Mas esse mesmo discurso trouxe críticas, muitas, porque quem é ela, uma privilegiada com o Oscar na mão pela atuação em Boyhood, para pedir a gays, lésbicas, negros, e qualquer minoria ou maioria, que ajudem as mulheres em sua luta por igualdade salarial e de direitos.
Patricia Arquette
O discurso estava escrito, mas Patricia Arquette (1968, Chicago) tem a revolução no sangue. Desde antes de nascer, quando ainda estava no ventre de sua mãe. Mardi Arquette participava de uma manifestação em defesa das liberdades civis quando Martin Luther King Jr. a viu em seu avançado estado de gestação e a convidou a subir com ele no ônibus. Mardi chegou a Chicago (EUA) bem a tempo de dar à luz a filha do meio da extensa família Arquette. “É claro que sou um produto de minha infância. Minha mãe lutou muito economicamente, toda minha família lutou muito, assim mantenho o coração de uma criança pobre e as lembranças de uma criança pobre. Chegávamos a ter tudo o que necessitávamos, mas era impossível contar com qualquer outra coisa além de cobrir as necessidades”, reconheceu Arquette recentemente a este jornal.
É um tema recorrente em sua conversa, ao qual também fez referência quando ganhou o Globo de Ouro. Uma infância dura, mas que valoriza. “Venho de uma longa linhagem de atores”, recorda com orgulho a atriz precedida por várias gerações de comediantes. “E meu pai sempre nos apoiou, de trabalho em trabalho, com cinco bocas para alimentar. Sei como é difícil ser ator”, acrescentou em referência a seu pai, Lewis Arquette, membro de diferentes grupos de teatro, assim como seu avô, Cliff Arquette. Como recorda Patricia, ela cresceu entre um pai que falava de Stanislavsky, de cinema, de teatro e de interpretação e uma mãe ativista, atriz e terapeuta interessada em arquétipos, em mitologia, nas características que englobam e diferenciam o ser humano. Ambas coisas muito úteis para um intérprete e “como mecanismo de defesa” em sua vida, admite. Um estilo de vida que também seguiram seus irmãos Rosanna, Richmond, David e Alexis (nascido Robert antes de mudar de sexo), todos dedicados ao mundo do espetáculo.
Patricia Arquette
Realmente, para Patricia Arquette, não existe outro mundo. “Não que eu pense que sou a melhor, mas o faço o melhor que posso, cresço, aprendo”, reconhecia humilde durante a temporada de prêmios. Nunca chegou a ser uma estrela do cinema como aquelas que agora a apoiam em sua luta pela igualdade da mulher, mas obteve desde o começo um reconhecimento por seu trabalho em filmes marginais, desde o primeiro True Romance dizendo as falas de Quentin Tarantino, até a loucura com David Lynch intitulada Estrada Perdida.
No meio dessa loucura, o destino a uniu a Nicolas Cage. Formaram um dos casais mais singulares de Hollywood, duas linhagens da mesma indústria, o peso dos Coppola e a independência bizarra dos Arquette unidos pelo acaso e pela busca de objetos incomuns como uma orquídea negra, um autógrafo do J. D. Salinger e uma estátua do gordinho de Big Boy. Foi esse tipo de coisas que Arquette pediu a Cage quando se conheceram. O ator cumpriu todas as provas e pouco depois conquistou princesa. Mas, como brinca a atriz, agora que o tempo passou, o príncipe encantado às vezes não é tão encantado. “Às vezes te enrolam um pouco”, explica sem dizer nomes. Poderia estar se referindo a Cage ou ao pai de Enzo, o músico Paul Rossi, com quem teve um relacionamento aos 20 anos. Ou possivelmente a Thomas Jane, o pai de sua segunda filha, Harlow Olivia. “Já sou um pouco Zsa Zsa Gabor. Tenho dois divórcios”, gaba-se com humor a atriz que mal chega a um metro e meio.
Enzo acaba de entrar na universidade e Harlow (12 anos) ainda é “o bebê” dessa mãezona que agora celebra suas conquistas com um novo homem a seu lado, o artista Eric White. O sucesso sorriu para ela não só com o Oscar de melhor atriz coadjuvante, por Boyhood, mas também com a carreira na televisão, primeiro com a série Medium, depois com Broadwalk Empire e agora com a estreia de CSI: Cyber, mais um spin-off da popular saga policial. Mas isso não a afasta das reivindicações que a acompanham desde sua infância, até mesmo antes de nascer.
