Admissão de que houve estupro real em ‘O Último Tango em Paris’ revolta Hollywood
Bertolucci diz que a sequência entre Marlon Brando e Maria Schneider não foi combinada com a atriz
5 DEZ 2016 - 08:17 CST
“Queria sua reação como menina, não como atriz. Não queria que Maria interpretasse sua humilhação e sua raiva, queria que sentisse. Os gritos… ‘Não, não!’. Depois me odiaria para sempre”. Assim narra o cineasta italiano Bernardo Bertolucci as ambições artísticas por trás do estupro real planejado por ele mesmo e por seu executor, o ator Marlon Brando, no filme O Último Tango em Paris. A confissão foi recuperada por vários veículos de imprensa norte-americanos a partir de uma entrevista do diretor na Cinemateca francesa em 2013.
O vídeo, traduzido ao espanhol pelo portal El Mundo de Alycia no Dia Internacional contra a Violência de Gênero, tem mais de um milhão de visitas no YouTube. O filme, que foi um dos mais emblemáticos da década de 1970, demorou vários anos para se esquivar da censura em vários países, como no Brasil, por causa de seu alto conteúdo sexual. Em sua sequência mais lembrada, e agora infame, Brando, que naquela época tinha 48 anos, utilizava manteiga como lubrificante para violentar sua companheira de elenco, de apenas 19.
“Queria que reagisse humilhada. Acredito que odiou Marlon e a mim porque não contamos a ela”, afirmou o diretor de filmes como 1900 e Os Sonhadores. A ideia ocorreu ao cineasta e ao ator na manhã anterior à filmagem. Na mesma entrevista, Bertollucci esclarecia que, embora se sentisse “culpado”, não se arrependia da forma como dirigiu aquela cena. “Para conseguir algo é preciso ser completamente livre”, concluía.
Apesar de os rumores sobre a veracidade dessa cena já circularem entre os cinéfilos há vários anos e as declarações do diretor não serem novas, a confissão escandalizou boa parte de Hollywood. Estrelas como Jessica Chastain e Chris Evans declararam no Twitter que jamais voltarão a ver o filme, nem considerarão Bertolucci ou Brando da mesma maneira. “Me dá nojo”, diz a atriz de A Hora Mais Escura. Como resultado dessas afirmações, iniciou-se há alguns uns dias uma campanha no Change.org que exige que a Academia de Hollywood condene publicamente os fatos e o diretor italiano.
Schneider, à época com 19 anos e que morreu em 2011, jamais se recuperou emocionalmente depois da filmagem
Schneider, que morreu em 2011 por causa de um câncer, jamais se recuperou emocionalmente depois da filmagem, vivendo longos períodos de depressão. Em uma entrevista ao jornal britânico Daily Mail em 2007, a atriz contaria em detalhes o momento de seu estupro. Declarações que passariam despercebidas pela opinião pública, que durante décadas evitou julgar os fatos. “Deveria ter chamado meu agente ou fazer meu advogado vir ao set porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas, naquela época, eu não sabia disso. Marlon me disse: ‘Maria, não se preocupe, é só um filme’, mas durante a cena, embora o que Marlon fizesse não fosse real [não houve penetração], eu chorava de verdade. Senti-me humilhada e, para ser honesta, um pouco violentada por Marlon e Bertolucci. Pelo menos foi só uma tomada”.
A cena, não consentida pela atriz, em que Marlon Brando violenta Maria Schneider em 'O Último Tango em Paris'. REPRODUÇÃO
O "crime de estupro é qualquer conduta, com emprego de violência ou grave ameaça, que atente contra a dignidade e a liberdade sexual de alguém". O elemento mais importante para caracterizar esse crime é a ausência de consentimento da vítima. Pela lei brasileira, por exemplo, não é preciso haver penetração para que o crime se caracterize como estupro.
A atriz terminava a entrevista acrescentando que uma das coisas que mais lhe doeu foi o comportamento de Marlon Brando depois da cena, que se negou a consolá-la ou preocupar-se com seu estado. As revelações do estupro em O Último Tango em Paris coincidem no tempo com as respectivas polêmicas sobre as suspeitas de assédio sexual de dois favoritos ao Oscar deste ano: Casey Affleck e Nate Parker.
