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Gabriel Pacheco |
Gabo já não é deste mundo
México e Colômbia se unem em uma despedida com milhares de pessoas ao autor de 'Cem Anos de Solidão'
JUAN CRUZ / JUAN DIEGO QUESADA Cidade do México 22 ABR 2014 - 08:07 BRT
Prepararam a despedida de Gabriel García Márquez para que o homem que já se foi, talvez o escritor de língua espanhola mais importante do século XX, se sentisse um chefe de Estado ou um herói antigo. Sua mulher, Mercedes Barcha, chegou com suas cinzas depois das quatro da tarde ao Palácio de Belas Artess, o centro da cultura tradicional mexicana. Os familiares e amigos ali presentes, com flores amarelas na lapela, aplaudiram por mais de quatro minutos. Um grupo de vallenato, ritmo folclórico da Colômbia, cantou depois a música que fazia Gabo vibrar e seus filhos a seguiram batendo palmas e dançando em suas cadeiras. Na porta, onde mais de 10.000 devotos e leitores levavam horas na fila para dizer-lhe adeus, escutava-se um grito: “Viva Gabo!”.
Este colombiano universal que jamais quis adquirir outra nacionalidade, também quebrou tradições depois de morto, e deixou uma marca na história do protocolo mexicano. Despediu-se como um dos grandes, à maneira de Cantinflas ou Diego Rivera. As cinzas do colombiano, guardadas em uma urna de madeira de cerejeira, foram o elemento central e solene da cerimônia laica.
Gabo também fez, depois de morto, algo que havia tentado na terra: colocar no mesmo lugar mandatários de países distintos e, às vezes distantes, para que chegassem a um acordo. Neste caso, não há diferenças entre a Colômbia, seu pais natal, e o México, onde viveu meio século e escreveu o romance mais colombiano de todos seus romances colombianos, Cem Anos de Solidão. Em sua homenagem, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, viajou ao México para presidir a parte mais solene da cerimônia de adeus, junto ao seu colega Enrique Peña Nieto. Ambos tiveram que enfrentar mais de uma hora de atraso que seguramente Gabo, em vida, não teria tolerado.