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Mario Vargas Llosa |
Vargas Llosa: “O Brexit é um produto da incultura”
Vencedor do Nobel de literatura defende que "livros geram cidadãos com um espírito crítico, e a democracia não pode sobreviver sem um espírito crítico”
Los Llanos De Aridane - 13 SEP 2019 - 14:48 COT
As duas intervenções públicas de Mario Vargas Llosa no Festival Hispano-Americano de Escritores de Los Llanos de Aridane (Espanha) foram cartas de batalha em favor da leitura. Diante das crianças que se concentraram no município das Canárias para ouvir a narração de seu conto Fonchito e a Lua (que a colombiana Paula Acuña encenou) e dos adultos aos quais, apresentado por Juan Jesús Armas Marcelo, pediu que lessem para não serem enganados. Ele continuou falando sobre isso, horas mais tarde, ao EL PAÍS. Referia-se à importância que o entretenimento alcançou sobre a literatura. “Não se pode negar-lhe qualidade. O entretenimento é divertido e fácil de digerir, mas não acho que, como a literatura, forme cidadãos ideais para uma sociedade democrática. Os livros deixam uma marca muitíssimo maior; geram cidadãos com um espírito crítico, e a democracia não pode sobreviver sem um espírito crítico.”
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Mario Vargas Llosa, na última terça-feira na ilha da Palma.VASCO SZINETAR |
"Infelizmente", diz o vencedor do Nobel de literatura, "esse espírito está se perdendo muito na Europa: o Brexit, os movimentos nacionalistas e independentistas na Espanha, são fundamentalmente o produto da incultura, o que permitiu que essas deformações ideológicas adquirissem grande protagonismo. Esse espírito crítico se perde e isso tem a ver com uma literatura de puro entretenimento, que não tem mais a capacidade de manter vivo o descontentamento com a realidade.”
Acredita que o Brexit parece "uma série trágica". “Nada na história indicava que a Inglaterra pudesse derivar nesse chauvinismo grotesco. E a Itália foi salva por milagre, esperemos que não seja momentâneo. Os rebrotes de nacionalismo frenético já estão nos países mais instruídos, como a Suécia e a Suíça.”
O autor insta “os escritores a que se mobilizem. Estão moralmente obrigados, pelo que a literatura representou, a estar cientes do drama que estamos vivendo e a dar novamente à literatura essa presença crítica que sempre teve nos melhores tempos”.
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O Nobel também se pronunciou sobre o melhor da literatura contemporânea. Pôs em primeiro plano a escrita de não-ficção da jornalista argentina e colunista do EL PAÍS Leila Guerriero. "Jornalismo do bom, negação das falsidades, um esforço extraordinário para dizer a verdade que significa literatura ao mesmo tempo.”
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