Quarenta anos depois, parece que a justiça continua a brilhar pela ausência. Até quando Hollywood continuará silenciando seus crimes?
“Numa noite daquelas antigas, eu escutei Hilda e a minha mãe conversando meio de surdina. Fecharam a porta da sala e eu, do meu quarto, pude entreouvir uma referência a Marlon Brando. Elas estavam falando do meu ídolo cinematográfico, o gênio das telas. Como se tratava de uma pessoa muito importante para mim, deixei por isso mesmo, guardei as coisas assim dentro de mim. Quando fui entrevistá-la vinte anos mais tarde cheia de dedos, resolvi esclarecer a minha fantasia. Foi assim. Hilda estava em Paris namorando Dean Martin, rapidamente. Jantaram com Tony Curtis e ela escapou para o Hotel Ritz. Sabia que naquela noite chegava Marlon Brando. Debaixo de uns martinis seguiu para lá. Trajando na ocasião um vestido longo bordado e uma tiara na cabeça, enfeitando de brilhantes o seu cabelo louro. O gerente avisou que Monsieur Brando não poderia recebê-la. Ele sairia muito cedo para filmar na manhã seguinte. Como ela passou alguns francos por baixo do balcão, o francês, gentilmente, indicou o caminho. Bateu na porta do apartamento, insistiu e ninguém abriu. Achou estranho. Nisso um ator francês saiu do apartamento em atitude suspeita, avisando que o ator não estava hospedado lá. Depois que ele foi embora, Hilda insistiu até que Marlon Brando abrisse. Estava de foulard e chambre de seda. Ela, desapontada, achou que ele era muito baixinho, não sabe se por estar de salto muito alto ou se pelos martinis que tinha tomado. Ao cumprimentá-lo a tiara escapou de sua cabeça e ela foi obrigada a ajeitá-la, sem graça. Como não foi convidada a entrar, na soleira da porta, foi avisando que tinha vindo do Brasil apenas para entrevistá-lo. Ele estranhou o adiantado da hora, mas ela foi convincente. À queima-roupa perguntou “O que você acha de Franz Kafka?” Ele, estarrecido com o nível, respondeu “Quero que se lixe o Kafka e a família dele inteira!” Hilda desancada teve que recompor a tiara mais uma vez. Engatou uma primeira e prosseguiu “Senhor Brando eu vim de longe para saber isso, os jornalistas só lhe fazem perguntas banais.” Ele, vendo aonde ela queria chegar, disse que daria uma entrevista bastante extensa noutra noite, porque realmente teria que estar de pé muito cedo no dia seguinte. “We´ll keep on touch”.
Rita Ruschel auto-apresenta seu Meus Tesouros de Juventude
Uma nova biografia do ator de 'Rebelde sem causa' assegura que os dois ídolos do cinema foram casal
EL PAÍS Madri 17 MAR 2016 - 14:11 COT
As biografias não autorizadas costumam vir recheadas de revelações polêmicas. A última que escandalizou o mundo do entretenimento é a do ator norte-americano James Dean. O livro James Dean: Tomorrow Never Come, escrito por Darwin Porter e Danforth Prince, afirma que o intérprete foi escravo sexual do lendário ator Marlon Brando e que também teve relações sexuais com Walt Disney.
A publicação conta que Brando conheceu o intérprete deJuventude Transviada (1955) quando este foi vê-lo em uma conferência em Nova York. Segundo os autores dessa nova biografia, Brando mais de uma vez contou aos amigos que o olhar de Dean o fez “queimar”. Mas os atores só tiveram um momento para conversar no final da apresentação, quando Dean aproveitou para confessar seu amor e admiração e que o ator de O Poderoso Chefão respondeu com um beijo.
O livro, escrito por dois veteranos jornalistas de celebridades que conheceram as duas estrelas de Hollywood, traz entrevistas de alguns dos amigos dos atores, incluindo o compositor Alec Wilder. “Definitivamente eram um casal. É possível dizer que a ‘fidelidade sexual’ não fazia parte de seus vocabulários”, lembra Wilder, e acrescenta que o próprio Dean lhe contou sobre oaffair.
