartas e sábados), além de ser um dos lugares onde se pode ouvir e dançar música tradicional brasileira, como a bossa nova, o samba ou o MPB (música popular brasileira) nos sábados à tarde.

São Paulo
Os lugares
Não sei se todos dividem o mesmo amor que sinto pela Avenida Paulista. Não a considero a mais bonita do mundo nem a mais elegante, mas ela sempre fez parte da minha vida enquanto vivi em São Paulo. Seus quase 3 km de extensão, em minha opinião, representam, na forma de arquitetura, a mistura que é a cidade.
Em sua extensão, a avenida acolhe desde casarões da época da cultura do café (início do século XX) como a Casa das Rosas a edifícios modernistas como o MASP (Museu de Arte de São Paulo), prédio projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi e que se destaca pelo seu vão-livre de mais de 70 m e pela incrível coleção de arte europeia, por muitos considerada a mais importante da América Latina. Uma média de 1,5 milhões de pessoas caminha por essa avenida que também abriga o consulado de vinte e um países e que, para mim, é o coração dessa imensa cidade.

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O centro-histórico dessa cidade fundada pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, espanhol das Ilhas Canárias, também merece uma visita. O Pateo do Collegio (em português arcaico) marca o lugar que deu início à cidade e, muito próximo de lá, se pode visitar a Catedral da Sé, uma construção neo-bizantina e o Teatro Municipal, cuja arquitetura externa é inspirada no Opéra de Paris. Várias outras construções localizadas no centro merecem uma visita. Da Estação da Luz, localizada em frente à Pinacoteca do Estado de São Paulo à Estação Júlio Prestes, com sua arquitetura no estilo beaux-arts que abriga a Sala São Paulo, construída no final década de 90 para ser a casa da Orquestra Sinfônica de São Paulo e onde se podem ouvir orquestras internacionais.
Poderia escrever linhas infinitas sobre a quantidade de coisas para se ver só no centro histórico, mas vou destacar quatro: o Mercado Municipal, onde se pode comer o famoso sanduíche de mortadela ou o pastel de bacalhau (lembrem-se que pastel, para o brasileiro, é uma pastelaria salgada e frita em óleo quente – vale a pena provar), o Copan, desenhado pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer, o Martinelli, primeiro arranha-céu da cidade datado de 1929 e o Banespa, cuja vista do topo tem a fama de ser a mais bonita da cidade.
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A cidade é enorme e, talvez por isso, seus encantos, escondidos sob camadas de concreto, não possam ser percebidos por um recém-chegado. O ideal seria ter sempre um paulistano ao lado, daqueles apaixonados pela cidade, na hora de visitá-la, mas isso não significa que não se possa aproveitar a cidade caso não se conheça um local. Tome os devidos cuidados, não caminhe com a câmara fotográfica sempre exposta ou mostrando a carteira com dinheiro. Mas dê uma chance à cidade. Ela pode surpreender.