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sábado, 14 de dezembro de 2013

Guillermo Cabrera Infante / O mapa da tristeza

Miriam Gómez y Guillermo Cabrera Infante

Guillermo Cabrera Infante

O mapa da tristeza

 O livro póstumo de Guillermo Cabrera Infante reconstrói os quatro meses cheios de desalento e a neurose que ele passou em Havana antes de empreender o caminho que o levaria ao exílio definitivo



FERNANDO VICENTE
O recém-publicado livro póstumo de Guillermo Cabrera Infante se intitula Mapa Desenhado por um Espião, mas deveria mesmo se chamar O Mapa da Tristeza, pelo sentimento de solidão, amargura, desproteção e incerteza que o impregna do começo ao fim. Conta os quatro meses e meio que passou no ano de 1965 em Havana, para onde havia viajado a partir de Bruxelas – ali era adido cultural de Cuba – por causa da morte da sua mãe. Pretendia retornar à Bélgica em poucos dias, mas, quando estava prestes a embarcar para o retorno ao seu posto diplomático, junto com suas duas filhas pequenas, Anita e Carola, recebeu no aeroporto de Rancho Boyeros uma ligação oficial indicando-lhe que deveria suspender sua viagem, porque o ministro das Relações Exteriores, Raúl Roa, tinha urgência em lhe falar. Retornou a Havana imediatamente, surpreso e inquieto. O que teria ocorrido? Nunca chegaria a saber.
O livro narra, numa escrita apressada e às vezes com frenesi e desordem, os quatro meses seguintes, em que Cabrera Infante volta muitas vezes ao ministério, sem que nem o ministro nem nenhum dos chefes o receba, descobrindo assim que havia caído em desgraça, mas sem jamais se inteirar sobre como ou por quê. Entretanto, no dia seguinte à sua chegada, Raúl Roa o havia felicitado por sua gestão como diplomata e anunciado que provavelmente voltaria a Bruxelas promovido a ministro-conselheiro da embaixada. O que ou quem havia intervindo para que sua sorte mudasse da noite para o dia? De resto, continuavam pagando seu salário e até renovaram o cartão que lhe permitia fazer compras nas lojas para diplomatas, mais bem abastecidas do que os armazéns cada vez mais míseros aos quais recorriam as pessoas comuns. Seria ele considerado pelo Governo um inimigo da Revolução?