Mostrando postagens com marcador Poemas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poemas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Poemas

 



Admirável

aquele que frente ao relâmpago

não diz: a vida foge... (Bashô)


*


Não dizem palavra

o anfitrião, o hóspede

e o crisântemo. (Ryota)


*

Ah, se me viro

esse passante já

não é senão bruma. (Shiki)


*


Trégua de vidro:

o som da cigarra

perfura rochas. (Bashô)


*


Lua da montanha:

brilhas igualmente

para o ladrão de flores. (Issa)


*


Sobe 

Do barraco do mendigo

Uma linda pipa. (Issa)


*

A criança às costas

Bulindo com meus cabelos –

Ah, quanto calor! (Shiba Sonome)



Chovisco: tagarelam

a capa de palha

e a sombrinha. (Buson)

  

_____________________________

Missão: comprar sakê para a aula sobre haikais na oficina de poesia. Se rolar clima, a gente faz até uma renga.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Ferreira Gullar / Aprendizado

 

Ilustración de Triunfo Arciniegas


Ferreira Gullar
Aprendizado


Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome


o que a alimenta.




domingo, 15 de outubro de 2023

Louise Glück / Matinas

Louise Glück



Louise Glück
Matinas

Pai inalcançável, quando nós fomos originalmente
expulsos do paraíso, você criou
uma réplica, um lugar de alguma maneira
diferente do paraíso, sendo
planejado para ensinar uma lição: por outro lado
a mesma – beleza em cada lado, beleza
sem alternativas – Exceto que
por não sabermos qual era a lição. Deixados sós,
nós exaurimos uns aos outros. Seguiram-se
anos de trevas; nos revezamos
trabalhando no jardim, as primeiras lágrimas
encheram nossos olhos conforme a Terra
ficou turva com pétalas, algumas
vermelho-escuras, outras cor de carne –
Nós nunca pensamos em você
a quem aprendíamos a venerar.
Nós apenas sabíamos que não é da natureza humana amar
somente aquilo que retribui o amor.



quarta-feira, 19 de julho de 2023

Hilda Hilst / XXIX






Hilda Hilst
XXIX


Te sei. Em vida
Provei teu gosto.
Perda, partidas
Memória, pó

Com a boca viva provei
Teu gosto, teu sumo grosso.
En vida, morte, te sei.



terça-feira, 18 de julho de 2023

Hilda Hilst / XVI

 


Hilda Hilst, 1977


Hilda Hilst
XVI
Cavalo, búfalo, cavalinha,
Te amo, amiga, morte minha,
Se te aproximas, salto
Como quem quer e não quer
Ver a colina, o prado, o outeiro
Do outro lado, como quem quer
E não ousa
Tocar teu pelo, o ouro
O coruscante vermelho do teu couro
Como quem não quer.

sábado, 15 de julho de 2023

Hilda Hilst / XIV

 

Brown Suga


Hilda Hilst
XIV

Hilda Hilst / XIV


Porque é feita de pregunta
De poeira

Articulada, coesa
Persigo tua cara e carne imatéria.

Porque é disjunta
Rompida
Geometral se faz dupla
Persigo tua cara e carne
Resoluta.

Porque finge que flanqueia
Vestíbulo, espaço e casa
Se sobrepondo de cascas
Gaiolas, grades

Máscara tripla
Persigo tua cara e carne.

Comigo serrote e faca.


terça-feira, 11 de outubro de 2022

César Vallejo / Pedra negra sobre uma pedra branca




Morrerei em Paris com aguaceiro
numa tarde da qual já bem me lembro.
Morrerei em Paris — não vou embora —
Numa quinta, de outono, como agora.

Quinta será, pois hoje, quando proso
estes versos, meus úmeros pisei
e, nunca como hoje, me voltei,
com todo o meu caminho, a me ver só.

Morreu César Vallejo, que apanhava
de todo mundo a quem nunca fez nada;
batiam duro com um pau e duro

também com uma corda; assim confirmam
as quintas como hoje e os osso úmeros,
a solidão, a chuva e os caminhos...



sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Octavio Paz / As palavras

Hirotoshi Ito




Octavio Paz
AS PALAVRAS
Tradução de Antonio Miranda


Dai-lhes a volta,
agarre-as pelo rabo (berrem, putas),
açoite-as,
dai-lhes açúcar na boca às nécias,
infle-as, balões, espete-as,
trague seu sangue e tutanos,
seque-as,
pise-as, galo galante,
torça-lhes a goela, cozinheiro,
depene-as ,
ampute-as, touro,
boi, arraste-as,
faça-as, poeta,
faz que traguem todas as palavras.








terça-feira, 9 de agosto de 2022

Octavio Paz / Todos os dias te descubro





Octavio Paz
Todos os dias te descubro
Segundo um poema de Fernando Pessoa

Todos os dias descubro
A espantosa realidade das coisas:
Cada coisa é o que é.
Que difícil é dizer isto e dizer
Quanto me alegra e como me basta
Para ser completo existir é suficiente.

