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domingo, 4 de maio de 2014

O legado universal de García Márquez e o amor dos leitores

Gabriel García Márquez
Barcelona, 1972

O legado universal de García Márquez 

e o amor dos leitores

Não sabemos ainda o que dirá o futuro, mas, graças às características desta época, García Márquez demonstrou sua capacidade de cativar gente de muitas culturas


Era meia-noite quando se abriu a porta do apartamento de Bogotá onde celebrávamos a estreia da peça Diatribe de Amor Contra um Homem Sentado, e García Márquez apareceu com uma notícia nos lábios: “Acabam de matar Luis Donaldo Colosio!”. Luz Marina Rodas, a gerente do teatro, havia me convidado naquela tarde para a estreia, acrescentando com incerteza que talvez tivéssemos a presença do autor.
O autor não se havia deixado ver no teatro, embora alguém contasse depois que, apagadas as luzes, sua silhueta se instalou na última fila. Os convidados saímos depois para a casa da festa, com Laura García, a protagonista do monólogo, o diretor, Ricardo Camacho, e outros amigos. Já nos havíamos conformado com a ideia de não vê-lo quando García Márquez chegou com a notícia. Vinha tarde porque havia ficado falando ao telefone com Carlos Fuentes e outros amigos do México.
Eu o havia lido desde os meus quinze anos, mas não o contava entre os humanos aos quais fosse possível conhecer, a sim entre os clássicos da literatura; para mim, pertencia mais à lenda que ao mundo físico. Cem Anos de Solidão havia causado uma comoção nas nossas letras e iniciara várias gerações na literatura. Exceto por Jorge Isaacs, Vargas Vila, José Asunción Silva e José Eustasio Rivera, os escritores colombianos eram até então glórias locais; mas Gabo tinha triunfado no mundo inteiro: não era lido só em inglês e em francês, era lido em húngaro, em mandarim, em lituano, em tâmil, em japonês, em árabe. E quando em 1982 lhe chegou o Prêmio Nobel, fazia muito tempo que já era um dos romancistas mais famosos do mundo.