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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

A simplória estreia de Tarantino como escritor

Quentin Tarantino


A simplória estreia de Tarantino como escritor

O romance “Era uma vez em Hollywood”, adaptado do roteiro homônimo de um filme do cineasta norte-americano, mostra que não dá para vencer todas
26/08/2021

A carreira do roteirista e diretor norte-americano Quentin Tarantino é inegavelmente bem-sucedida, com alguns clássicos contemporâneos na conta — como Cães de aluguel (1992), Pulp fiction (1994) e os dois volumes de Kill Bill, sendo o primeiro de 2003. São nove filmes ao todo — e o mais recente, Era uma vez em Hollywood (2019), acaba de ser adaptado para um romance homônimo. A obra foi traduzida pelo gaúcho André Czarnobai, que conversou com o Rascunho por e-mail.

Na história, ambientada no final de 1969, o ator Rick Dalton e o dublê (assassino, veterano de guerra) Cliff Booth dividem cena com a Família Manson, responsável — no mundo real, não na recriação de Tarantino — pela morte da atriz Sharon Tate, e um sem-fim de referências aos programas, filmes e até produtos da época. Trata-se, grosso modo, de dois amigos às voltas com os perrengues de um mundo em desencanto. “As maiores dificuldades [de tradução] ficaram por conta dessa mistura maluca de personagens (e situações) ficcionais e reais”, explica Czarnobai.

Apesar dessa “mistureba”, bem condizente com a “pegada” de Tarantino enquanto diretor de cinema (afeito aos acenos para clássicos da sétima arte, exageros de todo tipo, diálogos marcantes), o tradutor gaúcho explica: “O texto original era extremamente limpo e fluido, direto ao ponto, sem grandes malabarismos estilísticos”. No português, também, a prosa não parece truncada em nenhum momento.

O livro se desenvolve por meio de recursos literários “simples”, como saltos temporais, lembranças e uma narrativa bem dilatada — percorridas 200 páginas, passa-se somente um dia no tempo da história. Há uma forte impressão, em geral, de que se trata de um escritor começando a lidar com os recursos disponíveis na arte da escrita — o que se evidencia bastante nos momentos que se pretendem mais dramáticos, por exemplo, protagonizados por uma pequena atriz que interpreta Mirabella Lancer.

“Achei um bom livro, com bons personagens e ótima história. Estilo inexiste, voz meio neutra”, comenta Czarnobai. “Achei tudo bem certinho, morninho, sem grandes momentos de genialidade (mas também nada passível de crítica). Bem correto, eu diria. Mas sem brilho”, completa um dos criadores do pioneiro fanzine CardosOnline, o COL, que existiu por 278 edições.

 • 

A prosa do Tarantino, em português, veio bem “limpa”. Teve alguma dificuldade específica na tradução?
Que bom saber disso. Sinal de que fiz bem meu trabalho de tradutor. O texto original era extremamente limpo e fluido, direto ao ponto, sem grandes malabarismos estilísticos. Praticamente não teve uso de gírias ou expressões idiomáticas muito obscuras (apesar de ser um livro que se passa nos anos 1970, finzinho dos 60), e eu não lembro sequer de ter de consultar o dicionário com muita frequência. As maiores dificuldades ficaram por conta dessa mistura maluca de personagens (e situações) ficcionais e reais. Tive que fazer bastante pesquisa específica sobre filmes e seriados de TV da época (com uma dificuldade adicional, pois vários deles — sobretudo os com temática de faroeste — não foram exibidos no Brasil). Volta e meia o Tarantino mete um nome de um diretor, produtor, dublê ou até contrarregra real no meio de vários personagens que ele inventou, ou (pior) coloca um personagem fictício num acontecimento real. Isso deu um certo trabalho. Fora isso, algumas referências específicas a produtos (tipo um substituto para o café que um personagem idoso bebe) ou radialistas de Los Angeles. Mas foi só.

• Acha que o Tarantino estreou com uma mão boa para a literatura? O que mais te agradou na obra?
Os personagens são ótimos e as situações sensacionais, mas não achei particularmente exuberante o texto em si. Em texto, não achei que ele tem uma voz muito destacada ou marcante.

