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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Salinger / A principal diferença



J.D. Salinger


A principal diferença entre a felicidade e a alegria é que a felicidade é sólida e a alegria é líquida.

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Alguns dos meus melhores amigos são crianças. De facto, todos os meus melhores amigos são crianças.

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A tarefa de um artista é aspirar a certo grau de perfeição e nada mais.










quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Salinger / A Perfect Day for Bananafish

 

Illustration by Johnny Ruzzo


J.D. Salinger
A PERFECT DAY FOR BANANAFISH
Illustrations


Illustration by Johnny Ruzzo

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Salinger / Quando diabos você vai crescer de uma vez?


J.D. Salinger
Quando diabos você vai crescer de uma vez?

Com Holden Caulfield milhões de pessoas se sentiram menos sozinhas: ‘O Apanhador no Campo de Centeio’ exerce um poder extraordinário

J. D. Salinger, por Sciammarella.
"Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância...” Desde o começo de O Apanhador no Campo de Centeiofica claro que J. D. Salinger pretendia situar sua narrativa na modernidade. O que ele não podia saber é que, já bem entrado o século XXI, esse romance de aprendizagem iria permanecer tão cheio de vigor e atual como quando o publicou em 1951, tanto pela forma como está escrito como pelo que nos apresenta, com exceção do detalhe da ausência de celulares e demais artefatos. Dez anos antes, em uma carta uma amiga, ele dizia que estava escrevendo uma história sobre “um garoto de colégio durante as férias de Natal”.
E, de fato, é isso. Isso e muito mais, certamente porque esse garoto, Holden Caulfield, é um dos personagens mais tocantes da literatura universal, que observa e julga o que o rodeia de uma forma original, ácida, às vezes terna. Com alguns dados autobiográficos (alguns superficiais, outros, mais profundos: o Holden que despreza quase todos não será esse escritor misantropo que deixa de publicar e se asila, aumentando sua lenda?), Salinger escreveu sobre os adolescentes, sua rebeldia, sua luta por encontrar um lugar no mundo, seu medo de crescer e ao mesmo tempo seu desejo de fazê-lo. Porque Caulfield critica os adultos, falsos, hipócritas ou simplesmente imbecis, enquanto aprecia as crianças, espontâneas, inocentes, generosas. E, por isso, o que de verdade ele gostaria é de estar à beira do precipício, no final do campo de centeio, para monitorar as crianças e evitar que elas caiam. Evitar que se tornem adultos. Mas isso é impossível, e daí advém a crise de Holden.
Observador, sensível, exagerado, curioso (aonde irão no inverno os patos do Central Park?), nesses poucos dias que dura a sua aventura - quando, depois de uma briga, decide fugir após ser expulso do colégio e, assim, retardar o retorno à sua casa –, esse garoto de 16 anos que gostaria de aparentar mais para que lhe sirvam as bebidas sem perguntas e para ser levado em conta pelas mulheres, pensa no sexo, se embebeda, fuma, busca os serviços de uma prostituta, desanca a educação acadêmica, se deprime, diz palavrões e abusa dos comentários repetitivos. Isso pode explicar o fato de ainda em 1980 o livro ser o mais proibido nas escolas dos Estados Unidos. Mas o texto é inteligente, original, tem humor, é cheio de vida e sensibilidade, tem um ritmo perfeito, nunca cai nem no sentimentalismo nem na grosseria, de forma que também surpreende que, naquele mesmo ano, fosse o segundo mais recomendado.

