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domingo, 19 de julho de 2020

As últimas notícias sobre o coronavírus e a crise política no Brasi

Coronavirus minuto a minuto: Brasil supera los 2 millones de casos ...

A CRISE DO CORONAVÍRUS

As últimas notícias sobre o coronavírus e a crise política no Brasil

Brasil registra 78.772 óbitos por covid-19 e 2.074.860 casos da doença. Cacique Raoni, que estava internado, é transferido de avião para UTI em Sinop, no Mato Grosso



São Paulo / Brasília - 18 JUL 2020 - 20:35 COT

O Brasil acumula 2.074.860 de infecções pelo novo coronavírus e 78.772 mortes confirmadas pela covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde nesta sexta-feira, mantendo-se como o segundo país no mundo em número de óbitos e casos, atrás apenas dos Estados Unidos. Neste sábado, o estado de São Paulo registrou 19,6 mil óbitos e 412 mil casos de infecções pelo novo coronavírus. A Rússia se aproxima de 800.000 contaminados, enquanto a Alemanha tem conseguido reduzir o número de novas infecções. Na Espanha, novos surtos preocupam as autoridades, que estudam restringir novamente a circulação de pessoas.

O Estado de São Paulo registra 19,6 mil óbitos e 412 mil casos de coronavírus

O Estado de São Paulo registra, neste sábado, 19.647 óbitos por covid-19 e 412.027 mil casos confirmados do novo coronavírus. A taxa de ocupação das UTIs (unidades de terapia intensiva) é de 67% em todo o estado e de 65,3% na capital e região metropolitana.
O governo informa que 261.733 pessoas já se recuperaram da doença no estado, onde 636 dos 645 munícipios registraram pelo menos uma infecção e 428 cidades tiveram um ou mais óbitos provocados pela covid-19. 
Entre as vítimas fatais estão 11.354 homens e 8293 mulheres. Os óbitos continuam concentrados em pacientes com 60 anos ou mais, totalizando 74,6% das mortes, mas a mortalidade é maior entre 70 e 79 anos (4.841 óbitos). 

EL PAÍS



terça-feira, 7 de julho de 2020

Bolsonaro testa positivo para coronavírus, mas segue minimizando riscos da doença para jovens



PANDEMIA DE CORONAVÍRUS

Bolsonaro testa positivo para coronavírus, mas segue minimizando riscos da doença para jovens


Presidente foi atendido no hospital das Forças Armadas nesta segunda-feira com sintomas da doença. Ele afirma que já está bem e que tomou cloroquina



JOANA OLIVEIRA
São Paulo - 07 JUL 2020 - 11:18 COT

O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta terça-feira que está com covid-19. Ele se sentiu mal no último domingo, com sintomas da doença, e foi atendido no hospital da Forças Armadas onde realizou o teste para a doença. O resultado positivo saiu por volta de 11h desta terça-feira, afirmou ele a jornalistas. “Começou domingo com uma certa disposição e se agravou na segunda, com cansaço, febre, dor muscular”, explicou. O presidente, no entanto, afirmou que tomou cloroquina, medicamento defendido por ele e que não tem evidências científicas contra a doença, e, por isso, se sente melhor.

domingo, 5 de julho de 2020

Peter Piot / “Estamos só no começo da pandemia do coronavírus”


O virologista e pesquisador belga Peter Piot, que passou os últimos 40 anos seguindo a pista de diferentes vírus para combatê-los.
O virologista e pesquisador belga Peter Piot, que passou os últimos 40 anos seguindo a pista de diferentes vírus para combatê-los.


PANDEMIA DE CORONARÍVUS

Peter Piot, virologista: “Estamos só no começo da pandemia do coronavírus”

Pesquisador belga opina que a segunda onda poderia assumir uma forma diferente da primeira


Anette Ekin
3 Jul 2020

Estamos apenas no começo da pandemia do coronavírus, embora a segunda onda deva assumir uma forma diferente da primeira. Quem afirma é o veterano virologista Peter Piot, que passou os últimos 40 anos seguindo a pista de diferentes vírus para combatê-los. O professor Piot (Lovain, Bélgica, 1949) colaborou na descoberta do ebola quando tinha 27 anos e é um dos líderes do combate ao HIV e à AIDS. O cientista, diretor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e assessor especial para o coronavírus da presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, contraiu o SARS-CoV-2 no começo deste ano. Nesta entrevista, ele fala da maneira como a covid-19 mudou seu ponto de vista sobre a doença, de por que precisamos de uma vacina e das consequências da pandemia em longo prazo.

Pergunta. Depois de 40 anos procurando o vírus, recentemente você se viu de frente com o coronavírus. Como se encontra?

Resposta. Levei três meses para me recuperar desde que adoeci, mas agora volto a me sentir mais ou menos normal. Entretanto, [minha experiência] me ensinou que a covid-19 é algo mais que uma gripe, ou uma doença que faz que 1% dos pacientes precisem de cuidados intensivos e morram. Entre esses dois extremos há muita coisa. Mas me serviu para entendê-lo melhor. Agora conheço o vírus por dentro, não só por estudá-lo ou lutar contra ele. É uma perspectiva muito diferente.

P. Em que sentido?

R. Acima de tudo, esta é uma crise relacionada com os seres humanos. Boa parte das comunicações oficiais sobre a covid-19 falam em achatar a curva, e apenas de seres humanos. Em segundo lugar, quanto à percepção, o fato é que não é uma questão de “ou gripe ou UTI”. Ele vai deixar muita gente com afecções crônicas. Por isso, pessoalmente, me faz me sentir duplamente motivado para lutar contra o vírus. Depois de ter lutado contra vírus durante a maior parte da minha vida, agora um me alcançou, mas acho que é também a experiência humana que muda as coisas. É o que em holandês chamamos de ervaringsdeskundige [um especialista que aprendeu na prática]. Vem da política social. De modo que não se trata de que os especialistas digam às pessoas o que é bom para elas. Também se fala com os afetados. E eu venho do movimento da AIDS. No HIV, nem nos ocorria desenhar, desenvolver e muito menos realizar uma pesquisa sem envolver pacientes infectados com HIV. E essa é mais ou menos minha forma de pensar.