 

QUENTIN TARANTINO COM BRAD PITT E LEONARDO DICAPRIO, PROTAGONISTAS DE “ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD”

 

• Alguma coisa te incomodou nesse livro de estreia, esteticamente falando?
Nada em específico. Achei um bom livro, com bons personagens e ótima história. Estilo inexiste, voz meio neutra. Tem um trecho específico em que Cliff Booth entra numa loja de discos pra comprar uma fita (que inclusive não é muito conhecida por aqui, “8-track”) e, como a vendedora é loira como o dublê, ele faz uma analogia muito fora do tom sobre planetas e sóis e órbitas (algo assim). Aquilo me incomodou bastante. De resto, achei tudo bem certinho, morninho, sem grandes momentos de genialidade (mas também nada passível de crítica). Bem correto, eu diria. Mas sem brilho.

• Acompanha o trabalho cinematográfico do Tarantino? Acha que ele pode se tornar um escritor tão cultuado quanto é como roteirista e diretor?}
Gostei mais de seus filmes na primeira vez que os vi, embora alguns eu siga revendo e gostando muito (principalmente Bastardos inglórios e Pulp fiction). O último que vi foi Django livre (do qual também gosto), mas não vi nada depois disso. Se ele pode se tornar um escritor tão cultuado quanto roteirista e diretor? Não sei. Pelo que entendi, esse livro não é original, mas sim apenas uma novelização do seu filme (que é uma prática altamente difundida no mercado editorial americano, bastante rara por aqui). Talvez depois que ele lançar um livro com uma história (e um estilo) totalmente originais seja mais justo fazer essa projeção. Nesse primeiro momento acho muito difícil dizer qualquer coisa.

• E aquela incontornável: o livro faz jus ao filme — ou vice-versa?

 

Não faço a menor ideia, pois não assisti ao filme. Só entendi que o livro contava exatamente a mesma história do filme (e não se propunha a relatar o que aconteceu ou antes ou depois com os personagens) quando estava em dúvida sobre um trecho específico, procurei no Google e caí num link do YouTube para uma cena específica, que então assisti. Fiquei com vontade de assistir ao filme algum dia (algumas sequências parecem ótimas quando as imaginei filmadas), mas sem muita pressa.

RASCUNHO


terça-feira, 20 de julho de 2021

Quentin Tarantino / “Só um ‘nerd’ se referiria a si mesmo como cinéfilo”

 

O diretor norte-americano Quentin Tarantino.
ART STREIBER


Quentin Tarantino: “Só um ‘nerd’ se referiria a si mesmo como cinéfilo”

Cineasta estreia como romancista com uma adaptação de seu nono filme, ‘Era uma vez... em Hollywood’. “Este é o primeiro livro de vários”


LUIS PABLO BEAUREGARD
Los Angeles - 11 JUL 2021 - 19:52 COT

No ano da pandemia, transportou para as páginas de um livro seu nono filme, Era uma vez... em Hollywood, o filme de 2019 interpretado por Leonardo DiCaprio (Rick Dalton), Brad Pitt (Cliff Booth) e Margot Robbie (Sharon Tate). Quentin Tarantino (Knoxville, Tennessee, 58 anos) leva para o papel uma ficção cinematográfica que impedia que a Família Charles Manson ―seita que levava o nome de seu líder― assassinasse a atriz Sharon Tate, esposa de Roman Polanski. O diretor conseguiu levar à prosa seu inconfundível estilo cinematográfico, mesclando-o com referências eruditas a obscuras séries de televisão e filmes que aparecem na história e em suas conversas. “Você deve reconhecer que tem mérito não ser da Espanha e conhecer os irmãos Marchent!”, diz a certa altura da entrevista ao EL PAÍS, referindo-se aos pioneiros do western espanhol que infiltrou em seu filme.