Como afirmou em meio à polêmica que ela mesma gerou, na mente de Patricia Arquette ainda estão frescas as lembranças das mamadeiras e fraldas de quando era só uma mãe solteira trabalhadora de 20 anos. “O sucesso atual simplesmente me permite atrair a atenção para os problemas mais urgentes”, acrescenta quem, a poucas horas de sua vitória, preferiu organizar um ato beneficente em vez de relaxar e desfrutar de uma boa manicure antes da festa mais desejada de Hollywood.
A SAGA ARQUETTE
Patricia é terceira de cinco irmãos artistas: Rosanna (Procura-se Susan Desesperadamente), Richmond (Seven), Alexis (Good bye America) e David (Scream). São a terceira geração de uma família de atores, também dedicados à direção e à produção. O avô Cliff Arquette, comediante de rádio e televisão, desenvolveu no final dos anos trinta uma máscara de borracha transpirável que permitia gesticular e mudar de rosto.
Foi uma criança criada na telona, apesar de hoje afirmar que “o cinema como experiência em salas já era”. Atriz desde os três anos e vencedora de dois Oscar, afastou-se da indústria depois de revelar que é lésbica. “Cada entrevista que dou me devasta a alma”, lembra. Cinco anos depois, volta a protagonizar um filme, ‘Hotel Artemis’.
Rocio Ayuso 30 Jun 2018
Foi uma criança criada na telona, apesar de hoje afirmar que “o cinema como experiência em salas já era”. Atriz desde os três anos e vencedora de dois Oscar, afastou-se da indústria depois de revelar que é lésbica. “Cada entrevista que dou me devasta a alma”, lembra. Cinco anos depois, volta a protagonizar um filme, ‘Hotel Artemis’.
JODIE FOSTER demorou cinco anos para voltar a protagonizar um filme. E hoje chega ao encontro em Beverly Hills para falar sobre isso. Vem de muletas. “Um joelho. Esquiando.” É a primeira coisa que diz ao entrar no hotel Four Seasons. Faz tempo que a grande atriz nascida há 55 anos em Los Angeles conquistou certa fama de dura, e fria, de uma pessoa com personalidade difícil. Mas cara a cara Foster é educada e agradável, até afável. Também tem uma forte atitude de comando, algo sem dúvida necessário para sobreviver em uma indústria na qual ela começou aos três anos. Agora tem nas costas cerca de 40 títulos como atriz, quatro como diretora, dois Oscar e uma carreira invejada por muitos. Especialmente por aqueles que tentam superar com sucesso a difícil transição de menina prodígio para protagonista de sucessos como Acusados (1988) e O silêncio dos inocentes (1991). Há cinco anos se afastou da telona depois de revelar sua homossexualidade. Na época, anunciou que ficaria um tempo distante. “Cada entrevista me devasta a alma”, explicou. Semanas antes da estreia na Espanha de Hotel Artemis, filme que representa sua volta à interpretação, só seu joelho está machucado. Seu novo papel é o de diretora de um hospital secreto para criminosos na cidade de Los Angeles em um futuro próximo.
Jodie Foster em 'Acusados'.
Jodie Foster volta disposta a enfrentar o mundo com um sorriso. “Só mencionam os cinco anos que estive fora da indústria. É muito, mas às vezes é difícil levantar um projeto. Me considero sortuda por fazer filmes pessoais. Especialmente como diretora, não vou com a onda, com o cardápio de Hollywood. Tenho uma posição privilegiada e não preciso fazer filmes para usar e jogar fora ou franquias de outra pessoa. Procuro escolher histórias que possa defender, que me digam alguma coisa.”
E o que Hotel Artemis lhe disse? O que me chamou a atenção foi a originalidade. Estou farta de ver sempre o mesmo filme. Encontrei o roteiro de forma misteriosa, inclusive antes de ser divulgado, e sua energia me pegou. Sou muito chata. Cada vez pior. Cada vez levo mais tempo para encontrar o que quero. Mas é que não gosto de me repetir, voltar a interpretar o mesmo papel. Não gosto de concorrer comigo mesma, com minhas interpretações anteriores. Prefiro amadurecer e evoluir. E a transformação para esse personagem, sua mudança física, não se parece a nada que já fiz.
