quinta-feira, 31 de julho de 2025

A trajetória de Peter Lund no brasil e sua vida privada

 

A trajetória de Peter W Lund no Brasil envolve ciência, simplicidade e especulações sobre sua vida privada. Seu legado na paleontologia é inegável, e as histórias sobre seus relacionamentos e vida reservada fascinam gerações até hoje
A trajetória de Peter W Lund no Brasil envolve ciência, simplicidade e especulações sobre sua vida privada. Seu legado na paleontologia é inegável, e as histórias sobre seus relacionamentos e vida reservada fascinam gerações até hoje


A trajetória de Peter Lund no Brasil e sua vida privada

O filho quase anônimo de um cientista famoso 

29 NOVEMBRO 2024, 

O interesse pela vida privada das personalidades artísticas, políticas, científicas e até das celebridades voláteis é uma marca do mundo contemporâneo. Nem mesmo pessoas que viveram há séculos escapam dessa saga de curiosos que especulam sobre aspectos de sua privacidade. 

quarta-feira, 30 de julho de 2025

August Riedel / Fotógrafo pioneiro no Brasil

 

Retrato de August Heinrich Riedel, desenhado por Franz Xaver Winterhalter, Roma, 1834, Bibliotheca Hertziana
Retrato de August Heinrich Riedel, desenhado por Franz Xaver Winterhalter, Roma, 1834, Bibliotheca Hertziana


August Riedel: fotógrafo pioneiro no Brasil 

História da fotografia 

29 DEZEMBRO 2024, 


A fotografia captura emoções de uma maneira única. Ela não apenas preserva momentos, mas também registra sentimentos e atmosferas que permeiam instantes fugazes. A magia da fotografia nos desperta nostalgias, alegrias, saudades, desejos, conhecimentos.

terça-feira, 29 de julho de 2025

Francisco e Leão / Um olhar sobre os dois últimos pontífices

 

Papa Francisco em 2016. Nesse contexto polarizado, a morte do Papa Francisco deixou um receio de retrocessos. A eleição de um Papa norte-americano despertou curiosidade e, para muitos, o temor de alinhamento com Donald Trump e tudo que ele representa. Mas, na medida em que sua biografia e seus pensamentos foram sendo divulgados, a esperança renasceu. O norte-americano é também um cidadão peruano e viveu na América Latina, entre os mais necessitados, grande parte de sua vida missionária. Em seu primeiro discurso como Papa não utilizou sua língua materna e sim o Espanhol


Papa Francisco em 2016. Nesse contexto polarizado, a morte do Papa Francisco deixou um receio de retrocessos. A eleição de um Papa norte-americano despertou curiosidade e, para muitos, o temor de alinhamento com Donald Trump e tudo que ele representa. Mas, na medida em que sua biografia e seus pensamentos foram sendo divulgados, a esperança renasceu. O norte-americano é também um cidadão peruano e viveu na América Latina, entre os mais necessitados, grande parte de sua vida missionária. Em seu primeiro discurso como Papa não utilizou sua língua materna e sim o Espanhol

Francisco e Leão

Um olhar sobre os dois últimos pontífices

29 JULHO 2025, 

Por mais que a morte de um Papa seja um fato esperado no curso natural da vida, a recente partida de Francisco deixou o mundo em um comovido e reflexivo silêncio. Jorge Mário Bergoglio, o jesuíta argentino que adotou o nome de Francisco em 2013, foi mais do que o primeiro Papa sul-americano. Ele foi um sinal de que os tempos estavam mudando e que a Igreja, mesmo que tardiamente, percebeu que precisava se aproximar do mundo real, de suas dores, desigualdades e demandas. Um tempo que clama por empatia, por simplicidade, por uma Igreja de portas abertas para todos. Bergoglio, ao ser o primeiro Papa a escolher o nome inspirado em São Francisco de Assis, sinalizou uma linha de conduta e assumiu um projeto espiritual e político que moldaria toda a sua atuação à frente da Igreja Católica. 