Tarantino está de bom humor. Veste camisa de manga curta azul e acaba de terminar seu almoço, que tirou de uma lancheira de metal do Bounty Law, o programa fictício em que o ator interpretado por DiCaprio fica famoso no longa. Sobre a mesa da suíte de um hotel de luxo em Beverly Hills está um elegante exemplar de seu primeiro livro (publicado em português pela editora Intrínseca, com tradução de André Czarnobai). A edição é apenas para a promoção. Os exemplares que inundaram as livrarias dos Estados Unidos são de bolso e custam 9,99 dólares. O design, do diretor, imita os livros baseados em filmes que cresceu lendo nos anos setenta. Como quase todo primeiro romance, tem ecos autobiográficos e recordações de uma cidade à qual chegou quando tinha quatro anos.

Pergunta. Seu primeiro romance começa com uma cena muito própria, com muitos diálogos. Foi uma declaração de intenções?

Resposta. Esta história sempre começou com Rick e Marv [seu agente Marvin Schwarz, que é interpretado por Al Pacino no filme]. Primeiro o pensei como um romance, depois como uma peça de teatro; quando o pensei como um filme foi sempre com essa primeira cena. Não há muito enredo, mas há algo. Mostra Rick, confrontado com o dilema em que se encontra, que é uma coisa do passado para esta nova geração de protagonistas em Hollywood. Marv explica isso a ele, o que lhe permite percorrer toda a sua filmografia, a carreira, e informar o público.

P. Pouco depois, mostra sua intenção de fazer de Cliff um personagem central. Muito mais sinistro e complexo do que o da tela.

R. Sempre busquei isso para Cliff. No filme, os assassinos da família Manson deparam-se com Cliff em vez de com Sharon [Tate]. A ideia não era que se deparassem com um herói masculino. A ideia é que se deparassem com alguém 15 vezes mais perigoso do que eles. Alguém que era um assassino total, no sentido que a Família Manson queria.


Tarantino, Pitt e DiCaprio no set de ‘Era Uma Vez... em Hollywood’.
Tarantino, Pitt e DiCaprio no set de ‘Era Uma Vez... em Hollywood’.


P. Ao mesmo tempo, é um homem que só vai ao cinema para ver filmes de arte. Muitos pensariam que o gosto cinematográfico de Cliff não é o seu.

R. Eu concordo com muito do que Cliff pensa, mas não sou eu. É Cliff falando. Concordamos em muita coisa, mas por razões diferentes. Cliff nunca se referiria a si mesmo como cinéfilo. Apenas um nerd se referiria a si mesmo como cinéfilo. Mais do que falar sobre Kurosawa, ele gostaria de falar sobre motores e carburadores. Ele não vai ao cinema para ter emoções, para isso anda de motocicleta.

P. Não lhe preocupa que as pessoas comparem o romance com o filme?

R. Eu assumo. Quando estava escrevendo, fiquei convencido de que pelo menos nos próximos dois anos, 97% dos leitores terão visto o filme. Estou em paz com isso. Usarei isso a meu favor.

P. Espera que se transforme em algo próprio?

R. Seria muito interessante artisticamente se fosse apenas uma peça de acompanhamento ou se conversasse com o filme. Não pensava nisso quando estava escrevendo. Só acreditava que poderia ser um bom livro. Chegará o momento em que as pessoas o lerão sem ter visto o filme, mas demorará um pouco.
Pitt e DiCaprio, como Cliff e Rick, em ‘Era Uma Vez... em Hollywood’ (2019).
Pitt e DiCaprio, como Cliff e Rick, em ‘Era Uma Vez... em Hollywood’ (2019).


P. Começou com ideias da história quando estava fazendo À prova de morte (2007). Quando soube que tinha um livro?

R. Tudo começou como um romance. O primeiro capítulo que tinha não está aqui. Era um livro cinematográfico sobre Rick Dalton, seus filmes, algo que alguém que acompanhou sua trajetória escreveria em profundidade. O capítulo seguinte foi o de Aldo Ray...