Da derrota de Holden surge uma vitória imperecível, a de nos deixar um dos livros mais maravilhosos que pode ser lido quase com qualquer idade
Nessa divisão entre os professores que o proíbem e os que o recomendam, estes últimos têm um argumento difícil de rebater: aqueles estão se tornando o que criticam, em apanhadores no campo de centeio que não querem que seus alunos amadureçam. Carl Luce, um conhecido mais velho com quem Holden toma alguns drinques, o pressiona: "Quando finalmente você vai crescer?". E disso trata este livro, a isso assistimos ao longo de suas páginas, ao abandono definitivo da infância, à complicada passagem de uma idade para outra. Tudo, aqui, está nessa fronteira: Holden, e o próprio romance, publicado para adultos e adaptado para milhões de adolescentes e jovens. A cada ano são vendidos 250.000 exemplares. A crítica também o considera, quase que por unanimidade, como uma das maiores obras do século passado. É um desses felizes e raros casos nos quais crítica e público caminham de mãos dados ao longo de décadas.
Holden se rebela contra a educação, contra a autoridade, contra os mais velhos, contra o inevitável processo de amadurecimento, cumprindo muitas das características dos romances de iniciação. Sua rebelião está condenada à derrota, mas dela surge uma vitória imperecível, a de nos deixar um dos livros mais maravilhosos que pode ser lido com quase com qualquer idade. Esse rapaz que pede e confessa: "Toma mais uma. Por favor. Tenho uma depressão horrível. Me sinto muito sozinho, de verdade", conseguiu que milhões de pessoas se sintam menos sozinhas em algum momento de suas vidas. Esse é o poder extraordinário dos livros extraordinário. Até o final, Holden nos dá um conselho: "Não contem nunca nada a ninguém. No momento em que alguém conta qualquer coisa, começa a perder todo mundo". E acontecerá ao leitor algo semelhante ao que acontece com o narrador: quando fecha o livro, começa a perder Caulfield. Resta apenas recomendá-lo aos jovens e aos já não tão jovens, como se tivesse sido publicado ontem.
Apanhador no Campo de Centeio. J. D. Salinger.



Salinger / Cartas inéditas revelam vida privada de Salinger
Lillian Ross / Hemingway e Salinger são os maiores
Salinger / Todos os buracos negros


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Salinger / Todos os buracos negros

Jerome David Salinger
Por Allred M.D.


J. D. Salinger: todos os buracos negros

Shane Salerno relata para EL PAÍS como mergulhou na misteriosa vida do escritor



Retrato de J. D. Salinger feito por Anthony Dei Gesu em Nova York, em 1952.
Shane Salerno (Memphis, 1972) tinha 9 anos quando sua mãe, fanática seguidora do esquivo J. D, Salinger (1919-2010), lhe disse que tinha idade suficiente para se embrenhar na leitura de O Apanhador no Campo de Centeio. O livro comoveu o menino a tal ponto que, apesar da pouca idade, devorou em tempo relativamente curto o restante da escassa obra do autor. “Isso é tudo?”, perguntou à mãe quando terminou o último volume. “Salinger não deixou de escrever um só dia”, respondeu ela, “só que desde 1965 não quer publicar nada”. A insólita revelação plantou no jovem leitor uma semente que levaria 21 anos para germinar.
Uma tarde, enquanto folheava uma biografia do autor, chamou poderosamente a sua atenção o violento contraste entre dois retratos do romancista nova-iorquino. Em um deles, um Salinger jovem e no auge da fama sorri gentil. Em outro, já idoso, lança um olhar furioso ao fotógrafo que o pegou de surpresa.
A disparidade o fez recordar que tinha uma dívida pendente consigo mesmo: tentar esclarecer, ao menos em parte, o enigma de uma vida sobre a qual pairam demasiadas sombras. Dedicou ao esforço 10 anos e 1,46 milhão de euros que tirou do próprio bolso.

Muitas coisas sobre o personagem não eram lisonjeiras, mas era preciso contá-las”
Em 2010 o escritor faleceu. Três anos depois, em setembro de 2013, Salerno apresentava o resultado de suas pesquisas, reunidas em um documentário de duas horas e um volume de 700 páginas para os quais contou com a colaboração do escritor David Shields (Los Angeles, 1956). Sob o título comum de Salinger, livro e documentário oferecem um retrato descontínuo do escritor com base na recuperação de um enorme material fotográfico, uma exaustiva compilação de documentos e o depoimento oral de mais de 200 testemunhas de sua vida.
Passaram-se seis meses, tempo suficiente para fazer um balanço, e o livro chega à Espanha (Seix Barral). Não faltaram acusações de oportunismo, falta de rigor e sensacionalismo, mas tampouco aplausos. Em termos econômicos, o projeto foi um êxito. “O livro se estrutura em torno dos três traumas que modelam a vida de Salinger: sua participação na Segunda Guerra Mundial, sua relação sentimental com Oona O’Neil e a violenta rejeição do mundo, motivada por suas crenças védicas”, explica Salerno, de Los Angeles.
“Salinger era um menino rico da Park Avenue. Jamais tinha estado exposto a qualquer tipo de sofrimento. Não tinha por que fazê-lo, mas decide alistar-se porque tinha uma ideia romântica da guerra. Participa do desembarque na Normandia e é testemunha de inumeráveis atrocidades, a maior delas, que jamais conseguiria apagar da memória, a entrada em um campo de concentração no qual permanecia no ar um insuportável fedor de carne humana incinerada. Diante da iminência da chegada das tropas norte-americanas, os nazistas tinham se apressado a queimar vivos os prisioneiros judeus. Transtornado pela guerra, quando acabou ele se internou em um sanatório para doentes mentais. É aí onde se produz a alquimia que o transforma em escritor. Quando sai, escreve a história Uncrazy (Não-Louco)”.

