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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Maya Angelou / Ainda assim me levanto


Samuel  Younart

Maya Angelou
AINDA ASSIM ME LEVANTO


Você pode me riscar da História Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.
Como a lua e como o sol no céu,
Com a certeza da onda no mar,
Como a esperança emergindo na desgraça,
Assim eu vou me levantar.
Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como as lágrimas,
Minh'alma enfraquecida pela solidão?
Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.
Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio,
Mas ainda assim, como o ar, eu vou me levantar.

Minha sensualidade incomoda?
Será que você se pergunta
Porquê eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?
Da favela, da humilhação imposta pela cor Eu me levanto
De um passado enraizado na dor
Eu me levanto
Eu me levanto
Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.
Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.




segunda-feira, 23 de abril de 2018

Maya Angelou / Uma vida completa


Maya Angelou


Maya Angelou, uma vida completa

Reconhecida como grande poetisa norte-americana e figura influente da cultura afroamericana, lutou pelos direitos civis e pela igualdade depois de superar um trauma na infância


Alberto López
4 de abril de 2018

Quando uma pessoa pode contar que, ao longo da vida, foi poetisa, atriz, cantora, bailarina, escritora, cozinheira, jornalista, condutora de bondes e até prostituta… só resta concluir que teve uma vida completa. Se a isso acrescentamos que escreveu sete autobiografias, teve uma indicação para o prêmio Pulitzer, três para o Grammy e mais de meia centena de títulos honoríficos, podemos fazer uma ideia de quem foi e o que representou Maya Angelou, mais conhecida como a doutora Angelou, apesar de nunca ter tido um título universitário, por sua influência na cultura afroamericana nas últimas décadas.
E tudo o que conseguiu, incluindo transformar-se em defensora dos direitos civis e da igualdade, foi a partir da superação pessoal: depois de um abuso sexual na infância, sofreu um mutismo patológico que durou quase cinco anos.
Maya, apelido derivado de “My” (meu) ou “Mya sister” (minha irmã), que ganhou do seu irmão mais velho, foi uma respeitada porta-voz das pessoas de raça negrae das mulheres e produziu obras consideradas uma defesa da cultura negra. Não era isenta de polêmica – sempre houve tentativas de censurar seus livros nas livrarias norte-americanas –, mas seus trabalhos são recorrentes nas escolas e universidades do mundo todo. As obras mais importantes de Angelou foram rotuladas como autobiografias de ficção, muitos críticos, no entanto, as qualificam como uma tentativa de desafiar a estrutura comum das autobiografias, criticando, mudando e expandindo o gênero, já que seus livros focam em assuntos como o racismo, a identidade, a família e as viagens.
Marguerite Annie Johnson, seu nome verdadeiro, nasceu em St. Louis, Missouri, em 4 de abril de 1928. Foi a segunda filha de um porteiro e nutricionista da marinha e de uma enfermeira. Quando Angelou tinha três anos e seu irmão quatro, a separação de seus pais fez os dois irmãos viajarem sozinhos de trem para o Arkansas, onde morariam com a avó paterna, Annie Henderson, que era uma exceção nas duras condições econômicas dos afroamericanos na época porque prosperara financeiramente durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial graças a uma loja de artigos de primeira necessidade.
A avó, com sua força e independência, foi um grande modelo e uma fonte de inspiração para Maya. A menina logo perceberia o que significava ser negra em uma sociedade racista. “Era horrível ser negra e não ter controle sobre minha vida”, escreveu em sua primeira autobiografia, Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola. Naquele período de sua infância, sentiu a ausência da mãe dolorosamente.