P. Uma parte muito triste. Um ator alcoólatra na vida real que está filmando em Almería.

R. É um personagem fascinante de Hollywood. Há algo comovente em uma decadência tão pública. Onde estava e quão baixo caiu. Hollywood está cheia de estrelas que vivem momentos difíceis 20 anos depois, mas Aldo Ray é o santo padroeiro de todos eles. Ele também é um grande personagem. É patético, mas também acho que o retratei com dignidade. Queria colocá-lo com Cliff, outro herói da Segunda Guerra Mundial, em condições semelhantes em um hotel sem ar condicionado na Espanha durante as filmagens.

P. Hollywood continua triturando vidas assim?

R. Posso estar errado, mas acho que não. O equivalente a Aldo Ray nos anos cinquenta, e ainda teve uma queda acentuada até 1978, talvez fossem alguns atores dos anos noventa. Talvez houvesse pessoas que eram estrelas na época e agora estão na televisão sem serem protagonistas. Mas não é a situação de Aldo. Não existem pessoas que chegaram ao topo e acabaram fazendo pornografia ou filmes que vão direto para o vídeo.

P. Como você fez a pesquisa para este livro?

R. Tudo sobre a família Manson está em quatro ou cinco livros que têm a história oral e eu a conto novamente com minhas próprias palavras. Mas a carreira deste ou de outro ator, os lugares de Hollywood, os programas e filmes... passei minha vida inteira enchendo a cabeça com esse tipo de coisa. Quando estava escrevendo o roteiro, fiquei surpreso com a quantidade de coisas que tinha retido desde que tinha nove anos. Carregava 70 quilos de peso extra no meu cérebro. Eu não precisava mais deles porque agora as pessoas digitam algo no computador e têm as respostas imediatamente. Eu me orgulhava de ter aquilo na minha cabeça, mas agora me pergunto por quê.

P. Acredita que isso torna este romance a única adaptação literária possível de seus filmes?

R. Sim. Sabia que queria novelizar um filme. Tinha me apaixonado pela ideia. Tinha nove para escolher e isso tirava um pouco de pressão. Pensei que era este porque era o mais recente, as pessoas gostaram e os personagens tinham causado sensação. Também porque contém certos aspectos históricos da indústria e desta cidade.

P. Por que se colocou como personagem?

R. Simplesmente aconteceu. Quando tive a ideia de que o grupo de atores fosse beber alguma coisa depois de filmar, escolhi um lugar que conhecia. Meu padrasto tocava piano lá. Eu o visitei algumas vezes. Talvez uma vez à noite, quando ele estava tocando. Normalmente, se eu estava lá, era porque ele tinha ido me buscar na escola. Minha mãe era enfermeira, mas ele tocava à noite e estava disponível de manhã. E me levava de vez em quando com ele para receber cheques. Era um lugar fascinante. Então coloquei meu padrasto e fui com ele. Pareceu-me algo doce.
No filme ‘Era Uma Vez... em Hollywood’, de Quentin Tarantino, Margot Robbie interpreta a atriz assassinada Sharon Tate.
No filme ‘Era Uma Vez... em Hollywood’, de Quentin Tarantino, Margot Robbie interpreta a atriz assassinada Sharon Tate.SONY PICTURES


P. Teve que buscar uma voz para seu estilo narrativo?

R. Acho que não batalhei muito. Escrevo roteiros há muito tempo. E é muito fácil. É algo que flui... Um romance é algo parecido. Não quero dizer que foi difícil, mas também não foi fácil. Você escreve muitos capítulos, acha que fez muito bem, volta a lê-los e percebe que são horríveis... mas ao menos conseguiu colocar algumas ideias no papel. Depois você reescreve e fica um pouco melhor. Nos roteiros eu consigo o que quero muito mais rápido.

P. Aprendeu alguma coisa?

R. Sim, sou um escritor melhor depois de terminar um romance.

P. Manteve segredo por muito tempo que estava escrevendo um livro.

R. Só queria comentários positivos (risos). Contei quando tinha quatro ou cinco capítulos e percebi que escreveria o livro inteiro. Três ou quatro pessoas recebiam os textos. E era emocionante porque agora estava escrevendo para alguém. Já não era algo estranho que fazia apenas para mim.