P. Há atualmente mais de dez milhões de casos de covid-19 em todo o mundo, e a pandemia está se espalhando pela América Latina. Qual é sua perspectiva da situação atual?

R. Bom, francamente, o primeiro é que as cifras ficam aquém, sem dúvida, porque estes são os casos confirmados. De modo que provavelmente estaríamos mais perto de superar com sobras os 20 milhões, e em breve, o meio milhão de mortes. Junto com o HIV, transformado agora em uma epidemia silenciosa que continua matando 600.000 pessoas por ano, e a gripe espanhola [de 1918], o coronavírus é certamente não só a maior epidemia, mas também a maior crise social em tempos de paz. Se pensarmos na Europa, praticamente todos os países conseguiram conter a expansão do vírus, e essa é uma boa notícia. As sociedades estão voltando a funcionar e relaxando algumas medidas. E agora temos que nos preparar para a chamada segunda onda. Espero que não seja um tsunami, e sim algo mais parecido com os surtos que já temos, por exemplo, em um frigorífico da Alemanha ou em lugares de lazer noturno, na Coreia [do Sul]. No Reino Unido continuamos tendo surtos em alguns asilos de idosos. Acredito que agora tenhamos que nos preparar para isso. O fato é que estamos só no começo desta pandemia. Enquanto houver pessoas propensas a se infectarem, o vírus estará muito predisposto a fazê-lo, porque necessita de nossas células para sobreviver.

P. Há alguma razão para o otimismo?

R. A boa notícia é também a colaboração científica, que não tem precedentes. É difícil seguir o ritmo da nova informação e da ciência que está sendo publicada sobre algo que, embora pareça incrível, tem apenas cinco meses. Às vezes digo a mim mesmo: “Meu Deus, como vou me manter informado de todas as publicações?” Mas, por outro lado, é um problema bom, porque nas epidemias anteriores a informação não era compartilhada. Também é inédito que as empresas e os países estejam investindo enormemente no desenvolvimento de vacinas, medicamentos e outros. De modo que é um raio de esperança.

P. Se estamos só no começo da pandemia, quanto ela poderia durar?

R. Não tenho bola de cristal, mas poderia durar vários anos. Eu diria que, em curto ou médio prazo, uma vacina significaria uma enorme diferença, embora duvide de que seja uma vacina 100% eficaz. Ouvimos promessas de que em outubro talvez disponhamos de centenas de milhões de vacinas. Para todos os efeitos práticos, é mais provável que seja em 2021, e isso realmente poderia ajudar a controlar a epidemia em grande medida. Mas continuaremos tendo que mudar nossa forma de nos relacionar com outros. Se observarmos o Japão, por exemplo, há gerações eles usam máscara para proteger os outros, inclusive quando têm um simples resfriado. De modo que, além de esperar esta vacina mágica, é necessária uma mudança de conduta em grande escala.

P. O mutirão organizado pela Comissão Europeia arrecadou quase 10 bilhões de euros (60 bilhões de reais) em doações, a serem distribuídas entre vacinas, tratamentos, exames e o reforço dos sistemas sanitários. Na sua opinião, quais são as prioridades para gastar este dinheiro? E é suficiente?

R. Esta maratona de doações é necessária por duas razões: para assegurar que haverá dinheiro e para garantir o acesso equitativo às vacinas e outros recursos. A maior necessidade é o desenvolvimento da vacina e sua fabricação. Mas o mais importante é que [os recursos] não são só para pesquisa e desenvolvimento, mas também para criar mecanismos que permitam o acesso de países pobres ou que não são produtores de vacinas. Alguém poderia achar que é muitíssimo dinheiro, mas não é suficiente.

P. Por que não?

R. O insólito, também, é que estamos falando de bilhões, não de milhões, de pessoas que terão que ser vacinadas. Nunca se tentou. Aproximadamente quatro ou cinco bilhões de pessoas precisarão ter acesso a esta vacina. E isso significa também bilhões de ampolas de vidro para embalá-la. É preciso se ocupar de todas essas coisas básicas. Empresas e Governos têm que apostar e investir na fabricação de vacinas sem saber nem mesmo se essa vacina irá funcionar de fato. É um grande desafio, mas por isso é preciso também dinheiro público, porque será um bem público. E há também o problema do “nacionalismo da vacina”. Começou quando os Estados Unidos disseram que as vacinas produzidas nos Estados Unidos seriam para os norte-americanos. E se todos os países começarem a fazer isso, a maioria dos habitantes do mundo ficará excluída, porque só alguns quantos países produzem vacinas.

P. Como asseguramos então que ninguém ficará de fora?

R. É a grande pergunta. Acho que, definitivamente, será uma questão política. E por isso insisto em que o acesso equitativo deve ser parte da iniciativa de doações lançada pela Comissão. Não se trata só de juntar dinheiro para desenvolver a vacina. Trata-se de juntar dinheiro para desenvolver uma vacina acessível a todos os que precisarem. É muito diferente.

P. No mês passado, você declarava em uma entrevista que aprendemos à medida que navegamos, e que sem vacina não será possível retomar a vida normal. Continua pensando o mesmo?

R. De maneira um pouco mais matizada. Agora digo que vamos aprendendo à medida que corremos, porque navegar é um pouco lento. Neste momento, todo mundo corre. E continuo achando que, sem vacina, será extremamente difícil recuperar uma sociedade normal. Tudo dependerá de que as vacinas protejam contra a transmissão. Em outras palavras, de que, se eu me vacinar, não possa contrair a doença ou, como no caso da gripe, que a vacina seja especialmente útil para prevenir o desenvolvimento da doença em forma grave e da mortalidade. Há muitos elementos desconhecidos. Na minha opinião, essa é a maior prioridade para a ciência e para essa resposta, porque se não houver vacina significará que teremos que conviver por anos com este vírus.

