Cena do filme interpretado por Cate Blanchett, Robert Redford e Bruce Greenwood

Conspiração e Poder

A disputa cinematográfica entre a narrativa política e a jornalística

9 ABRIL 2024, 
LUIZA BASTOS



Dentro de uma democracia, o papel do jornalismo é imprescindível para noticiar e reportar ações dos governantes, mantendo a população sempre informada sobre o que ocorre nos meios políticos. Há muito tempo, a narrativa jornalística possui um poder significativo na decisão de voto dos cidadãos, devido à sua grande influência e à facilidade de ingressar nas casas e vidas das pessoas.

Esse poder pode ser tanto positivo quanto negativo, dependendo do ponto de vista. Uma mesma reportagem pode prejudicar um candidato e, assim, beneficiar outro. Acontece que os políticos também possuem grande poder e influência, criando, assim, uma grande disputa pela narrativa. Essa narrativa, por sua vez, nem sempre é verdadeira, independentemente do lado.

No ano de 2004, durante as eleições nos EUA, a repórter investigativa Mary Mapes da CBS recebe informações de que o presidente e candidato à reeleição, George W. Bush, possuía irregularidades durante seu período de serviço militar. Segundo as informações, o filho de George H. W. Bush usou as vantagens do pai enquanto este era presidente para evitar servir na Guerra do Vietnã. O papel de Mary é interpretado brilhantemente pela vencedora do Oscar, Cate Blanchett.

Assumindo a posição de principal produtora da reportagem, Mary conta também com a parceria do veterano âncora Dan Rather, interpretado por Robert Redford, que, em 1976, também foi responsável por assumir o papel de um jornalista político e um dos responsáveis pela investigação que culminou no escândalo político norte-americano conhecido como Watergate, no aclamado "Todos os Homens do Presidente".

Para averiguar as informações recebidas e coletar mais evidências sobre essa história, a produtora conta com uma equipe formada por Mike Smith, um jornalista que está sem rumo e apresenta grandes críticas ao atual governo, interpretado por Topher Grace, e o ex-militar Coronel Roger Charles, interpretado por Dennis Quaid, e a professora de jornalismo Lucy Scott, interpretada por Elisabeth Moss.

Passamos, então, a acompanhar o ritmo frenético das investigações, que envolvem várias ligações recusadas, inúmeras tentativas de entrevistas com políticos que atuaram no serviço militar na época e a confirmação da veracidade dos documentos obtidos.

Depois de, finalmente, obter o respaldo positivo de todas as informações coletadas, a matéria vai ao ar, causando enorme satisfação na equipe de repórteres. Porém, em pouco tempo, esse sentimento de vitória se transforma em grande angústia e desencadeia uma série de acusações sobre a autenticidade da matéria.

Mary Mapes se vê encurralada pelos chefões da CBS, que a pressionam sobre a fonte que lhe forneceu os documentos que, até então, comprovavam a veracidade da história. A partir daí, a repórter vê seu trabalho e o de sua equipe ser descredibilizado, colocando sua carreira em risco e a do seu amigo Dan Rather.

Todos os membros da equipe são convocados a prestar esclarecimentos sobre a forma como conduziram a investigação e obtiveram as informações. Entre uma das questões levantadas pela comissão responsável por esses depoimentos, uma pergunta torna-se frequente: o posicionamento político de Mary. Esse fato se mostra muito relevante, levando em consideração a proximidade das eleições e o período em que a trama se desenrola.

Fica muito evidente como a comprovação da história ou não, é decisiva para o rumo daquelas eleições. Isso faz surgir uma reflexão: existe uma disputa entre o jornalismo e a política sobre o domínio de uma narrativa? Se não houvesse nenhuma dúvida sobre a veracidade das informações, as eleições de 2004 poderiam ter sofrido uma grande reviravolta. Mais do que isso, tendo em vista a Guerra do Iraque, o cenário geopolítico também seria afetado e, possivelmente, esse conflito teria outro desfecho.

Para Mary Mapes e sua equipe, a luta pela verdade revelou não apenas os desafios do jornalismo, mas também a intensa batalha entre fatos e interesses políticos.


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