P. Sentou-se para escrever com algumas das críticas do filme na cabeça? Gerou muito debate que no filme o personagem de Margot Robbie quase não tivesse diálogos, por exemplo.

R. Procurei que não, porque se isso me afetasse seria deixá-los ganhar a partida.

P. No romance agora lemos uma Sharon Tate de carne e osso, com uma história por trás.

R. Sim e não. Rejeito completamente a ideia de que um personagem se define apenas pelo número de frases que tem. Não conheço nenhum ator que pense isso, a menos que seja um ególatra. Não conheço nenhum dramaturgo que acredite nisso e, francamente, nenhum crítico. É um argumento absurdo. Poderia ter inventado uma melhor amiga com a qual conversasse sem parar e cumpriria a cota. Ou poderia tê-la colocado com Dr. Saperstein, seu cachorro, fazendo comentários. E isso teria resolvido a polêmica, mas não teria feito dela um personagem melhor.

P. Sentiu-se mais livre escrevendo um romance?

R. A grande diferença é que o filme custou 95 milhões de dólares e foi investido ainda mais para vendê-lo em todo o mundo. E não tem um para-raios diante das controvérsias. É bom ser parte da conversa, mas não a ponto de ser um demérito para seus parceiros comerciais. Mas este é um livro de 9,99 dólares. Quem diabos se importa com o que está dentro?

P. Entrou em um novo território, o literário, e a crítica disse que escreve como Elmore Leonard. Sente-se confortável com isso?

R. Não escrevo como ele, mas sou fã dele. Estou contente. Esperava que alguns críticos fossem duros, mas não, eles foram generosos comigo. Muitos pensam que é um livro divertido. O filme é muito engraçado, mas o livro é ainda mais.

P. Está experimentando novos terrenos agora que o sol está se pondo em sua carreira cinematográfica?

R. Sim, mas sempre fui identificado como escritor. E este é o primeiro livro de vários.

P. Escreveu um romance com um menino de 15 meses em casa. Como?

R. Funcionou muito bem. A pandemia chegou e todo mundo estava em quarentena. Eu tinha planejado ficar esse ano em casa por causa do bebê e para trabalhar no livro, um trabalho solitário. Foi grandioso. Ia ao meu escritório enquanto minha esposa ficava com ele, depois almoçava com eles, brincava e dava banho nele. Foi genial.

P. Está gostando de ser pai?

R. Amo cada segundo. Está sendo uma maravilha.

P. Já mostrou o primeiro filme a ele?

R. Sim. Foi Meu malvado favorito 2.

P. Você se identifica com Rick, alguém que tenta dizer adeus a Hollywood?

R. Não. Ele vem de um lugar cheio de ansiedade e eu não. Ele está na obsolescência, de onde eu não estou nem perto. Uma das coisas engraçadas sobre minha relação com Rick é que gosto do personagem e é muito fácil para as pessoas sentirem pena dele. Leo [DiCaprio] sabia que eu não me identificava de maneira alguma com ele. Penso que é um chorão. Sua carreira não é ruim. É uma carreira muito boa, ignoro que é demasiado egoísta para apreciá-la!

P. Não está preparando o terreno para sua aposentadoria?

R. Não, ao contrário. Se há algo que estou dizendo com este romance, é “Olá!”.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Quentin Tarantino / John Ford odiaria meus filmes

Quentin Tarantino

Quentin Tarantino

“John Ford odiaria meus filmes”

Cineasta apresenta seu novo filme, 'Os Oito Odiados'

Trata-se de um Western, rodado em formato panorâmico, que estreia em 25 de dezembro


