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sábado, 4 de janeiro de 2020

Morre Sue Lyon / A Lolita de Stanley Kubrick



Lolita
Pascal Abadie


Morre Sue Lyon, a Lolita de Stanley Kubrick

O autor do romance, Vladimir Nabokov, considerava que a atriz, falecida na última quinta-feira aos 73 anos, era a única que podia interpretar a personagem na telona


Gregorio Belinchón
Madri, 28 Dec 2018

Sue Lyon, que aos 14 anos deu vida a Lolita no filme homônimo de 1962 de Stanley Kubrick, morreu na noite da última quinta-feira aos 73 anos em Los Angeles (Estados Unidos). A causa da morte não foi divulgada, mas a saúde da atriz vinha piorando nos últimos anos, como revelou seu amigo Phil Syracopoulos. Embora seu papel mais conhecido seja o de Lolita, ela esteve na ativa desde 1959, quando estreou na série The Loretta Young Show (na qual Kubrick a descobriu), até 1980, com Alligator – O Jacaré Gigante.

Sue Lyton

Não demorou para que aquela imagem de uma adolescente de biquíni com óculos escuros em forma de corações, na beira de uma piscina e chupando pirulito (o cartaz do filme, de Bert Stern, imagem que não aparecia no longa), ou deixando-se pintar as unhas dos pés por um transtornado Humbert Humbert —encarnado por James Mason—, marcasse o inconsciente de uma geração de cinéfilos, que se lembrarão de como o pedófilo Humbert pronunciava com pausas seu nome: “Lo-Li-Ta”. Seu grande papel veio após um casting exaustivo, do qual mais de 800 atrizes participaram. O autor do romance original, Vladimir Nabokov, considerava que ela era a única que podia interpretar a jovem na telona. “A ninfa perfeita”, foi o apelativo que o escritor usou para se referir a ela, embora dizendo que também teria gostado se a personagem fosse interpretada pela francesa Catherine Demongeot. Stanley Kubrick evitou problemas com a censura ao escolher uma atriz com mais idade (14 anos, embora na tela fosse dito que Lolita tinha 15) que a da ninfeta do livro (12).


Para Suellyn Lyon, foi o princípio e o fim, a virtude de encontrar um papel que a lançaria ao estrelato e interpretá-lo à perfeição, e a condenação de que nenhum espectador a esqueceria, por mais que crescesse na frente e atrás das câmeras. Nascida em Davenport (Iowa), Lyon começou a atuar ainda criança. Caçula de cinco filhos, seu pai morreu quando ela tinha apenas 10 meses. Com a mudança da família para Los Angeles, Lyon trabalhou como modelo para catálogos da rede de lojas J. C. Penney e apareceu em alguns comerciais na TV. Antes de Lolita, só tinha participado de produções para a telinha, como a série Dennis the Menace e a citada The Loretta Young Show.

Sue Lyton


Depois de sua primeira incursão no cinema, que lhe valeu o Globo de Ouro de 1963 na categoria “Atriz revelação”, trabalhou em The Night of The Iguana (1964), sob a direção de John Houston. Naquele mesmo ano se casou, numa breve união, com o roteirista Hampton Fancher III. No cinema ela não se deu muito melhor, com trabalhos em Sete Mulheres (1966), de Ford; Um Magnífico Farsante (1967), de Irvin Kershner; e o Tony Rome (1967), com Frank Sinatra. Warren Beatty quase a escolheu para estrelar com ele Bonnie e Clyde, mas se decidiu por Faye Dunaway, enquanto Lyon se casava com o fotógrafo afro-americano Roland Harrison em 1971. Desse casamento nasceu sua filha, Nona, em Los Angeles, antes do divórcio do casal, em 1972. Lyon atribuía alguns de seus comportamentos mais erráticos ao fato de ser maníaco-depressiva, condição tratada com lítio.

Sue Lyton
Um bom exemplo é seu terceiro casamento, que em 1973 a uniu com um detento de uma prisão de Denver, Gary Adamson, condenado por roubo e assassinato. Lyon conseguiu que a pena dele fosse reduzida, trabalhou como garçonete perto da penitenciária e se divorciou em 1974, quando Adamson voltou a roubar. Ela se casaria outras duas vezes.

