quarta-feira, 23 de julho de 2014

Os segredos de Francis Bacon

Os segredos de Francis Bacon


O Brasil recebe uma exposição com 43 obras do artista, que, até o ano 2000, estavam sob sigilo

     

Desenho de Francis Bacon, que faz parte da Série dos Papas.
No ano passado, uma obra do artista irlandês Francis Bacon (Dublin, 1909 – Madrid, 1992) foi arrematada em um leilão por 142,4 milhões de dólares (cerca de 326,6 milhões de reais na época), o maior valor da história para uma obra de arte já leiloada. Esse é um exemplo de como nenhuma notícia sobre Francis Bacon passa batida. E a mais nova delas é sobre uma exposição inédita no Brasil, que fica em cartaz no Paço das Artes, em São Paulo, desta quarta até 7 de setembro, com 43 obras que até alguns anos atrás estavam guardadas sob sigilo.
A exposição Italian Drawings, feita de desenhos a lápis, em colorido e preto e branco, entre 1970 e 1990, estavam sob os cuidados do companheiro do pintor, o jornalista italiano Cristiano Lovatelli-Ravarino. Até o ano 2000, essas obras ficaram guardadas sigilosamente. Porém, de lá pra cá, a coleção de Lovatelli-Ravarino se tornou pública e já foi tema de mais de 15 exposições, entra a Itália, Argentina, Chile, Portugal, México, Alemanha, República Tcheca, Taiwan, Inglaterra e agora chega ao Brasil.


'Retrato', de Francis Bacon / Coleção Privada.
Ronda um certo mistério em torno desses desenhos. Mas, segundo uma das curadoras da exposição, Serena Baccaglini, a história é que, em dado momento, Bacon começou a se sentir cansado de Londres, onde vivia, pois sentia-se controlado por sua própria fama. Resolveu então partir para um lugar onde fosse menos conhecido: a Itália, um de seus lugares favoritos. Lá, conheceu Lovatelli-Ravarino. “Um companheiro constante de suas aventuras foi um charmoso jovem ítalo-americano Cristiano Lovatelli-Ravarino. Há muitas evidências de que, muitas vezes, eles foram vistos juntos”, conta Baccaglini. No final da vida, Bacon quis inventar um novo meio de se expressar. “Um meio que sempre o havia intimidado”, diz a curadora. E assim surgiu essa série de desenhos que foram dados de presente ao seu companheiro. “E um aspecto surpreendente dessa série de desenhos é que eles resumem os temas de suas obras feitas no início de sua carreira”, explica Baccaglini.
Segundo a curadora, nessa exposição será possível encontrar obras em que as cores são usadas "de uma forma muito criativa", como alguns desenhos a lápis “onde o traço tem uma força especial que quase marca o papel”. “Muitos desenhos dessa exposição no Brasil foram selecionados pensando na grande sensibilidade dos brasileiros com as cores”, diz. “Um exemplo é a escolha da incrível imagem do Papa pintado com um vermelho forte e um verde e amarelo no fundo, algo pouco usual, mas muito expressivo”, diz ela.


'Retrato', de Francis Bacon. / COLEÇÃO PARTICULAR
Além de uma série de desenhos do Papa, outros temas que, segundo ela, são os mais importantes de Bacon também fazem parte da exposição: Uma série de crucificações onde a figura humana é o centro de interesse do artista. “Podemos sentir a partir daí, o quanto a obra de Bacon enfatiza o isolamento humano”, diz Baccaglini. “Cada uma das obras de Bacon exige atenção e resiste à explicação”, conclui.
Suas obras são impactantes e, muitas vezes, violentas. Bacon tinha um gosto especial por desenhar, além de rostos e corpos distorcidos, fluidos humanos e, como já dito, elementos da igreja. Suas influências começaram com Picasso. “Quando eu vi aquelas figuras senti uma espécie de choque e percebi que queria ser pintor”, disse o artista certa vez.
“Estou sempre esperando para deformar a aparência das pessoas”, disse Bacon. “Eu não posso pintá-los literalmente”. Os desenhos “não literais” do artista foram trazidos pela Mega Cultural e têm curadoria, além de Baccaglini, de Monika Burian.




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