P. Há alguma candidata a vacina que o entusiasme e que possa se destacar sobre as demais?

R. Não, porque há umas quantas. Mas o bonito neste momento é que há muitos enfoques muito diferentes para obter uma vacina. Você tem as de RNA (mensageiro) e outras que utilizam métodos mais tradicionais. Pessoalmente, sou agnóstico.

P. Mesmo que uma vacina possa impedir que as pessoas adoeçam, você mencionou que muitos sofrerão afecções crônicas. Como deveria ser a resposta de mais longo prazo?

R. Estamos todos ocupados com a crise aguda e, embora agora tenhamos um pouco de tempo para nos prepararmos para estes surtos da segunda onda, também precisamos olhar mais em longo prazo. Isto é evidente no que diz respeito ao impacto econômico e social, mas também para o impacto para a saúde mental não só da epidemia, mas também das medidas para rebatê-la —o confinamento, as crianças sem irem à escola etc.— que poderiam realmente exacerbar as desigualdades e as injustiças sociais. Frequentemente, as epidemias revelam as linhas divisórias da sociedade e acentuam as desigualdades. É algo que vai muito além dos aspectos biológicos e médicos, mas é o que temos que planejar agora.



Este artigo foi originalmente publicado em inglês na ‘Horizon’, a revista de pesquisa e inovação da União Europeia. A apuração deste artigo foi financiada pela UE.EL PAÍS



domingo, 21 de junho de 2020

Notícias sobre o coronavírus / A prisão de Queiroz e a crise do Governo Bolsonaro

Parede de um hospital de Lviv, na Ucrânia, homenageia profissionais de saúde.
Parede de um hospital de Lviv, na Ucrânia, homenageia profissionais de saúde.FOTO DE PAVLO PALAMARCHUK

 Notícias sobre o coronavírus, a prisão de Queiroz e a crise do Governo Bolsonaro

Brasil passa dos 50.000 óbitos em decorrência da doença e registra 1.085.038 casos confirmados. No mundo, já são mais de 8,8 milhões de infectados pela covid-19. Manifestantes vão às ruas em São Paulo, Rio e Brasília para protestar contra e a favor de Bolsonaro neste domingo


EL PAÍS
São Paulo / Brasília - 21 JUN 2020 - 18:22 COT

O Brasil ultrapassou neste domingo as 50.000 mortes em decorrência do coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, nas últimas 24 horas foram notificados 641 óbitos em decorrência da covid-19, totalizando 50.617. Também foram registrados 17.459 novos casos da doença, chegando a 1.085.038 casos confirmados pela pasta. Ainda segundo o Ministério da Saúde, 549.386 pessoas contraíram a covid-19 e se recuperaram. Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília registraram manifestações contra e a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), repetindo o que vem ocorrendo todos os domingos no país. Porém, desta vez, Bolsonaro, que estava no Rio de Janeiro participando de um velório de um paraquedista, não foi até seus apoiadores para cumprimentá-los. Em todo o mundo, a pandemia já registra mais de 8,8 milhões de infectados pela doença.

Bolsonaro não sabia que Queiroz estava na casa de Atibaia, diz Wasef
O advogado Frederick Wassef agora diz que Fabrício Queiroz se hospedou em sua casa sem o conhecimento do presidente Jair Bolsonaro e do filho dele, o senador Flavio Bolsonaro. “Assumo total responsabilidade”, garante Wasef, para quem as notícias tentando vincular Queiroz ao presidente são equivocadas. “Isto é uma estratégia para atingir o presidente da República”, diz ele.

“Nunca falei com Queiroz”, diz advogado Frederick Wassef
“Nunca falei com Queiroz, nao troquei mensagens com Queiroz, não sei quando ele foi para a minha propriedade”, diz ao vivo na CNN Brasil o advogado Frederick Wassef, dono da casa onde Fabrício Queiroz, foi encontrado na última quinta-feira, 18. Wassef está no estúdio da TV em Brasília. Ele volta a afirmar que não escondeu o ex-assessor de Flavio Bolsonaro. “Momentaneamente, por ética profissional, eu não posso explicar” respondeu ele quando questionado sobre a razão de Queiroz estar na sua propriedade em Atibaia.
Ele diz que não sabia que Queiroz estava lá quando ele foi preso. O advogado se diz vítima de notícias mentirosas dizendo que não escondeu ninguém. Menciona ainda que Queiroz esteve no Rio de Janeiro, mas diz que não pode dar detalhes. “Passou um mês e meio, 40 dias no Rio”, diz. Conta que ele foi internado duas vezes para cirurgias em Bragança Paulista.

Brasil registra mais 641 mortes e 17.459 casos de coronavírus

O Brasil registrou 641 óbitos e 17.459 novos casos de covid-19 neste domingo. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde e estão atualizados até as 17h30. Com os novos registros, o país atinge a marca de 50.617 mortos pelo novo coronavírus e 1.085.038 notificações da doença.
De acordo com o Governo Jair Bolsonaro, há 3.817 óbitos em investigação. Ou seja, em que são aguardados os resultados de exames para saber se a causa da morte do paciente era covid-19 ou não.

Coração de pedra

O Brasil já perdeu 50.000 pessoas vitimadas pelo coronavírus, e o Governo de Jair Bolsonaro não é capaz de chorar por elas. Nenhum dia de luto nacional. Nenhuma palavra de consolo e solidariedade com os mortos. Estamos diante de um coração de pedra. 

EL PAÍS




terça-feira, 5 de maio de 2020

Escritor chileno Luis Sepúlveda morre de covid-19 na Espanha


O escritor Luis Sepúlveda.
O escritor Luis Sepúlveda.foto de LUIS SEVLLANO ARRIBAS / EL PAÍS
PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Escritor chileno Luis Sepúlveda morre de covid-19 na Espanha

O romancista, que tinha 70 anos, foi um dos primeiros casos diagnosticados no país, no fim de fevereiro


EL PAÍS
Madri, 16 Ab 2020


O escritor Luis Sepúlveda (Ovalle, Chile, 1949) morreu nesta quinta-feira, aos 70 anos, no Hospital Universitário Central das Astúrias, no norte da Espanha. Ele foi um dos primeiros casos confirmados da covid-19 na Espanha e lutava havia um mês e meio contra a doença causada pelo novo coronavírus.