Lyon não conseguiu melhores papéis no cinema nem na TV. Sua carreira artística acabou em 1980 com Alligator – O Jacaré Gigante, com Robert Forster, e ela tornou pública a sua retirada em 1986. Durante muito tempo, a atriz renegou Lolita. Em 1997, quando estreou a nova versão de Adrian Lynne, ela disse à Reuters: “Estou horrorizada com a ideia de que querem ressuscitar o filme que causou minha destruição como pessoa”.




sexta-feira, 20 de setembro de 2019

As chaves do sucesso esmagador de ‘La La Land’

Ryan Gosling e Emma Stone, em 'La La Land'


As chaves do sucesso esmagador de ‘La La Land’

Musical de Damien Chazelle, recordista no Globo de Ouro, tem pré-estreia nesta quinta no Brasil


GREGORIO BELINCHÓN
Madri, 9 janeiro 2017

Damien Chazelle talvez não tenha descoberto a pólvora, mas conseguiu fogos de artifício espetaculares. A pouco mais de uma semana de completar 32 anos, esse cineasta, filho de um professor francês de teoria e engenharia informática em Princeton e de uma professora de história no The College de Nova Jersey, que quando criança queria ser músico de jazz – especificamente baterista, até descobrir que seu talento não dava para tanto –, dificilmente será contrariado por algum executivo de Hollywood... como aconteceu nos últimos cinco anos. Se para algo serviu a cerimônia de premiação do Globo de Ouro (além de permitir que La La Land – Cantando Estações superasse com seus sete prêmios o recorde de troféus que pertencia a Um Estranho no Ninho, com seis) foi para transformar Chazelle em um cineasta popular, cujo rosto começa a ser identificado pelos espectadores, e para reconhecer sua persistência, forjada nas portas (fechadas) dos estúdios. Entenda algumas das chaves que justificam o sucesso esmagador do musical, que tem pré-estreia nesta quinta-feira nos cinemas do Brasil. O filme estreia oficialmente nas salas brasileiras em 19 de janeiro.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

‘Blade Runner 2049’ reproduz o mito

Cena de 'Blade Runner 2049'


‘Blade Runner 2049’ reproduz o mito

Ryan Gosling é o protagonista da continuação de um filme icônico da cultura. "Tive que processar a ideia de fazer parte de algo imenso", afirma


Gregorio Belinchón
Madri, 20 sep 2017

Nada mais é sagrado no cinema. Tudo está sujeito a remakes, continuações, novas adaptações, rebootsspin offs e qualquer palavra que ocorra a Hollywood. Se até Casablanca teve uma versão futurista com Pamela Anderson (Bela e Perigosa), era plausível que houvesse uma continuação de Blade Runner, uma vez acabados os diferentes lançamentos comerciais de sua versão sem voz em off, da montagem do diretor, do... "Bom, eu estou me preparando para isso a minha vida inteira", confessa Ryan Gosling (London, Ontario, 1980). "O filme estreou quando eu tinha dois anos. E influenciou a cultura na qual eu cresci. Eu o vi com 12 anos e me impactou. Virou parte de mim, porque, com 20 anos, eu me fiz perguntas sobre o futuro que estão em Blade Runner. Eu me mudei para Los Angeles, virei ator e vivi em Downtown, muito perto do edifício Bradbury. Um dia, fui entrevistado por Ridley Scott, que me adiantou partes da história, o que me interessava, e enquanto processava o conceito de fazer parte de algo imenso, já estava em Budapeste filmando junto com Harrison Ford". Em Blade Runner 2049, dirigido por Denis Villeneuve,Gosling herda o protagonista do filme, o oficial K, muito parecido em figurino, solidão e melancolia ao mítico Rick Deckard, que volta às telonas porque, neste século XXI, Ford tomou gosto por recuperar seus personagens.
Como foi ler a continuação de um título tão cultuado? "No meu caso, tudo depende da conexão com o roteiro. Na primeira vez em que li o roteiro de Blade Runner 2049, eu me perdi na história, mergulhei preso à imensa aposta visual e, ao mesmo tempo, à reflexão íntima sobre a vida de personagens complexos". Acontece sempre? "Busco trabalhar com diretores ambiciosos, que me permitam colaborar com suas visões cinematográficas". Como dizia seu filme anterior, La La Land, tudo isso é muito bonito, e é a ambição de todo ator. Agora, se não tiver sorte... Pela primeira vez, Gosling dá risada. "Eu sei, eu sei. É verdade. O que faço é sentir que me conecto com o roteiro, com o diretor, entender o que está fazendo, sentir as emoções do seu personagem. E então..."
Gosling apareceu com a típica blusa que ganhou de Natal da sua avó. Também não se destaca pela elegância com a imprensa. Seu negócio é outro: encarnar homens difíceis, complexos. "Em Blade Runner, há um tipo muito diferente de herói. Era uma das perguntas chave da primeira parte, que questionava os espectadores sobre as diferenças, às vezes mínimas, entre heróis e vilões", lembra Gosling. "Não posso dizer muito mais porque acredito que o espectador precisa desfrutar da experiência, como eu fiz na primeira vez que li o roteiro. Faz 35 anos e vale a pena esperar o filme". Com isso, justifica também por que os jornalistas que entrevistam os atores puderam ver apenas parte do filme: há dez dias, o New York Times revelou um spoiler, um detalhe chave para a trama, e os produtores ficaram bravos. A poucos dias da estreia, em 6 de outubro, ninguém mais verá a íntegra de Blade Runner 2049.
Logo, são os atores que fornecem as informações: "O que podemos contar? Que Ford faz novamente Rick, que o trabalho dos blade runners, caçar replicantes, ficou mais complicado porque o contexto mudou. Agora, são párias, fazem um trabalho que ninguém quer fazer. Meu personagem tem uma existência solitária, sem conexões humanas. E, no começo do filme, suas emoções de tentar algo mais que seu trabalho são exploradas". Gosling não tem dificuldade para responder uma pergunta fundamental: Blade Runner 2049 é a segunda parte de qual versão da primeira? Porque há pequenas variações visuais em algumas que, no entanto, mudam completamente o personagem de Deckard. "Continua a história da versão do diretor". Para o bom entendedor....