segunda-feira, 28 de julho de 2025

A resistência cultural brasileira no Congado

Lo 

O Congado é uma celebração que une religiosidade, música e história, preservando memórias e identidades em um ato de resistência. Foto encontrada no livro "Coleção Princesa Isabel: Fotografia do século XIX", de Bia Corrêa do Lago, em que é possível ver pessoas negras escravizadas celebrando o Congado, em uma fazenda na província de Minas Gerais, Brasil, 1876
O Congado é uma celebração que une religiosidade, música e história, preservando memórias e identidades em um ato de resistência. Foto encontrada no livro "Coleção Princesa Isabel: Fotografia do século XIX", de Bia Corrêa do Lago, em que é possível ver pessoas negras escravizadas celebrando o Congado, em uma fazenda na província de Minas Gerais, Brasil, 1876


A resistência cultural brasileira no Congado

A riqueza das festas populares reflete memórias, história e identidade como expressão da resistência cultural

29 JANEIRO 2025, 
ANA PAULA ALMEIDA MARCHESOTTI

A riqueza cultural brasileira é inquestionável e marcada pela intensa diversidade de cores, sabores, ritmos, sons, cheiros, simbolismos e tradições. Quantas raízes históricas e culturais presenciamos expostas nas manifestações, ritos e festividades em cada canto desse país! E como são fundamentais para a perpetuação da memória, para a produção e para o fortalecimento identitário das suas comunidades! Não são apenas espaços festivos onde se “co-memora” algo, pois apresentam cotidianamente elementos transgressores que reforçam memórias contrárias ao paradigma hegemônico. A cultura é sempre um ato de resistência!

domingo, 27 de julho de 2025

Ainda Estamos Aqui / A memória que o Cinema Brasileiro e nós nos recusamos a esquecer

 

Fernanda Torres como Eunice Paiva em cena de "Ainda estou aqui". Filmes como este nos desafiam a lembrar quem fomos, quem somos e quem queremos ser. Não podemos correr o risco de esquecer e repetir os mesmos erros
Fernanda Torres como Eunice Paiva em cena de "Ainda estou aqui". Filmes como este nos desafiam a lembrar quem fomos, quem somos e quem queremos ser. Não podemos correr o risco de esquecer e repetir os mesmos erros

Ainda Estamos Aqui

A memória que o Cinema Brasileiro e nós nos recusamos a esquecer

28 FEVEREIRO 2025, 
ANA PAULA ALMEIDA MARCHESOTTI

O cinema é mais do que uma expressão artística ou uma forma de entretenimento. Ele é um espelho da nossa realidade, uma forma de resistir ao silenciamento e um ato poderoso de preservação da memória. No Brasil, o cinema tem sido essencial para construir nossa identidade cultural e registrar momentos cruciais da história do país. Das feridas abertas pelo colonialismo aos anos sombrios da ditadura militar, passando pelas lutas sociais e pela vida cotidiana que pulsa nas periferias, o cinema brasileiro oferece um olhar único e crítico sobre os desafios, as contradições e as riquezas que moldam nossa trajetória enquanto nação.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

O poder da arte na Itália


O nascimento de Vênus, de Botticelli. Diante das obras de Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Caravaggio, Boticcelli, Rafael e tantos outros, mergulhei em um universo bem particular. Enquanto o fluxo de turistas seguia seu ritmo frenético em busca de uma selfie, meus pensamentos se voltavam para dentro de mim, em um momento valioso de introspecção
O nascimento de Vênus, de Botticelli. Diante das obras de Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Caravaggio, Boticcelli, Rafael e tantos outros, mergulhei em um universo bem particular. Enquanto o fluxo de turistas seguia seu ritmo frenético em busca de uma selfie, meus pensamentos se voltavam para dentro de mim, em um momento valioso de introspecção


O poder da arte na Itália 

Percorrer as ruas de Florença, onde Leonardo Da Vinci caminhou, transportou-me para outras dimensões

29 ABRIL 2025, 


Um dos momentos mais marcantes da minha vida e da minha conexão com a arte aconteceu há alguns anos, durante uma viagem à Itália. Lá, eu tive a oportunidade de contemplar, ao vivo, obras que por tanto tempo admirei e estudei apenas em páginas de livros. As emoções que senti tornaram-se verdadeiros tesouros da minha memória, pois reconheço a preciosidade de viver algo tão transformador.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

A utopia da democracia / Reflexões em tempos sombrios

 