O autor de Um velho que lia romances de amor (Ática) começou a se sentir mal em 25 de fevereiro, e em seguida recebeu o diagnóstico de uma pneumonia aguda sem antecedentes. Uma vez confirmado o resultado positivo para o coronavírus, o paciente foi transferido para o hospital universitário em Oviedo, a capital regional.

Autor de mais de 20 romances, livros de viagem, guias e ensaios, Sepúlveda deixou o Chile em 1977 após sofrer represálias da ditadura de Augusto Pinochet. Depois de um longo périplo pela América Latina, que incluiu sua participação na revolução sandinista da Nicarágua (também esteve na Argentina, Uruguai e Brasil), em 1977 chegou a Gijón, na província de Astúrias.

Algumas de suas obras foram adaptadas para o cinema, como História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, pelo italiano Enzo D’Alò e em versão animada, e Um velho que lia romances de amor, dirigida pelo holandês-australiano Rolf de Heer.

Sepúlveda sempre disse que tinha nascido “profundamente vermelho”. Militou em várias formações comunistas e socialistas, mas acabou desencantado. Foi um grande viajante: adorava pesquisar as diferentes culturas e etnias. “É o maior tesouro da espécie humana”, dizia sobre as idiossincrasias regionais. Com uma grande consciência ambiental, trabalhou em um dos navios do Greenpeace durante vários anos da década de 1980. Dedicou um de seus romances, Historia de un perro llamado Leal, ao povo mapuche, etnia de um de seus avós. “O povo mapuche é constantemente perseguido. Suas reivindicações, que são bastante justas, são respondidas com repressão e a aplicação de uma absurda legislação antiterrorista”, afirmou na apresentação do romance, em 2016. Seu último livro foi Historia de una ballena blanca, de 2019.

Durante sua longa carreira como escritor, recebeu cerca de 20 prêmios, entre eles o Pégaso de Ouro, em Florença, e o Prêmio da Crítica, no Chile. Era, além disso, Cavaleiro das Artes e Letras da República Francesa e doutor honoris causa pela Universidade de Urbino, na Itália.

Em um encontro com leitores do EL PAÍS, Sepúlveda definia assim o tratamento dos personagens de seus romances: “O bom romance foi a história dos perdedores, porque os ganhadores escreveram sua própria história. Cabe aos escritores sermos a voz dos esquecidos”.

Em outro momento da conversa, explicou sua técnica narrativa: “Movo-me inteiramente pela história que estou contando e gosto de ser muito fiel aos meus personagens, me apaixonar por eles, porque sei que o leitor, ao ler, vai sentir uma emoção muito parecida com a que sinto ao escrever, e isso é o mais lindo que tem a literatura, poder compartilhar emoções e poder compartilhar sensações”.

Deixa a mulher, Carmen Yáñez.



domingo, 3 de maio de 2020

Pandemia de coronavírus / Confinados sem gasolina na Venezuela

Um homem pede esmola sentado na avenida Libertador, na capital da Venezuela.
Um homem pede esmola sentado na avenida Libertador, na capital da Venezuela. 
PANDEMIA DE CORONAVÍRUS

Confinados sem gasolina na Venezuela


A grave escassez de combustível tornou ainda mais feroz a quarentena sob o regime de Nicolás Maduro. Nem sequer os trabalhadores de setores essenciais têm como se deslocar

Fotos de Andrea Hernández
2 MAI 2020



Às 7h da manhã de uma quarta-feira, com apenas três horas na fila, Freddy Herrera ainda faz planos para o dia. É técnico radiologista numa clínica privada e pela segunda vez tentava encher o tanque de 85 litros de uma Grand Cherokee ano 99, seu único carro. A caminhonete tem um número escrito a giz no para-brisa: 262. Sua esposa dormia dentro. Como trabalhador de um setor considerado essencial —o da saúde, junto com o alimentício, o funcionalismo público, os meios de comunicação e os militares—, tem direito a abastecer em alguns postos de gasolina de Caracas, que desde que começou a pandemia vive, como toda a Venezuela, uma aguda escassez de gasolina enquanto atravessa três meses de quarentena para frear a expansão da covid-19.
Herrera é diabético e hipertenso. Tem 60 anos e chega ao posto de máscara e com o macacão verde de técnico radiologista. Depois de um descanso, pretende retornar ao trabalho para ajustar os equipamentos que tiram as chapas que confirmam as pneumonias decorrentes do vírus. Ele está no grupo de risco, mas sua preocupação hoje é outra. “Se puder encher todo o tanque, poderei buscar meus filhos, que estão retidos há mais de um mês na casa dos avós em Guatire [a 50 quilômetros da cidade]. Se só me derem 20 litros, como estão dizendo, terei que esperar uma semana a mais e voltar a abastecer.” O dia está só começando.
Organizações médicas alertam sobre a escassa disponibilidade de respiradores em todo o país: não chegam a 200 unidades
Ele chegou pouco antes das 4h e, pelo número que lhe coube na fila que cerca o posto de gasolina, achou que tinha chegado tarde. Mas atrás da sua caminhonete em poucas horas se juntaram mais de 100 outros veículos. A fila se perde entre vários quarteirões em torno dos postos. Assim é desde que teve início o racionamento de gasolina. Hoje só foi suficiente para 200 carros.
Os venezuelanos, após 20 anos de revolução bolivariana, entendem muito de filas, racionamentos, listas de espera, pessoas numeradas por algum militar e mercados informais. Mas a Venezuela em quarentena também deixou cenas como a descoberta de um posto de gasolina clandestino em um bairro luxuoso de Caracas, brigas entre motoristas cansados de esperar e a fúria de um bando de motociclistas bloqueando vias expressas em sua sede por gasolina. Sem combustível, o país com as maiores reserva de petróleo parou.
A Venezuela enfrenta o coronavírus com uma grande opacidade epidemiológica, na qual chama a atenção uma reduzida capacidade de verificar os contágios, que em 20 de abril alcançavam 256 confirmados e 9 mortes. O Governo de Nicolás Maduro diz ter feito o maior número de testes na região: 25.000 por dia. Mas quase a totalidade é de testes rápidos, não recomendados para um diagnóstico conclusivo. Há apenas um laboratório capaz de processar 93 exames de PCR por dia em Caracas. Também se assegura que há 23.000 leitos disponíveis (sendo 1.200 de UTI) entre hospitais, clínicas privadas, ambulatórios e hotéis, mas organizações de médicos indicam que a disponibilidade de respiradores no país não chega a 200. Desde 17 de março se aplica uma quarentena que ficou mais severa pela grave escassez de combustível, que agora é racionado. Essa situação que, junto com a falta de insumos médicos e de proteção para o pessoal sanitário e falhas nos serviços básicos, como a água, acendeu protestos em todo o país. A companhia estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) não consegue produzir os 135.000 barris de gasolina consumidos diariamente. Na última década, uma feroz corrupção que também alimentou o contrabando e a má gestão da empresa levaram a capacidade de refino a apenas 55.000 barris nas duas refinarias que estão operacionais, das seis instaladas. O país que vendia a gasolina mais barata do mundo agora precisa importá-la e paga caro por ela.