Jodie Foster em 'Hotel Artemis'.MATT KENNEDY
Todas as atrizes com mais de 40 anos tentam melhorar sua imagem. Você vai na contramão aumentando a idade e as rugas? Gostaria de mentir e dizer que para este papel foram necessárias horas e horas de maquiagem, mas não chegou a tanto. Não sou uma pessoa especialmente vaidosa, então não tive nada a perder. Minha carreira como atriz nunca se apoiou no físico. Nunca fui a ingênua. Nem a noiva. Sempre fui, acima de tudo, a atriz. Mostrar rugas diante da câmera não representou um grande desafio.
E o fato de se sentir mais velha? De ver sua mãe, seus ancestrais, em seu rosto? Minha mãe costumava ter o mesmo cabelo. Em 10 anos serei como ela. A velhice me provoca curiosidade, não preocupação. A transformação, mudanças na pele... Depois de viver uma vida tão excitante, não posso me queixar. Se há algo que espero é continuar atuando quando tiver 80. É algo fácil de fazer.
Depois dessa longa parada em sua carreira, era mais factível pensar que se aposentaria e não que trabalharia até os 80. Não penso em parar de atuar. O que quero é dirigir mais. Essa era minha intenção nesse tempo.
“Não quero ser prolífica. Não preciso estar nas capas das revistas nem ser Ron Howard, ou dirigir o filme mais comercial. Quero contar minhas histórias”
O que aconteceu? Hollywood não deixa que uma mulher como Jodie Foster atue atrás da câmera? É possível dizer isso. Dirigi meu primeiro filme aos 27 anos. E desde então só rodei quatro. A proporção de minha carreira é de 90% de interpretação e 10% de realização. Uma falta de equilíbrio que tentei remediar nestes últimos anos em que além disso dirigi quatro episódios de televisão. Lamento não ter feito antes e por isso agora é mais urgente contar minhas histórias. Não é que queira ser prolífica. Não preciso estar nas capas das revistas nem ser Ron Howard, ou dirigir o filme mais comercial. Quero contar minhas histórias.
Você se vê melhor refletida naquilo que dirige do que no que interpreta?Costumam me perguntar porque não escrevo mais. E o que é um diretor além de alguém que reescreve com a câmera? Em Mentes que Brilham (1991), meu primeiro filme, enxergo uma obra da juventude. E também me sinto mal por quem trabalhou comigo, pelo controle a que os submeti, não deixei que a criatividade fluísse. O castor (2011) é meu melhor filme, o mais maduro. Mas sei que não se para todo mundo.
Hoje você trabalha mais na televisão do que no cinema. Tudo mudou? O futuro da narrativa está nas mãos dos serviços de cabo ou de streaming. O cinema como experiência em salas já era. E temos de aceitar isso. As pessoas veem o conteúdo em seus telefones. E ninguém vai ao cinema. Nem eu. Mas continuo sendo defensora do formato de filme: histórias de uma hora e meia com início, conflito e desenlace. Vejo séries de televisão, mas não costumo passar para a segunda temporada. Gosto dos personagens, mas depois de um ponto não preciso saber nada mais sobre eles.
Ela resiste à tecnologia. E dá para notar. Foster briga com o celular para mandar uma mensagem de texto. Fala em voz alta. “Pegue o telefone e chame seu tutor já”, pressiona um de seus filhos. Provavelmente é Charlie, o mais velho; ou talvez Kit, o caçula. Mas não usa o comando de voz. Nem a assistente virtual Siri. Fala enquanto tecla. Resmunga, mas há uma certa pose na fala. Sua vida privada foi uma barreira intransponível nas entrevistas. Agora, a mulher que saiu do armário na entrega do Globo de Ouro de cinco anos atrás torna o interlocutor partícipe de sua vida sem pedir. “A única coisa que preciso é de um filho que responda quando telefono. Você sabe o que é isso.”
Só tenho cachorros. É mais simples. Digo: “Lucy, venha” e ela vem. Outra Lucy! Ela sim foi o amor da minha vida! Minha buldogue francesa... Ter filhos muda a vida. E coloca seus pés no chão. É fácil sentir-se só em Los Angeles, especialmente quando se é alguém introvertido, independente e que não gosta de pedir ajuda. E se ainda for famosa, mais ainda. Mas meus filhos... Volto para casa depois da estreia, depois de um dia inteiro de entrevistas, e enquanto faço os exercícios de reabilitação no joelho chegam com um grupo de adolescentes e começam o dia à meia-noite. À meia-noite! Assaltam a geladeira, se entopem de algas, de refrigerante de laranja, de chantilly. Comem o que encontram. Não me entenda mal. Charlie tem 20 anos. E Kit, dezesseis e tanto. Não temos problemas além do típico: que deixam tudo jogado por aí. Me canso de ouvir minha própria voz. Mas temo que será assim até o fim da vida.