Tenho escrito muitos poemas.
Claro, hei de escrever outros mais.
Cada poema meu diz o mesmo,
Cada poema meu é diferente,
Cada coisa é uma maneira distinta de dizer o mesmo.

Às vezes olho uma pedra.
Não penso que ela sente
Não me empenho em chamá-la irmã.
Gosto porque não sente,
Gosto porque não tem parentesco comigo.
Outras vezes ouço passar o vento:
Vale a pena haver nascido
Só por ouvir passar o vento.

Não sei que pensarão os outros ao lerem isto
Creio que há de ser bom porque o penso sem esforço;
O penso sem pensar que outros me ouvem pensar,
O penso sem pensamento,
O digo como o dizem minhas palavras.

Uma vez me chamaram poeta materialista.
E eu me surpreendi: nunca havia pensado
Que pudessem me dar este ou aquele nome.
Nem sequer sou poeta: vejo.
Se vale o que escrevo, não é valor meu.
O valor está aí, em meus versos.
Todo isto é absolutamente independente de minha vontade.



quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Octavio Paz / Epitáfio para um poeta

 


Octavio Paz
EPITÁFIO PARA UM POETA
Tradução de José Weis

Quis cantar, cantar
para não lembrar
sua vida verdadeira de mentiras
e recordar
sua mentirosa vida de verdades.



segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Octavio Paz / Espiral





Octavio Paz
ESPIRAL

Tradução de Haroldo de Campos


Como o cravo no seu talo,
como o cravo, eis o foguete,
que é um cravo de disparo.

É foguete o torvelinho:
sobe ao céu e se despluma,
canto de ave no pinho.

Como o cravo e como o vento
o caracol é foguete:
empedrado movimento.

E a espiral em cada coisa
seu vibrar difunde em giros:
um mover que não repousa.

O caracol foi corola,
eco de eco, luz, vento,
onda que se encaracola.



Octavio Paz
ESPIRAL

Como el clavel sobre su vara,
como el clavel, es el cohete:
es un clavel que se dispara.

Como el cohete el torbellino:
Sube hasta el cielo y se desgrana,
canto de pájaro en un pino.

Como el clavel y como el viento
el caracol es un cohete:
petrificado movimiento.

Y la espiral en cada cosa
su vibración difunde en giros:
el movimiento no reposa.

El caracol ayer fue ola,
mañana luz y viento, son,
eco del eco, caracola.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Octavio Paz / Escrito en tinta verde


Octavio Paz
ESCRITO COM TINTA VERDE
Tradução de Gerson Valle

A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde cantam as letras,
palavras que são árvores,
frases que são verdes constelações.

Deixa que minhas palavras, oh branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como a hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, colo, seios,
a fronte pura como o mar,
a nuca de bosque no outono,
os dentes que mordem fibra de alguma planta.

Teu corpo se constela de signos verdes
como o corpo de um tronco após a copa.
Não te importe tanta pequena cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.



quarta-feira, 20 de julho de 2022

Octavio Paz / Irmandade

 



Octavio Paz
Irmandade


Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite.
Porém olho para cima:
as estrelas escrevem.
Sem entender compreendo:
também sou escritura
e neste mesmo instante
alguém me soletra.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

Cristina Peri Rossi / Genealogia

 




Cristina Peri Rossi
Genealogia

(Safo, V. Woolf e outras)

Doces antepassadas minhas
afogadas no mar
ou suicidas em jardins imaginários
presas em castelos de muros liláses
e arrogantes
esplêndidas em seu desafio
à biologia elementar
que faz da mulher uma paridora
antes de ser na realidade uma mulher
soberbas em sua solidão
e no pequeno escândalo de suas vidas

Têm lugar no herbolário
junto a exemplares raros
de diversas nervuras.





Cristina Peri Rossi

Genealogía

(Safo, V. Woolf y otras)

Dulces antepasadas mías
ahogadas en el mar
o suicidas en jardines imaginarios
encerradas en castillos de muros lilas
y arrogantes
espléndidas en su desafío
a la biología elemental
que hace de una mujer una paridora
antes de ser en realidad una mujer
soberbias en su soledad
y en el pequeño escándalo de sus vidas

Tienen lugar en el herbolario
junto a ejemplares raros
de diversa nervadura.


quarta-feira, 15 de junho de 2022

Cristina Peri Rossi / Salve-se quem puder

 

Cristina Peri Rossi



Cristina Peri Rossi
Salve-se quem puder

Se fui amarga foi pela pena

O capitão gritou, “salve-se quem puder”
e eu, sem pensar, lancei-me à água
como ávida nadadora,
como se sempre tivesse esperado esse momento,
o momento supremo de solidão
em que nada pesa
nada resta
senão o desejo impostergável de viver;
me lancei à água, é fato, sem olhar para trás.

