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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

“Já não sou eu” / Os últimos dias de Robin Williams


Robin Williams em uma foto promocional tirada em 2013, um ano antes de sua morte.
Robin Williams em uma foto promocional tirada em 2013, um ano antes de sua morte.

“Já não sou eu”: os últimos dias de Robin Williams, um gênio que estava se quebrando por dentro

O ator se suicidou apenas seis meses depois de começar a notar os sintomas da demência com corpos de Lewy, uma doença que ele nunca soube que sofria. Um novo documentário nos apresenta os últimos dias de um dos comediantes mais brilhantes da história




Juanjo Villalba
22 sep 2020

Você pode imaginar a dor que ele deve ter sentido quando percebeu que sua mente estava se desintegrando? E além disso, devido a algo desconhecido", diz Susan Schneider Williams, viúva de Robin Williams, no novo documentário que narra os últimos meses de sua vida, Robin’s Wish (“o desejo de Robin”), dirigido por Tylor Norwood.

Na manhã de 11 de agosto de 2014, Susan se levantou logo e, como sempre, esperava encontrar Robin já de pé, andando pela casa e disposto a praticar uma hora de meditação. Já fazia meses que era evidente que algo não estava bem na cabeça de seu marido. Williams tinha dificuldades para atuar, para lembrar suas falas, para se relacionar com seus amigos e sair de casa, dormia muito mal, seu braço esquerdo não respondia, e ficava obcecado com coisas absurdas —como uma noite em que se convenceu de que um de seus melhores amigos, o comediante Mort Sahl, ia morrer antes do amanhecer e ligou insistentemente para ele, com o consequente desespero porque não obtinha resposta. Mort continua vivo; naquele dia, estava dormindo.

A meditação era uma das poucas coisas que o ajudavam a se sentir melhor. “Meditávamos juntos todas as manhãs. Quando me levantei e vi que a porta do quarto dele ainda estava fechada, pensei: ‘Meu Deus, está dormindo! É um ótimo sinal’”, conta Susan no documentário. “Então chegou o assistente dele, porque tinham trabalho a fazer e já era hora de sair, e eu lhe disse: ‘Mande-me uma mensagem quando ele acordar’. Logo depois, recebi uma que dizia: ‘Ainda não se levantou, o que devo fazer?’”, prossegue. “Aí vi que tinha algo errado, muito errado. Respondi: ‘Acorde-o imediatamente e me chame’. Ele me chamou e…”.

Robin Williams se enforcou durante aquela noite em um armário do quarto em que dormia sozinho devido a seus problemas de insônia e ao fato de que, por sua doença, tinha alucinações que o faziam gritar de madrugada. Quando a notícia foi divulgada, o bairro tranquilo em que viviam no norte de San Francisco, onde Williams gostava de se comportar como qualquer outro morador, foi tomado por jornalistas, câmeras de televisão, caminhões com antenas enormes e até um helicóptero que fazia imagens aéreas da área. Nas semanas seguintes, a mídia não parou de especular sobre as causas do suicídio: drogas, depressão, transtorno bipolar e bancarrota.

Desde a morte de Robin Williams, sua viúva, Susan Schneider Williams, promove ações de conscientização sobre a demência com corpos de Lewy.
Desde a morte de Robin Williams, sua viúva, Susan Schneider Williams, promove ações de conscientização sobre a demência com corpos de Lewy. 



Ninguém tinha razão, mas ainda há pessoas que pensam que essas coisas tiveram algo a ver. O documentário não se detém muito nas especulações da mídia após a morte de Williams. Enfoca o que ocorreu alguns meses depois, em outubro de 2014, quando Susan recebeu o resultado da autópsia e descobriu que, na verdade, a causa de tudo aquilo foi a demência com corpos de Lewy.