O diretor norte-americano Quentin Tarantino. 
Quentin Tarantino (Tennessee, 1963) há anos faz o que quer. Quando era apenas o lanterninha de um cinema pornô, quando conseguia que os clientes de sua videolocadora alugassem o que ele dizia e agora, grande em uma Hollywood comercial onde os autores estão em vias de extinção. Sua mais nova aposta é Os Oito Odiados (The Hateful Eight), um western de 182 minutos que, na era dos filmes baixados pela Internet, foi rodada em 70 mm panorâmicos com as mesmas câmeras em que foi filmadoBen-Hur e, como os clássicos dos anos dourados de Hollywood, inclui abertura musical e intervalo. E, evidentemente, toda a sua violência e engenhosidade verbal. Harvey Weinstein, o produtor, deixou-o fazer apesar da crise que sua companhia atravessa, em meio de uma nova onda de demissões.
Como se não houvesse pressão suficiente, os policiais norte-americanos pedem para boicotar a estreia em 25 de dezembro depois dos protestos de Tarantino contra a brutalidade policial nos Estados Unidos. As feministas também levantam a voz contra um cinema como o seu, principalmente de homens e onde a única mulher (Jennifer Jason Leigh) apanha sem piedade. Em pouco mais de um mês a Academia de Hollywood dirá o que pensa do novo trabalho de Tarantino quando anunciar as candidaturas para o Oscar. Mas agora é sua vez. “Sei que agrada a 50%, então vamos começar com eles e depois falamos dos outros 50%”, inicia.

Pergunta. Em Os Oito Odiados você retorna ao western, um gênero em vias de extinção, com um filme que lembra No Tempo das Diligências. O que os mestres pensariam de sua interpretação?
Resposta. Não sou um apaixonado por John Ford. Mas adoro No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), filme que foi um salto para o cinema moderno. Não acredito que nenhum daqueles diretores apreciaria o que faço. John Ford odiaria meus filmes. Muito sangrentos. Muitos juramentos. O mesmo diria de Ernst Lubitsch, Howard Hawks, George Cukor... São os diretores que amo. É algo de geração. Até Sam Fuller, que cheguei a conhecer e que gostava do meu cinema, tinha um problema com a linguagem. “Marty [Scorsese] também faz isso e é chato!”, dizia.
P. Além do sangue e da linguagem, o que o define como autor?

A filmografia de um criador polêmico

My Best Friend's Birthday (1987)
Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992)
Pulp Fiction: Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994) – Oscar de melhor roteiro original
Grande Hotel (Four Rooms, 1995) – fragmentoThe Man from Hollywood
Jackie Brown (1997)
Kill Bill: Volume 1 (2003)
Kill Bill: Volume 2 (2004)
Sin City: A Cidade do Pecado (Sin City, 2005) – diretor convidado especial
Grindhouse: À Prova de Morte (Grindhouse: Death Proof, 2007).
Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009).
Django Livre (Django Unchained, 2012) – Oscar de melhor roteiro original
R. Não cabe a mim pôr rótulos, mas sei que meus filmes são como minerais em que você pode encontrar diferentes veios. Coleciono temas. Bons atores. Farsas onde nada é o que parece. Temas raciais. Esses veios estão em todas eles.
P. A desconfiança e a traição são outros de seus temas. Esse foi seu sentimento quando o blog Gawkervazou o roteiro de Os Oito Odiados?
R. Não me escapa a ironia. Foi uma perfeita combinação de irritação, dor e indignação, por não dizer que me senti ludibriado. Pensei em não fazer o filme. Nunca tinha tido esse problema. Além disso, o roteiro não estava pronto. Mudou até o final. Zanguei-me com a permissividade com que Hollywood tolera esse tipo de comportamento. Vivemos uma cultura corrupta onde se fazem coisas simplesmente porque se pode, porque todo mundo faz e porque “qual é o problema?”. Pelo menos durante as semanas em que fiz um escândalo as pessoas que fazem essas sabotagens se sentiram mal por algo de que costumam se gabar.
P. Antes falava de um problema de geração. Quanto mudou a indústria e seu cinema desde que começou?

