Mostrando postagens com marcador Sigmund Freud. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sigmund Freud. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Élisabeth Roudinesco: “Freud nos tornou heróis das nossas vidas”

A historiadora e psicanalista francesa Élisabeth Roudinesco. LÉA CRESPI

Élisabeth Roudinesco: “Freud nos tornou heróis das nossas vidas”

Intelectual francesa, renomada especialista em psicanálise, assina biografia do psiquiatra


A. V.
4 SET 2015 - 17:01 COT


Para escrever esse monumental volume com ares de biografia definitiva, Élisabeth Roudinesco (Paris, 1944) não quis acreditar “nem na lenda negra, nem na dourada”. Sigmund Freud en Son Temps et Dans le Nôtre (Sigmund Freud no seu tempo e no nosso, inédito no Brasil) parte da vontade de invalidar as condenações mais injustas, aquelas que costumam representar o pai da subjetividade moderna como um simples enganador, mas também de se contrapor às biografias de tom hagiográfico consagradas a esse personagem eternamente polêmico. Discípula de Deleuze, Foucault e Todorov, ex-integrante da Escola Freudiana fundada por Lacan e grande especialista na história da psicanálise, Roudinesco narra a vida de Freud como se fosse um palpitante romance ambientado na Viena da belle époque, avançando até seu exílio (e morte) em Londres nos primórdios da II Guerra Mundial. No centro dessa paisagem, a autora situa um homem que cometeu erros e enfrentou mil contradições, mas conseguiu criar uma doutrina “a meio caminho entre o saber racional e o pensamento selvagem, entre a medicina da alma e a técnica da confissão”, com a qual conseguiu transformar os mortais em heróis de tragédia grega.

sábado, 29 de outubro de 2016

Juan José Millás / A psicanálise é válida?

Sigmund Freud

A psicanálise é válida?

A psicanálise do ponto de vista da ciência e da literatura. Nasceu da investigação ou de um pensador visionário? É como a própria vida?


A cena do crime

Por Juan José Millás

Então, Freud. Acabo de terminar minha análise com uma psicanalista ortodoxa, seja lá o que signifique ortodoxa (e psicanalista). Chama-se Marta, como uma das irmãs de Lázaro, o ressuscitado, e tem o apelido de Lázaro, como o mesmíssimo ressuscitado. Marta Lárazo, portanto, 80 anos, muitos deles ouvindo. Quando deito no seu divã (que parece um pobre catafalco), o morto era eu. Cheguei com a fantasia de que me dissesse: “Levante e ande”. A realidade cria espontaneamente esse tipo de coincidência estranha.
No começo, eu preparava as sessões para compensar o preço. Hoje, direi isso, contarei aquilo. Enquanto fazia o dever de casa, estabelecia associações de primeiro nível atravessadas pelo pensamento consciente. Chamo de “associações de primeiro nível”, mas poderia chamá-las de álibis, porque seu objetivo era demonstrar que eu não havia estado na cena do crime no dia das atas. É assim que muitos romances são escritos, na base de álibis narrativos. E nem todos são realmente ruins, ainda que também não sejam bons. Digamos que as costuras ficam visíveis. Um bom romance, como uma boa análise, não pode mostrar as costuras.


As meias que os peregrinos do Caminho de Santiago utilizam são completamente lisas, pois as costuras produzem feridas nos pés e arruinam a viagem de iniciação. As costuras narrativas arruinam a viagem de iniciação do leitor de novelas, e também do autor, que, com uma boa associação, feita no momento oportuno, derruba todas as defesas. Às vezes, acontece na décima sessão de análise, ou no décimo capítulo do livro. Isso não quer dizer que o trabalho anterior tenha sido completamente inútil, mas tem que haver coragem de voltar ao começo e se desprender de todo o material dispensável.
Quase todas as vidas, mesmo as mais coerentes, neste primeiro nível associativo (o do álibi) estão cheias de costuras, inclusive de cicatrizes. Observando-se com certa distância, constrói-se a vida costurando (bem ou mal, esse é outro assunto) retalhos de várias naturezas e cores, como essas colchas étnicas (o que raios significa étnico), que nos agradam tanto pela ingenuidade, às vezes pelo mal gosto, um mal gosto (ou uma ingenuidade) que anula a vergonha de mostrá-las aos convidados depois do jantar, após retornar de Honduras ou da Guatemala.
Essas colchas são um exercício de associação livre, por isso, nos comovem até que começam a nos incomodar. O que há debaixo desses collages, cujas cicatrizes, que a princípio nos agradavam, agora nos cansam? Façamos uma suposição: pobreza. O que há, fequentemente, não é ingenuidade ou mal gosto, mas pobreza. Talvez fiquemos incomodados por causa disso. Estou fazendo uma bagunça, mas de propósito. Alcança-se o segundo nível da análise ou da novela juntando os pontos. Da vida também. Nesse segundo nível, não há costuras. É aqui que entendemos em toda a sua extensão a frase de Borges, que o azar é um modo de casualidade cujas leis ignoramos.