Manifestante faz referência ao gesto de Elon Musk durante a posse de Donald Trump. Ao realizar uma saudação nazista, Musk não apenas chocou o mundo, mas também reforçou a normalização de símbolos históricos de opressão, violência e autoritarismo. Musk gerou repercussões globais, incentivando extremistas ao redor do mundo e alimentando a retórica de grupos neonazistas, que enxergaram naquele ato uma validação de suas crenças. Não houve, porém, nenhuma responsabilização por seu ato
Manifestante faz referência ao gesto de Elon Musk durante a posse de Donald Trump. Ao realizar uma saudação nazista, Musk não apenas chocou o mundo, mas também reforçou a normalização de símbolos históricos de opressão, violência e autoritarismo. Musk gerou repercussões globais, incentivando extremistas ao redor do mundo e alimentando a retórica de grupos neonazistas, que enxergaram naquele ato uma validação de suas crenças. Não houve, porém, nenhuma responsabilização por seu ato


A utopia da democracia

Reflexões em tempos sombrios

29 MAIO 2025, 


Vivemos tempos em que a democracia, essa construção humana tão frágil quanto ambiciosa, parece estar constantemente à beira de um abismo. Em várias partes do mundo, discursos autoritários que acreditávamos relegados ao passado ressurgem com força, embalados por promessas de ordem e moralismo que, ao fim, nada mais são do que a negação da diversidade e dos direitos fundamentais. Os direitos humanos, conquista duramente alcançada em séculos de luta, tornam-se alvos fáceis de líderes populistas e do radicalismo que, por conveniência ou ignorância, os demonizam. Nesse cenário, as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, erguem-se como atores poderosos, moldando o pensamento e o comportamento global, frequentemente sem prestar contas a ninguém.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Entre história e arte / A caravana modernista em Minas Gerais

 

Colagem de fotografias dos membros do Grupo dos Cinco, da esquerda para direita: Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Anita Malfatti e Oswald de Andrade. A chamada Caravana Modernista era composta pelo escritor Mário de Andrade, o poeta Oswald de Andrade e seu filho Nonê, a pintora Tarsila do Amaral, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado e o escritor e político Godofredo Rangel. A jornada, além de um exercício de descoberta, consolidaria uma identidade artística nacional autêntica, inspirando novas formas de expressão na literatura e nas artes visuais. Mais do que uma viagem, a Caravana Modernista foi um rito de passagem e um mergulho na essência de um Brasil que aprendia a se reconhecer
Colagem de fotografias dos membros do Grupo dos Cinco, da esquerda para direita: Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Anita Malfatti e Oswald de Andrade. A chamada Caravana Modernista era composta pelo escritor Mário de Andrade, o poeta Oswald de Andrade e seu filho Nonê, a pintora Tarsila do Amaral, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado e o escritor e político Godofredo Rangel. A jornada, além de um exercício de descoberta, consolidaria uma identidade artística nacional autêntica, inspirando novas formas de expressão na literatura e nas artes visuais. Mais do que uma viagem, a Caravana Modernista foi um rito de passagem e um mergulho na essência de um Brasil que aprendia a se reconhecer


Entre história e arte

A caravana modernista em Minas Gerais

29 JUNHO 2025, 
ANA PAULA ALMEIDA MARCHESOTTI


Em julho de 1924, um grupo de intelectuais e artistas partiu de São Paulo rumo a Minas Gerais, buscando um Brasil profundo e genuíno, afastado da estética acadêmica e da herança colonial europeia. A chamada Caravana Modernista era composta pelo escritor Mário de Andrade, o poeta Oswald de Andrade e seu filho Nonê, a pintora Tarsila do Amaral, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado e o escritor e político Godofredo Rangel. A jornada, além de um exercício de descoberta, consolidaria uma identidade artística nacional autêntica, inspirando novas formas de expressão na literatura e nas artes visuais. Mais do que uma viagem, a Caravana Modernista foi um rito de passagem e um mergulho na essência de um Brasil que aprendia a se reconhecer.

A origem dessa viagem remonta a 1919, quando Mário de Andrade visitou Minas Gerais para se encontrar com o poeta Alphonsus de Guimaraens, em Mariana. Esse primeiro contato com as paisagens e o patrimônio cultural mineiro marcou profundamente o escrito e foi um estopim para a organização da caravana modernista, cinco anos mais tarde.