“A demência com corpos de Lewy é uma doença devastadora”, resume no documentário o médico Bruce Miller, diretor do Centro de Memória e Envelhecimento da Universidade da Califórnia em San Francisco, que tratou pessoalmente do caso do ator. “É letal e evolui rapidamente. Analisando como afetou o cérebro de Robin, descobri que foi o caso mais agressivo de Lewy que já vi em todos os meus anos de carreira. Praticamente todas as áreas de seu cérebro tinham sido afetadas. É realmente surpreendente que pudesse se mover e caminhar”. Ele finaliza: “As pessoas com cérebros excepcionais, que são incrivelmente brilhantes, costumam resistir e tolerar melhor as doenças degenerativas do que as que têm um cérebro normal. Isso demonstra que Robin Williams era um gênio”.

Essa doença se caracteriza pelo acúmulo de uma proteína em determinadas áreas do cérebro, formando placas (os chamados corpos de Lewy) bastante semelhantes às que podem ser observadas nas doenças de Alzheimer e de Parkinson, ambas com sintomas muito similares. Esses acúmulos fazem com que o cérebro não funcione corretamente. “Quando li os sintomas: mudanças de humor, problemas de movimento, depressão, medos, ansiedade, alucinações, problemas de sonho, paranoia…”, comenta Susan sobre esse momento em que percebeu que tudo se encaixava. “Se simplesmente tivéssemos sabido o nome da doença que Robin tinha, só isso já teria lhe dado um pouco de paz”. Mas esse tipo de demência só pode ser diagnosticado depois da morte do paciente.

“Ele estava muito frustrado. Lembro que me disse: ‘Já não sou eu. Não sei o que está acontecendo comigo. Já não sou eu’”, conta Shawn Levy, diretor de Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba, seu último filme, que foi um inferno para o ator. “Quando estávamos com um mês de rodagem, era evidente que algo estava acontecendo com ele. Sua mente já não funcionava com a mesma velocidade. Sua chispa tinha se apagado. Tivemos de reformular algumas cenas para que pudesse gravá-las, foi mais trabalhoso para mim, mas faria qualquer coisa por Robin”.

“Ele sofreu muito durante a filmagem”, continua Levy. “Telefonava às dez da noite, às duas, às quatro da manhã, perguntando: ‘O que gravamos hoje poderá ser usado? Estou indo bem?’. Eu tinha de tranquilizá-lo o tempo todo, dizia-lhe: ‘Você continua sendo você, todo mundo sabe. Não se esqueça disso, por favor’”.

O legado do ator

O legado de Robin Williams é vasto e vai muito além dos filmes e de seu trabalho como ator. Desde o começo de sua carreira, dedicou-se a visitar hospitais (não parece coincidência que tenha interpretado o médico Patch Adams), organizou eventos beneficentes em favor da alfabetização e dos direitos das mulheres, e viajou ao Afeganistão, ao Iraque e a outros 11 países para animar as tropas americanas enviadas para lá.

Para o grande público, entretanto, Williams será lembrado por suas interpretações como o gênio de Aladdin, o professor de Sociedade dos Poetas Mortos, O Pescador de Ilusões e Uma Babá Quase Perfeita. “Acompanhei Robin por dois dias nas sessões de dublagem de Aladdin e vê-lo trabalhar fazendo todos aqueles personagens foi incrível”, conta o ator Stanley Wilson, amigo de Williams. “Estava fora de si, estava tão feliz! Dizia aos técnicos: ‘Espere, vamos fazer outra tomada. Tenho uma ideia e acho que o posso fazer melhor’. ‘O que você quer dizer com isso de que pode fazer melhor?’, respondiam eles, chorando de tanto rir”.

“Algumas das coisas mais divertidas dos filmes Uma Noite no Museu são ideias que Robin teve na hora. Havia muita improvisação”, destaca Shawn Levy. “Às vezes, Ben Stiller e eu nos olhávamos alucinados por estar vendo Robin Williams em todo seu esplendor. Essa espécie de loucura, incrivelmente criativa, um poço sem fundo de ideias, essa capacidade, era como um superpoder”.

Depois que soube a causa real da morte de Robin, sua mulher, Susan, percorreu os estúdios de televisão mais importantes dos Estados Unidos para contar a verdade sobre a morte de seu marido e também para conscientizar o grande público sobre a demência com corpos de Lewy, uma tarefa à qual continua dedicando todos os seus esforços e que também é um dos motivos fundamentais da gravação deste documentário, filmado em colaboração com várias associações médicas dos EUA.