Um western de outra época

Os Oito Odiados (The Hateful Eight) estreia em 25 de dezembro. Conta com a trilha sonora de Ennio Morricone e um elenco estelar: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth e Bruce Dern, entre outros.
A trama, situada depois da Guerra Civil nos Estados Unidos, junta criminosos, caçadores de recompensas e caubóis que lutam para sobreviver. Em 2014 o roteiro vazou online e Tarantino pensou em cancelar o filme, mas acabou mantendo o projeto.
R. Desde que fiz Cães de Aluguel(Reservoir Dogs) em 1992 por 1,5 milhão de dólares (5,5 milhões de reais) houve uma evolução lógica. Hoje desfruto de uma grandiosidade em todos os sentidos: orçamento, tempo de filmagem… tudo. Mas o filme é muito similar. Tenho certeza de que sou melhor diretor. Não me refiro a ser melhor autor, mas ao ato de dirigir. Sei o que faço. Também vivemos em um momento de mudança no cinema onde ninguém sabe o que acontecerá nos próximos cinco ou dez anos. De algum modo o cinema desapareceu. Agora só vemos projeções digitais. Cada vez que faço um filme, durante esses três anos que em geral levo para preparar um projeto, vejo que a indústria se transforma. E tenho claro que não serei o velho do grupo. Vou me aposentar antes.
P. Falando agora da outra metade, a que ameaça sua estreia, o que diria a eles?
R. Se fosse uma feminista de 21 anos interessada em escrever um ensaio criticando meu filme com base na violência de gênero, teria um argumento. Mas como criador, escritor e artista, meu trabalho é escrever personagens interessantes em três dimensões. E não posso furtar às mulheres os elementos de surpresa e abuso a que também submeto os homens. Não posso colocá-las em um pedestal.
P. E sobre o boicote anunciado pelo sindicato de policiais?
R. Estão sendo semanas muito interessantes. Disse o que disse [falou de “terror policial” e de “assassinatos” por parte dos agentes, entre outras coisas] e tenho o direito de dizê-lo. Gosto de ser tachado como alguém que odeia a polícia quando sei que muitos são fãs? Não. De forma alguma. Mas eu gosto de dar meu apoio às famílias que perderam entes queridos em atos absurdos e totalitários. Sou um otimista que não gosta de se meter em política, mas, às vezes, entro no ringue porque permanecer calado é dar a razão a eles.




quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Biografias / Quentin Tarantino


QUENTIN TARANTINO

Por Ana Lucia Santana


O genial cineasta, intérprete e roteirista norte-americano Quentin Tarantino  nasceu no dia 27 de março de 1963, na cidade de Knoxville, no Tennessee, fruto de um relacionamento entre uma professora primária de 16 anos, Connie, e um estudante da Faculdade de Direito que sonhava ser ator, Tony. O nome escolhido para o garoto prenunciava seu futuro, pois era inspirado no personagem ‘Gunsmoke’, criado por Burt Reynolds.
Ao completar dois anos de idade ele foi com a família para Los Angeles. Na Meca do cinema, desde cedo ele frequentava as exibições cinematográficas, transformando-se logo em um inveterado cinéfilo. Quentin se tornaria célebre nos anos 90 por seus roteiros inusitados, seus diálogos inesquecíveis e pela recorrência a cenas de extrema violência, características que gerariam na cinematografia norte-americana uma nova estética. Seus filmes são geralmente produzidos com poucos recursos, de forma independente.




