sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

José Emilio Pacheco / Indesejável


Foto de Tom Hoops
José Emilio Pacheco
INDESEJÁVEL


O guarda não me deixa entrar.
Já passei do limite de idade.
Provenho de um país que já não existe.
Meus documentos não estão em ordem.
Falta um carimbo.
Necessito outra assinatura.
Não falo o idioma.
Não tenho conta no banco.
Fui reprovado no exame de admissão.
Cancelarm minha vaga na grande fábrica.
Me desempregaram hoje e para sempre.
Careço inteiramente de influências.
Estou neste mundo há muito tempo.
E nossos amor dizem que já é hora
de calar-me e meter-me no lixo.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

José Emilio Pacheco / Contraelegia

Obra de Ernesto Bertani
José Emilio Pacheco

Meu único tema é o que não está
E minha obsessão se chama o perdido
Meu pungente estribilho é nunca mais
E no entanto amo esta mudança contínua
este variar segundo após segundo
porque sem ela o que chamamos vida
         seria de pedra.





quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

José Emilio Pacheco / Traduttore, traditore



José Emilio Pacheco
TRADUTTORE, TRADITORE


Jerônimo de Aguilar y Gonzalo Guerrero
Os náufragos
Aprenderam a língua maia
Viveram na tribo
Gonzalo
Exorcizou todo contato rezou o rosário
Para afugentar as tentações
Asceta
Corroído pela febre do misticismo

Chegou Cortés e soube dos náufragos
Gonzalo
Renunciou a Espanha
E lutou como maia entre os maias
Jerônimo
Aliou-se aos invasores
Sabia a língua
Pôde entender-se em Malinche
Que falava
                   Maia também e mexicano

A estes tradutores
Devem em boa parte a mestiçagem
A conquista e a colonização
E este enredo
Chamado México
E a pugna de indegenismo e hispanismo.



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

José Emilio Pacheco / Alta traição

Donde estuvimos
Puerto Vallarta, México, 2012
Foto de Triunfo Arciniegas
José Emilio Pacheco

Não amo minha pátria.
Seu fulgor abstrato
         e inacessível.
Mas (mesmo que soe mal)
         daria a vida
por dez de seus lugares,
         certa gente,
portos, bosques de pinheiros,
         fortalezas,
uma cidade desfeita,
         cinza, monstruosa,
várias figuras de sua história,
         montanhas
— e três ou quatro rios.




segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

domingo, 26 de janeiro de 2014

sábado, 25 de janeiro de 2014