“O cérebro é uma glândula extraordinária. Quando você acha que conseguiu entendê-lo, ele surge com algo novo”, diz Robin Williams em uma das entrevistas que aparecem no documentário. Em vários outros momentos do filme, aparecem fragmentos nos quais o comediante fala de uma ou outra forma sobre cérebro, sobre como nos surpreende, como nos deslumbra. É como se o assunto o obcecasse, e o fato é que, desde que a doença começou a lhe causar sérias dificuldades até o momento em que decidiu acabar com a própria vida, passaram-se apenas seis meses. Seu cérebro era sua ferramenta, seu superpoder, e Williams não conseguiu suportar que parasse de funcionar como sempre.

EL PAÍS





domingo, 2 de outubro de 2016

Robin Williams, Philip Seymour Hoffman y Lauren Bacall / Brinquedos quebrados e irrompíveis

Robin Williams

Brinquedos quebrados e irrompíveis

Williams, Seymour Hoffman e Bacall demonstraram que o melhor efeito especial é o talento do ator


EL PAÍS
17 AGO 2014 - 17:00 COT

MARCOS BALFAGÓN
Morto Robin Williams e com Philip Seymour Hoffman (um dos melhores atores de sua geração) ainda na memória, voltou o cansativo bordão do brinquedo quebrado. Quando não se tem nada para dizer sobre o trabalho profissional de um ator que acaba de morrer se ressuscita o título do filme de Summers e tudo já está dito. O caso é que nem Williams nem Seymour Hoffman se encaixavam no clichê. Eram atores respeitados, com projetos em marcha e vultosa remuneração. Williams explorou com notável êxito suas qualidades de homem orquestra da interpretação e Seymour Hoffman demonstrou (em Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto ou Tudo Pelo Poder, por exemplo) que o melhor efeito especial é o talento do ator. A máquina de Hollywood trabalha assim: espreme o talento de seus atores (dos que têm gênio), exacerba suas depressões e destila delas o instante de uma interpretação insuperável. Não é que sejam brinquedos quebrados; é que têm de ser quebradiços para que o cinema obtenha a mais-valia do ator na tela. Boa parte da história de Hollywood foi tecida com desertos de drogas, oceanos de álcool e galáxias de sexo (leia Hollywood Babilônia, de Kenneth Anger); é, no final, o húmus que aduba a colheita.
Philip Seymour Hoffman

Mas, claro, outra parte do catálogo do ator é irrompível. Pode ser por sorte, porque estão bem acompanhados ou porque esse era o destino assinalado por seu caráter. É o caso de Lauren Bacall, falecida depois de uma vida sem acidentes dignos de nota. Tinha o olhar oblíquo (lateral ou vertical, a escolher) e sardônica, sorriso de superioridade e fragilidade escorregadia. Um Dashiell Hammet preguiçoso disse que era feita da matéria das fantasias. Construiu sem dificuldade dois ou três filmes memoráveis (a saber, À Beira do AbismoPalavras ao Vento e Teu Nome é Mulher) e se deixou balançar até o fim dos seus dias pela recordação associada a Humphrey Bogart.
Lauren Bacall

Infelizmente, será lembrada pela frase submissa em Uma Aventura na Martinica: “Se precisar de mim, assobie”. Merece uma lembrança melhor. Como a estampada pelo próprio Bogart em À Beira do Abismo: “O senhor não é muito alto” (esse fato incomodava muito Humphrey). A resposta é a de um homem experiente em mil confusões verbais: “Fiz o que pude”. E ficou com a garota.

sábado, 1 de outubro de 2016

A carta comovente da viúva de Robin Williams



Robin Williams e sua mulher, Susan Schneider, em 2009. CORDON PRESS

A carta comovente 

da viúva de Robin Williams

“Não tinha poder para ajudá-lo a ver sua própria genialidade”, diz Susan Schneider

