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domingo, 15 de outubro de 2023

Louise Glück / Matinas

Louise Glück



Louise Glück
Matinas

Pai inalcançável, quando nós fomos originalmente
expulsos do paraíso, você criou
uma réplica, um lugar de alguma maneira
diferente do paraíso, sendo
planejado para ensinar uma lição: por outro lado
a mesma – beleza em cada lado, beleza
sem alternativas – Exceto que
por não sabermos qual era a lição. Deixados sós,
nós exaurimos uns aos outros. Seguiram-se
anos de trevas; nos revezamos
trabalhando no jardim, as primeiras lágrimas
encheram nossos olhos conforme a Terra
ficou turva com pétalas, algumas
vermelho-escuras, outras cor de carne –
Nós nunca pensamos em você
a quem aprendíamos a venerar.
Nós apenas sabíamos que não é da natureza humana amar
somente aquilo que retribui o amor.



domingo, 25 de outubro de 2020

Louise Glück / Gratidão



Louise Glück

Gratidão

Não pense que não sou grata por tuas pequenas
gentilezas.
Gosto de pequenas gentilezas.
De fato as prefiro à gentileza mais
substancial, que está sempre a te cravar os olhos,
feito um grande animal sobre o tapete
até que tua vida inteira se reduza
a nada além de levantar manhã após manhã
embotada, e o sol luminoso rebrilhando em seus caninos.




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Louise Glück / Itaca



Louise Gülck

⁠Ítaca

O ser amado não 
precisa viver. O ser amado
vive na cabeça. O tear
é para os pretendentes, suspenso
como uma harpa de brancos filamentos.
Ele era duas pessoas.
Era corpo e voz, o fácil
magnetismo de um homem vivo, e então
o sonho revelado ou a imagem
formada pela mulher manejando o tear,
ali sentada num salão cheio
de homens de mentes literais.
Se te causa pena
o mar enganado que tentou
levá-lo para sempre
e devolveu apenas o primeiro,
o verdadeiro marido, deverias
sentir pena desses homens: eles não sabem
para o que estão olhando;
eles não sabem que quando alguém ama dessa maneira
o manto se torna um vestido de casamento.


sábado, 17 de outubro de 2020

Louise Glück / Lamium

 


Louise Glück

Lamium


É assim que se vive com um coração frio. 
Como eu vivo: nas sombras, rastejando sobre pedras frias,
sob as grandes árvores de bordo.

O sol mal me toca. 
Às vezes o avisto no início da primavera, nascendo bem ao longe.
Folhas nascem a recobri-lo, ocultando-o por completo. Posso senti-lo
reluzir por entre as folhas, errático,
como quem que bate na lateral de um copo com uma colher metálica.

Nem tudo o que é vivo requer 
o mesmo nível de iluminação. Alguns de nós
produzimos nossa própria luz: uma folha dourada
como um caminho que ninguém pode trilhar, um raso
lago de prata na escuridão sob os grandes bordos.

Mas disso você já sabe. 
Você e os outros que pensam
que vivem pela verdade, e por isso, amam
tudo o que é frio.




quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Louise Glück / A íris selvagem

 


Louise Glück

A ÍRIS SELVAGEM

Louise Glück / El iris salvaje


No fim do meu sofrimento
havia uma saída.

Ouça-me: do que você chama de morte,
eu me lembro.

Acima, ruídos, ramos de pinheiros se movendo.
Depois, nada. O sol fraco
cintilou sobre a superfície seca.

É terrível sobreviver
como consciência
sepultada sob a terra escura.

E então acabou: aquilo que você mais teme, sendo
uma alma e impossibilitada
de falar, terminando abruptamente, a terra dura
cedendo um pouco. E o que me pareceu serem
pássaros se movendo por entre os arbustos rasteiros.