O ATOR QUE NÃO INTERPRETA SUPER-HERÓIS


Ryan Gosling, como todos, tem um passado. Começou na televisão, em janeiro de 1993, no Club Disney, e como estava longe de Ontario, sua cidade natal, viveu durante dois anos na casa da família de um dos seus companheiros de programa, Justin Timberlake. Ganhou experiência como protagonista da série O jovem Hércules e começou no cinema, mesclando títulos mais esquecíveis - categoria na qual entra o blockbuster Diário De Uma Paixão - com dramas como Tolerância ZeroHalf Nelson - Encurralados e A Garota Ideal. Hoje em dia, é um dos pouquíssimos atores de primeira categoria, dos grandes (fez La La LandTudo Pelo PoderDrive, Namorados para Sempre), que não está em nenhuma saga de ficção científica ou de super-heróis. "Por enquanto, não senti a conexão de nenhuma das propostas com as minhas experiências de vida. Tenho família [dois filhos com a atriz Eva Mendes], então preciso me importar muito com o filme para me afastar deles... E não acredita que meus trabalhos com Nicolas Winding Refin estão construindo o arquétipo do super-herói moderno?", responde, rindo. Haverá uma segunda parte de Drive? Porque o romance já existe. "Não acredito. Nic e eu falamos disso, mas não gostamos muito do material. E seria romper o mistério do personagem".
Seu próximo passo é especial: será Neil Armstrong em First Man. "A pesquisa está sendo maravilhosa, inspiradora. E eu gostaria de classificá-lo como super-herói de carne e osso".


VILLENEUVE, O DIRETOR PERFEITO


A carreira do canadense Denis Villeneuve é incrível. Não tem filme ruim. Ao mesmo tempo, todas sabem chegar ao grande público e se ancoram no aqui e agora de cada espectador. Acontecerá o mesmo com Blade Runner 2049? "Claro, mas o primeiro já falava cara a cara com a audiência sobre como o ser humano encara circunstâncias adversas e como se comporta com outros seres humanos. Dito isso, este é um filme de Villeneuve, com seu enorme respeito pelos homens. Ridley o ajudou, mas Denis seguiu seu instinto. É um diretor admirável".