Após o término dos estudos, ele ingressa na James Best Theatre Company, onde começa a estudar técnicas interpretativas. Seu primeiro roteiro, Captain Peachfuzz and the Anchovy Bandit, foi elaborado quando ele completou 22 anos. Um de seus empregos iniciais tinha ligação direta com o cinema; ele atuava em um clube de vídeo, a Vídeo Archives, em Manhattan Beach. Ao lado do colega Roger Avary, que seria futuramente o roteirista de uma de suas produções, Pulp Fiction, ele assistia a inúmeros filmes, os quais eram exaustivamente debatidos.
Quentin Tarantino. Foto: s_bukley / Shutterstock.com
Quentin Tarantino. Fotos_bukley / Shutterstock.com
O diretor de cinema prossegue seu aprendizado no campo da interpretação na Allen Garfield's Actors' Shelter, mas ele encontra efetivamente seu caminho na esfera cinematográfica como roteirista e cineasta. Seu primeiro trabalho comercializado, Amor à Queima-Roupa, de 1993, o leva a se destacar na produção de roteiros.
Seu grande sucesso, Cães de Aluguel, de 1992, nasceu em um dos incontáveis eventos de Hollywood, quando Tarantino conhece Lawrence Bender e o produtor o convence a escrever um novo roteiro; o resultado é este filme engenhoso, intenso e esteticamente inovador, também dirigido pelo cineasta – sua segunda direção, depois de My Best Friend’s Birthday, de 1987, seu primeiro roteiro.
Rejeitando diversas propostas tentadoras de Hollywood, Tarantino preferiu se isolar em Amsterdã para elaborar o roteiro de Pulp Fiction, igualmente dirigido por ele. Ao ser lançado, em 1994, ele conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, neste mesmo ano, e subverteu os padrões cinematográficos norte-americanos independentes, ao lado de Sexo, Mentiras e Videotape, de Steven Soderbergh, e de Roger e Eu, de Michael Moore.
Protagonizado por John Travolta, o filme alavancou a carreira deste ator, já mergulhado nas sombras do esquecimento. Esta obra recebeu também o Oscar de Melhor Roteiro Original e foi indicada como Melhor Filme. Seu roteiro anterior, ‘Assassinos Por Natureza’, lhe rendera igualmente elogios da crítica.
Após tantos acertos, Tarantino se torna um dos favoritos da indústria cinematográfica, recebendo convites para produzir e distribuir outros trabalhos por meio da Miramax. Ele atuou igualmente no campo da interpretação em algumas de suas obras e em produções alheias. Sua intensa tendência discursiva e seu domínio praticamente enciclopédico de filmes foram também responsáveis por sua fama.


Recentemente o cineasta escreveu e dirigiu Kill Bill: Volume I e Kill Bill: Volume II, respectivamente em 2003 e 2004, À Prova de Morte, de 2007 e Bastardos Inglórios, de 2009, que lhe rendeu indicações para várias categorias do Oscar, inclusive de melhor filme, e angariou o Oscar de melhor ator coadjuvante.
Entre as inúmeras namoradas de Tarantino estão mulheres igualmente famosas, como a atriz Mira Sorvino; as cineastas Allison Anders e Sofia Coppola; a intérprete francesa Julie Dreyfus e a comediante Margaret Cho. Ele jamais se casou, nem teve filhos.

Fontes:
http://www.ruadebaixo.com/quentin-tarantino.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quentin_Tarantino



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Quentin Tarantino / Os 8 odiados


Quentin Tarantino

‘Os 8 Odiados’, 

novo filme de Tarantino, 

revela seu primeiro trailer

Filma protagonizado por Kurt Russell e Samuel L. Jackson, estreia nos EUA em dezembro



Um dos cartazes do novo filme de Tarantino. / IMDB
É o oitavo filme de Quentin Tarantino. E, como tudo o que está relacionado ao cineasta, está sendo aguardadíssimo.
Os 8 Odiados só chegará às salas dos Estados Unidos em 25 de dezembro, mas a partir desta quinta-feira já é possível assistir ao primeiro trailer da produção.
O filme se passa 10 anos depois da Guerra Civil americana e conta uma história de caças a recompensas, traições e sobrevivência. A volta de Tarantino, três anos depois de Django Livre, tem Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Samuel L. Jackson, Tim Roth, Michael Madsen e Walton Goggins no elenco. Todos, com exceção de Leigh, já atuaram em outras obras do diretor.
Os 8 Odiados foi totalmente rodado em 70mm, já que Tarantino se confirmou várias vezes como um dos mais inveterados defensores do celuloide. Aliás, o próprio trailer termina explicando o “glorioso” formato em que o filme foi gravado.
A oitava produção de Tarantino é uma sequência de Django Livre (2012), com a qual compartilha alguns personagens, e conta ainda com Bruce Dern, Demian Bichir e Channing Tatum. A trilha sonora é de Ennio Morricone.