Você que não se lembra
da passagem do outro mundo
eu lhe digo o que poderia falar vezes sem conta: o que quer que
retorne do esquecimento retorna
para encontrar uma voz:

do centro da minha vida surgiu
uma grande fonte, profundas
sombras azuis na água azul do mar.





quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Louise Glück / Confissão



Louise Glück

Louise Glück

Confissão

Louise Glück / Confesión


Dizer eu não tenho medo – 
Não seria certo.
Tenho medo da enfermidade, da humilhação.
Como todos, tenho meus sonhos,
Mas aprendi as escondê-los
Para proteger-me
De toda a consumação: toda felicidade
Atrai a ira das Parcas.
São irmãs, selvagens –
No final, não tem
Outra emoção apenas inveja.




segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Louise Glück / O espelho

 


Louise Glück

O Espelho


Olhando-te no espelho eu pergunto
como é sentir-se tão belo
e porque em vez de amar-te a ti mesmo
te cortas, barbeando-te
como um cego. Creio que me deixas observar
de modo que possas voltar-te contra ti mesmo
com maior violência,
precisando mostrar-me como arranhar a carne
desdenhosamente e sem hesitação,
até que te vejo corretamente,
como um homem sangrando, não
o reflexo que eu desejo.





sábado, 10 de outubro de 2020

Louise Glück conquista o Nobel de Literatura 2020

 

Louise Glück


Louise Glück conquista o Nobel de Literatura 2020

Academia Sueca reconhece o trabalho da norte-americana, considerada uma das escritoras mais talentosas de sua geração. É a primeira mulher poeta a ganhar o Nobel desde a polonesa Wislawa Szymborska, em 1996


Juan Carlos Galindo

Madri, 8 oct 2020


A poeta norte-americana Louise Glück (Nova York, 77 anos) ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 2020 por sua “inconfundível voz poética, que, com uma beleza austera, torna universal a existência individual”. Glück é a primeira mulher poeta a receber o Nobel desde a polonesa Wislawa Szymborska, em 1996. “Em seus poemas, o eu ouve o que resta de seus sonhos e ilusões, e ninguém pode ser mais duro do que ela para enfrentar as ilusões do eu”, disse a Academia Sueca sobre Glück. Seus temas são a infância e a vida familiar, através da qual busca o universal. Os mitos e motivos clássicos são duas ferramentas presentes na maioria das suas obras para expressar essas sensações.

A escritora sucedeu os dois vencedores do ano passado, a polonesa Olga Tokarczuk (Nobel de Literatura 2018, ano em que não foi entregue o prêmio) e o dramaturgo e escritor austríaco Peter Handke (2019). Em 2017, a instituição que concede o prêmio Nobel se viu envolta num escândalo tão grande que a obrigou a suspender a premiação no ano seguinte. Em 2019, a entrega do prêmio a Handke, um autor cujas opiniões causaram repúdio na comunidade literária, envolveram novamente a academia em polêmicas.

Nascida na cidade de Nova York, a nova Nobel de Literatura cresceu em Long Island e se formou em 1961 na escola secundária George W. Hewlett. Posteriormente frequentou a faculdade Sarah Lawrence, em Yonkers (Estado de Nova York) e a Universidade Columbia. Ganhou o Prêmio Pulitzer de poesia em 1993 por sua coletânea The Wild Iris (“a íris selvagem”), e o Prêmio Nacional do Livro em 2014. “Virei uma velha. / Acolhi com gosto a escuridão / que tanto temia”, escreveu em Vita Nova.

A autora —inédita no Brasil— é considerada uma das poetas mais talentosas da sua geração, por sua “excepcional capacidade de fazer que a experiência seja assumida como própria por um leitor surpreso com a intensa percepção de poemas que iluminam acontecimentos absolutamente comuns”, como disse o crítico Andrés Ortega em uma resenha de The seven ages, publicada neste jornal. Sua primeira obra, Firstborn (1968), a fez ser aclamada como uma das poetas mais destacadas da literatura contemporânea do seu país. Com livros como The triumph of Achilles (1985) e Ararat (1990) ficou conhecida fora dos Estados Unidos. Averno (2006) é, na opinião da Academia Sueca, “uma coletânea magistral, uma interpretação visionária do mito da descida de Perséfone ao inferno no cativeiro de Hades, o deus da morte”. O júri ressalta também o valor da última coletânea de Louise Glück, Faithful and virtuous night (2014). Mas Glück não escreve só poesia. Segundo o secretário permanente da academia, Ander Olsson, em seus ensaios ela dialoga com outros poetas cruciais da língua inglesa, como T. S. Eliot e John Keats.