O grupo percorreu cidades como Ouro Preto, Congonhas, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes, Belo Horizonte, Lagoa Santa absorvendo a grandiosidade da arquitetura barroca e a riqueza cultural do seu povo. Fascinados pela genialidade de Aleijadinho e pela oralidade popular mineira, os modernistas encontravam, nas igrejas e nas ruas, não apenas o passado, mas um Brasil vivo e mestiço, digno de ser retratado em palavras e cores vibrantes.

A passagem por Belo Horizonte, no entanto, não provocou o mesmo encantamento que as cidades barrocas. A nova capital, fundada há apenas 26 anos, procurava exalar uma imagem de modernidade e, para isso, foi construída à semelhança das metrópoles europeias. Não era o que os modernistas vieram buscar em Minas Gerais! Oswald de Andrade descreveu o ecletismo arquitetônico da cidade como um "Versailles de estuque", enquanto Mário, em Noturno de Belo Horizonte, capturou a frieza da cidade moderna em versos como:

Maravilha de milhares de brilhos vidrilhos,
Calma do noturno de Belo Horizonte...
O silêncio fresco desfolha das árvores
E orvalha o jardim só.

Se Belo Horizonte não impressionou os modernistas, o mesmo não se pode dizer do encontro com alguns talentosos intelectuais mineiros. Ao chegarem à capital do estado, os membros da Caravana hospedaram-se no Grande Hotel, situado na Rua da Bahia. Nesse local, ocorreu um encontro marcante com jovens escritores que já demonstravam inclinações modernistas. Entre eles estavam Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Emílio Moura, Martins de Almeida e João Alphonsus. Esse encontro foi fundamental para estreitar os laços entre os grupos paulista e mineiro, fortalecendo o movimento modernista no Brasil.

Pedro Nava, em suas memórias, destacou a importância desse momento: "Uma das coisas mais importantes para a vida do nosso grupo foi a visita, logo depois da Semana Santa de 1924, da caravana paulista que andava descobrindo o Brasil". Carlos Drummond de Andrade também reconheceu a relevância desse encontro e, em correspondência com Mário de Andrade, registrou: "Procure-me nas suas memórias de Belo Horizonte: um rapaz magro, que esteve consigo no Grande Hotel, e que muito o estima. Ora, eu desejo prolongar aquela fugitiva hora de convívio com o seu claro espírito". Essa interação deu início a uma correspondência intensa entre Drummond e Mário de Andrade por décadas e que foi crucial para o desenvolvimento literário de ambos. 

De Belo Horizonte a Caravana partiu para conhecer outras cidades no entorno. Um dos momentos mais marcantes da viagem foi a passagem pela pequena Lagoa Santa, que, além de sua beleza natural, guardava vestígios de uma história ainda mais remota. Um século antes, o naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund realizou ali descobertas fundamentais para a Paleontologia e a Arqueologia brasileiras. Em suas pesquisas nas cavernas da região, Lund identificou fósseis de animais extintos e os primeiros vestígios do chamado "homem de Lagoa Santa", desafiando a visão eurocêntrica sobre a presença humana na América. A presença dos modernistas na cidade foi registrada no jornal Minas Gerais, de 27 de abril de 1924:

Os ilustres excursionistas vieram percorrer as cidades antigas e os sítios históricos e admirar as igrejas e outros monumentos do século 18, que possuímos. (...) Depois de visitar São João del-Rei e Tiradentes, onde assistiram à Semana Santa, os nossos hóspedes vieram para Belo Horizonte e aqui, quarta-feira última, fizeram uma excursão pela Serra do Cipó, detendo-se longo tempo em Lagoa Santa, onde admiraram as pinturas da Matriz e as belezas naturais do lugar, realizando um passeio na grande lagoa ali existente.

A constatação de que o Brasil era mais antigo do que imaginavam impactou profundamente os viajantes. Não éramos um país novo, mas uma Nação que havia se esquecido de sua própria ancestralidade. Tarsila do Amaral registrou em cores seu olhar sobre Lagoa Santa na obra que leva o nome da cidade. Oswald de Andrade, em Pau-Brasil, sintetizou suas sensações em versos:

Águas azuis no milagre dos matos.
Um cemitério negro.
Ruas de casas despencando a pique,
No céu refletido.