Se olhasse talvez não tivesse me lançado.
teria vacilado olhando teus grandes olhos tristes.
sinistros remorsos teriam me impedido
de saltar ao espaço
tocar a fria umidade do ar
o noturno sereno
e cair
como recém-nascida
na flutuante superfície do bote
onde tudo haverá de continuar
não se sabe onde.
Se tivesse olhado para trás,
teus grandes olhos tristes
a vela suspendida
os cabos soltos
as câmaras inundadas
como as memórias salgadas do mar.

Se tivesse olhado para trás,
“Salve-se quem puder”
gritava o capitão.

De ter olhado
de ter voltado os olhos
como Eurídice
já não poderia saltar
pertenceria ao passado
ancorada entre as redes do barco, seu capitão, a ferrugem das cadeiras
os versos que consumíamos nas noites de vigília
tua preguiça de saltar,
tua vingança de correr,
presa entre as famosas trepadeiras dos versos preferidos,
caso tivesse respirado mais o ar salino
nem visto aparecer o sol;
era um caso de vida ou morte.
“Salve-se quem puder”
tinha gritado o capitão,
a vida era uma hipótese de salto,
permanecer, uma morte segura.



Cristina Peri Rossi
Salvese quien pudiera


Si fui amarga fue por la pena.

El capitán gritó “Sálvese quien pueda”
y yo, sin pensarlo más, me lancé al agua,
como ávida nadadora
como si siempre hubiera estado esperando ese momento,
el momento supremo de soledad
en que nada pesa
nada queda ya
sino el deseo impostergable de vivir;
me lancé al agua, es cierto, sin mirar atrás.

De mirar quizás no me lanzara
habría vacilado mirando tus grandes ojos tristes
siniestros remordimientos me hubieran impedido ya
saltar al espacio
tocar la fría humedad del aire
el nocturno relente
y caer
como recién nacida
en la flotante superficie del bote
donde todo habría de continuar,
no se sabe adónde.
Si hubiera mirado atrás,
tus grandes ojos tristes
la vela suspendida
los cabos sueltos
las cámaras anegadas
como los recuerdos salados del mar.

Si hubiera mirado atrás,
tus grandes ojos tristes,
la vela mística suspendida
los cabos sueltos
las cámaras anegadas
como los recuerdos salados del mar.

Si hubiera mirado atrás.
“Sálvese quien pueda”
gritaba el capitán

De haber mirado
de haber vuelto los ojos
como Eurídice
ya no podría saltar
pertenecería al pasado
anclada entre las redes del barco, tu capitán, el moho de las sillas
los versos que consumíamos en las noches de vigilia
tu pereza de saltar,
tu vergüenza de correr,
atrapada entre las hermosas lianas de los versos preferidos,
acaso no hubiera respirado más el aire salino
ni visto aparecer el sol;
era un caso de vida o muerte
“Sálvese quien pueda”
había gritado el capitán,
la vida era una hipótesis de salto,
quedarse, una muerte segura.


segunda-feira, 13 de junho de 2022

Alyssa Wong / Á filha da jardineira

Alyssa Wong



Alyssa Wong
 Á filha da jardineira
 

Se sou Hades, minha carruagem estilhaçada
Quando te vi; meu velho esqueleto incendiado
Com brasa brilhante — no meu peito, invernada
Através de tempestuosas cidades, meu coração arruinado.
O calor de seus dedos, seus suspiros, cerziria-os na mão—
Imprimindo carne e osso com um fio dourado,
Que talvez faça-os durar mais do que a estação
Quando apenas sombras frias na cama me dão agrado.
Agora sementado em mim e rapidamente consumido,
O solo fértil que eu não me sabia dispor,
Essa ânsia pelo brilho do sol, indocilmente florescido
É suficiente para enlouquecer um conquistador—
Tolo o suficiente para desfazer um reino em ar
Eu engoliria a morte inteira para te fazer ficar.


Alyssa Wong

For the gardener's daughter
by Alissa Wong


If I am Hades, my chariot splintered
When I met you; my cold bones ignited
With heat, bright, that in my chest had wintered
Through storms of cities, my own heart blighted.
Your fingers’ warmth, your sighs, I’d sew them here—
Imprinting flesh and bone with golden thread,
So they might linger beyond half the year
When only cooling shadows grace my bed.
Now seeded in me and fast consuming
The fertile heartground I’d not known I had,
This lust for sunlight, rebel’iously blooming
Is enough to drive a conqueror mad—
Fool enough to wish a kingdom away,
I would swallow death whole to make you stay.


sábado, 11 de junho de 2022

Anne Carson / Ode ao sublime por Monica Vitti

Anne Carson



Anne Carson

Ode ao sublime por Monica Vitti

Eu quero tudo.