A escritora Louise Glück.THE POETRY FOUNDATION

Turbulências em Estocolmo

Os dois últimos anos foram turbulentos em Estocolmo. Em 2018, a Academia Sueca —envolvida num escândalo sexual e de vazamento dos nomes dos premiados, que desembocou na demissão de vários de seus membros— optou por não conceder o prêmio e se submeter a um processo de reflexão e mudanças. No ano passado, a concessão do Nobel a Handke, um autor que tinha estado em muitos bolões de aposta, mas que parecia impossível de ser premiado por seu apoio ao líder sérvio Slodoban Milosevic durante a guerra da Iugoslávia, desatou novas tormentas.

Todos esses antecedentes levaram muita gente a crer que em 2020 o prêmio seria dado a uma pessoa de reconhecido prestígio e que não gerasse polêmicas. Nas últimas semanas, não houve a tradicional chance de espalhar rumores e especulações nos corredores da Feira de Frankfurt, cancelada devido à pandemia de coronavírus, mas mesmo assim as apostas, bolões e palpites não desapareceram absolutamente. Na casa de apostas Ladbrokes, a escritora Maryse Condé (Guadalupe, Caribe, 83 anos) encabeçava a lista de favoritos, seguida muito de perto por Liudmila Ulitskaya (Rússia, 77 anos). Mas voltaram a errar.

Em 2015, o então presidente dos EUA, Barack Obama, condecorou a poetisa Louise Gluck por sua contribuição com a cultura norte-americana.Em 2015, o então presidente dos EUA, Barack Obama, condecorou a poetisa Louise Gluck por sua contribuição com a cultura norte-americana.ALEX WONG /


Prêmios desiguais


Até 2020 foram entregues 113 prêmios Nobel nesta categoria (apenas um deles concedido a um autor de língua portuguesa, José Saramago). Entre mais de uma centena de premiados, apenas 16 eram mulheres. A idade média dos vencedores é de 65 anos, sendo Ruyard Kipling o mais jovem (41 anos) e Doris Lessing a mais idosa (88 anos).

Entre os ganhadores recentes do Nobel de Literatura se encontram, além dos dois do ano passado, Kazuo Ishiguro (2017, Reino Unido), Bob Dylan (2016, Estados Unidos), Svetlana Aleksievich (2015, Belarus), Patrick Modiano (2014, França), Alice Munro (2013, Canadá), Mo Yan (2012, China), Tomas Tranströmer (2011, Suécia) e Mario Vargas Llosa (2010, Peru).

COMO É ESCOLHIDO O NOBEL DE LITERATURA

A Academia Sueca se ocupa da seleção dos candidatos ao Nobel de Literatura e conta com 18 membros. O comitê do Nobel de Literatura, composto por quatro ou cinco membros, é o órgão que avalia as indicações e faz suas recomendações à Academia. Nesse comitê, presidido pelo professor Anders Olsson, estão os escritores Per Wästberg e Jesper Svenbro, e se somaram três especialistas externos: Mikaela Blomqvist, Rebecka Kärde e Henrik Petersen. O prazo para apresentar as indicações, que podem ser feitas por outros premiados, outras academias e professores, começa em setembro e vai até 31 de janeiro. Em abril restam 15 a 20 candidatos, e em maio a lista é reduzida a cinco, selecionados pelo comitê. Junho, julho e agosto são usados na leitura da obra desses finalistas, e em setembro os membros da Academia deliberam e discutem. O prêmio é anunciado em outubro e entregue em dezembro.


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