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Margaret Atwood |
Três séries baseadas em livros
Os melhores filmes e séries, talvez sejam os que são baseados em livros. Há muitos clássicos da literatura que foram para a tela ou para os palcos, tal como várias obras da literatura moderna ou contemporânea. Vou contar um pouco sobre três séries que vi recentemente:
- Outlander
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Outlander (“Forasteira”, 1991), é baseada numa saga com o mesmo nome, da escritora americana Diana Gabaldon (1952). Já são oito livros. No Reino Unido, foi publicado como “Cross Stitch”, no Brasil, como “A viajante do tempo” e em Portugal, “Nas asas do tempo”. Tratam- se de romances históricos sobre a guerra entre a Escócia e a Inglaterra, mas com muitos outros elementos: romance, aventura e o fantástico.
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A série, aviso, é tremendamente violenta. Nos primeiros capítulos a coisa é mais suave, mas com o desenrolar da história, as cenas ficam tremendas. Confesso que fechei os olhos em alguns momentos e em outros, até me revirou o estômago. Cenas fortes e duras. Você vai se afeiçoando aos personagens e vê- los sofrer vai ficando difícil. Apesar de não ser apta para pessoas muito sensíveis, é uma excelente história baseada em fatos reais.
A paixão entre a inglesa Claire Randall, viajante no tempo, e o escocês Jamie Fraser, é o tipo de romance incondicional que povoa a cabeça dos românticos sonhadores. Claire introduz o elemento místico, misterioso, inexplicável da história: ela é uma bruxa branca. E de forma inesperada, ela entra em uma espécie de portal que a transporta do ano 1945 ao 1743, quando havia uma rebelião na Escócia, pois os ingleses haviam destituído o rei e imposto a coroa inglesa.
Claire é casada, em 1945, com um homem que tem ancestrais escoceses em 1743. Essa é a parte que eu mais gosto, o círculo da vida, onde nada acontece por acaso, é causa e consequência. Mesmo Claire conhecendo a história passada, não consegue modificá- la para evitar tragédias, como se as coisas realmente fossem pré- determinadas.
O principal cenário são as highlanders escocesas, com seu modo de vida e costumes. Um povo duro, violento e com seus códigos de honra particulares. No quesito crueldade, os ingleses e franceses também não ficam atrás. A história contemporânea tem que viver na base do perdão e ter consciência do passado para não repetir os mesmos erros.
O elenco é espetacular, fotografia e caracterização, idem, impecáveis. Menção especial ao escocês protagonista Sam Heughan, que dá vontade de levar pra casa. Ele usa peruca, porque tem cabelos loiros e o personagem Jamie Fraser é ruivo de cabelos cacheados.
Inclusive o ator lançou um livro, com audiobook também, junto a outro ator da série, Graham McTavish, chamado “Clanlands”. Os dois saíram pelas highlands escocesas em uma van, mostrando as paisagens da série e costumes escoceses. Sabia que os kilts, as típicas saias escocesas com tecido xadrez, foram proibidos pelos ingleses durante 100 anos?
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Recomendo a série, mas aviso que não é apta para gente sensível ou para crianças. Eu estou vendo na Netflix.
2. Anne com “E”, de Lucy Maud Montgomery
Quem viu esta série na Netflix?
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Baseada no livro “Anne of green Gables” (1908), da canadense Lucy Maud Montgomery (1847-1942), também é uma obra que virou uma série apta para todos os públicos. Aliás, virou série, filme, desenho animado, um grande sucesso. Anne Shirley é uma orfã de 11 anos, que vive numa fazenda com dois irmãos solteiros. Anne é encantadora, tagarela, sonhadora, bondosa, solidária e…incompreendida. A vida não é fácil e Anne tem que enfrentar muitos obstáculos, como o bullying na escola e o desprezo social, e também conviver com as tristes lembranças do orfanato.
O que aconteceu com o livro foi curioso: apesar por de ter sido escrito no Canadá por uma canadense, só foi publicado 35 anos depois no país. A primeira edição foi americana, com muito sucesso. Parece mesmo que a prata da casa nunca é valorizada.
Uma história bonita e que te vai emocionar em muitos momentos. Recomendo!
3. The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwood
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Esta história é assustadora. Assombra, porque apesar de ser ficção em um mundo distópico, fiquei com a sensação de algo muito real, que pode acontecer no futuro (não muito distante).
Um ataque terrorista simulado pelo próprio governo para enganar a população, acabou com a Constituição e a democracia. Esse governo culpou mulheres e homossexuais pelo caos social. Gays são executados e as mulheres, devido à baixa natalidade, são retiradas dos seus trabalhos e de suas vidas, para procriar, escravas sexuais. Tudo em nome de Deus. Em nome de Deus e da moral, foi gerada uma sociedade cuja barbárie prevalece, pior que na Idade Média.
As músicas do nosso tempo me fizeram pensar que esse mundo estranho, ditatorial, está bem próximo de nós: The Smiths, Bob Marley, Jay Reatard…
Não posso deixar de pensar em Bolsonaro e seus milhares de pensamentos irresponsáveis, indecentes, criminosos e anti- constitucionais. Jair Bolsonaro seria um líder perfeito para este cruel mundo distópico de Margaret Atwood. A coletânea de frases infelizes deste homem, já ultrapassou todos os limites do que é bom, saudável, decente, legal e normal. Relembrando o que disse para Preta Gil:
“EU NÃO VOU DISCUTIR PROMISCUIDADE COM QUEM QUER QUE SEJA. EU NÃO CORRO ESSE RISCO. MEUS FILHOS FORAM MUITO BEM EDUCADOS E NÃO VIVERAM EM UM AMBIENTE COMO, LAMENTAVELMENTE, É O SEU”. (VEJA)
Mas não, ele é líder eleito do Brasil. Tal como essa epidemia do COVID-19, Jair Bolsonaro me provoca espanto, estranheza e sensação de incredulidade, igual quando você tem um pesadelo ruim. Às vezes, penso que viajei para a Idade Média, uma total involução.