David Bowie Poster de T.A. |
Segredos revelados
da vida selvagem de David Bowie
O primeiro de quatro livros sobre o cantor a serem lançados neste ano fala do vício por sexo e cocaína
IRENE CRESPO
Madri 21 AGO 2017 - 17:56 COT
David Jones não quis ser artista ou simplesmente um músico; David Jones sempre quis ser uma estrela. Era a única forma de não voltar a ver a miséria que vivenciou quando pequeno. E acabou, de fato, sendo uma estrela, chamada David Bowie. “Vi gente desfavorecida ao meu redor, e crianças que iam à escola com sapatos rasgados, crianças pobres. Isso me impactou de tal forma que decidi que nunca iria passar fome nem estar no lado errado da sociedade”, disse o cantor certa vez a Dylan Jones, ex-diretor da edição britânica da revista GQ e autor da ainda inédita biografia David Bowie: A Life, um dos quatro livros sobre o cantor a serem publicados neste semestre.
“David Bowie era a sua própria criação, sua própria obra de arte. Era um menino do Brixton [bairro da zona sul de Londres] do pós-guerra, com seu olhar voltado para o mundo”, relata Jones, que já tinha escrito um livro anterior sobre Bowie e sua transformação em Ziggy Stardust. “Toda a sua carreira profissional foi um mito, uma lenda e uma invenção”, diz ele. As inúmeras histórias relatadas nesta nova biografia agregam material verídico à lenda, a partir de depoimentos e lembranças recolhidas de mais de 180 pessoas que o conheceram, “amigos, rivais, amantes e colaboradores”, segundo o autor.
“Descobri coisas sobre ele nos anos setenta que me surpreenderam”, diz Dylan Jones – e isso quando parecia que sabíamos tudo sobre Bowie. “Suas extravagâncias sexuais e narcóticas fazem os Rolling Stones parecerem amadores.” E, além disso, começou muito cedo.
A cantora Dana Gillespie, por exemplo, recorda que quando foi namorada dele, nos anos sessenta – ela com 13 ou 14 anos, e Bowie com dois a mais –, ele já a traía tanto com homens quanto com mulheres. Foi o momento em que o cantor tentava encontrar sua identidade e trocava de imagem a cada 18 meses. Passeava pela Carnaby Street recolhendo os sacos de lixo cheios de roupa desprezada pelas lojas. Influenciado pela leitura de Starman Jones, O Retrato de Dorian Gray e todos os filmes, livros e músicas aos quais fora apresentado por seu meio-irmão Terry, David Bowie saciava sua incansável curiosidade e sua necessidade constante de melhorar, mas também os usou primeiro como uma forma de fugir daquela miséria de Bromley e, mais tarde e pelo resto da sua vida, de escapar da loucura que pairava sobre sua família materna e à qual Terry viria a sucumbir.
“Como quase todos nós, teve medo de enlouquecer, mas isso claramente nunca lhe aconteceu, apesar de seus esforços”, diz o escritor Hanif Kureishi, seu amigo, na crítica sobre esta nova biografia, que descreve como a mais completa publicada até agora.
Lá está toda a sua vida, de Bromley até o final, em Nova York, junto à mulher que mudou sua vida, Iman. Há histórias para fãs, como a viagem que compartilhou com John Lennon a Hong Kong, onde procuraram um restaurante para comer miolos de macaco, mas Lennon acabou bebendo sangue de cobra e colocando na boca de Bowie um ovo que havia passado 1.000 dias sendo cozido em urina de cavalo; ou quando Paul McCartney o convidou para ir à sua casa, mas, claramente com inveja do seu sucesso, não apareceu para recebê-lo, delegando a tarefa à sua mulher, Linda.
Mas o livro também fala da sua reconhecida bissexualidade e de como usou o sexo como arma ou meio para conseguir tudo o que queria, tudo o que ele precisava para virar uma estrela. Como no caso de Lindsay Kemp, a mímica que diz ter ensinado a Bowie tudo sobre como se movimentar no palco e com quem manteve um relacionamento. Ela se recorda de acordar certa manhã e ver Bowie, no quarto ao lado, tendo relações com sua melhor amiga.
Mais sedutor que sexy
“David era magnético. Mais sedutor que sexy”, diz Tony Zanetta, que foi seu empresário nos anos setenta. Dizia ter dormido com mais de 1.000 mulheres, e algumas das groupies que conheceram esse carisma sedutor contam suas histórias. Como Lori Mattix que perdeu sua virgindade com Bowie quando tinha 15 anos. Ou Josette Caruso, que descobre ao menos um limite sexual que ele impunha: deitar-se com um cadáver. “Por que alguém acharia que eu me interessaria por um troço desses?”, disse ele, surpreso, segundo o relato de Caruso.
Sua fama se espalhava – as orgias que organizava nos anos setenta com sua mulher, Angie, seus anos em Los Angeles nos quais consumia sete gramas de cocaína por dia, e que o levou a pesar apenas 43 quilos. Evitava somente as drogas psicodélicas, por medo de desencadear a esquizofrenia. A vida toda tentando fugir da loucura, mas roçando-a com os dedos. Só ter conhecido Iman, em 1990, evitou esse destino.
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