Uma mulher cruza a avenida Bolívar em frente ao Palácio de Justiça em Caracas, Venezuela, o 26 de março de 2020.
Uma mulher cruza a avenida Bolívar em frente ao Palácio de Justiça em Caracas, Venezuela, o 26 de março de 2020. 


Sob essa tempestade, na mesma fila de gasolina com Herrera, espera José Martínez, dono de uma companhia de atendimento médico a domicílio que presta serviços à PDVSA, que lhe deve pagamentos há ano e meio. Mais perto da meta, cochilando, está Josefina Morón, enfermeira de um hospital. Saiu de um plantão para o qual teria que voltar ao anoitecer, mas ficou sem gasolina e teve que comprar dois litros de gasolina por 22 reais para conseguir chegar até o posto. À frente dela, María Dagher faz fila no lugar do filho, médico plantonista em um dos centros de referência para o atendimento dos pacientes da covid-19. “É um Deus nos acuda”, diz, tentando descrever o que seu filho testemunhou nos últimos dias. Com a senha 198 em mãos, aguardava Mercedes Pichardo, de 72 anos, bioanalista em um hospital sem água.
Maduro manobrou nos últimos anos para administrar a crise, e Caracas ainda não tinha sofrido do mal da gasolina que há anos assola o interior do país. Na capital, é longínqua a lembrança da paralisação que o setor empresarial e a oposição promoveram depois de tentar um golpe de Estado contra o projeto de Hugo Chávez e seus primeiros sinais autoritários: um calhamaço de leis habilitantes que lhe permitiriam governar por decreto e ter o controle centralizado da petroleira.
A falta de gasolina em todo o país tornou ainda mais rigoroso o distanciamento social provocado pelo novo vírus que já contaminou 197 venezuelanos, dos quais nove morreram, segundo os dados oficiais. A escassez de combustível também deixou a comida mais distante para 80% dos venezuelanos que não ganham o suficiente para comprá-la, para quem vive do que vendem a cada dia e não pode contratar um serviço de entrega a domicilio, e muito mais longe os remédios, que os doentes de câncer e Aids só conseguem após horas de viagem rodoviária até a fronteira com a Colômbia, agora cheias de controles onde são exigidos salvo-condutos.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Cenas de uma pandemia de 1.500 anos atrás que se repetem hoje


Mosaico do século VI do imperador Justiniano e sua corte, na Basílica de San Vital em Ravena.


PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Cenas de uma pandemia de 1.500 anos atrás que se repetem hoje

Pesquisa da Universidade de Barcelona destaca as surpreendentes semelhanças entre a pandemia do coronavírus e a praga de Justiniano que assolou o mundo em 541


Vicente G. Olaya
Madrid, 11 de abril de 2020



Uma pandemia que chegou do estrangeiro e que se espalhava rapidamente dos portos onde chegavam os passageiros infectados ― assintomáticos ou não ―, sem nenhum medicamento que pudesse pará-la, todos os habitantes confinados em suas casas para evitar contágios, a paralisação total da economia, o exército vigiando as ruas, médicos infectados trabalhando à exaustão, milhares de mortos diários sem enterrar durante “muitos dias porque os que cavavam já não davam conta...”. Não é a crônica do coronavírus que afeta o mundo em 2020. É o relato feito por Procópio de Cesareia sobre o surto de peste bubônica que assolou o mundo conhecido entre 541 e 544: da China às costas da Hispânia. O estudo La plaga de Justinià, segons el testimoni de Procopi (A Praga de Justiniano, segundo o Testemunho de Procópio), de Jordina Sales Carbonell, pesquisadora da Universidade de Barcelona, devolveu à atualidade esse relato de 1.500 anos atrás, com moral da história. “Em 1 de abril de 2020, determinadas semelhanças e paralelismos do comportamento humano frente a um vírus e suas consequências nos parecem tão próximas e atuais que, apesar da tragédia que estamos vivendo em primeira pessoa, nunca podemos deixar de nos maravilhar de como a história se repete” escreve a arqueóloga e historiadora do Institut de Recerca en Cultures Medievals (Instituto de Pesquisa em Culturas Medievais).

Em 541, durante o reinado do bizantino Justiniano, explodiu um surto de peste bubônica no império. “O alarme surgiu no Egito, onde a infecção se expandiu de modo rápido e letal”. Procópio falou sobre isso em seu livro História das Guerras, no qual relatou as campanhas militares de Justiniano pela Itália, África do Norte, Hispânia... e como os soldados espalhavam a pandemia pelos diversos portos em que chegavam, fundamentalmente da Europa, África do Norte, o Império Sassânida (Pérsia) e, de lá, à China.