Ele fala dos sintomas da demência com corpos de Lewy da qual sofria o ator



EL PAÍS
Madri 30 SET 2016 - 17:50 COT
Desde que Robin Williams se matou, em agosto de 2014, foram poucas as vezes que sua viúva falou sobre ele em público. Agora, Susan Schneider publicou uma carta comovente na revista Neurology sobre a doença neurológica da qual sofria o ator, e que foi um dos motivos que o levaram a cometer suicídio aos 63 anos. Intitulada O terrorista dentro do cérebro do meu marido, a artista fala sobre a demência com corpos de Lewy, uma doença neurodegenerativa que afeta a memória e as habilidades motoras, e destruiu a vida de um dos atores mais amados de Hollywood, que também sofria da doença de Parkinson.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Robin Williams deixou bilhetes que anunciavam sua morte

Robin Williams
Robin Williams deixou bilhetes 

que anunciavam sua morte

“É hora de ir embora” e “acabei com tudo” são algumas das mensagens

    Robin Williams.
    Robin Williams. / CORDON PRESS
    O suicídio de Robin Williams continua presente entre familiares e fãs com a proximidade do primeiro aniversário da morte do ator. Williams se matou em agosto do ano passado e, com a chegada desse triste aniversário, os veículos de comunicação dos Estados Unidos publicaram os bilhetes que o protagonista de Sociedade dos Poetas Mortos foi deixando por sua casa à vista de todos anunciando suas intenções de suicidar-se. “É hora de ir embora” e “acabei com tudo” são algumas das mensagens que o ganhador do Oscar por Gênio Indomável espalhou estrategicamente por sua residência para que sua esposa e filhos as encontrassem.
    Conhecido pela comédia e sempre com um sorriso no rosto em público, Williams sofria de forte depressão desde que foi diagnosticado com Mal de Parkinson, doença que, segundo comentários de pessoas que o conheciam, o levou ao suicídio aos 63 anos. Segundo os relatórios da polícia, antes de morrer estrangulado com seu próprio cinto, o protagonista de Aladdin e Bom Dia Vietnãpesquisou na Internet outros meios de pôr fim a sua vida, como por exemplo utilizar ansiolíticos. O ator tentou até mesmo cortar as veias dos pulsos, mas se arrependeu da tentativa e limpou todo o sangue que havia jorrado no banheiro.
    Vítima de alcoolismo durante a vida, sua autópsia não mostrou no sangue nenhum vestígio de drogas ou outras substâncias das quais abusou, ainda que tenham encontrado em seu cérebro amostras de uma possível forma de demência, fator principal que o levou a tirar a vida em 21 de agosto. O relatório policial também indicou que o ator sofria de uma pronunciada paranoia desde seu diagnóstico de Parkinson que o levou a se matar. Reconstruindo as últimas horas, as mesmas publicações indicam que Williams, ávido colecionador de tudo, de arte a brinquedos, entregou a um amigo sua coleção de relógios, um objeto pessoal que, da mesma forma que seus óculos, gostava de trocar toda vez que saía. Pai de três filhos e casado três vezes, a ansiedade de Williams foi tamanha que, após seu diagnóstico, nos dias anteriores a sua morte dormiu sozinho, trancado em seu quarto.
    Apesar da felicidade que trouxe àqueles que o conheceram pessoalmente e aos que assistiram suas comédias, Williams foi um homem torturado. O intérprete de Uma Babá Quase Perfeita sempre tentou esconder uma infância infeliz. Williams foi uma criança criada na opulência, mas com um pai ausente, grande executivo da empresa Ford, e uma mãe ex-modelo a quem em mais de uma ocasião descreveu como viciada na moda. Ela foi, entretanto, sem pretender, uma das influências mais importantes de sua carreira já que o ator precoce tentava fazê-la rir como forma de chamar sua atenção, segundo declarações de Williams em uma entrevista no programa Inside the Actors Studio.




