AS MIL FACETAS
DE PIER PAOLO PASOLINI
Mais conhecido por seus filmes Pier Paolo Pasolini foi muito mais que isso. Era um homem e um artista de multifacetas, algumas das quais exploraremos por aqui. Em sua curta vida (53 anos), passou da poesia ao romance, da pintura ao desenho e às colagens, e, no cinema, foi roteirista, ator e diretor.
AS MIL FACETAS
DE PIER PAOLO PASOLINI
Mais conhecido por seus filmes Pier Paolo Pasolini foi muito mais que isso. Era um homem e um artista de multifacetas, algumas das quais exploraremos por aqui. Em sua curta vida (53 anos), passou da poesia ao romance, da pintura ao desenho e às colagens, e, no cinema, foi roteirista, ator e diretor.
Um pouco de Pasolini
Nasceu na Bolonha, em 1922, e [apesar de mais conhecido como diretor de cinema], foi poeta, romancista, tradutor, roteirista, pintor, editor, crítico de arte e jornalista, comunista e homossexual. Graduou-se em literatura em 1939, na Universidade de Bolonha. Jovem, viveu na Itália de Mussolini e no pós-guerra na Itália destruída e deslocada no eixo europeu.
A personalidade de Pasolini sofreu algumas influências profundas neste período. Primeiro, a morte de seu irmão como guerrilheiro socialista e a luta dos trabalhadores rurais e os proprietários de terras. De outro lado, as consequentes mudanças que ocorriam no país, o início da recuperação pós-guerra, e o surgimento do sistema capitalista, dando fim à vida “bucólica” de até então. Contudo, o que realmente afastou Pasolini do campo foi a denúncia feita contra ele [um padre que recebera suas confissões?!] de corrupção de menores e atentado ao pudor. As consequências foram nefastas: além de demitido de seu cargo de professor foi expulso do Partido Comunista. Roma foi seu destino!
A Capital italiana representa para o artista uma realidade completamente diferente da que vivia, eram dois mundos em uma só cidade. De um lado o centro burguês, rico e fútil; do outro, os pobres, rudes, sensuais e egoístas. Nesta época é que sua veia artística fala mais alto e começa a escrever roteiros para o cinema.
Pasolini e o cinema
O cineasta não pode, como muitos acreditam, ser considerado um soft porn [ou pornô soft, como está muito na moda aqui no Brasil depois do lançamento do livro “50 tons de cinza” – por sinal horrível!!!].
Para quem tem olhos para ver, Pasolini é, hoje, mais atual e crítico que em sua época. Suas características filosóficas e cinematográficas assim o colocam. Em suas cenas de sensualidade não havia erotismo ou pornografia, mas pura denúncia.
Características marcantes na filmografia de Pasolini
- alto teor crítico da sociedade italiana e de certa maneira das mudanças globais que estavam por vir;
- crítica a igreja e seus costumes, satirizando a ideia de santidade e pecado do clero católico;
- privilégio das locações campestres, desta forma valorizando a ingenuidade e o aspecto sensível e primitivo da vida;
- seus personagem estavam entre os representantes do poder e da opressão, em contraposição aos pobres e miseráveis, que, independente de suas condições financeiras desfrutavam do sexo, da comida e da bebida com o prazer frugal do gozo pelo gozo, vivenciando uma felicidade longe da beleza e do sucesso, possíveis apenas aos financistas da felicidade.
Nesta sucinta descrição me parece possível perceber sua atualidade e a força de seu trabalho.
Pasolini e a pintura
Existem dois aspectos a serem abordados neste tópico. Um Pasolini pintor e um Pasolini cineasta capaz de levar para as telas imagens marcantes do renascimento italiano. Ele próprio diria: “Eu não posso conceber imagens, paisagens, composição da figura, do lado de fora da minha paixão inicial pela a pintura”.
As pinturas na cinegrafia de Pasolini
No "RoGoPaG” (1963), um filme realizado a quatro mãos Rosselini, Godart, Pasolini e Gregoretti, o segmento filmado por Pasolini, denominado “La Ricotta” [ou, “O queijo”], recria a cena da preparação para a descida do corpo de Rosso Fiorentino, “Deposição”, de 1521.A cena da descida da cruz é uma réplica da pintura de Jacopo Pontormo Carrucci “A deposição da cruz”, de 1526-1528.
A esq. as imagens da cena do filme de Pasolini e, à direita, “Deposição”, de Rosso Fiorentino |
A esq. as imagens da cena do filme de Pasolini e, à direita, “A deposição da cruz”, de Pontormo |
A este tipo de criação é dado o nome de tableaux vivants, muito utilizado no início do século 19, com o advento da fotografia. No trabalho de Pasolini destaca-se o cuidado com as cores, que em “La Ricotta” são as únicas cenas em cor, todo o restante do filme é em preto e branco.
Em “Mamma Roma”, filme de 1962, Pasolini usa do mesmo recurso, já nas cenas finais. Entretanto, desta vez não utiliza cores, mantém a película em preto e branco. A obra é de Andre Mantegna, “Lamentação”, com data aproximada entre 1455 a 1500.
Cena de “Mamma Roma” (esq.) e “Lamentação”, de Mantegna |
Existem outras situações que poderiam ser exploradas, mas acredito que não é o momento oportuno.
Pasolini nas pinturas e desenhos
Pinturas
Autorretrato com um lenço velho (1946) |
Autorretrato – “A flor em minha boca” (1947) |
“Bozzettone” dedicado a Laura Betti |
“Casarsa” – Casarsa della delizia é uma província italiana, onde Pasolini viveu por um tempo com a família |
“Figura máscula” |
“Narciso” |
“Ninetto e Laura” |
Desenhos
“Design para o filme da terra à lua” |
Autorretrato de 1954 |
Autorretrato em giz (1965) |
Autorretrato (1965) |
Um post do Mol-TaGGe é muito pouco para falar de uma personalidade como a de Pasolini. Algumas de suas habilidades não foram comentadas, como seu lado poeta, suas colagens, nem mesmo foi possível falar de sua produção cinematográfica [se bem que não era mesmo esta a intenção].
De qualquer forma, fica registrado que o poeta, romancista, tradutor, roteirista, pintor, editor, crítico de arte, jornalista, comunista, anticosumista, homossexual, defensor da liberdade, contestador, anticlerical, ateu e dono de outras tantas características, foi um grande artista em todas as áreas que se envolveu.
Pasolini morreu em 1º de novembro de 1975, assassinado por um “miché”, de acordo com as versões oficiais. No entanto muitos contestam a versão do assassino (Pelozi) e acreditam que ele contou com a ajuda de outras pessoas, até mesmo que o assassinato foi encomendado - uma armação política? Sobre esse assunto o texto de Luiz Nazário, “O corpo massacrado”, é bastante esclarecedor.
http://mol-tagge.blogspot.com/2013/01/multifacetas-de-pasolini.html
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