Procópio, como conselheiro do general bizantino Belisário, a quem acompanhou em suas campanhas, se transformou assim em “testemunha privilegiada” de uma pandemia que recebeu o nome de praga de Justiniano: “Foi declarada uma epidemia que quase acabou com todo o gênero humano da qual não há forma possível de dar nenhuma explicação com palavras, sequer de pensá-la, a não ser nos remitir à vontade de Deus”, escreveu o historiador bizantino. “Essa epidemia”, continuou, “não afetou uma parte limitada da Terra, um grupo determinado de homens e se reduziu a uma estação concreta do ano [...], e sim se espalhou e se alimentou em todas as vidas humanas, por diferentes que fossem as pessoas das outras, sem excluir naturezas e idade”. Desse modo, a doença não tinha limites, “até aos extremos do mundo, como se tivesse medo de que algum recanto escapasse”.

Um ano após ser detectada, a peste chegou à capital do Império, Bizâncio (atual Istambul), “assolando-a durante quatro meses”. “O confinamento e o isolamento eram totais”, descreve Sales Carbonell, “já que era mais do que obrigatório aos doentes. Mas também se impôs uma espécie de autoconfinamento espontâneo e intuitivamente voluntário para o restante, em boa parte motivado pelas próprias circunstâncias”. De fato, “não era nada fácil ver alguém nos locais públicos, pelo menos em Bizâncio, uma vez que todos os saudáveis ficavam em casa, cuidando dos doentes e chorando os mortos”, de acordo com Procópio. E o faziam “com roupas comuns, como simples particulares”, o que a historiadora da Universidade de Barcelona traduz com certa ironia “como o moletom da época”.

A economia, enquanto isso, desabou: “As atividades cessaram e os artesãos abandonaram todos os empregos e os trabalhos dos quais se ocupavam”. Mas ao contrário de hoje em dia, as autoridades foram incapazes de organizar serviços essenciais. “Parecia muito difícil conseguir pão e qualquer outro alimento, de modo que, para alguns doentes, o desenlace final da vida foi sem dúvida prematuro, pela falta de artigos de primeira necessidade”, escreveu o bizantino em História das Guerras. “Muitos morriam porque não tinham quem cuidasse deles”, já que as pessoas responsáveis pela emergência “caiam esgotadas por não poder descansar e sofrer constantemente. Por isso, todos se compadeciam mais delas do que dos doentes”.
Vigilância nas ruas

Justiniano, pela situação desesperada, distribuiu “pelotões de guardas do palácio” pelas ruas e nomeou seu chefe de gabinete autorizado, que “com o dinheiro do tesouro imperial e até colocando de seu próprio bolso sepultava os corpos dos que não tinham ninguém que os ajudasse”. O próprio imperador se infectou, mas superou a doença e continuou governando durante mais uma década.

Os picos de mortalidade subiram de 5.000 a 10.000 vítimas por dia, e até mais. De tal maneira que, “ainda que em um primeiro momento cada um se ocupava dos mortos de sua casa, o colapso e o caos se tornaram inevitáveis e os cadáveres também eram jogados nas tumbas dos outros, às escondidas e com violência”. Mesmo os ilustres, lembra Procópio, “permaneceram insepultos durante muitos dias”, de modo que “os corpos se amontoaram de qualquer maneira nas torres das muralhas”. Não havia cortejos e rituais funerários para eles.

Quando por fim a pandemia foi superada surgiu, lembra a historiadora, um aspecto positivo: “Os que haviam sido partidários das diversas fações políticas abandonaram as críticas mútuas. Mesmo aqueles que antes realizavam ações baixas e malvadas deixaram, na vida diária, toda a maldade, uma vez que a necessidade imperiosa lhes fazia aprender o que era a honradez”, nas palavras de Procópio, ainda que após algum tempo voltaram aos velhos hábitos. “Esse ponto certo de poesia nos faz vislumbrar o otimismo e a esperança de que talvez nos permitam seguir em frente e não voltar a tropeçar novamente na mesma pedra”, finaliza a especialista com mais expectativa do que certeza.

sábado, 11 de abril de 2020

Brasil ultrapassa as 1.000 mortes, enquanto adesão ao isolamento diminui em SP, epicentro da doença



PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Brasil ultrapassa as 1.000 mortes, enquanto adesão ao isolamento diminui em SP, epicentro da doença

País registra um total de 19.638 contágios e 1.056 mortes pela doença, segundo dados desta sexta-feira. Monitoramento de celulares mostra que em São Paulo só 47% cumpriram quarentena na véspera do feriado


Pessoas com máscaras protetoras andam durante o surto de doença de coronavírus, perto do Porto de Manaus.
Pessoas com máscaras protetoras andam durante o surto de doença de coronavírus, perto do Porto de Manaus.
BRUNO KELLY  leyenda

Beatriz Jucá
São Paulo, 10 ABR 2020

O Brasil superou a marca das 1.000 mortes pelo novo coronavírus nesta sexta-feira (10), mesmo dia em que o mundo ultrapassou os 100.000 óbitos causados pela doença. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o país já registra um total de 19.638 contágios e 1.056 mortes pela Covid-19. Mas, apesar da alta constante dos números, a adesão ao isolamento social, medida apontada por especialistas como a mais eficaz para evitar a disseminação do vírus, tem diminuído em São Paulo, Estado que concentra mais casos no país, com 540 óbitos. É o que aponta uma ferramenta do Governo do Estado, que monitora a movimentação da população com base em informações das operadoras de telefonia. Nesta sexta-feira de Páscoa, dia em que o presidente Jair Bolsonaro também cumprimentou apoiadores em frente a uma farmácia de Brasília, o Governo paulista anunciou que o índice de isolamento social caiu 12,9% na quinta. No feriado, as ruas da capital também estavam mais cheias que o habitual dos últimos dias.