“Há uma grande beleza no fato de olhar para trás. E com isso não quero dizer que todo tempo passado foi melhor. Vivendo a lembrança me conformo”
Qual é a relação deles com o cinema? Se interessam por seus filmes? Não sou como Martin [Scorsese], que organiza projeções privadas e comentadas para a filha e seus amigos. Ele é obsessivo. Nós falamos de cinema, claro. Eles gostam. Mas têm sua própria conta da Netflix para ver o que querem. Sou muito mais obcecada pela ética do que pelo cinema. Rende mais assunto. Lemos juntos as páginas de opinião do The New York Times. Ou discutimos as notícias. Às vezes também falamos sobre filmes, mas por seu conteúdo social ou contexto histórico.
Qual é o filme que mudou sua vida? São tantos... O caçador me impactou, e muitos da nouvelle vague. Pequenas tramas sobre gente comum. Esses são os que mais me influenciaram.
Seu discurso há cinco anos durante a entrega do Globo de Ouro, quando recebeu o Prêmio Cecil B. DeMille por sua carreira, foi revelador: “Este poderia ter sido um grande discurso de saída do armário. Mas já saí do armário há milhares de anos”. Existe um antes e um depois em sua vida desde aquele momento? Foi uma grande noite e meu discurso foi o que foi. Falou por si. Quando alguém recebe um prêmio por sua carreira não comenta seu último filme, mas o que fez ao longo da vida. E aquele foi um momento de transição, de mudança para um novo futuro. Sei que causou muito ruído, mas não quis participar disso. Não há mais o que dizer. Não poderia estar mais orgulhosa desse trabalho absurdo de que desfruto e que me proporcionou uma vida maravilhosa. O cinema é minha família, é minha vida. Me deu sentido como pessoa e também tive de ganhar na marra essa coerência.
Quais foram as batalhas? Os piores momentos? Prefiro lembrar os melhores. Sou muito nostálgica. Há uma grande beleza no fato de olhar para trás. E com isso não quero dizer que qualquer tempo passado foi melhor, que gostaria de voltar para trás. Vivendo a lembrança me conformo. Minha vida nos hotéis com minha mãe, lavando nossa roupa no banheiro e sem ter sequer uma geladeirinha... Tínhamos nossas regras. Se comíamos na cama, colocávamos a toalha para que não ficassem migalhas. Inclusive em hotéis horríveis, como no que moramos durante a filmagem de Bugsy Malone (1976), ao lado do aeroporto e com cheiro de cloro, a lembrança que guardo é de ter passado o melhor momento da minha vida.
Naquele discurso do Globo de Ouro você também dedicou palavras emocionantes a sua mãe, Evelyn Almond. Como disse, ela está perdida atrás de seus olhos azuis, acometida pela demência. Essa é outra das razões de sua transição? Minha mãe não poderia estar melhor. Vai viver mais do que todos! É um período difícil, e é verdade que sua demência está muito avançada. É muito duro para todos quando nossos pais envelhecem. Mas estou muito agradecida de poder passar tempo com ela. Mora em sua casa, como quer, e não lhe faltam cuidados. O mais importante é que faz o que gosta: assistir filmes e comer.
Em algum momento se sentiu à frente do seu tempo? Não acredito que seja a pessoa mais adequada para dizer, mas olhando para trás algumas vezes pode parecer. Um dos motivos por que tive sucesso, por ser alguém tão fora da curva, é que quando criança estava cercada não de colegiais, mas de mulheres que trabalhavam. Como eu. Nunca tentei ser como os outros. Simplesmente fui.
Mas a força dos papéis que interpretou se adiantou ao momento em que vivemos. Sempre imprimi aos trabalhos minha experiência como pessoa. Não busquei a força. Só quis papéis que não fossem definidos por outros. E às vezes tive que tirar de um homem.