O horror vivido na II Guerra Mundial o marcou para sempre
Boa parte das pesquisas de Shields e Salerno teve como finalidade caracterizar seu singularíssimo modo de se relacionar com as mulheres. “O outro trauma que o marcou foi seu rompimento com Oona O’Neil”, explica o biógrafo. “Era uma garota muito atraente, que entre os 16 e os 18 anos, além de Salinger, manteve relações com Peter Arno, o cartunista da New Yorker, e com Orson Welles. Deixou Salinger para se casar com Charles Chaplin, com quem teve oito filhos e de quem se manteve ao lado até ele morrer. A perda de Oona deu o tom para todos os seus relacionamentos sentimentais. Quando se casou com Chaplin, ela estava com 18 anos e ele, 54. Quando Salinger conhece Joyce Maynard, uma das mulheres mais importantes de sua vida, ele tinha 54 e ela, 18. O esquema se repetiria sempre. Era fascinado pelas mulheres quando conservavam algo de meninas. Manteve relações, não necessariamente sexuais, com garotas muito jovens, de 15 ou 16 anos, até mesmo 14, como ocorreu com Jean Miller.”
Miller é, segundo Salerno, uma das conquistas de Salinger. “Fomos os primeiros

Não dediquei 10 anos de minha vida para falar mal de Salinger”
a conseguir declarações diretas dela. Tinha 14 anos e Salinger, 30, quando se conheceram na Flórida. Mantiveram um contato muito estreito entre 1949 e 1954. As cartas que Salinger lhe escreveu nesse tempo proporcionam um relato insolitamente revelador do escritor.” Também não tinham vindo à tona fotos de seu período militar, “com os três mosqueteiros, Jack Altaras, John Keenan e Paul Fitzgerald, seus melhores amigos; nem sequer de sua primeira mulher, a alemã Sylvia Welter. Falsificou seus documentos para levá-la aos Estados Unidos e, depois, se descobriu que era colaboradora da Gestapo”.
Mesmo sendo importantes, todos esses detalhes se empalidecem diante do que se supõe seja a maior realização das pesquisas feitas com Shields: a lista completa das obras que, segundo os autores, virão à luz entre 2015 e 2020. Cinco livros no total: dois conjuntos de contos em torno das famílias de Holden Caulfield e Seymour Glass; um romance sobre seu casamento com Sylvia Welter; o diário de um agente de contraespionagem, baseado nos interrogatórios que Salinger fez com prisioneiros ... e um manual sobre suas crenças védicas. É a parte mais questionada pela crítica. Salerno teve acesso ao material? Pode se pronunciar sobre seu valor literário? Como quem pisa em brasas, ele responde: “Não posso responder a essa pergunta”.
O biógrafo reage com firmeza diante da pergunta sobre se é legítimo violar a intimidade do escritor: “Não dediquei 10 anos de minha vida a Salinger com a intenção de prejudicar a sua imagem. Para fazer algo assim, um ano basta. Queríamos contar a verdade, e muitas das coisas que averiguamos não eram exatamente lisonjeiras, mas era preciso contá-las”.
O que dizem os filhos do escritor sobre isso? O que significa o fato de Mathew não ter querido colaborar com o projeto? “Impossível pensar em duas infâncias mais diferentes. Segundo Mathew, Salinger foi um grande pai. Margaret, ao contrário, traçou um retrato devastador do pai em suas memórias.”
Salerno é categórico em relação à acusação de sensacionalismo formulada contra Shields e ele na linha dos crimes cometidos em nome de O Apanhador no Campo de Centeio. “O que se supõe que teríamos de ter feito? Passar por cima? Os assassinos de John Lennon e Rebecca Schaeffer, uma atriz belíssima e muito jovem, e o assassino frustrado de Ronald Reagan levavam um exemplar do livro, como se fosse um talismã maligno.”
Entre os muitos outros assuntos que aborda, Salerno ressalta o terceiro fator que explica o enigma de Salinger: “A chave de sua retirada do mundo está nas suas crenças védicas, segundo as quais estruturamos o livro. Ao morrer, um parente declarou em seu nome as primeiras palavras que tornava públicas em 45 anos: ‘Vivo no mundo, mas não faço parte dele’”.





segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Lillian Ross / Hemingway e Salinger são os maiores

Ernest Hemingway

Hemingway e Salinger são os maiores, diz Lillian Ross

Sergio Rodrigues
TODOPROSA
13/12/2010

Os dois maiores escritores do meu tempo são Ernest Hemingway e JD Salinger. Ambos cruzaram a fronteira entre o século 20 e o 21 com sua originalidade, sua substância e seu poder de permanência intactos. Como repórter e como amiga – com o privilégio de brincar na sua área – foi excitante observar em primeira mão o gênio único dos dois escritores revelar-se de forma cada vez mais nítida com o passar dos anos.
Ambos tinham um senso de humor muito particular – surpreendente, inimitável, em conversas, em cartas e em seu trabalho. Salinger me mantinha ao telefone por horas, morrendo de rir, falando de tudo e de todos à nossa volta. Ele adorava ler e adorava escrever. Hemingway costumava dizer que amava a parte de escrever, “mas não o que vinha depois”. O que veio depois para ele foram anos de inexplicável censura por ter tido a coragem e o gênio de nos dar prazer e iluminação duradouros na leitura.
Nunca entendi a parte do “depois”, nem no caso de Hemingway nem no de Salinger. Temos visto tentativas deprimentes de derrubar Salinger também. Salinger amava as pessoas que criava e as protegeu até a sua morte. Ele nos deu Holden Caulfield. Ele nos deu a família Glass. Então por que alguns críticos “literários” adotam um tom de tanta censura sobre sua vida pessoal?
O artigo (em inglês, acesso gratuito) que Lillian Ross, lenda viva do jornalismo literário americano, publicou ontem no “Observer” sobre JD Salinger – e um pouco sobre Ernest Hemingway – não tem nada de crítica literária. É antes um assumido e emocionado depoimento de amiga, o que evidentemente interfere com qualquer juízo estético mais equilibrado. Ainda assim, sua afirmação de que os dois foram os maiores escritores de seu tempo, nem mais nem menos, deve dar o que falar.

domingo, 28 de abril de 2013

Salinger / Cartas inéditas revelam vida privada de Salinger



Cartas inéditas revelam 

vida privada de Salinger

  • Escritor trocou correspondências com a canadense Marjorie Sheard, que hoje tem 95 anos

