A cantora Amy Winehouse, em uma imagem inédita publicada no livro 'Amy Winehouse by Blake Wood'.BLAKE WOOD |
Amy Winehouse também foi feliz
Um livro de fotografias inéditas mostra a rainha do soul relaxada e natural como nunca antes se viu
Maria Salas Araá
Madri, 11 nov 2018
Por trás do inconfundível cabelo, das tatuagens e do agressivo delineador de olhos de Amy Winehouse (1983-2011), rainha do soul falecida há sete anos, escondia-se uma mulher sensível, extremamente vulnerável, que desejava se afastar de seus vícios e da perseguição da mídia para curtir em segredo a praia e conversas íntimas com um de seus grandes amigos: o fotógrafo Blake Wood. A imagem que ficou marcada é a de uma vida pública que os tabloides transmitiram ao vivo, repleta de aparições em que estava embriagada, de declarações explosivas e, no final, o famoso show de Belgrado, o último —pouco mais de um mês antes de sua morte—, no qual Winehouse mal pôde balbuciar, entre vaias, algumas palavras inaudíveis.
Mas havia outra face. Seu amigo Blake Wood foi um dos poucos a conhecer a sensibilidade que a poderosa imagem de Winehouse escondia, a mesma que interrompeu Bono, do U2, durante seu discurso nos prêmios Q Music Awards com um “cala a boca, não estou nem aí com o que você diz”. Viajando por Londres, Paris ou Santa Lúcia, o fotógrafo registrou com sua Polaroid momentos privados da artista, cuja faceta mais alegre, oculta até agora, é revelada pela primeira vez. O livro Amy Winehouse by Blake Wood, editado pela Taschen, reúne 85 fotografias em preto e branco, na maioria inéditas. Foram tiradas entre 2008 e 2009, um dos períodos mais complicados da cantora. O ano de 2008 foi o mais devastador, com detenções por posse de drogas, uma briga a socos com um fã em um show e a separação de seu polêmico marido Blake Fielder-Civil, com quem se casara meses antes, em maio de 2007. Suas brigas e reconciliações, entre crack, heroína e álcool, encheram os tabloides. A espiral destrutiva continuou com a entrada de Fielder-Civil na prisão, de onde pediu o divórcio, assinado em 2009. Winehouse sempre disse que foi o amor de sua vida.
É surpreendente que naquele momento de vícios, transtornos alimentares e depressão, a jovem fosse retratada sorridente e natural, sóbria, com o cabelo ao vento, brincando com a areia e montando a cavalo. Ela só teve essa confiança com Blake Wood, só deixou que ele a fotografasse, sabendo que não escondia más intenções nem procurava, como muitos outros, imortalizar suas desgraças. Com ele, encontrava a paz. A amizade entre os dois foi quase imediata. Conheceram-se em janeiro de 2008 em Londres, quando ele aspirava a ser fotógrafo e ela já era uma artista consagrada, com uma fama que não se via desde os Beatles. O livro conta que a britânica nunca agiu como uma estrela, e sim com ternura, comovida pela história de Wood, que atravessava um mau momento depois de um rompimento amoroso. Ela o apoiou, cantou-lhe Some Unholy War e acariciou-lhe o cabelo até ele dormir. Tornaram-se inseparáveis.
Em pouco tempo o fotógrafo viu como Winehouse “vivia prisioneira” e tentou afastá-la de seu apartamento no bairro londrino de Candem, onde os paparazzi tinham acampado, para que se sentisse livre e se afastasse dos excessos. Acompanhou-a durante a reabilitação —“não foi fácil”— e celebrou seu triunfo nos prêmios Grammy de 2008, uma edição apoteótica em que a cantora bateu recordes. Ganhou cinco, um deles o de melhor canção do ano por Rehab, a história rebelde, contada em primeira pessoa, de uma mulher que se refugia no álcool para superar um rompimento e se nega a ir para uma clínica de reabilitação.
Quando todos temiam seu fim, que demorou três anos para chegar, Winehouse e Wood se refugiavam durante temporadas na ilha caribenha de Santa Lúcia, sua proteção, o ambiente onde se sentiu a salvo. “Houve momentos incrivelmente brilhantes em meio a todo o caos e isso é o que vejo nestas imagens”, explica no livro o autor das fotos mais pessoais já vistas da cantora. Nadavam, tomavam sol, brincavam no balanço, faziam ioga, e Winehouse vivia com ele uma transformação física e mental. Vê-se uma Amy saudável, forte, alegre, que desfruta a natureza e brinca com seu amigo. “Quero demonstrar que nem tudo foi tão ruim naqueles anos, houve momentos bons e divertidos, e quero mostrar de uma forma jamais vista como capturei sua beleza ao natural. Ela não sabia o quanto era linda. Tentei dizer isso a ela”, acrescenta.
A favorita de Wood é a foto de Winehouse em uma cadeira de praia tomando sol seminua. “Era estranho para mim vê-la dessa maneira, sóbria e tranquila, simplesmente sentindo-se bem e cômoda em sua própria pele. Irradiava energia”, recorda. O fotógrafo conta que sonhavam com o futuro. “Íamos fazer uma viagem pelos Estados Unidos. Ela me disse: ‘Vamos rir em nossas cadeiras de balanço algum dia’”. Todo foi interrompido em 23 de julho de 2011 por um consumo letal de vodca que tirou a vida de Winehouse aos 27 anos, uma idade maldita, e a transformou em lenda. Através de suas fotografias, Wood quer que todos descubram a pessoa que ele conheceu e apreciem “essa luz, essa luz brilhante e amorosa” que só uns poucos puderam ver em Amy Winehouse.
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