Mas as polêmicas revelações não falam somente da relação homossexual entre os dois ídolos do cinema, também acrescentam detalhes de sua vida sexual. De acordo com o escritor Stanley Haggart, amigo de Dean, os dois gostavam de praticar jogos sadomasoquistas. O protagonista de Apocalipse Now supostamente se divertia em apagar cigarros no corpo de Jimmy. O escritor afirma que enquanto Brando gostava de atormentar seu jovem companheiro, a quem via como um mero brinquedo sexual, Dean estava completamente apaixonado. “Acredito que Brando usava Jimmy sadicamente, que o seguia por todos os lados com a língua de fora”, explica.
Apesar de ter-se especulado à época sobre a possível relação destes dois atores da década dourada de Hollywood, o intérprete de Vito Corleone sempre negou os rumores. De acordo com o Daily Mail, o livro também afirma que Dean manteve relações íntimas com Walt Disney, que muitos afirmam ter sido homossexual, mesmo sem que exista uma comprovação.
Marlon Brando, no filme de Elia Kazan 'Um bonde chamado desejo'.
Nos bondes cavalgam os desejos e, em apartamentos vazios, assoalhos de madeira rangem sob o ultraje carnal do proibido. Sabem muito sobre isso os anjos exterminadores, essa taxonomia que viaja a bordo do ódio, do tormento, do suor e do sexo. Animais selvagens soltos na tundra, estirpe inconfundível: aqui um coronel entre as sombras da selva e da loucura, ali um macho outonal entrando por trás de uma fêmea extraviada, adiante o irresistível pater familias do crime organizado disfarçado de glamour, lá longe o caudilho de Roma no labirinto do poder e no fim do túnel os punhos de Terry Malloy esmagando cabeças e almas dos estivadores nos barracões do porto.
Em cada uma dessas cenas e composições bem encaixadas da fascinante ainda que discutível fábrica do Actors Studio, e a partir daí catapultadas diretamente para a glória, Marlon Brando (Omaha, 1924-Los Angeles, 2004) nos interpela, nos seduz e nos interroga sobre nossas misérias, que também são nossas grandezas, às vezes. Brando nos leva ao bosque e consegue — como outros eleitos, como Cary Grant, como Paul Newman, como Warren Beatty, como Al Pacino, como Jeremy Irons — que a sombra de uma dúvida conspire contra a heterossexualidade de certos varões e a homossexualidade de algumas senhoras. Não foi o mais bonito, tampouco o mais alto, mas sua camiseta suada em Um bonde chamado desejo confirma em cada assistência o inesgotável magma de morbidez e sedução que esse ator exala o tempo todo.
Marlon Brando, depois de 10 anos de sua morte na segunda-feira, ganhou dois Oscars — o que é muito —, mas só ganhou dois Oscars. Poderia ter conquistado muitos outros. A sempre caprichosa (no melhor dos casos) Academia decidiu outorgá-los por seus trabalhos em Sindicato de ladrões (1954) e O poderoso chefão(1972). Sem o ouro ficaram joias do calibre de O último tango em Paris(1973), Júlio César (1953), Viva Zapata! (1952) ou Um bonde chamado desejo (1951)... ainda que tenha sido indicado à estatueta por todas elas.
Assistir a seus filmes confirma toda a sua morbidez e sedução
Apenas sua vocação ativista selvagem em defesa dos direitos dos índios norte-americanos pode ser comparada com seu talento diante das câmeras. Quando Hollywood o ungiu com seu dedo e lhe deu o Oscar porO poderoso chefão, Brando decidiu não ir buscá-lo e enviou uma atriz amiga sua, de origem indígena, para que defendesse a causa diante dos smokings, limusines e outros símbolos de poder.
Casou-se três vezes e teve 16 filhos, três deles adotados. O suicídio de sua filha Cheyenne, em 1995 — depois que outro filho seu, Christian, foi preso por ter assassinado o noivo dela — foi o golpe mais duro de uma vida destilada entre o brilho de uma sedutora vis actoral e as sombras de uma personalidade vulcânica. A personalidade de um ator chamado desejo.