    quarta-feira, 1 de abril de 2015

    Robin Williams blindou o uso de sua imagem mesmo depois de morto

    Robin Williams

    Robin Williams blindou o uso de sua imagem mesmo depois de morto

    O ator cedeu os direitos de seu nome e imagem à fundação Windfall por 25 anos


    ROCÍO AYUSO
    Los Angeles 1 ABR 2015 - 07:59 COT




    O ator Robin Williams. CORDON PRESS


    A inesperada morte Robin Williams por suicídio, vítima da depressão e do Parkinson, levantou em agosto passado muitas questões sobre um dos atores mais queridos de Hollywood. Mas a leitura de seu testamento nesta semana deixou uma coisa clara: Williams sabia o valor de sua imagem e, mesmo depois de morto, não estava disposto a deixar que a utilizassem à vontade. O ator americano de 63 anos protagonista de filmes como Sociedade dos Poetas MortosUma Babá Quase Perfeita e Gênio Indomável deixou os direitos de seu nome, sua assinatura, sua imagem e sua fotografia para a fundação filantrópica Windfall. Ninguém, com exceção dessa organização, está autorizado a utilizar nos próximos 25 anos a lembrança que Williams deixou na cultura popular.

    Sua decisão é pioneira em um momento em que as novas tecnologias permitem reviver os já falecidos no cinema, na televisão, em anúncios ou concertos. Williams deixou claro que não haverá anúncios com sua foto, hologramas com seu corpo e que sua imagem não será inserida contra sua vontade em um futuro filme nos próximos 25 anos. O ator era consciente do muito que valia a imagem que tinha criado como humorista e intérprete ao longo de sua carreira. De fato, já em vida travou uma disputa com os estúdios Disney quando, sem sua permissão, utilizaram a voz que Williams tinha criado para o gênio de Alladin em outros produtos relacionados com a fita. Um aborrecimento que terminou quando o estúdio, para se desculpar, deu de presente um Picasso avaliado em cerca de um milhão de euros (mais de 3 milhões de reais) ao ávido colecionador de arte.

    A determinação perfeitamente registrada no testamento também chega em um momento em que a “ressurreição” de atores mortos não poderia estar mais em vigência com a estreia, nos próximos dias, do longa-metragem Velozes e Furiosos 7. O filme de ação sofreu a morte de um de seus protagonistas, Paul Walker, em um acidente de carro na metade das filmagens. Entretanto, as atuais tecnologias digitais devolveram-no à vida para completar o filme sem que o estúdio tenha querido esclarecer os termos técnicos ou econômicos dessa ressurreição.
    Em seu testamento Williams deixa bem claro que o controle de seu nome e de sua imagem estará nas mãos da organização filantrópica que fundou há anos com sua então esposa Marsha. O propósito da entidade é levantar recursos para ajudar entidades beneficentes como Médicos sem Fronteiras, Make a Wish ou a associação contra a Aids infantil, entre outras. De fato, o ator determinou em seu testamento que essas mesmas organizações de sua escolha fiquem com os rendimentos de sua imagem se o Estado deixar de considerar sua fundação uma organização sem fins lucrativos e quiser cobrar impostos.



    Trata-se de outra decisão pioneira em um momento em que os herdeiros de Michael Jackson estão tendo problemas com o fisco pelas mesmas razões. O Governo norte-americano exige dos herdeiros do rei do pop mais de 465 milhões de euros em impostos e 186 milhões de euros em multas pelos rendimentos que a imagem do cantor produziu após sua morte em diversas atividades publicitárias. Com seu testamento, Williams quis limitar a responsabilidade fiscal que seus filhos possam enfrentar no futuro pelo uso de uma imagem venerada por todos. O que não pôde evitar são as disputas familiares que o mesmo documento desencadeou e que põem seus três filhos, Zak, Zelda e Cody, contra a terceira esposa de Williams, Susan Schneider, por uma parte do dinheiro e dos objetos pessoais do ator que morreu em agosto passado pensando que deixava tudo bem amarrado. Na segunda-feira seus advogados concordaram nos tribunais em tentar chegar a um acordo privado nos próximos dois meses.

    sexta-feira, 22 de agosto de 2014

    Robin Williams / Um coração ferido


    Robin Williams

    Um coração ferido

    Robin Williams já não era visto em seu bairro, inclusive amigos perceberam indícios de depressão