Maya Angelou
Maya Angelou posa com sua obra
Quatro anos depois, seu pai, sem prévio aviso, mandou os dois irmãos de volta para a mãe em St. Louis. Aos tinha oito anos, Maya foi violentada pelo namorado de sua mãe. Contou para o irmão e este contou para o resto da família. O homem foi julgado e declarado culpado, mas só foi condenado a um dia de prisão. Quatro dias depois de sair da cadeia foi assassinado, provavelmente pelos tios de Angelou, e Maya permaneceu muda durante quase cinco anos acreditando que “minha voz o havia matado; eu matei aquele homem porque disse seu nome. E depois pensei que nunca mais voltaria a falar, porque minha voz poderia matar qualquer um...”
Foi durante esse período de silêncio que Maya Angelou desenvolveu a memória extraordinária, o amor pelos livros e pela literatura e a grande habilidade de observar e escutar o mundo que a rodeava. De volta à casa da avó, uma professora e amiga da família, a senhora Flowers, a ajudou a recuperar a fala e lhe apresentou Charles Dickens, William Shakespeare, Edgar Allan Poe, Douglas Johnson e James Weldon Johnson, escritores que, ao lado de artistas feministas de raça negra como Frances Harper, Anne Spencer e Jessie Fauset, teriam influência em sua vida e em sua carreira.
Aos 14 anos, Maya Angelou e seu irmão voltam a morar com a mãe, desta vez em Oakland, Califórnia, e começa uma vida rica em experiências e aventuras. Durante a Segunda Guerra Mundial, Angelou cursou a Escola de Trabalho Social da Califórnia e, antes de se formar, trabalhou como condutora de bondes e foi a primeira mulher negra a ter esse trabalho em São Francisco. Três semanas depois de terminar a escola, aos 17 anos, deu à luz seu filho e se viu obrigada a aceitar numerosos trabalhos para sustentá-lo, entre eles trabalhar como prostituta ou administrar um bordel.
Em 1950 Maya se casou com Tosh Angelos, um músico grego amador, mas o casamento durou poucos anos. A carreira de Angelou se voltou para o palco depois que ela estudou dança e teatro. Fez uma turnê por 22 países da Europa cantando a ópera ‘Porgy and Bess’ e atuou em várias peças dentro e fora da Broadway, entre elas ‘Cabaret for Freedom’, que escreveu com Godfrey Cambridge. Em Paris conheceu o esquivo James Baldwin, figura emblemática da literatura negra e que também marcaria sua vida na defesa dos direitos civis dos negros.
Ganhou a confiança de Martin Luther King e trabalhou com o ativista sul-africano Vusumzi Make, o que lhe permitiu acompanhar de perto o processo da independência dos estados africanos. Viveu no Cairo e em Acra, onde foi editora do jornal ‘The Arab Observer’, escreveu artigos para o ‘The Ghanaian Times’ e apareceu na programação da Ghana Broadcasting Corporation. Ali conversou com Malcolm X, conheceu Nelson Mandela e se adaptou tanto ao mundo acadêmico como aos meios de comunicação, experiências que utilizou depois de sua volta aos Estados Unidos.
Em meados dos anos 1960, Maya Angelou desenvolveu sua escrita e confirmou seu compromisso com o ativismo social e a promoção dos direitos civis. Incentivada por amigos como James Baldwin, Angelou começou a escrever sua primeira autobiografia, a aclamada ‘I Know Why Caged Bird Sings’ (Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola), sobre seus primeiros anos de vida, que lhe valeu uma indicação para o National Book Award em 1974. Em 1979, Angelou a adaptou para um roteiro de televisão e produziu os volumes seguintes de sua autobiografia até 2002.
Desde o final da década de 1960, a talentosa Maya Angelou dedicou sua energia a uma ampla variedade de projetos. Foi nomeada pelos presidentes Ford e Carter para diferentes comissões culturais, escreveu com frequência para a televisão e o cinema, obteve uma indicação para o Emmy por seu papel em ‘Roots’ em 1977, continuou aparecendo nas telas, por exemplo na série ‘Raízes’ e até compôs canções para Roberta Flack. Em 1973 se casou de novo, desta vez com Paul du Feu, ex-marido de uma feminista australiana, e por isso foi criticada pelos radicais negros.