Segundo os dados do Governo de São Paulo, o índice de isolamento na última quinta-feira, véspera de feriado, foi de 47%. O levantamento referente a sexta-feira do Sistema de Monitoramento Inteligente só devem ser divulgados no sábado. Especialistas que ancoram as decisões da gestão estadual afirmam que é preciso que a medida tenha a adesão de 70% para trazer resultados mais efetivos e achatar a curva epidemiológica. “Se a taxa continuar baixa, o número de leitos disponíveis no sistema de saúde não será suficiente para atender a população”, diz o Governo, por meio de nota. O dado desta quinta-feira é menor que o registrado na quinta anterior (3 de abril), quando 54% da população estavam em distanciamento social.



A gestão de João Doria já afirma que com base nos registros poderá endurecer as medidas de distanciamento social e, inclusive, começar a prender pessoas que descumpram a quarentena a partir de segunda-feira (13). O Estado decretou o fechamento dos comércios a partir do dia 24 de março para tentar restringir a circulação de pessoas. Mas, nesta sexta-feira de feriado, diversas pessoas se aglomeraram na avenida Paulista, seja para protestar contra as medidas, seja para praticar exercícios físicos na ciclovia. O Governo tem feito uma campanha com disparo de mensagens pelo celular para alertar que as pessoas fiquem em casa e evitem aglomeração.

No momento, São Paulo, Distrito Federal e outros quatro Estados —Amazonas, Amapá, Ceará, Rio de Janeiro— estão na iminência de entrar em uma fase mais aguda da doença, quando há aceleração descontrolada do contágio. Estes locais têm uma incidência de casos confirmados 50% maior que a média nacional, quando considerada a taxa proporcional ao tamanho de suas populações. No último boletim epidemiológico da pasta, os Estados de Roraima e Santa Catarina foram colocados em posição de alerta, porque a taxa de incidência da Covid-19 já supera a nacional, ainda que não alcance esses 50% a mais que ela.



Nos últimos dias, o Ministério da Saúde também começou a divulgar o coeficiente de mortalidade da doença por Estado. No documento divulgado nesta sexta-feira pela pasta, apresentam os maiores índices, respectivamente: Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará. Todos eles apresentam a taxa de mortes de Covid-19 por 100.000 habitantes superior ao índice do país. Os números servem de alerta, inclusive para medir a necessidade de resposta do sistema de saúde em cada região, já que o Brasil, por seu tamanho, possui um sistema de saúde assimétrico.
Sistemas de saúde em alerta

Ainda que o Brasil não tenha entrado na fase de contágio desenfreado da doença, o elevado número de casos graves da Covid-19 já pressiona os sistemas de saúde. Na ponta, Estados e municípios correm contra o tempo para tentar ampliar suas estruturas de atendimento ―em especial as UTIs, onde são tratados os casos mais graves. O isolamento social tem sido adotado para que os gestores tenham tempo de reorganizar suas redes e ampliar o número de leitos e equipamentos num contexto de escassez global de insumos. E já há Estados atuando num limite crítico. O Amazonas declarou que cerca de 95% de seus leitos já estão em uso. O Ceará, por sua vez, diz que atua com 85% dos leitos de cuidados intensivos ocupados. As capitais desses dois Estados, Fortaleza e Manaus, receberão auxílio do Governo Federal para conseguir ampliar minimamente suas redes.


Um plano de distribuição de 60 respiradores foi iniciado nesta sexta-feira pelo Ministério da Saúde. Um total de 30 deles já foi enviado para Fortaleza. A previsão da pasta é que 20 equipamentos cheguem neste sábado (11) em Manaus. Os dez restantes devem ser enviados também neste sábado a Macapá, cuja velocidade de disseminação chamou a atenção, segundo o secretário executivo do ministério, João Gabbardo. Especialmente as capitais brasileiras estão em uma corrida contra o tempo para ampliar a estrutura e conseguir dar atenção médica aos casos mais graves da doença. A estrutura necessária não é simples. Além de camas e respiradores, é preciso garantir equipamentos de ventilação mecânica e mão de obra qualificada para manejar clinicamente esses pacientes, carências admitidas nos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde em meio à disputa global por insumos.

“A distribuição [dos 60 respiradores] levou em conta aquilo que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chama de espiral da epidemia, isto é, onde a transmissão está se dando em velocidade maior e, portanto, há mais doentes indo aos hospitais ao mesmo tempo e ocupando toda a capacidade de assistência do sistema de saúde”, informa a pasta.




segunda-feira, 6 de abril de 2020

O casal de 88 anos que superou junto o coronavírus

José e Guadalupe, casal recuperado da Covid-19 em sua casa de Villanueva de la Torre, na Espanha.foto de ÁLVARO GARCÍA


O casal de 88 anos que superou junto o coronavírus

Internados no mesmo quarto, os espanhóis Guadalupe e José receberam alta há poucos dias


Manuel Jabois
Madrid, 6 abr 2020

Passaram-se 70 anos desde que um dia, nas festas de Valdelageve (província de Salamanca, noroeste da Espanha), José Prieto Cerrudo subiu numa mula. Tinha chegado ao povoado com seu irmão procedente de Béjar, a 30 quilômetros, para ganhar um pouco de dinheiro nas festas. Ele tocava clarinete, e seu irmão, pratos. José viu a mula e montou-a para chamar a atenção de Guadalupe Matas Hernández, que tinha ido à quermesse com uma amiga. “A mula se chama Cana, e é minha”, disse ela. Com o rapaz em cima, o animal se jogou para frente abaixando a cabeça, e José saiu voando e se espatifou. Assim se conheceram Guadalupe e José, que começaram a se falar, primeiro em passeios, e depois através de cartas, porque Guadalupe, como muitas garotas do vilarejo, foi ser empregada de uma família em Madri. Casaram-se finalmente em 1955, tiveram sua primeira filha naquele ano, depois a segunda, depois a terceira, e continuaram tendo bebês à espera do menino que José queria. “Olha o que você arrumou por querer um menino”, disse-lhe ela um dia. Era 1971. Guadalupe e José eram pais de sete meninas.