    O que não sabiam era da última notícia que o sacudiu: tinha mal de Parkinson

       
    Robin Williams, na estréia de ‘Licença para Casar’, em 2007. / M. ANZOUNI
    Discrição extrema na vida real de uma figura que preenchia todo o palco e a tela. No mercado de frutas e verduras – orgânicas, é claro – de Tiburon (São Francisco), diziam que não o viam há certo tempo. A mesma resposta em frente, na farmácia. Tampouco se lembravam de alguma visita recente aos dois restaurantes mais próximos do número 95 da Saint Thomas Way, onde Robin Williams morava. Impossível consultar os bares, pois eles não existem. A tranquilidade é absoluta neste canto do cais com vista para a silhueta da cidade, só Alcatraz, com sua prisão abandonada, se interpõe. O ator quase não saía de casa, onde foi encontrado morto na segunda-feira. Os familiares, implicados em sua recuperação, e os vizinhos mantinham um pacto de silêncio para evitar que se propagasse a notícia da profunda depressão que atingia o astro norte-americano. Rick Overton, ator de comédia e amigo da família desde os anos 70, confessava ao jornal Los Angeles Times uma leve suspeita: ele quase não retornava os telefonemas e suas mensagens de texto eram cada vez mais breves.
    Praticamente, as únicas saídas de Williams eram noturnas, em universos paralelos e intensos. Era um assíduo do World of Warcraft, um popular jogoon line de estratégia no qual a imaginação é um ponto a favor para os mais acostumados. Também no agressivo Call of Duty, no qual, a partir do olhar de um franco atirador, se colocava no papel das tropas que não hesitou em entreter em várias campanhas militares. Não é casualidade que sua filha se chame Zelda, nome de uma aventura gráfica que, quando ela nasceu, não era mais do que ilusão pixelizada em 8-bits.
    Quase não retornava os telefonemas e suas mensagens de texto eram cada vez mais breves
    Em 2011, o ator confessou ao jornal britânico The Telegraph que esse era um de seus vícios. “Especialmente se você joga on line, contra outros, vicia completamente e você se sente em outro mundo”. Talvez essa tenha sido a droga mais inocente das que consumia. Em 2005 soou o alarme, depois de ter perdido força nas bilheterias e também o amigo Christopher Reeve: começou a beber mais do que o recomendável. A única coisa que o acalmava era passar um tempo junto aos fogões da cozinha.
    Villa Sorriso era seu refúgio de sonho, o país do nunca de um Peter Pan de carne e osso. Seria seu primeiro sacrifício. Em 2012, colocou à venda essa fazenda localizada nos vinhedos de Napa por 35 milhões de dólares (cerca de 79 milhões de reais). Um ano depois, baixou para 29 milhões de dólares, mas a propriedade nunca mudou de dono. Williams, que em 2008 se divorciou da segunda mulher, Masha Garces, se sentia incapaz de pagar a pensão. Em 1988, já havia terminado seu primeiro casamento, com Valerie Velardi.
    No fim de junho, visitou um centro especializado em ex-dependentes em Minnesota
    No fim da rodagem de Quem é morto sempre aparece (2005), recorreu a especialistas. Em 2006, reconheceu seus problemas com o álcool. Não escondeu que participava de reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Seu flerte com as drogas nos anos 70 e 80 era público, mas tampouco estranho em uma cidade como São Francisco, muito frouxa na hora de combater o consumo e a venda nas ruas. Há pouco mais de um mês, no fim de junho, viajou para Minnesota, onde esteve em um rancho especializado em reforçar a conduta daqueles que se livraram das drogas. TMZ, o portal da internet especializado em fofocas de Hollywood, caçou-o nos arredores do centro, e sua inusitada magreza desatou os rumores.
    O último golpe para o ator chegou em maio, quando a série The Crazy Onesfoi retirada do ar sem possibilidade de continuidade. A audiência não assistia. Isso implicou em um buraco a mais em suas maltratadas finanças. A contragosto, acossado pelas dívidas, Williams aceitou rodar a continuação de Uma babá quase perfeita, um papel feito sob medida que lhe ajudaria a aliviar a conta corrente. O filme original, que estreou com sucesso em 1993, deixou 728 milhões de dólares nas bilheterias.
    Imerso no papel que tantas risadas provocou no público, recebeu uma notícia com um roteiro bem conhecido: sofria do mal de Parkinson, uma doença neurodegenerativa que, com o tempo, leva à perda de controle sobre o próprio corpo. No caso dele, a doença estava em fase inicial. Não tinha intenção de torná-la pública. Foi sua viúva, Susan Schneider, que anunciou por meio de um comunicado difundido na quinta-feira, no qual também quis calar rumores. Seu marido estava sóbrio no momento do desenlace fatal.
    Foi em um amálgama de problemas acumulados durante anos, misturados com vícios e depressões, que Robin Williams pôs fim de forma contundente e dramática no dia 11 de agosto. Não houve lugar para a comédia no papel vital do esplêndido ator cômico. Ao seu impressionante legado é preciso acrescentar três filmes que ainda não estrearam: Uma noite no museu 3,‘Merry Friggin’ Christmas e Absolutely anything.