Estou fazendo uma bagunça, mas de propósito. Alcança-se o segundo nível da análise ou da novela juntando os pontos

E, no fim, eu estive, sim, na cena do crime no do dia das atas, mas não era o assassino. Era o morto. Trata-se de uma possibilidade que eu nem havia considerado no primeiro nível. Então, percebe-se que na análise (e no romance), não temos que ir com os deveres de casa feitos, mas com eles desfeitos. Significa que deve-se deitar no divã (ou sentar-se à frente do computador) e, ao invés de começar pelo mais importante, começar pelo banal, pelo periférico. Pelo subúrbio. O significado está sempre no periférico. É um modo de dizer que a sala das máquinas da vida (e do romance) não se encontra onde se espera (isso é uma forma de delírio), mas onde não se espera. Chega-se a esse lugar pelo método freudiano de associação livre, a qual, com o tempo, percebe-se ser a menos livre das associações. Escrever um romance, portanto, assemelha-se muito a reler psicanaliticamente uma vida.
Quanto a Marta Lázaro, ela continua ouvindo. Não vamos nos ver novamente. Nunca. Ficamos nisso. E nisso estamos.

Não é ciência

Por Javier Sampedro

Sigmund Freud não era um homem modesto. Pensava que a posição da humanidade no mundo havia sido destronada principalmente três vezes na história do conhecimento. A primeira foi por Copérnico, que nos havia expulsado do centro da criação para deixar esse emprego geométrico ao Sol; a segundo foi a de Darwin, que nos havia expulsado do paraíso no qual Deus nos criou a sua imagem e semelhança. E a terceira, por ele mesmo, que nos havia deportado de nossa própria mente ao revelar que, na maioria das vezes, ela está ocupada por um exército de demônios dos quais nem mesmo somos conscientes. Copérnico, Darwin e Freud, assim se resume a história da ciência. Isso que é autoestima, doutor.
A psicanálise é uma ciência? Antes de responder, consideremos o que disse Freud de si mesmo, em 1900: “A verdade é que não sou um homem da ciência, absolutamente. Sou apenas um conquistador, um aventureiro”. Percebe-se que, por esse critério, a psicanálise não é uma ciência. E, por outros critérios, também não: não cumpre os requisitos mínimos, nem se propõe a fazer isso, muito menos serve de grande coisa para a ciência posterior. É provável tenha tido mais influência nas artes, de Dalí a Woody Allen, e com menção especial a Hitchcok e seu filme Marnie. Não à ciência. Mas isto é apenas a metade da história. Porque a ciência bebe de muitas fontes, e os pensadores visionários tiveram sua influência, às vezes crucial, no grande esquema das coisas. Bons exemplos são o efeito que a obra do reverendo e economista Robert Malthus teve na concepção da teoria da seleção natural de Darwin; a importância chave da leitura dos filósofos David Hume e Ernst Mach para levar Einstein a considerar a possibilidade de que o tempo poderia se dilatar; ou o gatilho que foi um livro filosófico de Erwin Schrödinger – O que é a vida? – no começo da biologia molecular. Nesse sentido, é possível que Freud tenha tido mais relevância do que a maioria dos neurocientistas de hoje em dia está disposta a lhe conceder.
O que talvez seja a sua descoberta central, a do componente inconsciente da mente, está confirmada atualmente acima de qualquer dúvida razoável. O que experimentamos como mente consciente representa uma minúscula parte da nossa vida diária. Não conseguiríamos nos levantar da cama – não vamos nem falar sobre cruzar a rua ou organizar nossa vida – sem uma atividade cerebral que seja propriedade intelectual de um enxame de processadores neuronais. Eles permanentemente analisam nossas percepções e também possuem um modelo interno de mundo, em grande parte inato, e em outra parte formado sem que tenhamos a menor ideia do que está acontecendo ali, dentro da nossa própria cabeça.

Se quiser submeter-se à psicanálise, importa muito pouco que não seja uma ciência. A única coisa que você precisa saber é se funciona.