Jodie Foster, em 1976, em uma imagem de 'Táxi driver'.EVEREST COLLECTION
Protagonista desde muito jovem de títulos como Taxi Driver (1976), tornou-se a obsessão de John Hinckley Jr., autor no início dos anos oitenta do atentado frustrado contra o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan como prova de seu amor à atriz. Jodie Foster parece a voz perfeita para o movimento Time’s Up contra o assédio sexual que teve início em Hollywood em resposta ao caso Weinstein. No entanto, suas reações ao furacão que abala a meca do cinema foram mais cerebrais do que emocionais. Não falou nada de Polanski, diretor com quem trabalhou em um de seus últimos filmes como atriz —Um deus selvagem(2011)—, agora expulso da Academia de Hollywood por estuprar uma menor há 40 anos. “A justiça a golpes de Twitter não é o caminho a seguir”, declarou Foster recentemente. Está claro que as redes sociais não lhe dizem nada. “Não vou julgar ninguém, porque não se pode dizer que vou salvar o mundo enquanto outros perdem tempo nas redes. Simplesmente não me interessa, e não sinto falta dos vídeos do YouTube com gatinhos e arco-íris. Não sei o que os outros fazem enquanto não estou nas redes, mas sinto saudades daqueles dias em que não estávamos tão interconectados”.
Como acha que a indústria vai mudar depois da revolução do #MeToo e do movimento Time’s Up? Me nego a aumentar o ruído em um momento tão importante de nossa história. Sofremos de um excesso de declarações. Ninguém precisa ouvir outro ator falando sobre o assunto. Precisamos de ações. De mais consciência. E como em todas as revoluções, deveríamos aprender com os erros cometidos pelos movimentos sociais anteriores. Se queremos mudança, temos de falar entre nós para buscar a reconciliação. Não fui eu quem disse, foi Desmond Tutu durante a luta contra o apartheid.
Sei que não gosta de falar sobre política, mas é impossível não fazer pelo menos uma referência à atual Administração estadunidense, contra a qual você se manifestou publicamente. Tenho orgulho de ser californiana. Sempre tive, mas agora ainda mais. Por fazer parte do Estado que neste momento da história dos EUA faz a diferença, tanto na tecnologia como nos temas sociais e políticos. Como o resto do país, estamos sendo empurrados para o abismo. Mas somos os primeiros a nos dar conta do que acontece. Minha esperança é que a Califórnia lidere a mudança de que precisamos. E sou muito otimista, porque o resto do país sempre olhou nessa direção para saber para onde vêm os tiros.
A que se deve sua reticência na hora de falar de política? Não me considero a porta-voz de nenhuma causa. E acho que nós, atores, não somos necessariamente qualificados para falar. Somos bons dizendo coisas sobre o cinema que fazemos e adoro participar de filmes que têm algo a comunicar. Mas prefiro depositar minha confiança em outras vias, como a ciência. De fato, confio muito nela, no fato de que as próprias pesquisas que nos levaram até aqui sejam a resposta para compreender o mundo em que vivemos e sejamos capazes de cuidar.
Em momentos de pânico, o que lhe dá tranquilidade? Desligar a televisão e parar de ver a CNN, para começar. E gosto de meditar, apesar de agora fazer tempo que não faço isso. Minha melhor forma de me concentrar, de desligar o ruído, de desconectar, é esquiar. Isso me acalma. Quando se está descendo por uma colina em alta velocidade, se começa a pensar em Trump ou em qualquer outra coisa, elas te dão segurança.
Jack Nicholson, o amor sem esperança de Anjelica Huston
A atriz publica ‘Watch me’, a segunda parte de suas memórias, centradas em sua relação com o ator
ROCÍO AYUSO Los Angeles 17 NOV 2014 - 15:42 COT
Ampliar fotoAnjelica Huston e Jack Nicholson, em julho de 1974. J. WASSERGETTY IMAGES
Anjelica Huston recordava menos de um ano atrás que embora tenha desfrutado ser parceira amorosa de Jack Nicholson, ela é muito mais que isso. Fiel ao que diz, a atriz, diretora, modelo, produtora e agora escritora dividiu sua biografia em dois livros. Na primeira, A story lately told, contou sua vida como filha do grande diretor e ator John Huston, sua infância na Irlanda e seu início como modelo. Agora é a vez de Watch me, publicada esta semana. Nestas memórias, ela conta sua outra vida, a de atriz e, durante 17 anos, namorada dessa força da natureza chamada Nicholson.
Emilia Clarke é Daenerys Targaryen em ‘Game of Thrones’.