As sete mulheres (Maite, Rosi, Irene, María José, Pilar, Maika e Bea) estiveram em vigília até a segunda-feira, 30 de março, quando seus pais saíram do hospital e puderam retornar à sua casa em ViIlanueva de la Torre (Guadalajara). Guadalupe e José têm 88 anos (ele completa 89 neste mês) e superaram o coronavírus. E isso numa fixa etária em que a Covid-19 registra na Espanha uma letalidade de 22,2%, e com a agravante de que José sofreu um AVC em 2012 que o deixou com graves sequelas físicas. Foi ele quem deu a voz de alarme em 4 de março, quando começou a tossir mais do que o habitual. “No dia seguinte o levei ao médico e lhe receitou antibióticos”, diz Rosi, uma das filhas.

Em 8 de março houve uma grande festa familiar na casa dos Prieto-Mata: Guadalupe e José completaram 65 anos de casados. Ele continuava tendo febre e dor de cabeça dias depois, apesar dos antibióticos. Foi ao hospital de Alcalá, onde se decidiu por sua internação no hospital da Cruz Vermelha de Madri. Era 14 de março, um sábado, primeiro dia de confinamento na Espanha. Ele tinha dado resultado positivo num exame de coronavírus.

Para não ficar sozinha, Guadalupe se mudou para a casa de uma das filhas em Madri. Lá começou a ter os mesmos sintomas que seu marido e acabou sendo internada, também com positivo de coronavírus, no hospital da Cruz Vermelha. Os dois se encontravam em diferentes andares. “Sentiam falta um do outro, não sabem estar separados. Meu pai, sobretudo. Meu pai é muito sensível, precisa que ela esteja com ele”, diz Rosi. José pediu, por favor, que Guadalupe ficasse no mesmo quarto. Seu médico, Jesús Lacasa, concordou.

Geralmente, se um dos dois pacientes (ou ambos) se encontra em estado muito grave, os médicos preferem não juntá-los: a ideia de que o estado de um deles piore e tenham que separá-los, mais a incerteza de não saber o que está acontecendo, é demolidora. Mas não foi o caso. “Quando estão em quartos diferentes, a pessoa fica o tempo todo pensando como está o seu cônjuge. São casais que passaram a vida inteira juntos, sabem que o outro está mal e nem se preocupa consigo mesmo, só lhe importa como estará o outro, e não saber desespera. Nossa política é reuni-los sempre que seu estado de saúde, dentro da enfermidade, não acarrete riscos. Neste caso, Guadalupe estava melhor e mais ativa que José, que estava mais doente”. Tanto é que, quando puderam lhe dar alta, respondeu que só sairia de lá com o marido.

Idosos também se curam. A maioria. Mas como é o retorno? “Se for uma pessoa que volta para um entorno familiar, ou com seu cônjuge, onde nada mudou, voltará com mais força e com mais alegria porque volta para seu entorno. É uma geração muito dura que superou desde uma guerra civil até a fome, a miséria, a morte de irmãos...”, diz o chefe de Geriatria do Hospital da Cruz Vermelha, Javier Gómez Pavón. Sua unidade deu alta nos últimos dias a dezenas de pessoas com idades que, em alguns casos, chegam a 90 anos.

Ou até mais. É o caso de Adoración González García, uma mulher de Sisterna (Astúrias, norte da Espanha) que tem 96 anos. Viúva de Manuel Gavela e mãe de três filhos, Ramón, Antonio e Mari Carmen. Boa saúde, ativa, fazia ginástica até alguns anos atrás. Há algumas semanas caiu da cama na residência para idosos de Meco, onde vive, e a pequena ferida a levou ao pronto-socorro. Lá, após fazer o exame, deu resultado positivo para coronavírus. Entre pessoas com mais de 90 anos, 26,7% dos pacientes com esse diagnóstico morrem. Não Adoración, uma mulher que em 1948 migrou sem um tostão das Astúrias para Madri com seu marido, criou três filhos e aprendeu o ofício de cabeleireira para montar um salão no passeio de Extremadura, a Peluquería Dora. Viu boa parte do século XX passar e está assistindo ao XXI. “Entenda, nos preparamos para o pior. Havia certa probabilidade de que falecesse. Mas sempre teve boa saúde, tinha bons exames. Nosso pai também morreu idoso, com a idade que tem ela agora”, diz seu filho Ramón.

Adoración retornou à residência e lá se encontra em quarentena desde a sua alta, esperando poder receber a visita da sua família. A vez dela ainda não tinha chegado. O EL PAÍS entrevistou Adoración em 2009 porque naquele ano fazia seis décadas que ela frequentava as filas das liquidações. “Eu, que sou o mais velho, ela me acordava às cinco da manhã para ir às liquidações quando eu era muito pequeno. Lembro de me aquecer na fila da Galerias Preciados, sempre um dos primeiros, com uma fogueira improvisada por outros que também estavam esperando”, diz Ramón.

José e Guadalupe, que agora vivem confinados no andar superior da sua casa, saíram neste domingo à janela para posar para o fotógrafo deste jornal. “Também achamos que as coisas podiam não sair bem, sobretudo por meu pai, que já estava mal. Mas é possível, claro que sim: a maioria pode”, diz sua filha Rosi.

Quando José se casou com Guadalupe, foram viver na casa dos pais dele, onde também moravam seus oito irmãos. Eram 12 vivendo ali. E ele foi embora para Madri, recomendado no aeroporto por um tio dele; em Barajas trabalhou como sinalizador e carregador de bagagens. Também vendia roupa pelos povoados, e vendia ouro. “Trabalhou a vida toda do que desse e fosse preciso para nos sustentar, ele fora e ela dentro, porque mamãe teve que se ocupar de nós sete”, diz Rosi, que recorda o conselho que dá aos seus pais nos almoços familiares: “Sempre digo que tinham que ter parado na segunda, que por acaso sou eu. A terceira diz que, para ela, três seria o número perfeito. A quarta acredita que com quatro bastava…”.