Tudo é um pensamento cru que dilacera.


Um sinal de nevoeiro berrando através da névoa transforma a névoa em

tudo.

Comer ovos de codorna na mão em meio à névoa faz tudo ser afrodisíaco.


Meu marido dá de ombros quando eu digo isso, meu marido dá de ombros

a tudo.

Os lagos nos quais sua fábrica poluiu tudo são tão belos quanto Brueghel.


Deixo minha loja, a fim de talvez vender tudo que há nela, vazia, mas

mantenho a luz acesa.

Tudo pode derramar.


Sabia que nos abismos do mar tudo se torna transparente? pergunta

Corrado, amigo de meu marido, e eu digo Sabia que eu morro de medo?


Tudo requer atenção, eu nunca relaxo meu pescoço,

mesmo beijando Corrado

Kant diz que ‘tudo’ existe só na nossa mente, junto a uma onda de prazer e


de dor que vai para lá e para cá em mim quando eu deito na cama de

Corrado lutando contra tudo com Corrado me vendo do outro lado da sala e

então ele veio para a cama e


subiu em mim e isso não fez diferença exceto que agora eu tinha que lutar

contra tudo através de Corrado, o que eu fiz ‘audaz’ (então, Kant) na cama

congelante sob o clarão da meia-noite.


O que você vai levar? pergunto a Corrado, que está indo para a Patagônia e

quando ele diz 2 ou 3 bolsas eu digo Se eu tivesse que ir para longe eu

levaria comigo tudo o que vejo.


A isso Corrado nada responde o que não é, creio, o contrário de tudo.

Não parece certo é o que meu marido diria, ele diz isso sobre tudo –


especialmente desde que saí da clínica, uma clínica para pessoas que

querem tudo,

tudo que eu vejo tudo o que eu provo tudo o que eu toco

todos os dias até as cinzas e na


clínica eu só tinha uma pergunta O que faço com meus olhos?



Anne Carson

Ode to sublime by Monica Vitti by Anne Carson


I want everything.

Everything is a naked thought that strikes.


A foghorn sounding through fog makes the fog seem to be everything.

Quail eggs eaten from the hand in fog make everything aphrodisiac.


My husband shrugs when I say so, my husband shrugs at everything.

The lakes where his factory has poisoned everything are as beautiful as Brueghel.


I keep my shop, in order that I may sell everything there, empty but I leave the light on.

Everything might spill.


Do you know that in the deepest part of the sea everything goes transparent? asks my

husband’s friend Corrado and I say Do you know how afraid I am?


Everything requires attention, I never relax my neck even when kissing Corrado.

Kant says ‘everything’ exists only in our mind, attended by a motion of pleasure and


pain that throws itself back and forth in me when I lay on Corrado’s bed fighting with

everything with Corrado watching from across the room then he came to the bed and


mounted me and this made no difference except now I had to fight everything through

Corrado, which I did ‘undaunted’ (so Kant) on his freezing bed in its midnight glare.


What will you take? I ask Corrado who is leaving for Patagonia and when he says 2 or 3

valises I say If I had to go away I would take with me everything I see.


To this Corrado says nothing which is not I think the opposite of everything.

Doesn’t seem right is what my husband would say, he says this about everything –


especially since I came out of the clinic, a clinic for people who want everything,

everything I see everything I taste everything I touch everyday even the ashtrays and at


the clinic I had only one question What shall I do with my eyes?





quinta-feira, 9 de junho de 2022

Margaret Atwood / Variações da palavra dormir


Margaret Atwood

Margaret Atwood

Variações da palavra dormir

Queria te ver dormindo,
o que talvez não aconteça.
Queria te ver ver,
dormindo. Queria dormir
contigo, entrar
no teu dormir enquanto a suave onda escura dele
desliza pela minha cabeça

e andar contigo por aquela luminosa
floresta oscilante de folhas azuis-esverdeadas
com seu sol aguado & suas três luas
em direção a caverna em que deves descer,
em direção ao teu maior medo

Queria te dar o galho prateado,
a pequena flor branca, a exata
palavra que irá te proteger
do luto no meio do teu
sonho, do luto
no meio, eu queria te seguir
pela longa escadaria
de novo & me tornar
o barco que te levaria de volta
cuidadosamente, uma chama
entre mãos em concha
aonde teu corpo descansa
do meu lado, e enquanto retornas
a ele tão fácil quanto inspirar

queria ser o ar
que te habita apenas por um
instante. Queria ser tão imperceptível
& tão essencial quanto.

Margaret Atwood


Variation on the word sleep 

by Margaret Atwood

I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head

and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear

I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and as you enter
it as easily as breathing in

I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.