A jornada por Minas Gerais refletiu diretamente na produção artística dos modernistas. Mário de Andrade, inspirado pela viagem, incorporou suas impressões ao livro O Turista Aprendiz, um diário que mescla observação, crítica e lirismo. Tarsila do Amaral, ao revisitar a paisagem mineira, reencontrou as cores de sua infância e deu início à fase Pau-Brasil. Anos depois, ela confessaria:

Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado... Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura de branco.

Oswald de Andrade, por sua vez, absorveu as experiências e compôs o livro Pau-Brasil, no qual propôs uma literatura de linguagem direta e mestiça, valorizando a oralidade e o cotidiano brasileiro. Blaise Cendrars, o viajante estrangeiro, viu Minas Gerais como um poema vivo, reforçando sua visão do Brasil como um país de infinitas possibilidades culturais.

A Caravana Modernista não apenas atravessou Minas Gerais, ela a redescobriu. Nas igrejas de Ouro Preto, nos versos trocados em Belo Horizonte, nas águas e cavernas de Lagoa Santa os viajantes encontraram um Brasil mestiço, intenso e ancestral, que reverberaria para sempre em sua arte. E, enquanto as cores de Tarsila seguem vibrando, os poemas de Oswald ressoam e as palavras de Mário ecoam pelas páginas, fica a certeza de que essa viagem nunca terminou. A poeira levantada pela Caravana Modernista assentou-se nas páginas de livros, nas telas vibrantes, nos versos que reinventaram a língua. E quem percorre hoje os mesmos caminhos ainda pode sentir os ecos desse encontro: um Brasil que se descobre e se reinventa a cada olhar.


Imagem da projeção de obras de arte em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, 2022. A chamada Caravana Modernista era composta pelo escritor Mário de Andrade, o poeta Oswald de Andrade e seu filho Nonê, a pintora Tarsila do Amaral, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado e o escritor e político Godofredo Rangel
Mario de Andrade, Anita Malfatti e Zina Aita em 1922. De Belo Horizonte a Caravana partiu para conhecer outras cidades no entorno. Um dos momentos mais marcantes da viagem foi a passagem pela pequena Lagoa Santa, que, além de sua beleza natural, guardava vestígios de uma história ainda mais remota. Um século antes, o naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund realizou ali descobertas fundamentais para a Paleontologia e a Arqueologia brasileiras
Imagem da projeção de obras de arte em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, 2022. O grupo percorreu cidades como Ouro Preto, Congonhas, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes, Belo Horizonte, Lagoa Santa absorvendo a grandiosidade da arquitetura barroca e a riqueza cultural do seu povo. Fascinados pela genialidade de Aleijadinho e pela oralidade popular mineira, os modernistas encontravam, nas igrejas e nas ruas, não apenas o passado, mas um Brasil vivo e mestiço, digno de ser retratado em palavras e cores vibrantes
As mulheres modernistas Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Elsie Houston em fotografia realizada no contexto da Exposição de Tarsila do Amaral no Rio de Janeiro, em 1929. A passagem por Belo Horizonte, no entanto, não provocou o mesmo encantamento que as cidades barrocas
Imagem da projeção de obras de arte em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, 2022. Em julho de 1924, um grupo de intelectuais e artistas partiu de São Paulo rumo a Minas Gerais, buscando um Brasil profundo e genuíno, afastado da estética acadêmica e da herança colonial europeia
Mario de Andrade, Rubens Borba de Moraes e outros modernistas em 1922. A nova capital, fundada há apenas 26 anos, procurava exalar uma imagem de modernidade e, para isso, foi construída à semelhança das metrópoles europeias. Não era o que os modernistas vieram buscar em Minas Gerais!
  1. Imagem da projeção de obras de arte em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, 2022. A chamada Caravana Modernista era composta pelo escritor Mário de Andrade, o poeta Oswald de Andrade e seu filho Nonê, a pintora Tarsila do Amaral, o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado e o escritor e político Godofredo Rangel
  2. Mario de Andrade, Anita Malfatti e Zina Aita em 1922. De Belo Horizonte a Caravana partiu para conhecer outras cidades no entorno. Um dos momentos mais marcantes da viagem foi a passagem pela pequena Lagoa Santa, que, além de sua beleza natural, guardava vestígios de uma história ainda mais remota. Um século antes, o naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund realizou ali descobertas fundamentais para a Paleontologia e a Arqueologia brasileiras
  3. Imagem da projeção de obras de arte em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, 2022. O grupo percorreu cidades como Ouro Preto, Congonhas, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes, Belo Horizonte, Lagoa Santa absorvendo a grandiosidade da arquitetura barroca e a riqueza cultural do seu povo. Fascinados pela genialidade de Aleijadinho e pela oralidade popular mineira, os modernistas encontravam, nas igrejas e nas ruas, não apenas o passado, mas um Brasil vivo e mestiço, digno de ser retratado em palavras e cores vibrantes
  1. As mulheres modernistas Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Elsie Houston em fotografia realizada no contexto da Exposição de Tarsila do Amaral no Rio de Janeiro, em 1929. A passagem por Belo Horizonte, no entanto, não provocou o mesmo encantamento que as cidades barrocas
  2. Imagem da projeção de obras de arte em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, 2022. Em julho de 1924, um grupo de intelectuais e artistas partiu de São Paulo rumo a Minas Gerais, buscando um Brasil profundo e genuíno, afastado da estética acadêmica e da herança colonial europeia
  3. Mario de Andrade, Rubens Borba de Moraes e outros modernistas em 1922. A nova capital, fundada há apenas 26 anos, procurava exalar uma imagem de modernidade e, para isso, foi construída à semelhança das metrópoles europeias. Não era o que os modernistas vieram buscar em Minas Gerais!

