sábado, 17 de outubro de 2020

Louise Glück / Lamium

 


Louise Glück

Lamium


É assim que se vive com um coração frio. 
Como eu vivo: nas sombras, rastejando sobre pedras frias,
sob as grandes árvores de bordo.

O sol mal me toca. 
Às vezes o avisto no início da primavera, nascendo bem ao longe.
Folhas nascem a recobri-lo, ocultando-o por completo. Posso senti-lo
reluzir por entre as folhas, errático,
como quem que bate na lateral de um copo com uma colher metálica.

Nem tudo o que é vivo requer 
o mesmo nível de iluminação. Alguns de nós
produzimos nossa própria luz: uma folha dourada
como um caminho que ninguém pode trilhar, um raso
lago de prata na escuridão sob os grandes bordos.

Mas disso você já sabe. 
Você e os outros que pensam
que vivem pela verdade, e por isso, amam
tudo o que é frio.




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