As mulheres mandam
em ‘Game of Thrones’
Atrizes da série analisam o feminismo da saga de fantasia e a função de suas personagens
Rocío Ayuso Los Angeles
31 MAI 2016 - 15:23 COT
Uma garota soldado em busca de vingança. Uma rainha destronada que luta pelo que foi seu. Uma jovem vítima da violência de gênero que quer encontrar uma forma de seguir em frente. Esses são alguns dos perfis das mulheres que protagonizamGame of Thrones, uma série que, em matéria de papéis femininos, oferece de tudo, menos princesas esperando que o príncipe encantado as salve dos problemas. O enunciado de “todos os homens devem morrer” nunca foi tão adequado como nesta temporada, quando muitas mulheres assumem o controle da situação.
"Minha mãe me proibiu de falar mais sobre pênis”, afirma, brincalhona, ao EL PAÍS Emilia Clarke, mais conhecida como a mãe de dragões Daenerys Targaryen. “Prefiro falar da presença da mulher na televisão, porque esta série lidera a revolução”, acrescenta. “É uma série feminista. Sei que muita gente não está de acordo, mas também sei que são maioria as mulheres que me dão razão e por isso nos veem”, emenda Sophie Turner, que interpreta Sansa Stark. Na série, a brutalidade da violação de Sansa e sua passividade tantas vezes criticada fazem com que, aparentemente, ela não seja a melhor porta-voz, mas Turner não concorda. “O que mais me assombra é que a cena vire trend topic e não falemos de algo que ocorre diariamente com mulheres de verdade.”
A seu lado, sua colega e amiga Maisie Williams (Arya Stark) lhe dá razão, embora com ressalvas. Para ela, a palavra “feminismo” é errada. Prefere falar de sexismo para tudo que não é feminismo. “Na série só me deparei com grandes mulheres que me servem de exemplo. Como Lena Headley (Cersei Lannister), que sigo no Twitter desde que tinha 12 anos”, confessa Williams. Embora seja a mais jovem do grupo, ela também tem seguidoras, como é o caso de Turner. “Maisie me ajudou a superar os anos mais turbulentos de uma pessoa, a adolescência, diante das câmeras. E espero que isso também ocorra no sentido contrário”, relata.
Gwendoline Christie e Sophie Turner em ‘Game of Thrones’.
Mas, além de elogiar umas às outras, todas garantem que como mulheres têm muito a agradecer a uma série que no início, seis temporadas atrás, parecia dominada pela testosterona. A única coisa da qual Clarke não gosta em sua personagem é o pouco que ela sorri. Isso e a peruca loira, “que dá muito calor”. Fora isso, sobram elogios a Game of Thrones como série e agradecimentos pela oportunidade que deu à sua carreira.
Maisie Williams, a Arya Stark de ‘Game of Thrones’.
“Nos definiram como sexistas por uma personagem, por um episódio, sem parar para ver a grande variedade de mulheres que a série tem”, declara, combativa. “A beleza de Game of Thrones é que somos muitas mulheres e muito poucas são um objeto”, acrescenta, arremetendo contra ostatus quo em Hollywood, onde são poucos os papéis femininos e mais escassos ainda os de peso.
A série, além disso, impulsionou a carreira de suas atrizes. Depois de sua participação em O Exterminador do Futuro: Gênesis, Clarke estreia em junho o drama romântico Como Eu Era Antes de Você. Turner, por sua vez, passou a fazer parte de outro épico, este do campo dos super-heróis, interpretando Jean Grey em X-Men: Apocalipse. “Pode chamar isso de escapismo, e é verdade. Mas as duas histórias são muito mais reais do que parecem, com o acréscimo de dragões e mutantes”, define Turner. “Sansa não é só uma personagem. Sou uma mulher mais forte graças a ela”, resume.
MORTES SONHADAS PARA SUAS PERSONAGENS
Diante da quantidade de cabeças que têm rolado em Game of Thrones, suas atrizes já estão bem preparadas para as despedias. “Sabemos encarar bem isso”, afirma Clarke, que nem nos momentos mais tensos deixa de fazer brincadeiras − como no teste que lhe garantiu o papel, quando fez a dança da galinha. “Já vamos pensando em como fazer da última cena algo memorável”, acrescenta.
“Se esse dia chegar, quero algo épico. E cheio de sangue”, assinala Williams. Turner já pensou com mais detalhes em como quer que sua personagem morra. “Na última cena do último episódio”, especifica a mulher que quer ser rainha. “Melhor ainda, quero todo o episódio dedicado à minha morte. E que seja nas mãos de quem mais a quer. Arya deveria acabar com a vida de Sansa”, conclui.