MEER






terça-feira, 22 de julho de 2025

Hans Christian Andersen / A pequena vendedora de fósforos


Hans Christian Andersen
A Pequena Vendedora de Fósforos





Era véspera de Natal. Fazia um frio intenso; já estava escurecendo e caía neve. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite, que caía rapidamente, uma criança, uma menina descalça e de cabeça descoberta, vagava pelas ruas. Ela estava calçada quando saiu de casa, mas os chinelos eram muito grandes, pois eram os que a mãe usara, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados quando atravessava correndo uma rua para fugir de dois carros que vinham em disparada. Não pôde achar um dos chinelos e o outro apanhou-o um rapazinho, que saiu correndo, gritando que aquilo ia servir de berço aos seus filhos quando os tivesse. A menina continuou a andar, agora com os pés nus e gelados. Levava no avental velhinho uma porção de pacotes de fósforos. Tinha na mão uma caixinha: não conseguira vender uma só em todo o dia, e ninguém lhe dera uma esmola — nem um só cruzeiro.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Pantera Negra: uma mensagem de diversidade

 

Em seis dias, o filme já conquistou a quinta maior bilheteria de estreia da história (Reprodução)

Pantera Negra: uma mensagem de diversidade


Pedro Fonseca E. Silva

Há 10 anos, a Marvel Studios iniciou um projeto ousado que renderia bilhões nas bilheterias mundiais com o filme Homem de Ferro (2008). Desde então, a empresa já conta com mais de uma dezena de filmes sobre super-heróis, conquistando um espaço único para si com sua famosa “Fórmula Marvel”. Enquanto muitos esperam a consagração de toda essa jornada com Vingadores: Guerra Infinita, recebemos um presente antecipado com a estreia de Pantera Negra, que traz consigo um ar revigorante para as adaptações de quadrinhos.

Após a morte do rei de Wakanda, T’Chaka, o príncipe T’Challa deve voltar ao seu país e assumir oficialmente o trono como Pantera Negra, defensor de Wakanda. O novo rei terá que batalhar para provar ao seu povo que é digno de liderar o país mais avançado da Terra, que há muito exilou-se do resto do mundo, ao mesmo tempo em que enfrenta algumas figuras do passado de Wakanda.

Pantera Negra não é o primeiro herói dos quadrinhos a atuar no continente africano. Antepassados como o Fantasma, personagem da década de 20, ou mesmo um nome mais conhecido como Tarzan são situados na África. Porém, T’Challa é um personagem genuinamente africano, e esse fato emblemático trouxe peso simbólico ao filme. Para realizar essa empreitada, a produção reuniu um elenco predominantemente negro com nomes como Chadwick Boseman, Michel B. Jordan, Lupita Nyong’o e Daniel Kaluuya. Com direção de Ryan Coogler (Creed (2015)), a obra possui também uma trilha sonora com faixas inéditas do rapper Kendrick Lamar que conferem um ritmo moderno e intenso à história.