Em 1979 fez amizade com uma desconhecida apresentadora de Baltimore, Oprah Winfrey, que se tornou sua discípula por admirar sua capacidade de sobrevivência e sua habilidade de conquistar seu espaço em mundos até então reservados para os homens brancos. Anos mais tarde, Winfrey, já rainha da televisão norte-americana e criadora de seu próprio Clube do Livro, foi um grande apoio para Maya Angelou.
Em 1981, Angelou e du Feu se divorciaram. Ela voltou para o sul dos Estados Unidos porque sentia que precisava se reconciliar com seu passado. Apesar de não ter um título universitário, aceitou ser professora de Estudos Americanos na Universidade de Wake Forest, Carolina do Norte, onde foi um dos poucos docentes contratados em regime integral. A partir desse momento, Angelou se considerou “uma professora que escreve”.
Em 1993, Maya recitou ‘On the Pulse of Morning’ na cerimônia de posse de Bill Clinton, algo que não acontecia desde 1961, quando Robert Frost recitou na posse de John F. Kennedy. Isso lhe trouxe mais fama e também mais reconhecimento a seus trabalhos anteriores. A gravação do poema lhe rendeu um Grammy. Em junho de 1995, apresentou um segundo poema em público, intitulado ‘A Brave and Startling Truth’ (Uma Verdade Corajosa e Surpreendente), para comemorar o 50º aniversário da ONU.
Maya estreou como diretora de cinema com ‘Down in the Delta’ em 1998. Também escreveu vários livros infantis, ensaios, artigos e contos em várias publicações periódicas e, em 2006, apoiada em sua amizade com Oprah Winfrey, começou a apresentar um programa de rádio chamado ‘Oprah and Friends’. Anos antes havia dedicado à apresentadora sua coleção de ensaios Wouldn't Take Nothing for My Journey Now (Não Levaria Nada para Minha Viagem Agora).
Em 2000, Angelou recebeu do presidente Clinton a Medalha Nacional das Artes e, em 2002, a Hallmark apresentou a ‘Coleção de Mosaicos da Vida de Maya Angelou’, uma série de cartões de felicitação com seus versos, enquanto ela levava adiante seus planos de escrever um livro de receitas e dirigir outro longa-metragem, além de fazer palestras onde fosse requisitada.
No final de 2010, Angelou doou seus escritos pessoais e lembranças da carreira ao Centro Schomburg para a Pesquisa da Cultura Negra no Harlem. A doação consistiu em mais de 340 caixas nom notas escritas a mão em cadernos de folhas amareladas para sua primeira autobiografia, correspondência de fãs e correspondência pessoal e profissional.
Em 2013, aos 85 anos, Angelou publicou a sétima autobiografia, intitulada ‘Mom & Me & Mom’ (Mamãe & Eu & Mamãe), enfocada na relação com sua mãe.
Maya Angelou faleceu em 28 de maio de 2014. Tinha 86 anos e foi encontrada por sua enfermeira e cuidadora. Apesar do estado de saúde frágil, que a obrigara a cancelar aparições públicas, Angelou estava trabalhando em um novo livro, uma autobiografia sobre suas experiências com líderes nacionais e mundiais.
Durante o funeral na Universidade de Wake Forest, seu filho recordou que, apesar das constantes dores derivadas de sua carreira de bailarina e das crises respiratórias, Angelou escreveu quatro livros durante os últimos dez anos de vida.
As condolências pelo falecimento de Angelou chegaram de todos os setores e de todas as partes do mundo, desde artistas até líderes mundiais, incluindo Bill Clinton e Barack Obama. Na semana seguinte à morte de Angelou, sua primeira autobiografia, Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola, ocupou o primeiro lugar na lista de mais vendidos da Amazon.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Maya Angelou / Mullher fenomenal