The New York Times
O Globo, 24 / 04 / 2013




Cartas de J.D. Salinger Foto: Reprodução


Cartas de J.D. Salinger Reprodução
NOVA YORK - O escritor J. D. Salinger morreu em 2012, aos 91 anos. Em vida, compartilhou pouco de sua vida pessoal, sendo considerado um mistério para a maior parte de seus leitores.
Mas agora cartas escritas por ele entre 1941 e 43 vieram à tona. Documentos que eram pouco conhecidos até então.
Na correspondência, que foi adquirida pela Morgan Library & Museum e compartilhada com o New York Times, o jovem Salinger se revela tão passional quanto Holden Caulfield, o adolescente questionador que se tornou seu mais emblemático personagem.
"Ele está só no limiar de sua carreira, mas sua voz está lá", diz Declan Kiely, responsável pela curadoria dos manuscritos. "É uma maravilhosa introdução a seus primeiros anos como escritor."
No começo de 1941, Salinger começou a trocar cartas com Marjorie Sheard, uma mulher de Toronto que costumava ler as histórias que o autor publicava na "Esquire" e na "Collier's". Escritora aspirante, Sheard pediu conselhos a Salinger e foi encorajada.
"Me parece que você tem instintos para evitar ser o tipo de garota que frequenta a universidade de Vassar", escreveu Sallinger em uma carta de 4 de setembro de 1941, sugerindo algumas publicações de pequeno porte que ela poderia tentar ser publicada.
Nos anos seguintes, Salinger enviou a Sheard nove cartas, todas elas bem-humoradas e um pouco galanteadoras. "Como você é?", escreveu o autor em 9 de outubro de 1941, pedindo para ela enviar uma fotografia. Um mês depois, ele se desculpou pelo pedido. "Escrevi num impulso ­— não muito bom".
Mas Sheard enviou a resposta junto com uma foto e o autor escreveu: "Garota sorrateira. Você é bonita".
Sheard, agora com 95 anos, guardou as cartas dentro de uma caixa de sapatos no armário. Há seis anos, ela se mudou para um asilo e deu as cartas a um parente, que também as guardou.
Recentemente, Sheard, junto com a família, decidiu vender as cartas ao museu Morgan, que expõe correspondências do autor. A decisão foi tomada por conta dos crescentes custos do repouso de Sheard. O museu se negou a dizer quanto pagou pelas missivas.
A sobrinha de Sheard, Liza, declarou ao "The New York Times" que as cartas tinham um imenso valor sentimental, particularmente porque sua tia nunca se tornou uma escritora publicada e viveu a vida como uma dona de casa.
"É como se fosse fantasia, porque aquela não era a vida dela. É uma mulher jovem escrevendo a uma estrela como se eles estivessem no mesmo patamar", afirmou.
Em suas primeiras trocas de cartas, Salinger diz que está relendo "Anna Karenina". Ele afirma que a obra não é tão boa quanto "Guerra e Paz", mas que é "um trabalho muito astuto". De Tolstoi, ele escreve brincando: "Acho que ele vai muito longe".
Além de recomendar suas próprias histórias, ele sugere que a Sra. Sheard leia "O Grande Gatsby" e "The Last Tycoon", de F. Scott Fitzgerald. Ela responde que Fitzgerald e Ernest Hemingway a incomodam da mesma forma.
No início de 1942, a correspondência de Salinger toma um rumo diferente, e ele pede que Sheard não traga à tona o conteúdo do seu ainda inédito trabalho sobre Holden Caulfield. "Só Deus e Harold Ross sabem o que aquele bando de duendes da equipe estão fazendo com o meu pobre roteiro", escreve ele, referindo-se ao fundador da revista "The New Yorker".
Em correspondências seguintes, Salinger brinca sobre sua iniciação na vida militar, fechando suas cartas com pseudônimos cômicos como "Fitzdudley", "Wormsley-Bassett" e "Flo e Benjy".
Mas outros detalhes que Salinger dava sobre si mesmo são ambíguos, senão fictícios. "Era para eu casar", ele escreve em uma carta de 28 novembro de 1942, "mas ela queria tudo dito e feito, na casa de seu pai em Hollywood".
Slawenski, biógrafo de Salinger, disse que não se pode ter certeza se isso era uma referência velada a relação de Salinger com Oona O'Neill, filha do dramaturgo Eugene O'Neill, ou para algum outro relacionamento. Slawenski diz que o fim do relacionamento com O'Neill, que casou com Charlie Chaplin, partiu o coração do autor.
"É mais provável que Salinger estava se exibindo para Marjorie Sheard enquanto tentava curar suas feridas românticas", explica.
Em outros lugares, Salinger menciona que está tentando seguir em frente em sua série de contos para a "The New Yorker", e faz referências a outros trabalhos inéditos e presumivelmente perdidos que ele fez naquela época.
Um desses trabalhos, chamado "Harry Jesus", "vem direto de dentro de mim", diz ele. "Vai arrancar o coração do país inteiro para depois devolver um orgão muito mais rico."
A possibilidade de sucesso em grande escala era aparentemente ultrajante para ele. Após escrever tudo, ele acrescenta: "Eu provavelmente vou fracassar por completo com isso".

http://oglobo.globo.com/cultura/cartas-ineditas-revelam-vida-privada-de-salinger-8204372#ixzz2Rdlv6xNQ