Os inimigos Killmonger e Pantera Negra. O antagonista foi inspirado em Cidade de Deus (Reprodução)

Todo esse esforço para montar um grupo de peso provou-se digno logo nos primeiros minutos de filme. Como esperado, todos foram capazes de executar perfeitamente seus papéis e, assim, criar o vínculo necessário com o público. Em meio a todas essas grandes personalidades, o jovem astro Michael B. Jordan e seu personagem, Killmonger, toma para si o destaque.

O ator está acostumado com o universo dos super-heróis: ele já atuou como Tocha Humana no remake Quarteto Fantástico (2015) e emprestou a voz para o herói Cyborg na animação Justice League: The Flashpoint Paradox (2013). Mas é como antagonista que ele finalmente alcança seu ápice e consegue construir o vilão mais completo do universo Marvel. Killmonger atua como o contraponto de T’Challa, representando a visão  de quem teve que conviver com todo o preconceito do mundo sem nenhuma proteção e agora deseja alterar essa realidade da maneira que puder. O ator consegue equilibrar muito bem o desejo inocente de um jovem com a visão de um homem corrompido. É através da disputa de visões entre Killmonger e T’Challa que se dá o maior embate do filme.

O longa inspirou campanhas para levar crianças de comunidades negras ao cinema (Reprodução)

A produção é a segunda da Marvel a apresentar um super-herói negro como protagonista – a primeira foi a trilogia Blade, o Caçador de Vampiros (1998-2004) . Tal empreitada traz consigo uma enorme responsabilidade por representar a cultura de um povo que sofreu por séculos com um processo de escravização e preconceito que permanece enraizado até hoje na sociedade. Em tempos nos quais visões preconceituosas marcham nas ruas protestando por um mundo desigual e grandes líderes mostram-se complacentes a todo esse absurdo também é justo que se faça uma alusão ao papel da política nesse cenário.

Essa alusão vem representada no papel de Chadwick Boseman, o rei T’Challa. Recém-empossado como monarca de Wakanda, o país mais desenvolvido do mundo, ele deve decidir entre manter-se preso a uma visão isolacionista e conservadora ou lutar pelo desejo de um mundo integrado e pacífico.

Okoye, Nakia e Ayo (Florence Kasumba). Okoye e Nakia se contrapõem (Reprodução)

Com esse debate em pauta é preciso novamente elogiar a tomada de escolha do elenco, pois através dela foi possível abrir uma brecha para tocar em outro ponto fundamental: a força da mulher na sociedade. A escolha de um elenco repleto de grandes atrizes tornou possível representar um núcleo de personagens femininas que cercam o trono de Wakanda e que por vezes trazem pautas e tomadas de decisões mais importantes do que o próprio protagonista. Elas atuam como líderes, rainhas, cientistas e guerreiras.

Um ótimo exemplo são as personagens de Nakia (Lupita Nyong’o), amiga de infância de T’Challa, e Okoye (Danai Gurira), a líder das defensoras do rei, as Dora Milaje. Em um conflito semelhante ao de T’Challa e Killmonger, as duas mulheres representam pontos de vista distintos: Nakia anseia pela mudança em um país cercado pelo conservadorismo enquanto Okoye luta para se manter fiel à postura que sempre guiou e protegeu seu reino.

Mesmo com tantos pontos positivos, o filme peca ao executar algumas de suas principais promessas. Em parte, o roteiro do filme se mostra clichê na clássica “jornada do rei” que muito lembra a trama de O Rei Leão (1994). Além disso, a publicidade do filme apontava um maior destaque para a cultura africana em cenas com os habitantes de Wakanda, representados por uma variedade de vestimentas e cores. Porém, a falta de segurança do diretor com os efeitos de computação gráfica e a necessidade de contar parte da história com ambientação em outros países impediram que ele explorasse ao máximo o país fictício e fez com que se limitasse ao arco da família real.

Imperfeito, porém único – essa é a melhor maneira para descrever o novo longa da Marvel Studios. A obra de Ryan Coogler pode não ter conseguido explorar todo o potencial do personagem, mas foi a primeira a apresentar um tom mais sério e fugir da velha “Fórmula Marvel”. Abordando temas sintonizados à atualidade, o filme construiu uma figura de herói para aqueles que mais precisavam e uma nova base para filmes desse nicho.


PERSONA