    Condolências em tempo real

    Os assessores de imprensa já não enviam releases com os pêsames de seus artistas. Embora se assuma que são eles que administram seus perfis nas redes sociais, o ciberespaço se tornou o lugar preferido para mostrar a dor. Ele os aproxima do cidadão comum sem intermediários, como se fossem mais um. Esse foi o formato preferido para despedir-se de muitas personalidades. A morte de Michael Jackson foi o primeiro marco nessa modalidade que já se tornou norma. Steve Carrell ficou com os louros, mais de 64.000 retuítes por 10 escassas palavras para falar de Robin Williams: “Fez o mundo um pouquinho melhor. RIP”. O mesmo meio foi utilizado por Michael J. Fox para expressar sua comoção ao saber que os dois sofriam da mesma doença. O astronauta Buzz Aldrin optou pelo Facebook. O mesmo fez Jennifer López, com uma foto de ambos.
    Do outro lado da balança estão os haters, aqueles que enviam mensagens negativas e fora de lugar nos piores momentos. Também tiveram sua cota de destaque nesta ágora de escassas leis. Tanto que Zelda Williams, a filha do ator, se viu forçada a fechar seu perfil nas redes sociais: “Sinto muito. Isso me ultrapassa. Disponho-me a apagar isso dos meus aparelhos por um longo tempo, talvez para sempre. O tempo dirá. Adeus”. Del Harvey, vice-presidente do Twitter, tentou deter a desafortunada avalanche com o fechamento de algumas contas e o compromisso de melhorar no futuro.



    sexta-feira, 15 de agosto de 2014

    Robin Williams / Hollywood chora a morte de um gênio

    Robin Williams

    Hollywood chora a morte de um gênio

    Seu inesgotável talento ocultava um problema de alcoolismo e outros vícios




    Robin Williams nunca deixou o público de olhos secos. Seu suposto suicídio, na segunda-feira, em sua casa na Califórnia, não mudou as coisas. Mas agora, em vez de provocar as gargalhadas às quais nos acostumamos com suas atuações em AladdinUma Babá Quase PerfeitaSociedade dos Poetas Mortos e Bom Dia, Vietnã, sua morte causou surpresa entre fãs e profissionais do cinema, na mesma medida. Até mesmo o presidente Barack Obama se uniu ao lamento geral pela perda do ator que ele descreveu como “um dos poucos” gênios da comédia. “Robin Williams foi piloto, médico, gênio, babá, presidente, professor, Peter Pan e tudo o mais”, resumiu Obama, listando alguns dos papéis que fizeram a fama do ator de 63 anos, antes de acrescentar que “ele nos fez rir e nos fez chorar”. Suas palavras resumiram uma das carreiras mais populares de uma Hollywood, e ainda custa acreditar neste último adeus.
    O corpo de Williams foi encontrado em sua casa em Tiburón, em Marine County, perto de San Francisco (no Estado norte-americano da Califórnia), supostamente vítima de um aparente suicídio por asfixia. Segundo sua assessora de imprensa, Mara Buxbaum, o ator lutava contra a depressão. “É uma perda trágica e inesperada”, afirmou, pedindo ainda que se respeite a família. A mulher de Williams, Susan Schneider, disse que perdeu o marido e seu melhor amigo enquanto o mundo perde “um de seus artistas mais queridos e um dos mais maravilhosos seres humanos”. “Nossa esperança é de que as atenções não recaiam sobre a morte de Robin, mas sim sobre os incontáveis momentos de alegria e risos que ele proporcionou a milhões de pessoas”, completou.