Maya Angelou
Mulher fenomenal
Tradução de Sté Spengler


Maya Angelou / Phenomenal Woman
Mulheres bonitas se perguntam onde repousa meu segredo
Eu não sou bonitinha nem feita de acordo com o tamanho de uma modelo
Mas quando eu começo a contar a elas,
Elas pensam que eu estou mentindo.
Eu digo
Está no alcance dos meus braços,
Na extensão dos meus quadris,
No ritmo dos meus passos,
Na curva dos meus lábios.
Eu sou uma mulher
Fenomenalmente.
Mulher fenomenal.
É o que sou.

Eu entro em uma sala
Tão indiferente quanto você queira
E quanto aos homens,
Eles se levantam

Ou caem de joelhos.
Então eles pairam ao meu redor
Como um enxame de abelhas no mel.
Eu digo,

É o fogo nos meus olhos,
E o brilho dos meus dentes,
O balanço da minha cintura,
E o contentamento dos meus pés.
Eu sou uma mulher
Fenomenalmente.
Mulher fenomenal.
É o que sou.

Os homens têm se perguntado
O que eles veem em mim.
Eles tentam muito
Mas não conseguem alcançar
Meu mistério mais profundo.
Quando eu tento mostrar a eles
Eles dizem que ainda assim não conseguem ver.
Eu digo,
Está no arco das minhas costas,
No sol do meu sorriso,
No percurso dos meus seios,
Na graça do meu estilo.
Eu sou uma mulher
Fenomenalmente.
Mulher fenomenal.
É o que sou.
Agora você entende
Por que minha cabeça simplesmente não se curvou
Eu não grito ou tento aparecer
Nem tento falar alto.
Quando você me vê passando
Você deveria se sentir orgulhoso.
Eu digo,
Está no som dos meus saltos,
Na curva dos meus cabelos,
Na palma da minha mão,
Na necessidade de me cuidar.
Porque eu sou uma mulher
Fenomenalmente.
Mulher fenomenal.


sábado, 31 de maio de 2014

Morre a escritora norte-americana Maya Angelou

Maya Angelou

Morre a escritora norte-americana Maya Angelou

A poetisa falece aos 86 anos de idade

Ativista dos direitos afro-americanos, suas obras mais importantes foram autobiográficas

Obama a homenageou faz dois anos


Obama beija Maya Angelou após homenageá-la em 2011. / LARRY DOWNING (REUTERS)
A renomada poetisa e escritora norte-americana Maya Angelou, uma das artistas afro-americanas mais importantes do país, morreu nesta quarta-feira em sua casa em Winston-Salem, no estado da Carolina do Norte, aos 86 anos, segundo confirmou sua empresária, Helen Brann, à rede de TV CNN.
O presidente Barack Obama a homenageou em 2011 com a maior distinção civil dos Estados Unidos, a Medalha da Liberdade. Ao longo de sua trajetória, Angelou trabalhou como professora, cantora e bailarina. De sua obra como autora, destaca-se internacionalmente uma série autobiográfica publicada após escrever em 1969 Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola. Foi, além disso, uma das primeiras diretoras de cinema negras e alguns de seus trabalhos no teatro, que foram apresentados na Broadway, chegaram a estar indicados para os prêmios Tony.
"Acreditei em mim mesma", disse uma vez. "Eu me ensinei muitas coisas." Apesar de nunca ter ido à universidade, os catedráticos se referiam a ela como "doutora".
Maya Angelou nasceu em 4 de abril de 1928 em Saint Louis, Missouri. Cresceu entre essa cidade e Stamps, em Arkansas, que na época de sua juventude continuava sendo um povoado racista. Embarcou na aventura da escrita depois de uma tragédia na infância: aos sete anos, o companheiro de sua mãe a estuprou e ela o denunciou. Uma multidão enfurecida o espancou até a morte e a criança deixou de falar.
"Minha lógica como uma criança de sete anos deduziu que foi a minha voz a que o matou. De forma que me mantive em silêncio durante quase seis anos", contou, em uma oportunidade. Assim começou a sua dedicação à escrita.
Angelou, que falava pelo menos seis idiomas e trabalhou também como editora de jornais no Egito e em Gana, fez amizade com personagens tão díspares como Oprah Winfrey -que se refere a ela como uma irmã- e Martin Luther King, com quem trabalhou durante o movimento dos direitos civis. Uma trágica coincidência quis que o pastor fosse assassinado no dia do aniversário de sua amiga Maya.
"Quero escrever tão bem que uma pessoa possa avançar 30 ou 40 páginas de um de meus livros... antes de se dar conta de que está lendo", era o seu desejo. Para muitos leitores, ela conseguiu.