O subconsciente, como conceito abstrato, é uma predição correta de Freud. Mas a redescoberta moderna desse fenômeno não lhe deve nada. Sua materialização, ou sua revelação como algo empírico, ocorreu um século depois e de forma independente das reflexões, sem dúvida brilhantes, mas também exageradas, daquele psiquiatra.
Não está claro que Freud tenha infligido dano ao desenvolvimento das ciências da mente no século XX. É mais claro que esse dano tenha vindo do rechaço a Freud, particularmente nas instituições americanas. O grande neurologista Michael Gazzaniga reclamou que a psicologia havia desaparecido dos departamentos universitários. As pessoas – inclusive as que financiavam a pesquisa – consideravam-na uma palavra suja, e é muito provável que os excessos de Freud no começo do século, com sua franca propensão a atribuir ao sexo quase qualquer coisa, tenha muito a ver com isso naquela sociedade pacata e religiosa.
Em todo caso, se quiser submeter-se à psicanálise, importa muito pouco que não seja uma ciência. A única coisa que você precisa saber é se funciona. E, se acredita que funciona, irá em frente. Mas não se esqueça de consultar também um médico de verdade.

EL PAÍS


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Sigmund Freud / Fanáticos

Fanáticos

Salvador Dalí desenhou Freud como um híbrido monstruoso entre caracol e humano


PATRICIO PRON
17 AGO 2014 - 17:00 COT


Salvador Dalí tentou entrar três vezes na residência vienense de Sigmund Freud – e três vezes foi rejeitado. Tinha lido A Interpretação dos Sonhos em 1922 e havia se convertido em admirador incondicional da obra de Freud, a quem considerava um gênio: segundo observava, seu crânio se assemelhava à concha de um caracol, de modo que a fixação pelo pai da psicanálise e pelos moluscos gastrópodes foi um tema recorrente em suas conversas até que, talvez para mudar de assunto, o mecenas Edward James e o escritor Stefan Zweig organizaram um encontro entre os dois em julho de 1938 em Londres.

Freud acabara de escapar da Áustria anexada pelo nacional-socialismo e estava morrendo do câncer de mandíbula que acabaria com sua vida no ano seguinte. Dalí não falava nem alemão nem inglês e o diálogo foi impossível. Por isso, Dalí se sentou e começou a desenhar Freud enquanto este conversava com James e Zweig. Anos depois, afirmaria que aquele encontro foi uma das experiências mais importantes de sua vida, mas é possível que Freud não tivesse a mesma opinião. Gostamos de pensar que os encontros entre as pessoas que admiramos renderão momentos também admiráveis, mas isso quase nunca ocorre, provavelmente porque neles se impõe a adulação ou a indiferença. É melhor não conhecer nossos ídolos? Não sei. Dalí desenhou Freud como um híbrido monstruoso entre caracol e humano. Zweig conseguiu interceptar a obra antes que Freud a visse, convencido de que ficaria irritado, e o pai da psicanálise nunca pôde contemplar seu retrato. Apenas disse, enquanto Dalí o desenhava: “Esse jovem parece um fanático. Não me surpreende que haja uma guerra civil na Espanha se todos são como ele”.


DALÍ EM SÃO PAULO


Depois de passar pelo Rio de Janeiro, São Paulo recebe, a partir deste domingo 19, uma das maiores mostras do surrealista Salvador Dalí já realizada no país.
No Rio, quase um milhão de pessoas passaram pela exposição no Centro Cultural Banco do Brasil. Em São Paulo, a mostra estará aberta ao público no Instituto Tomie Ohtake (Av. Brigadeiro Faria Lima, 201) até o dia 11 de novembro, com entrada gratuita.
EL PAÍS




sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Sigmund Freud, o homem que deu significado aos sonhos, homenageado em 'Doodle'

Sigmund Freud

Sigmund Freud, o homem que deu significado aos sonhos, homenageado em 'Doodle'

Nascimento do pai da psicanálise completa 160 anos nesta sexta-feira e é lembrado em um 'Doodle'


DAVID BERNAL
Madri 6 MAI 2016 - 16:10 COT



Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nasceu há exatos 160 anos. E seu nascimento não foi esquecido pelo Google, que o homenageou com um doodle nesta sexta-feira. Somos como um iceberg, do qual só se vê a ponta. Tudo o que está debaixo da água é o nosso subconsciente, um amontoado de desejos e traumas que reprimimos, mas que dão forma aos nossos sonhos. E foi o neurologista quem criou essa teoria, hoje tão aceita e, com isso, mudou a nossa forma de pensar, com conceitos como narcisismo, pulsão de morte e Complexo de Édipo. Foi uma das figuras mais polêmicas e influentes do século XX.