    Robin Williams


    A biografia do ator nascido em Chicago (EUA), com seu sorriso fácil, os olhos brilhantes e uma língua tão rápida quanto sua mente, capaz de ironizar até seus próprios defeitos, traz exemplos de sobra desses momentos. Formado pela Julliard, a escola dos grandes atores, Williams foi descoberto como artista cômico na televisão, no popular seriado norte-americano Dias Felizes, onde nasceu o personagem alienígena que ele desenvolveria em Mork & Mindy. Mas se isso parece depreciativo é porque naqueles anos era assim que se enxergava um talento que surgia da televisão: como algo menor, incapaz de alcançar as glórias de Hollywood. Esse não foi o caso de Williams, ator de uma energia irrefreável que ele demonstrou ter aos montes na interpretação que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar, com Bom Dia, Vietnã. Outras três se seguiriam por Sociedade dos Poetas MortosO Pescador de Ilusõese, finalmente, Gênio Indomável, filme que deu a ele a estatueta de melhor ator coadjuvante.
    No entanto, essa inesgotável fonte de genialidade pela qual era conhecido ocultava um problema de alcoolismo e outros vícios dos quais falou abertamente ao longo de sua carreira. “A cocaína se tornou o meu refúgio. A maior parte das pessoas busca na cocaína um barato. No meu caso, funcionava como freio”, admitiu Williams em entrevista à revista People, em 1988. Segundo ele, a cocaína lhe dava uma desculpa para não falar. “Eu precisava desses momentos de calma”, disse, na ocasião.
    Nada mais irônico para um artista conhecido não apenas pelos personagens que incorporou como também por aqueles a quem emprestou sua voz. Especialmente à do gênio da lâmpada mágica em Aladdin, um dos personagens mais populares dos estúdios Disney e que, pela primeira vez, fez o mundo apreciar a importância do castingem um filme de animação. “Para cada linha escrita no roteiro ele nos deu meia hora de improvisações que deram a riqueza visual desse personagem tão querido”, lembra agora o espanhol Raúl García, encarregado de animar o gênio em Aladdin e que voltou a trabalhar com Williams em Uma Babá Quase Perfeita.
    Quem sabe, honrando os desejos de sua viúva, todos tenham hoje uma história de Williams para contar no trabalho. O homem de uma só cara interpretou incontáveis personagens. E, para Steven Spielberg, com quem trabalhou em Hook – A Volta do Capitão Gancho, acima de tudo um amigo. “Uma verdadeira tempestade de genialidade cômica”, afirmou o diretor sobre o ator. Chris Columbus também ressaltou sua amizade de 21 anos com um homem que adorava o ciclismo e que era facilmente encontrado percorrendo os circuitos de San Francisco com sua bicicleta. “Um dos poucos que merece a palavra ‘gênio’”, afirmou. Sarah Michelle Gellar preferiu homenageá-lo nas redes sociais com as selfies que eles fizeram juntos durante as filmagens de The Crazy Ones, seu último trabalho na televisão, ironicamente cancelado por falta de audiência.
    Anna Kendrick, refletindo toda uma geração marcada por Sociedade dos Poetas Mortos, preferiu reproduzir na internet um dos monólogos mais lembrados do ator no filme, no qual seu personagem incentivava seus alunos a aproveitar todos os dias de suas vidas. “Ele nos ensinou como chegar ao limite, sem medo, e brilhar”, afirmou Jared Leto em sua conta no Twitter, enquanto James Gunn, diretor do blockbuster Guardiões da Galáxia, aproveitou o momento de emoção para ressaltar “o quão graves são a depressão e a dependência química”. Casado três vezes e pai de três filhos, Williams junta-se agora tristemente a alguns de seus heróis, como Peter Sellers e Richard Pryor, que pararam de nos fazer rir antes do tempo.