HARRISON FORD ASSEGURA QUE SE MANTÉM O TOM DE "PESADELO EXISTENCIAL"

Harrison Ford, Ana de Armas e Ryan Gosling, promovendo 'Blade Runner 2049'.
Harrison Ford, Ana de Armas e Ryan Gosling, promovendo 'Blade Runner 2049'. CLAUDIO ÁLVAREZ

G. B. / AGENCIAS
"O que aconteceu com ele faz parte do mistério", respondeu Harrison Ford, sobre em que estado encontrou seu personagem de caçador de replicantes, Rick Deckard, 35 anos depois do original Blade Runner. O popular ator, de 75 anos, afirma que o filme mantém o tom "noir" e de "pesadelo existencial" do primeiro, mas, preocupado com a promoção, alerta: "Não vamos confundir terrível com chato, não é um passeio no parque, mas há tensões, mistérios".
Os fatos acontecem 30 anos depois do primeiro filme, ambientado em 2019. Um novo caçador de replicantes, o agente K (Ryan Gosling), desenterra um antigo segredo que poderia mergulhar no caos o que resta da sociedade. O roteiro é de Hampton Fancher, que adaptou também o filme original do romance de Philip K. Dick, Androides sonham com ovelhas elétricas?, e de Michael Green. Conta com novos personagens que foram interpretados por Ana de Armas, Robin Wirght e Jared Leto.
Ana de Armas destacou, em Madri, que sua personagem é "forte e complexa". "É a amante do agente K, sua melhor amiga, e a única pessoa em quem pode confiar. Ela o empurra a buscar essas respostas que precisa saber", afirmou.
Lançado em 1982, Blade Runner não foi bem na bilheteria na sua época, mas, com o tempo, converteu-se em um filme cultuado, que se moveu entre o cinema negro e o da ficção científica, e discutia questões à frente do seu tempo sobre o que significa ser humano, as classes sociais, a engenharia elétrica e as mudanças climáticas.
EL PAÍS



segunda-feira, 29 de maio de 2017

Clint Eastwood / “Os filmes devem ser emocionantes, não intelectuais”



Clint Eastwood: “Os filmes devem ser emocionantes, não intelectuais”




Cineasta participa de uma aula magna no festival, onde, sem muito entusiasmo, repassou sua vida e carreira

Encurvado, um pouco surdo e desarrumado, com pouca vontade de falar. Mas com brilho no olhar, e medindo suas palavras, proclamadas com perene tom juvenil. Clint Eastwood completará 87 anos no próximo dia 31, e o festival de Cannes o homenageou com um convite para dar uma aula de cinema. O ator e diretor só confirmou sua presença após confirmar que poderia encaixar o compromisso no seu calendário de torneios de golfe. A esta altura Eastwood não precisa provar nada a ninguém, e seu ato em Cannes foi um exemplo: preferiu uma conversa com o jornalista americano Kenneth Turan, outro veterano, que foi soltando perguntas amáveis sobre sua carreira e sua vida. Levantou bolas que o cineasta cortou com elegância e economia de esforço.
A economia de esforço é uma constante em sua carreira. Como alguns de seus mentores, Eastwood prefere rodar rápido. “Eu gosto dos primeiros takes porque você nunca conseguirá igualar a surpresa de ouvir um diálogo pela primeira vez. Alguns dos meus mestres, como Don Siegel, faziam assim. Por isso também não gosto dos ensaios, porque se você repetir muitos os diálogos eles ficam monótonos”, contava, sentado com certa inapetência, mas com um sorriso constante. “‘A análise leva à paralisia’, dizia Don. Ele era muito eficiente… claro que sempre se queixava dos produtores.” Sergio Leone, embora muito diferente em sua mise-en-scène, também corria. “Rodava rápido porque pensava rápido. Na verdade, estive durante os anos cinquenta fazendo papéis de qualquer tamanho, tanto no cinema como na televisão, e aí aprendi muito com diretores como Tay Garnett [de O Destino Bate à Sua Porta].”
Numa abarrotada sala Buñuel, com os chefões da Warner – o estúdio para o qual trabalha há décadas – na primeira fila, o cineasta recordou alguns de seus títulos. Por exemplo, Os Imperdoáveis, que no sábado voltou a ser exibido no festival francês, em cópia restaurada. “Eu me diverti muito de vê-lo, e descobri algumas coisas que tinha esquecido. O roteiro me chegou como muitos outros nos anos oitenta, mas este me pareceu perfeito para ser meu último western, estava lindamente escrito por David Webb Peoples”, contou. Entretanto, o texto passou quase uma década fechado num armário. “Um leitor de roteiros da minha produtora o odiou. Por sorte, não dei bola para ele e afinal o filmei.”


“Como diretor eu gostaria de trabalhar como o pessoal do serviço secreto, que você ouve falar baixo, e não se sabe com quem.”

