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Marilynne Robinson |
Marilynne Robinson, a escritora que Obama cita em seus discursos
Com quatro romances e quatro ensaios, é vista nos EUA como uma das grandes autoras contemporâneas
28 FEV 2016 - 18:00 COT
“Seus textos me mudaram profundamente. E acredito que para melhor, Marilynne”, disse-lhe Barack Obama em 2013, quando entregou a ela a Medalha de Honra das Humanidades da Casa Branca. E, em setembro passado, o presidente dos Estados Unidos a entrevistou para a revista The New York Review of Books. A obra de Marilynne Robinson (Sandpoint, Idaho, 1943) é mínima. Quatro romances —Vida doméstica, Gilead, Em Casa e Lila: os três últimos ambientados em um povoado do Iowa e protagonizadas por pastores protestantes e suas famílias — e quatro livros de ensaios. Robinson é uma mulher risonha e serena, sem uma gota de cinismo. Parece maravilhar-se a cada minuto diante do mundo. Ela nos recebe em um luminoso escritório do Iowa Writers’s Workshop, em Iowa City, a lendária oficina de escritores na qual dá aulas desde o fim dos anos oitenta. Aqui lecionaram e estudaram clássicos das letras norte-americanas, de Flannery O’Connor a John Cheever, passando por Raymond Carver e John Irving.
P. Como aprendeu a ser escritora?
R. Redigia minhas coisas quando era pequena e lia muito. Na Universidade, tive aulas de escrita criativa, quatro semestres que foram de muita ajuda para mim.
P. O que aprendeu?
R. Aprendi, em primeiro lugar, com John Hawkes, um escritor que faleceu há 10 ou 15 anos, e foi muito proeminente em sua geração. Ele me ensinou a ter consciência de quando escrevia bem e quando não. Me tornou sensível a meu próprio estilo. Era bastante severo: odiava que se escrevesse mal. Eu não uso elogios nem críticas tão extremos quanto ele, mas foi muito útil para mim.
P. A sra. usa o método dele com seus alunos?
R. Às vezes pergunto ao aluno qual é a melhor parte de sua história, o melhor parágrafo, o melhor diálogo. É para que o escritor perceba o que sabe fazer bem: isto é o mais importante que um escritor pode fazer. Você deve aprender a se sintonizar com sua frequência. Não pode ser um imitador. O que as pessoas escolhem como o melhor de suas histórias é o mais individual. Um bom escritor não se confunde com outro.
P. A sra. dá um curso agora sobre o Antigo Testamento. O que os alunos aprendem nele?
R. Primeiro, descobrem o que é. Os que têm uma educação religiosa conhecem os 10 mandamentos e essas coisas, mas em termos de como funciona o relato bíblico como texto literário para eles é uma revelação.
P. Do ponto de vista do estilo?
R. Sim, e da forma. A Bíblia é muito autorreferencial. Com frequência pega emprestada a linguagem de escritos anteriores. É muito interessante para os escritores. Ou as comparações entre o Antigo Testamento e a escrita contemporânea do Oriente Médio, da Babilônia, por exemplo. Trata-se de ler textos com atenção.
P. Por que a sra. escolheu o Antigo Testamento para o seu curso?
R. Ontem falei do livro de Jó, que é uma grande influência de Moby Dick. Quando você lê o livro de Jó e vê a poesia no contexto ao qual Melville se refere, entende com uma profundidade que de outra maneira não conseguiria entender.
P. Que outros cursos prevê dar?
R. O fato é que me aposento depois do próximo trimestre. Minha vida se tornou tão complicada que não consigo ensinar e fazer as demais coisas com as quais me comprometi. Depois de todos esses anos, 26 ou 27, preciso deixar este edifício.