MARINA ROSSI São Paulo 17 JUL 2014 - 13:13 BRT
No ano passado, uma obra do artista irlandês Francis Bacon (Dublin, 1909 – Madrid, 1992) foi arrematada em um leilão por 142,4 milhões de dólares (cerca de 326,6 milhões de reais na época), o maior valor da história para uma obra de arte já leiloada. Esse é um exemplo de como nenhuma notícia sobre Francis Bacon passa batida. E a mais nova delas é sobre uma exposição inédita no Brasil, que fica em cartaz no Paço das Artes, em São Paulo, desta quarta até 7 de setembro, com 43 obras que até alguns anos atrás estavam guardadas sob sigilo.
A exposição Italian Drawings, feita de desenhos a lápis, em colorido e preto e branco, entre 1970 e 1990, estavam sob os cuidados do companheiro do pintor, o jornalista italiano Cristiano Lovatelli-Ravarino. Até o ano 2000, essas obras ficaram guardadas sigilosamente. Porém, de lá pra cá, a coleção de Lovatelli-Ravarino se tornou pública e já foi tema de mais de 15 exposições, entra a Itália, Argentina, Chile, Portugal, México, Alemanha, República Tcheca, Taiwan, Inglaterra e agora chega ao Brasil.
Ronda um certo mistério em torno desses desenhos. Mas, segundo uma das curadoras da exposição, Serena Baccaglini, a história é que, em dado momento, Bacon começou a se sentir cansado de Londres, onde vivia, pois sentia-se controlado por sua própria fama. Resolveu então partir para um lugar onde fosse menos conhecido: a Itália, um de seus lugares favoritos. Lá, conheceu Lovatelli-Ravarino. “Um companheiro constante de suas aventuras foi um charmoso jovem ítalo-americano Cristiano Lovatelli-Ravarino. Há muitas evidências de que, muitas vezes, eles foram vistos juntos”, conta Baccaglini. No final da vida, Bacon quis inventar um novo meio de se expressar. “Um meio que sempre o havia intimidado”, diz a curadora. E assim surgiu essa série de desenhos que foram dados de presente ao seu companheiro. “E um aspecto surpreendente dessa série de desenhos é que eles resumem os temas de suas obras feitas no início de sua carreira”, explica Baccaglini.
Segundo a curadora, nessa exposição será possível encontrar obras em que as cores são usadas "de uma forma muito criativa", como alguns desenhos a lápis “onde o traço tem uma força especial que quase marca o papel”. “Muitos desenhos dessa exposição no Brasil foram selecionados pensando na grande sensibilidade dos brasileiros com as cores”, diz. “Um exemplo é a escolha da incrível imagem do Papa pintado com um vermelho forte e um verde e amarelo no fundo, algo pouco usual, mas muito expressivo”, diz ela.
Além de uma série de desenhos do Papa, outros temas que, segundo ela, são os mais importantes de Bacon também fazem parte da exposição: Uma série de crucificações onde a figura humana é o centro de interesse do artista. “Podemos sentir a partir daí, o quanto a obra de Bacon enfatiza o isolamento humano”, diz Baccaglini. “Cada uma das obras de Bacon exige atenção e resiste à explicação”, conclui.
Suas obras são impactantes e, muitas vezes, violentas. Bacon tinha um gosto especial por desenhar, além de rostos e corpos distorcidos, fluidos humanos e, como já dito, elementos da igreja. Suas influências começaram com Picasso. “Quando eu vi aquelas figuras senti uma espécie de choque e percebi que queria ser pintor”, disse o artista certa vez.
“Estou sempre esperando para deformar a aparência das pessoas”, disse Bacon. “Eu não posso pintá-los literalmente”. Os desenhos “não literais” do artista foram trazidos pela Mega Cultural e têm curadoria, além de Baccaglini, de Monika Burian.
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