Eastwood começou a atuar no colégio, quando, num trabalho escolar, foi ator em uma peça. “Havia um personagem… Não era retardado, mas sim um pouco lento, e o professor disse que era perfeito para mim. Ao final todos me cumprimentaram. Mas pedi não voltar a fazê-lo. Enfim, continuei estudando interpretação, tinha garotas bonitas...” De sua infância recordou que nasceu durante a Grande Depressão, da qual só tomaria consciência lá pelos 6 ou 7 anos. “Meu pai era dono de um posto de gasolina, íamos para cima e para baixo”, rememorou. Como todos os meninos, queria participar de um western e montar a cavalo, “ser como James Stewart, Gary Cooper e John Wayne”. Por que é tão atraente esse gênero? “Porque transporta para outra época, quando um indivíduo podia se virar sozinho, uma fantasia hoje quase impossível.”Foi contratado para a série Rawhide em 1959, e um dia seu agente lhe propôs que fosse à Itália filmar uma versão western de um filme japonês. “Obviamente eu disse que não. Mas ele insistiu para que eu lesse o roteiro. Descobri que era Yojimbo, logo eu, um fã do Kurosawa! Aceitei Por um Punhado de Dólares. Sergio fez westerns muito operísticos. Tinha ótimo olho para os rostos. Eu na verdade sempre me dei muito bem com os diretores europeus.”


“Não se deve levar as coisas muito a sério.”

Eastwood começou a dirigir com Perversa Paixão (1971), também atuando, embora com um só cachê. E chegou Perseguidor Implacável. “Eu disse a Don que era muito incorreta. Suponho que portar armas grandes é a realização do sonho de qualquer menino, embora hoje não seja bem visto. Estamos nos matando ao fazer isso, perdemos o senso de humor.”




Sobre O Estranho que Nós Amamos, cujo remake Sofia Coppola apresenta nesta semana em Cannes, comentou apenas que “é o primeiro filme com o qual fiz uma turnê mundial de divulgação”. Foi sucinto também ao falar de Alcatraz – Fuga ImpossívelBronco BillySobre Meninos e LobosAs Pontes de Madison e Menina de Ouro. Mas confessou que, após seis participações em Cannes e um só prêmio, nunca se importou por não ter recebido a Palma de Ouro. “Fui presidente do júri e sei como é complexo colocar todos de acordo. Eu vi Caro Diário e achei uma chatice, sendo que foi um sucesso. Não se deve levar as coisas muito a sério. Como diretor também tento ser leve, não gritar. Eu gostaria de trabalhar como o pessoal do serviço secreto, que você ouve falar baixo, e não se sabe com quem”.
O cineasta contou que gosta de trabalhar – embora prefira o golfe – e que já está envolvido em seu próximo filme, The 15:17 to Paris, sobre os turistas norte-americanos que dominaram um terrorista e impediram um atentado num trem entre Amsterdã e Paris, em agosto de 2015. “Mas não quero antecipar muito, além de que o material é interessante [expressão que repetiu várias vezes na palestra]".
Sobre o cinema, deixou claros seus pensamentos: “Os filmes precisam ser emocionantes, porque não é uma arte intelectual. Embora cada um tenha o seu estilo e seja respeitável”. Só “algumas vezes” sente falta de atuar, e não acha difícil dirigir “se o material é interessante”. Não vê o cinema atual, porque trabalha muito, mas gosta de eventualmente revisitar O Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder. “Aos meus filhos atores aconselho que sempre façam o melhor que puderem, e que ensaiem e ensaiem … mas não me dão muita bola.” A última pergunta foi aberta: queria contar algo de outro filme ou algo que tenha esquecido? “A verdade é que não.”




quinta-feira, 14 de abril de 2016

Sasha Grey / Adeus estrela pornô, olá atriz de Hollywood


Sasha Grey

Sasha Grey

Adeus estrela pornô, 

olá atriz de Hollywood

Depois de mais de 400 filmes para adultos, Sasha Grey se converteu em uma intérprete de talento no cinema com Steve Soberbergh e Nacho Vigalondo

GREGORIO BELINCHÓN
Madri 17 JUL 2014 - 09:04 COT




Não diga reinvenção, diga Sasha Grey. Apesar de que ela mesma jogue esta teoria no lixo. “Bom, digamos que embora não tivesse um plano, sempre procurei informação e experiências. E, claro, sempre desfrutando disso. E pode ser que pareça um pouco errado, mas acho que estou avançando... No outro dia tive um jantar com um casal de produtores e surgiu uma possibilidade, a de ser produtora do meu próprio programa de televisão, apresentado por mim.” Sasha não nasceu sendo Sasha, a estrela feminina mais popular - e mais atrevida - do cinema pornô, mas como Marina Ann Hantzis, de North Highlands (Califórnia). Em 2006, dois meses antes de fazer 18 anos, debutou em seu primeiro filme X. Até o anúncio de sua aposentadoria no Facebook em 8 de abril de 2011, Sasha Grey chegou a participar em mais de 400 longas-metragens. Soube aproveitar as redes sociais, soube levar ao limite o cinema pornô com o uso de máquinas. “Fiz tudo voluntariamente. Foi minha escolha, tanto entrar nessa indústria como abandoná-la.” Pode ser que o empurrão necessário tenha sido protagonizarConfissões de uma Garota de Programa (2009), de Steven Soderbergh, um papel para o qual se preparou assistindo aos filmes de Godard. “Se não tivesse trabalhado nesse filme é provável que ninguém tivesse me levado a sério. E falamos de Steven que, como cineasta, é único, e que me deu a coragem necessária para apostar na mudança.”

Se não tivesse trabalhado em 'Confissões de uma Garota de Programa' é provável que ninguém tivesse me levado a sério"

Parece que ninguém consegue deter Sasha: “Estou cansada de receber propostas de 'prostituta na esquina'. Tenho sorte porque posso rechaçar esses papéis, já que tenho dinheiro suficiente graças à venda de meus romances (o segundo, The Juliette Society, demonstra que também sabe escrever), as minhas apresentações como DJ, meu trabalho como fotógrafa…Por enquanto, quando não surgem propostas interessantes, eu mesma as provoco. E se os diretores e roteiristas que me atraem não me chamam, digo ao meu agente que os procure e me aproximo deles. Construo relações. Sempre estou atenta ao que se faz no mundo todo.”
Quando o diretor espanhol Nacho Vigalondo apareceu com o filme Open windows, Grey já sabia quem ele era. “Tinha visto Los cronocrímenes e me interessou muito, a ponto de me sentir como uma fã. Ele me enviou o roteiro e oanimatic [uma versão animada do filme]. Era um roteiro muito técnico, cheio de detalhes e de explicações das janelas, algo necessário para um filme assim.” Porque Open windows é o filme das telas, a história de como o fã (Elijah Wood, deO Senhor dos Anéis) de uma grande estrela de cinema (Sasha Grey) tenta salvar a vida dessa atriz de Hollywood assediada usando somente seu notebook, cuja tela é a única coisa que o espectador vê. “Nacho tem uma energia única, nunca conheci alguém assim. E os finais de semana eram de festas loucas com toda a equipe técnica.” Sentiu-se próxima ao cansaço de seu personagem, uma estrela cansada de uma indústria? “Fiz minha lição de casa, me preparei com um treinador. Procurei pistas nas revistas de fofoca. Mas, além disso, é verdade que seu cansaço, sua sensação de ser mulher objeto, aproxima-se do que já senti. A sequência do nu foi muito interessante: porque deveria ser vulgar na frente de uma webcam e, ao mesmo tempo, contar algo mais sobre ela. Já vivi isso antes.” E o assédio? “Pela internet tudo parece distante, não é mesmo? Quando ocorre no mundo real é muito mais desagradável, e eu vivi os dois casos.”

A Europa é muito diferente. A vida é muito mais importante do que nos Estados Unidos, onde a profissão é a prioridade"

Ainda hoje, graças à vida eterna do pornô na Internet, Grey é parada na rua. “Sabe? A Europa é muito diferente. A vida é muito mais importante do que nos Estados Unidos, onde a profissão é a prioridade. E isso significa mentalidades diferentes. Nunca me senti intimidada e sim, pedem para tirar fotos comigo. Às vezes me olham com cara de 'Te conheço de algum lugar...', o que significa que já viram filmes pornô [risadas].” Apesar disso, durante a filmagem em Madri, seus agentes esconderam onde estava hospedada. “Aqui, neste sofá [no escritório da empresa responsável pela pós-produção], dormi uma noite.” Estavam tão mal de orçamento? “Nãoooo [risos]. É que foi um processo longo, voltei a Madri em várias ocasiões e algumas vezes misturei trabalho e festa. Com o Nacho nunca dá para saber quando acaba. Em todos os sentidos.”